Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez: desculpem a demora!
Vocês são lindas - meninos, idem(cara, que coisa legal termos leitores também dessa vez).
Prometemos tentar separar uma ou duas dicas - spoiler é muito dificil de entregar sem acabar falando muito haha - pra vocês no próximo cap.
Boa leitura e um abraço enorme,
Abbie & Lu.



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Podia ser dia ou noite. Dali ele não poderia saber e deixara de se importar a muito tempo. Precisamente o mesmo tempo que levou para parar de perceber que o lugar fedia a dejetos e urina e que insetos – e ratos – lhe eram companheiros de cela.

Às vezes, quando aquela única fagulha humana que ainda brilhava dentro dele surgia mais forte, o prisioneiro estrangulava os pequenos roedores entre os dedos enquanto desejava que eles fossem um único rato:

Peter Pettigrew.

Era por não conseguir se desvencilhar daquele nome que ainda estava vivo. Trancafiado naquele ambiente de segurança máxima, depois de perder todos os sentimentos bons e os ruins em prol da loucura iminente a um homem solitário e torturado por fantasmas pessoais, a raiva continuava fazendo-o respirar e sobreviver, e a cada vez que ele notava isso, mais raiva sentia, como em um ciclo vicioso.

Naquele momento em questão, era um pouco mais fácil suportar o mundo. O guarda estava abrindo as trancas para que ele usufruísse do banho de sol ao qual tinha direito. Aqueles eram sempre ótimos momentos: o de assistir – ou participar – das lutas livres que sempre aconteciam entre os presos. Sirius era particularmente temido, apesar de seu rosto cavernoso e corpo que, com o tempo, virara apenas um infeliz conjunto de ossos e pele. Quando ele entrava numa briga, vinha com loucura nos olhos e nos golpes, alem de ter a fama de ser ágil como o demônio. Os que ainda retinham um pouco de sensatez, preferiam manter-se afastados do homem sempre que possível.

Diferente do habitual, naquela tarde a aglomeração acontecia por outro motivo. Alguém havia conseguido sintonizar uma pequena TV portátil e os homens estavam se acotovelando em torno do aparelho como crianças em torno do primeiro videogame, ansiosos por qualquer noticia.

Aquilo não interessava de forma alguma a Sirius, ou, não interessava até os cochichos chegarem até ele: segundo o jornal, outro desses policiais metidos a herói, um babaca chamado Harry James Potter, estava investigando o assassinato de um desses filhos da puta que cagam dinheiro.

Um babaca chamado Harry James Potter.

Sirius não conteve a explosão de desespero. Esmurrou todos que estavam a sua frente e, quando finalmente pôde dar uma olhada no visor, os carcereiros chegaram enxotando os prisioneiros e confiscando a TV. O horário acabou mais cedo por conta da confusão e Sirius levou alguns chutes, embora não estivesse consciente de nenhum deles.

Uma vez de volta a cela ele ainda tinha a imagem que vira grudada na memória.

A imagem que lhe perturbaria dali para frente, durante todo o tempo:

A imagem de James redivivo em forma de policial.

– Acho que encontrei! – Harry ouviu a voz de Gina cada vez mais perto – Por Deus! Eu o encontrei!

– Voldemort? – Despertou de uma vez. – Como?

– Não, acho que encontrei o herdeiro de Tom Riddle. – Acenava para o papel efusivamente. – Só pode ser ele.

– Ainda faltavam, sei lá, um milhão de nomes para checar ainda. – Harry voltou a coçar os olhos.

– A verdade é que fomos muito idiotas e deixamos escapar uma coisa: quais são as chances de ela ter escolhido o nome do filho antes de morrer?

– Isso é, se ela morreu.

– Ela morreu. – Gina mostrou uma página na internet com o certificado de óbito de Mérope Riddle.

– Como você conseguiu isso? – Ergueu a sobrancelha, enquanto lia o conteúdo da página.

– O crucial, já diria Maquiavel, é o fim. Ele justifica os meios. – Gina lançou-lhe uma piscadela. – O importante é saber que a moça deu o nome de Mary Gaunt no hospital, mas assinou como Mérope Riddle.

