Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Sim, nós somos filhas-da-mãe.
Mas como explicado anteriormente... Faculdade e trabalho não ajudam :I
Gostaríamos de dedicar esse capítulo a Harley pela indicação :) foi muito gentil da sua parte, obrigada.



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– Ok. – Harry levantou os braços acima da cabeça para acalmar o homem.

– Eu mandei se render, porra?!

– Erro meu. – E o detetive já ia baixar as mãos quando o outro começou a rir debilmente.

– Estou brincando. Continue desse jeito. Assim está bom. – Aprovou com um traço de loucura dançando nos olhos.

Harry tentou não ficar irritado. De todos os 365 dias do ano, um louco escolhera logo a manhã que tinha uma visita promissora para invadir a sua casa. Respirando fundo, decidiu que não se importaria com o transtorno desde que Gina não fosse envolvida.

– O que você quer? – Perguntou, já mentalizando as poucas coisas de valor que poderia entregar a ele.

– Direto. Petulante. Corajoso. – Analisou, aprovando. – Você é ele todinho, não é?

– O que você quer? – Harry repetiu, agora serrando os dentes. Talvez estivesse subestimando o nível de periculosidade daquele doente.

– Conversar com você. – Disse casualmente enquanto passava o dedo pela lamina da faca.

– Pois bem. Estou ouvindo.

– Harry... – O homem tornou a encará-lo. Potter odiou que ele soubesse seu nome. Isso agravava as coisas. Tornava tudo pessoal.

– Sim. – Concordou, pensando em um modo de se livrar daquela situação.

– Eu sou seu padrinho. – Parte do efeito que Sirius imaginou para aquele momento simplesmente não aconteceu, porque foi acertado com força na nuca e a inconsciência o rondou antes que ele pudesse lutar com ela.

Harry observou o homem tombar para frente.

– Querido – Gina franziu o cenho, ainda segurando no ar o taco que acabara de usar. – Você nunca mencionou que jogava baseball.

Ron andava de um lado para o outro, impaciente. Se há meia hora atrás Hermione se sentia compadecida, agora, no entanto, estava apenas irritada.

– Ronald! – Ela nem percebeu que o chamou pelo nome pela primeira vez, mas ele sim. Só por isso a encarou. – Pare com isso. – Pediu.

– Harry nunca se atrasa. – Repetiu pelo que parecia ser a centésima vez.

– Sim, talvez você já tenha mencionado isso há... – Ela encarou o relógio de pulso. – Trinta e sete segundos atrás.

Ron suspirou, cansado.

– Não pedi para você ficar aqui. – Defendeu-se.

– Já falei que você não vai receber os logros dessa descoberta sozinho. – Hermione cruzou os braços em resistência, referindo-se ao anel.

– Porque é tão importante para você, doutora? – Ron cerrou os olhos. – Por acaso também está interessada em Harry ou algo assim?

– Você é um homem ridículo, detetive Weasley. – Esbravejou, levantando-se e peitando-o de tal modo que os rostos ficaram apenas milimetricamente distantes um do outro. Obviamente aquilo soaria como um insulto se ele se referisse a qualquer homem, mas por algum motivo irracional, com Potter parecia ainda mais sujo. Imoral. Quase como incesto, embora não houvesse nenhum vinculo familiar entre eles.

– Eu nunca teria esse tipo de interesse por Harry. – Hermione queria cuspir essas palavras nele, mas limitou-se a manter a voz ácida e firme.

– Bom mesmo. – Ron rebateu com petulância. – Porque curiosamente Gina também está atrasada e... – Afastando-se dela, esmurrou a mesa, só de pensar na possibilidade dos dois juntos. Harry era um ótimo parceiro e excelente amigo, mas não era nem de longe o candidato a cunhado ideal. Apenas imaginar os perigos que Gina acabaria correndo indiretamente por ser namorada de um tira, era suficiente para que Rony tivesse vertigens das mais graves.

Hermione girou os olhos, impaciente, mas não tão brava porque conseguira compreender agora a verdadeira razão para o descontrole emocional do detetive.

– Você precisa aprender a controlar seus nervos. – E surpreendeu a si mesma quando lhe apertou o ombro, em solidariedade. Sentiu o rosto esquentar involuntariamente quando se deu conta do gesto. – Eu vou... Ham... Pegar um chá, está bem?

Rony assentiu com a cabeça e a observou andar rumo a copa enquanto inconscientemente passava os dedos por onde a mão dela estava há um instante atrás.

Ainda em estado de torpor, demorou a perceber a chamada no celular.

– Weasley. – Atendeu.

– Ei Ron. – Ele não sabia se ficava aliviado ou enfurecido por ouvir a voz do parceiro. – Estou com um problema aqui, demorarei a chegar. – Harry disse.

– Problema? – Inquiriu, desconfiado. Um grunhido estranho e quase animalesco soou do outro lado da linha, o que o fez entrar em alerta imediatamente. – Que porra é essa, Harry? Isso é um cachorro?!

– Mais ou menos. Escuta, eu preciso desligar. Te explico tudo mais tarde.

– Ok. – E gritou antes que ele desligasse – Espere aí!

– Sim? – Harry perguntou, impaciente.

– E Gina?

– Gina?

– Gina.

Silêncio.

– Nos falamos depois, Ronald. – E desligou.

Luna estava confeccionando novos cartazes. Acordara excepcionalmente contente porque embora não fosse muito adepta a email, fora através dele que descobrira novos aderentes ao seu manifesto. Gente consciente e humana que chegaria dali a pouco para que assim, juntos, pudessem clamar pelo meio ambiente.

– Srta. Lovegood? – Uma voz educada e feminina a chamou. Luna levantou os olhos.

– Sim? – A moça em questão era recepcionista do saguão de entrada do Império Malfoy e preso ao seu terninho impecável e caro, havia seu nome inscrito no crachá. Grace Ellis, Luna leu e sorriu.

– Tem um nome muito bonito, Grace. Pessoas cujo nome começa com “G” costumam possuir grande honestidade no meio profissional. Buscam perfeição em todas as áreas da vida e se aborrecem quando as coisas não saem conforme o planejado. Também refletem muito antes de agir e quando decidem por algo, mergulham de cabeça nisso, esquecendo tudo a volta. – Disse com a voz mansa, e então deu seu próprio parecer: - Gosto de pessoas obstinadas. – Ainda sorrindo, limpou as mãos na saia longa que usava e levantou-se para cumprimentá-la.

Desconcertada, Ellis piscou confusa e segurou a mão dela por um instante.

– Muito prazer. – Luna disse.

– Ham... Prazer. – A garota balbuciou de volta, estendendo um embrulho para a artista.

– O que é isto? – A voz dela era tão complacente que Grace associava às cantigas de ninar e as vozes que dublavam princesas da Disney.

– Cortesia do senhor Malfoy, Srta. Lovegood. – Luna lançou um olhar de esguelha para o prédio a sua frente. Então leu o cartão. “Para o caso de falta de material. Divirta-se”, dizia. Ela rasgou o embrulho e encarou os tubos de tinta lacrados e devidamente empilhados numa caixa de suporte. Lágrimas de raiva brilharam nos olhos azuis imensos.

– Isto é muito maldoso, Srta. Ellis. – A moça abriu a boca, constrangida. Sentia vontade de pedir desculpa mesmo sem ter razão para isso.

– Estou apenas cumprindo ordens. – Explicou-se. Luna não tornou a encará-la, apenas devolveu a caixa e esperou que ela saísse em silencio para tornar a se sentar na calçada e continuar seu trabalho.

Ele que continuasse zombando dela, pensou, enquanto continuava a pintar cartazes de protesto. Malfoy conseguira abalá-la, mas Luna só precisava de alguns minutos de concentração para voltar a limpar sua aura.

Ou - observou quando um carro conhecido parou no estacionamento, fazendo-a sentir uma fisgada no coração – talvez um bom amigo pudesse fazer o serviço de forma mais rápida. Sorrindo com os olhos e com a boca, ela correu em direção a Neville assim que ele pulou para fora do carro.

– Longbottom! Hey! Aqui! – Ela acenou, achando divertida a cara de surpresa dele. – Você veio! – E havia tanta gratidão naquela exclamação, que ele não pôde dizer mais nada alem de:

– É... Eu... Eu vim.