– Fez um ótimo trabalho escondendo sua identidade. – Harry ironizou.

– Ser coerente é a última coisa que se passa na cabeça de uma mulher sofrendo as dores de um parto. – Gina cortou-lhe com o olhar.

– Ah é? – Harry a encarou, com um sorriso presunçoso nos lábios. – Por quantos partos a senhorita já passou?

– Nenhum, mas...

– E como você possivelmente saberia o que se passava na cabeça dela naquele momento?

– Eu poderia supor...

– Supor não é o bastante. – Ele cruzou os braços.

– Bem, foi o bastante para achar o filho perdido do milionário assassinado. – Ela conseguiu manter um sorriso tão presunçoso quanto o dele. – Isso me faz a Mestre da Investigação.

– Isso te faz a mestre da fofoca, isso sim. – Ele torceu o rosto em uma carranca. – E como você descobriu?

– Bem, para começar, ela morreu no parto e conforme você pode ver nesse incrível atestado de óbito que a mestre da investigação, no caso eu, conseguiu, foi no dia 31 de dezembro. – Ela abriu os arquivos frutos de sua pesquisa. – Então eu reduzi as pesquisas para os nascidos em 31 de dezembro, e bem, surpreendentemente muita gente nasce no ultimo dia do ano. A próxima fase foi remover da lista todos os que não compartilhavam traços semelhantes ao de Merope Riddle. Por exemplo, era mais provável que a criança tivesse os olhos castanhos dela que os olhos azuis do pai e todo esse parafernalha de genes recessivos e dominantes. Por incrível que pareça, a lista diminuiu bastante, por último, e é nessa parte que você me recriminaria, obviamente, mas eu já espero...

– Qual é a parte, Gina? – Ele perguntou, curvando-se por cima dela na tentativa de enxergar melhor suas anotações, inconsciente da proximidade de seus corpos.

– Ér bem... – Ela limpou a garganta. – Eu imaginei que talvez ela tivesse colocado o nome do filho, e é claro que ela poderia tê-lo chamado de John, Robert ou Claus...

– Claus? – Harry fez careta e Gina sorriu.

– De qualquer maneira, se você se colocar no lugar dela: abandonada grávida pelo marido, longe de casa e prestes a morrer, qual seria sua maior preocupação?

– O meu filho.

– Então, ela tinha esperanças, eu imagino, que alguém viesse encontrar seu filho, que alguém procuraria por ele... Então ela colocou um nome no filho que alguém pudesse identificar. – Gina continuava sorrindo, mostrando o ponto em que a lista se reduzira a sete nomes. – Tom.

– Mas Tom é um nome tão comum...

– Ela também pensou assim, mesmo que inconscientemente. – Gina apontou para a lista. – É por isso que resolvi olhar os nomes do meio, e encontrei Tom Marvolo...

– O nome do pai dela! – O olhar de Harry adquiriu um brilho diferente. – Você é genial, Gina!

– É claro que você pode acreditar que isso seja uma coincidência...

– Detetives não acreditam em coincidências. – Harry sorriu. – E quais são as chances de ele ter mantido esse nome?

– Muitas. – Ela abriu uma página de pesquisa na internet. – Conheça Tom Marvolo Riddle.

– Esse é Tom M. Borgins, da Borgins & Burkes, também membro do parlamento. – Harry disse, apontando para a imagem que aparecera.

– Esse é Tom Marvolo Borgins, um rapaz adotado aos onze anos por Petrarchio Borgins. – Gina sorriu triunfante.

– Todo órfão, por mais feliz que seja, tenta descobrir suas origens, e eu tenho certeza que um homem com as finanças dele sabe muito bem de onde veio. – Harry observou.

– O que faz dele um suspeito, naturalmente.

– Exato.

– Então encerramos a noite com um suspeito a mais do que já tínhamos. – Gina virou a cadeira, sorriu e encarou Harry nos olhos. – Agora volte àquela parte sobre eu ser genial e mestre da investigação.

– Eu falei isso? – Ele tentou reprimir o sorriso que brotara em seus lábios.

– Aham. – Era impossível não se render ao magnetismo que exalava de suas peles. – Você tem alguma coisa a mais para me dizer, Detetive Potter?

– Deveria ter? – Não soube naquele instante o que o motivara a responder daquela maneira. Sabia, porém que deveria se afastar, mas não queria. Pior. Não achava que conseguiria se tentasse. Tinha algo na voz dela que não havia como resistir.

– Não. – Ela roçou os lábios nos dele. – Vou reformular: você tem algo a me mostrar?

– Talvez.

No momento em que as línguas se tocaram, Harry soube que estava perdido. Era uma sorte que estivessem em seu apartamento, porque ele não estava certo a respeito de seu autocontrole uma vez que estava beijando Gina. Na verdade, ele nunca estava totalmente ao controle perto dela. Era algo no cheiro de lavanda que provinha do cabelo ruivo bonito, no modo como facilmente sorria, no jeito que lhe apertava a nuca... Era tudo, Gina por inteiro. E céus, como ele a queria por inteiro.

Tentara não parecer tão desesperado, mas a força de vontade fora jogada para o canto juntamente com a blusa da jornalista Weasley.

Harry sentiu a pulsação vacilar quando se permitiu um instante para observar o corpo dela. Durante toda a sua carreira vira coisas suficientes para acabar com o estomago e a mente de alguém e sentia-se orgulhoso por saber que nada lhe afetava de maneira impar.

Então aquela moça aparecia, provando sua paciência e pondo em risco toda sua constante insensibilidade; Harry não tinha a menor ideia de como fazer com que suas entranhas parassem de se trançar a medida que Gina lhe arranhava a fenda das costas. Também não tinha como impedir seu próprio corpo de agir como se ainda tivesse dezessete anos de idade.

Apenas quando ambos estavam nus – rolando um sobre o outro no tapete da sala de estar – é que o detetive precisou aceitar o fato de que nem o inferno inteiro poderia persuadi-lo a tirar as mãos das coxas dela e, mais do que isso, que nada no mundo impediria sua boca de provar cada centímetro do corpo de Gina.

Ron acordou suando e precisou de um minuto inteiro para acreditar no motivo. Havia sonhado com Hermione. Mais precisamente com as pernas de Hermione e isso era razão suficiente para não voltar a dormir, ainda que faltasse quarenta minutos para o despertador tocar. Levantando-se da cama, secou a testa com as costas da mão e decidiu que um banho era a decisão mais sensata a se tomar, seguida de uma xícara cheia de cafeína.

Apenas a primeira parte do plano foi bem sucedida, já que ainda perturbado pelo sonho, acabou queimando o café, o que o fez praguejar ainda mais.

Agarrando o molho de chaves, saiu rapidamente de casa. A verdade é que não queria encarar Lilá, mesmo sabendo que a noiva só acordaria às nove, horário em que se levantava para abrir a promissora loja de artefatos extravagantes que abrira há dois anos.

Meneando a cabeça, utilizou as escadas, agitado demais para esperar pela cabine do elevador. Chegou até mesmo a considerar a ideia de ir correndo ao trabalho. Fazia realmente um bom tempo que se acomodara a rotina de ignorar os exercícios físicos que, em tese, deveriam ser diários.

Mas a verdade é que não importava o quanto ele estivesse perturbado e tentado a retomar a boa forma, nada o faria abandonar o bom e velho Ford Anglia. Quando estacionou em frente ao departamento de policia, sentia-se novamente bem. Até sorriu ao imaginar a cara de espanto do parceiro quando descobrisse que havia chegado mais cedo do que ele.

No entanto, mais uma vez, ele foi surpreendido:

Hermione estava de costas para ele, parada em frente ao quadro esquemático com fotos da vitima, ligações pessoais e suspeitos do caso que Harry e ele estavam investigando.

Quis gritar para que ela parasse de invadir seu trabalho e, de preferência, seus sonhos, mas limitou-se a pigarrear alto e fazer sua melhor cara de rude quando ela virou-se para ele.

– Ah, é você. – A doutora Granger arqueou levemente uma sobrancelha.

– Sim, sou eu. – Ele gostaria de ter pensado em uma resposta melhor. – Você não vai nem fingir constrangimento?