Luna o abraçou apertado. Ele sabia que deveria ter colhões e contar a ela naquele mesmo instante que não aparecera para participar de manifesto nenhum e sim para trabalhar, porque ali, exatamente ali naquele lugar que ela tanto odiava, era onde trabalhava.

Estava completamente consciente do que deveria fazer tanto quanto estava consciente da aparência adorável dela naquela manhã.

A visão dela correndo em sua direção lhe martelaria a mente pelo resto do dia, tinha certeza. Em nenhum momento da sua vida pensara que uma garota de saia longa e gorro vermelho na cabeça poderia deixá-lo tão abalado até aquele instante.

Precisava contar a verdade. Ele estava prestes a dizer – realmente prestes – quando ela selou os lábios nos dele sem nenhum motivo aparente e tudo no mundo perdeu importância.

Nenhum jogo que ele zerara lhe permitira aquela sensação de triunfo. Neville apertou as duas mãos na cintura de Luna, com medo de que aquilo fosse apenas um sonho maravilhoso de alguma realidade alternativa. Ela sorriu como se soubesse o que ele estava pensando e o beijou de verdade.

– Estou feliz em vê-lo. – Ela disse quando se separou dele apenas o suficiente para conseguir dizer algo.

– Eu também. Muito feliz em me ver... – E meneando a cabeça, consertou. – Você. Te ver! – Luna riu do embaraço dele e olhou para o lugar onde largara os cartazes.

– Os outros manifestantes devem estar chegando em meia hora. – Avisou, visivelmente otimista. – Mas você pode ficar e me ajudar, se quiser. – Ela ofereceu a mão a ele.

– Ok. Claro. Porque não? – Inquiriu, tentando se convencer mais a si do que a ela. Percebeu que naquele instante, não se importaria se Draco o despedisse.

– Certo. – Ela sorriu e lhe estendeu um pincel. – Você não deveria ter se arrumado tanto. – Ela analisou. – Receio que se a tinta respingar na sua roupa, não saia com tanta facilidade.

– Não tem problema. – Respondeu de pronto. – Eu estou me sentindo tão motivado que, na verdade, estava me perguntando se vocês não usam mascaras ou pintam o rosto e coisas assim. – Luna achou que ele estava sendo divertido, mas Neville nunca falara tão sério na vida.

Dizimou 2/3 do seu expediente e mais cinco minutos para uma passada no carro – onde largou o boné e a camisa que havia conseguido com um dos novos ‘camaradas’ - mas finalmente entrou no prédio (ainda que pela passagem C).

O estagiário coreano que contratara no inicio do verão e o qual nunca se lembrava o nome parecia mais agitado do que o normal e soltou um longo suspiro de alivio ao ver o chefe do departamento entrar.

– Senhor Longbottom, ele está a sua espera. – O garoto cochichou e pareceu tão nervoso que Neville teve a impressão de observar mais três espinhas surgindo naquele rosto já sacrificado.

– Ele? – Perguntou, confuso.

– O Sr. Malfoy.

– Malfoy? – Franziu o cenho. - Aonde? – Sabia que essa era uma pergunta estúpida, então não esperou pela resposta. Dirigiu-se a própria sala e não se surpreendeu ao ver o chefe examinando o único porta retrato da mesa pessoal.

– Você era um garoto gordo, Longbottom. – Draco comentou, apontando a foto em que um menininho rechonchudo parecia encontrar o auge da felicidade no colo da avó.

– Obrigado, senhor. – Malfoy riu e se virou para encará-lo.

– Bottom interessante.

– O que...? – Ele encarou o próprio peito e notou com horror o broche que dizia ‘Fora Malfoy’. – Eu... Ham... Eu... Droga. – Murmurou quando espetou o dedo na intenção de tirar aquilo da camisa. – Eles estão distribuindo muitos desses... Lá fora... Sabe... – Ficou feliz em fingir que estava empenhado em se livrar do bottom, assim não precisaria encará-lo. A situação já era suficientemente ruim.

– Sei. – Draco sorriu torto. – Você está saindo com aquela garota, Neville? – Ele foi direto.

– Esta é uma pergunta de cunho profissional, senhor?

– Não.

– Então eu vou me valer do meu direito de ficar em silencio. – Ele nunca diria esse tipo de coisa em circunstancias normais. Draco adorou a reação. Ah, as mulheres. Elas tinham esse poder esquisito. Rindo, bateu no ombro dele.