– E por que eu haveria de fazer isso? – Ela tornou a olhar o quadro – Estava exposto aqui.

– Para tiras. – Hermione encolheu os ombros, ignorando-o e apertando os olhos para uma das fotografias.

– Interessante. – Murmurou para si mesma.

– O que é interessante? – Controle-se Ronald, ordenou a si mesmo, mas já era tarde. Não havia como parecer indiferente depois de já ter perguntado. Hermione apontou para o anel que Tom Riddle usava e o detetive precisou se aproximar do quadro e consequentemente dela, para poder enxergar melhor. – E o que é que tem? – Inquiriu de modo grosseiro.

– Se você não sabe, porque eu haveria de te dizer, não é? – E erguendo o queixo, dirigiu-se ao corredor, afastando-se dele. Ron já pensava em resmungar quando o estalo veio. O dedo que fora cortado... O anel...

E antes que pudesse raciocinar, corria atrás dela.

– Granger! – Gritou.

Ela não lhe deu ouvidos.

Frustrado, mas orgulhoso demais para insistir, voltou ao quadro e seus olhos voltaram a bater na foto. Estava começando a se sentir realmente estúpido por não ter notado aquilo quando uma mão pousou em seu braço, fazendo-o saltar.

– Santo Cristo, mas que diabos...? – Ele virou-se para a advogada, carrancudo. Era a terceira vez que ela o assustava em um só dia, quebrando todos os recordes até então.

– Pensei que tinha me chamado. – Hermione cruzou os braços, já arrependida por ter voltado.

Ron respirou fundo. Travar uma pequena batalha de egos era tentadora - como sempre - mas completamente desnecessária naquele instante em que precisava da ajuda dela.

– Sim. – Ele disse do modo mais gentil que conseguiu. – Eu gostaria de saber... – E ao observar a sobrancelha arqueada, complementou – De pedir... Por favor... Que me conte o que sabe sobre esse anel.

– Então você sabe mesmo ser educado? – Fingiu um ar de surpresa.

– Não me faça perder a paciência. – Ron disse entre dentes.

– Vá em frente. É você quem precisa de mim. – O detetive engoliu em seco, sem nenhuma resposta digna.

– Me desculpe. – Hermione assentiu minimamente com a cabeça, aceitando as desculpas apenas por ser diplomática demais para xinga-lo como gostaria.

– Veja. – Ela apontou a pedra entalhada do objeto. – Eu posso estar enganada, mas cursei História da Arte antes de me formar em Direito e essa inscrição me parece bastante com esta – Apanhando uma folha em branco, ela desenhou um circulo dentro de um triangulo e então uma reta. Ron comparou o desenho com a pedra que ornamentava o anel. Poderia ser a mesma coisa, mas era difícil ter certeza com uma foto tão negligente em relação ao objeto de estudo. Queria dizer isso, mas o que se ouviu falando na verdade, foi:

– Você cursou História da Arte?

– Sim.

– Mas isso é impossível. – Hermione abriu um sorriso pouco modesto.

– É o que dizem.

– Você precisaria ser absurdamente nova para conseguir cursar duas... – Mas a frase foi morrendo a medida em que ele conseguia imaginar com perfeição a adolescente que ela provavelmente fora. – Onde você estudou?

– Oxford.

– O cacete! – Ele exclamou, fascinado. – Desculpe, eu não quis ofendê-la, mas é que... Caramba, que tipo de cérebro mutante e super evoluído é o seu? – Ela queria estar irritada, mas a verdade é que estava se divertindo do modo bobo como ele ficara impressionado. Achou melhor não dizer nada a respeito do mestrado. Ou do doutorado que estava terminando.

– De qualquer maneira... – Considerou melhor voltar ao que era realmente importante. A ideia de manter uma ideia descontraída com Ronald por mais de cinco minutos era assustadora demais. – Se este símbolo for o mesmo que estou pensando e descartando a ideia de que pode ser apenas uma replica bem feita... Estamos lidando com uma relíquia genuína.

– Exatamente que tipo de relíquia?