– Eu só vim te avisar que Lovegood abriu um rombo enorme na minha testa e eu se fosse você, tomaria cuidado com ela. Não sei o que ela faria com você se soubesse que trabalha para mim. – E enfiando as mãos nos bolos, completou – Agora, se você já estiver recuperado e puder me mostrar aqueles relatórios...

– Ele podia acordar logo. – Gina reclamou.

– Já está quase acordado. – Harry encolheu os ombros enquanto checava se os nós das amarras estavam bem apertados. – Vamos lá, acorda, seu puto.

– Sirius Black, Harry, de acordo com a TV. – Gina o corrigiu, apontando para a TV. – Um tal criminoso perigoso que fugiu da prisão de segurança máxima mais máxima do mundo.

– Você acertou a cabeça dele com um taco. – Harry deu de ombros mais uma vez.

– Talvez eu seja mais perigosa que ele. – Ela piscou sedutora para Harry.

– Jura? Agora? – Ele perguntou para ela que o examinava com um olhar de desejo.

– Eu bati em um criminoso perigoso, admita que eu sou incrível. – Gina falou, jogando um copo d’água no rosto de Sirius. – Agora acorda, garotão, cansei de ouvir os seus rugidos e falatório sem sentido. Está na hora de você me dizer porque diabos você invadiu o apartamento do meu... Harry ou eu te enfio o taco na cabeça de novo enquanto você espera os guardas sinistros de Askaban.

– Eu já teria te entregado, não fosse ela. – Harry tentou não rir da tentativa de ameaça de Gina. – De acordo com ela, talvez você tivesse uma boa história, então, você tem sete minutos para contá-la.

– Harry, eu sou seu padrinho. – Sirius disse, incomodado pela dor de cabeça infernal.

– Essa parte eu já ouvi, mas não é algo em que eu acredite veementemente. – Harry sorriu com escárnio. – Então por que você não tenta provar sua tese?

– Eu e seu pai fomos melhores amigos durante todo o tempo escolar e depois dele também, sua mãe não me admirava muito inicialmente, mas com o tempo viramos bons amigos, tanto que eles me escolheram para ser o seu padrinho. – Sirius falou, rangendo os dentes. – E se você não quer acreditar na minha história me deixe apenas dizer que eu tenho como te ajudar nessa sua missão suicida.

– Eu não sei porque eu deveria acreditar na sua história, não é como se existisse alguém que pudesse creditar seus argumentos. – Harry falou, de costas para ele.

– Porque eu sou a única família que te sobrou. – Sirius disse simplesmente.

As palavras pesaram como chumbo, mesmo que Harry estivesse consciente de que aquela poderia ser exatamente a intenção do homem para deixá-lo flexível. Qualquer pesquisa rápida, mesmo no site de busca mais suspeito relataria a morte dos pais de Potter, famosa justamente pela sobrevivência dele.

– Preciso dizer que você e James são parecidos...

– Mas eu tenho os olhos da minha mãe? – Harry completou, girando os olhos. – É, acho que eu ouço isso com certa frequência.

– Eu ia completar dizendo que até o gosto pelas ruivas é semelhante, mas o seu comentário foi mais comovente. – Sirius sorriu. – Muito bonita a mocinha.

– Mocinha? – Gina torceu o rosto em uma careta seguida de uma carranca. – Sou uma mulher forte e independente que te acertou com um taco e pode fazer isso novamente.

– Justo o suficiente. – Ele sorriu amarelo. – Compartilham o gosto pelas mulheres fortes também...

– Esse lance de compartilhar gosto e me comparar com a mãe do cara é meio desconfortável, senhor criminoso Black. – Gina olhou para as unhas, enquanto tentava esconder o embaraço. – O nosso relacionamento nem é um relacionamento, e é bem recente...

– Gina! – Harry a interrompeu.

– O que foi? Ele é família, eu acho. – Gina encolheu os ombros.

A presença dele causara arrepios em todos os policiais presentes no departamento. O rosto deformado por diversas plásticas combinado ao tom soberbo e malicioso de sua voz, assustava quem cruzava seu caminho e ele gostava da sensação de ser temido.