– Uma que valeria o mesmo que todos os meus órgãos e os seus órgãos vitais vendidos no mercado negro. – Ela olhou para o anel e em seguida para o detetive. – Uma que valeria um assassinato deste tipo. – E apontou para o corpo sem vida de Riddle na foto do topo do quadro.

Aquele não era um dos melhores dias para ela e ela fazia questão de deixar bem claro para qualquer um que cruzasse seu caminho. O primeiro a receber um de seus olhares furiosos fora Rodolfo, logo pela manhã. Seu adorado marido, ainda teve o disparate de perguntar se ela estava precisando de absorventes.

"Não tanto quanto você vai precisar de uma dose de arsênico em breve se continuar me irritando, amorzinho". Ela respondeu, na intimidade de seus pensamentos, calçando suas – sempre - brilhantes botas de saltos altos e finos. Parecia sempre de luto, observava sua vizinhança, sempre de preto, sempre de óculos escuros e sempre de cara amarrada.

Outros diziam que ela devia ser algum tipo de vampira por se manter longe do sol, pálida como a lua. Era como se todos os dias houvesse uma nuvem sombria que pairava sobre ela e sobre quem se aproximava dela. A decisão mais ajuizada que qualquer um poderia tomar seria a de manter distância e, mesmo quem não tinha juízo, imaginava que pior que ela só poderia ocorrer se houvesse duas dela.

Jinx evitou respirar ao escutar o familiar som das botas da patroa; apenas fechou os olhos e esperou pelo estalar de dedos familiar. Ela sempre estava atrasada para lugar nenhum e Jinx era quem levava a culpa.

– Para onde, Senhora?

– Hoje vou andando. – Disse simplesmente, se afastando.

– Como? – Jinx perguntu com certa incredulidade.

– Eu me pareço com alguém que deva algum tipo de satisfação aos criados, Jinx? – Ela voltou a encarar Jinx. – Eu preciso dizer meu nome para que você saiba quem eu sou?

– Não, senhora.

– Foi o que eu pensei. Agora, saia da minha frente.

– Sim, senhora. - Jinx respondeu de maneira submissa, pensando no dia em que conseguiria dar o fora daquela casa.

A mulher de preto andou sem rumo, apenas para colocar seus pensamentos em ordem. Era ridículo estar se sentindo assim porque ele cancelara o encontro semanal que tinham há anos sob a desculpa de ter que comparecer a alguma baboseira de delegacia. Ele não comparecia a encontros em delegacias, pois ditava os horários e era isso que ela mais gostava nele: o poder. Ele podia ter tudo o que queria e quando queria, assim como ele a tinha.

Talvez esse fosse o problema, talvez ele estivesse tendo outras pessoas.
Afinal, ele podia ter o que ele queria. Não pela aparência, não pelo charme, mas pelo poder.

A perspectiva de que ele estivesse se encontrando com outra e que essa tivesse se tornado tão importante ao ponto de ele cancelar o encontro dos dois era ridícula e, ao mesmo tempo, aterrorizante. Ela não era apenas sua serva mais fiel e devota, ela era sua amante, ela era dele.

Ele não a trairia assim.

Ele não faria isso.

Acabou em uma farmácia tentando comprar uma aspirina.

– Olha se não é a encarnação da Mortícia Addams – Ouviu alguém dizer, e talvez se importaria se soubesse quem era a fulana. Limitou-se a lançar-lhe um olhar mortífero por cima dos óculos escuros.

Aquele não era um dia bom.

– Madame. – O farmacêutico disse impaciente quando a viu estendendo uma nota de cinquenta libras sem nem olhá-lo. – Aqui se pega o remédio e ali se paga.

Ela não se preocupou em responder, marchou até a fila do caixa e bufou. Não pego filas.

– Ei dona! Você não pode furar fila! – Alguém exclamou no fim da fila.

– Arranje umas dessas e você vai poder furar todas as filas do mundo. – Ela mostrou sete notas de cinquenta libras.

– Não me interessa quem você pensa que é, mas eu estava na fila e tenho direito de ser...

– Na verdade, não me interessa quem você é, pobre. – Ela girou os olhos. Infernos, onde vim parar? – Quanto a mim, eu sou Bellatrix Lestrange... Eu não penso que sou ninguém, eu posso pagar outras pessoas para pensarem por mim.

– Como é que é? – A moça estava tirando os brincos, pronta para uma briga.

– Aqui, querida, porque você não pega uma dessas notas e compra um aparelho de surdez, ouvi dizer que eles estão cada vez mais eficazes. – Bellatrix disse e riu, jogando algumas notas para trás.

Ela não devia mesmo saber em que vizinhança estava, pois não previu que ao virar as costas puxariam-lhe o cabelo. Não teria ficado irritada nem em normais circunstâncias, por isso sorriu antes de afundar as unhas no rosto da moça...

Os advogados que cuidassem disso mais tarde, porque pouco tempo depois estava sendo algemada pela polícia.

Se tivesse bebido uma taça de vinho ou uma cerveja sequer talvez acordasse arrependido, mas pelo menos teria o álcool para culpar. Eu deveria me sentir culpado, Harry murmurou para si mesmo, enquanto pensava em uma maneira de dizer a Ron que tinha dormido com a irmãzinha dele e que tinha gostado – e muito.

Era muito fácil se esquecer de qualquer traço de estratégia que pudesse um dia ter quando respirava fundo e sentia o cheiro de lavanda exalando dos cabelos ruivos. De brinde ganhava a visão do rosto finalmente pacífico da mulher mais bonita que já tinha visto.

Infelizmente não tinha como se arrepender daquilo.

E talvez nem fosse tão infelizmente assim, já que esquecer era a última coisa que ele queria. A verdade é que não tinha a mínima ideia do que fazer dali em diante. Sabia que existia a possibilidade de estar cometendo uma tremenda burrice, mas só conseguia pensar em fazer tudo outra vez.

– Não vai atender? – Ela sorriu, estendendo o celular que estava tocando. – Ou vai querer que eu atenda?

– Eu.. ér... Bom dia. – Harry falou, beijando-a espontaneamente até perder o fôlego.

– Se continuar nesse ritmo nenhum de nós trabalha hoje, garanhão. – Gina mal conseguia conter o sorriso.

– Garanhão? – Ele perguntou, bem-humorado.

– E ao contrário de você, minha vida não se resume a apenas admirar a bunda da jornalista ruiva que me serve de consultora.

– Então você admira sua própria bunda?

– Ás vezes. – Ela encolheu os ombros e Harry sentiu vontade de beijá-la novamente. – Dizem por aí que o que é bonito é para ser visto.

– E põe bonito nisso. – Ele piscou.

– Eu sei. – Ela sorriu convencida. – Agora pare de sorrir. Fica parecendo que te tirei a virgindade.

– Pelo seu apetite ontem a noite, você que estava necessitada. – Harry ergueu a sobrancelha. – Não conseguiu esperar chegar a cama!

– Mentira, você me agarrou! – Ela bateu nele.

Ele segurou os pulsos quentes dela e sentiu sua pulsação se acelerar. Era difícil não se imaginar com ela em um futuro menos conturbado que o presente, impossível não querer esse futuro.

Se existe algo além do impossível, ele atribuiria a quase necessidade que agora tinha de tocá-la. Agora que já sabia seu gosto estava consciente de que ela se tornaria seu maior vicío, por mais que isso o assustasse.

Quando se viu, estava beijando-a novamente. Esquecera-se até que o telefone tinha tocado.

– Se continuarmos nesse ritmo, nunca mais trabalhamos. – Gina disse entre beijos, enquanto as mãos dele subiam de sua cintura para seus seios nus. – Pensando bem, trabalhar para quê?

– Você fala demais. – Ele riu, mordendo a orelha dela.

– Quem está falando agora? – Ela perguntou, devolvendo com uma mordida no ombro.

– Você. – Ele disse, colocando-se por cima dela. – E ai.

– Pensei que estávamos sendo selvagens. – Ela piscou, ofegante.

– Meu Deus, você fala até durante o sexo.

– Isso não pareceu ser problema para você ontem a noite. – Ouviu o telefone tocar mais uma vez. – Se você atender eu te mato.

– Eu não pretendo atender. – Ele falou, beijando o pescoço dela.

– Mas pode ser um homicídio.

– A pessoa já está morta. – Ele falou, com as mãos nos quadris dela. – Pode esperar mais um pouco.

– Só veja quem é, para eu não me sentir culpada. – Ela pediu, respirando ainda mais ofegante.

– Ok. – Ele falou, beijando-a. – É o Ron.

– Ok, atende depois. – Gina suspirou. – Deixa cair na caixa postal, essas coisas.

Harry, seguiu o conselho dela.

Depois imaginou o que não deveria ter imaginado: Ron pensando que tinha acontecido algo, invadindo seu apartamento e pegando os dois em flagrante. Nós não estamos fazendo nada de errado. Harry disse a si mesmo, e tentou apagar esses pensamentos, sacudindo a cabeça. E se ele já soubesse?

– Será que ele sabe sobre nós?

– Não vai existir nós para saber se você continuar falando. – Ela enterrou as unhas nas costas dela.

– Sério, Gina.

– Você quer que exista um nós? – Ela perguntou, segurando o rosto dele para olhá-lo nos olhos.

– Eu não sei... – Ele falou. – Parece que sim, mas meus julgamentos estão sendo afetados pela sua nudez.

– Ok, se você quiser um nós precisa segurar sua onda de ligar pro meu irmão por uns minutinhos, ok? – Ela pediu com o fiapo de voz que tinha.

Minutos depois, ambos olhavam para o teto extasiados.

– Ok. Precisamos combinar os termos disso. – Harry falou finalmente.

– Credo, já está me sufocando. – Gina riu.

– Boa sorte tentando viver sem isso aqui. – Ele disse apontando para o próprio corpo.

– Sabe, você é mais simpático e divertido quando está nu. – Sorriu mais uma vez.

– Você está dizendo que eu deveria ficar nu sempre?

– Não. – Ela girou os olhos. – Vamos aos termos.

– Agora eu me sinto sufocado.

– Idiota.

– Ok, ninguém pode saber. – Harry começou.

– Por quê? Você tem vergonha de mim? Não acredito nisso! Você só me usou!

– Eu... Não... Para, não é verdade... – Harry disse preocupado, antes de sorrir. – Você está debochando.

– É. – Ela riu. – O próximo termo é que a gente não deveria levar tão a sério.

– Sem exclusividade?

– Por que? Você quer exclusividade?

– Você quer?

– Eu acho que deveríamos ser companheiros de trabalho com compromissos, mas que não dorme com outros companheiros de trabalho ou outras pessoas no geral, a não ser que esteja convencido que encontrou a pessoa certa.

– Isso é um grande rodeio para me dizer que você não quer que eu durma com outras mulheres.

– Por Deus, Harry nós só dormimos juntos uma vez, você não acha que eu seja tão maluca a esse ponto né? – Ela riu.

– Acho.

– Ok, termos aceitos? – Ela apertou a mão dele.

– Aceitos.

– Agora vamos comemorar? – Ela perguntou.

– Não. – Harry disse, se levantando levemente frustrado. - Vamos trabalhar.

– Ok, vou fazer café.

– Ótimo, Gin.

– Só faça o favor de não me chamar de benzinho, querida, amor... – Gina girou os olhos.

– Seu romantismo me comove.

– Idiota.

Gina levantou-se, colocou a camisa de Harry e saiu.

Enquanto isso, Harry ouvia o recado da caixa postal:

Por incrível que pareça, eu cheguei antes de você no trabalho. De qualquer maneira, recebi seu recado super confuso ontem de madrugada sobre Tom, e o convoquei para depoimento. Uma das ditas cúmplices de Voldemort, de acordo com Gina, acabou de ser presa por agressão, de repente dá para arrancar algo dela. Ah, e ouvi dizer que Sirius Black – sempre temido por algum motivo - escapou de Askaban, a imprensa tá louca. É isso.

Harry respirava fundo, em busca de energia para o dia que começava quando ouviu uma voz estranha e terrivelmente diferente da única pessoa que deveria estar na casa alem dele – Gina - sibilar:

– Não se mexe ou eu juro por Deus que enfio essa faca em você!


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