Aleto e Amico – irmãos e seguranças particulares – o seguiam por toda parte como os cães bem treinados que eram: obedientes e leais ao seu dono. A presença da mulher e do homem só contribuíam para a imagem aterrorizante que ele passava – principalmente o semblante letal de Amico – e talvez por isso os mantivesse sempre por perto. Mas na realidade, qualquer um que conhecesse quem ele era de verdade sabia que ele não precisava de Aleto e muito menos de Amico para chegar aos seus objetivos ou resolver qualquer pendência. Gostava de sentir o medo exalando das pessoas e a sensação de poder que isso trazia. Ele era dono do mundo, ele era o homem mais poderoso e nada o derrubaria, nem o filho dos Potter.

Ron respirou fundo, enquanto o via se acomodar no sofá da sala de visitas do departamento através do vidro da cozinha. O cara era estranho e causava calafrios em todos, inclusive nele, mas já tinha visto coisas piores na vida para se sentir intimidado. De qualquer maneira, preferia que Harry estivesse ali para interrogar o própio suspeito, na verdade.

Odiava quando Harry escondia as coisas dele e agora não era um momento apropriado, sem contar que aquele não era o significado de parceria... Esconder coisas um do outro.

E agora Gina.

Respirou fundo novamente, e encolheu os ombros. Teria de fazer o trabalho sujo sozinho.

– Boa dia Sr. Borgins. – Ron disse formalmente. – Eu sou o detetive Weasley.

– Bom dia, Detetive Weasley. – Tom disse, tentando esconder a decepção por não ser o detetive Potter a atendê-lo. – Solicitaram minha presença e eu vim o quanto antes, em que posso ajudar?

– Sinto dizer que tenho más notícias, Sr. Borgins. – Ron decidiu que se o homem assustador iria bancar o inocente, ele iria bancar o complacente. – Após uma investigação minuciosa, chegou ao nosso conhecimento que o seu pai biológico faleceu.

– Faleceu? – Ele colocou as mãos no peito, teatralmente. – Sem que eu ao menos tivesse a chance de conhecê-lo?

– Na verdade, ele foi assassinado, Sr. Borgins. – Ronald falou, pacientemente. Não podia provar que o homem matara Tom Riddle, mas podia ver nos olhos dele que ele sabia quem era o pai.

– Assassinato? Que coisa horrível! – Mas seu rosto não esboçava nenhuma expressão.

– Senhor Borgins, eu vou precisar que me descreva o tipo de relação que mantinha com o Sr. Tom Riddle. – Ron pediu, metódico.

– Tom Riddle? Bem, fizemos negócios em algumas ocasiões... Ele era conhecido de um dos meus sócios, Lucius Malfoy. – Tom dissera, aparentando confusão. – Qual é a relação...

– Acredito que o senhor tenha acabado de ligar os ponteiros, Sr. Borgins. – Ron tentou não parecer revoltado, ainda estava fingindo complacência. – Sinto pela sua perda.

– Todos esses anos fazendo negócios com ele sem saber que ele era o meu pai. Se eu soubesse...

– Então quer dizer que o senhor nunca procurou saber quem era o seu pai...

– Na verdade, sempre procurei, mas...

– Eu devo acreditar que um homem com seus recursos e posses não tenha conseguido encontrar o próprio pai? – Ron inquiriu, erguendo uma sobrancelha.

– Talvez algo sempre tenha me detido quando eu estava prestes a encontrá-lo. – Tom sorriu de uma maneira um tanto quanto assustadora. – O que há, detetive? Está duvidando de minha palavra?

– De maneira alguma, senhor. – Ron sorriu com um certo deboche, aquele fingindo ultraje não o intimidaria. – Estou apenas fazendo o meu trabalho e investigando os fatos. Sou melhor em conseguir provas explorando cada detalhe, mas eventualmente eu as consigo. E uma vez que eu consigo provar... – Ron sorriu mais uma vez. – As coisas se acertam. Por isso, Sr. Tom Marvolo Borgins, não se preocupe. Vou colocar o assassino do seu pai atrás das grades.

– Confio que fará seu trabalho, detetive. – Tom sorriu, consciente de que não enganara o detetive, e acrescentou: – Boa sorte.

– Não preciso. – Disse, e assistiu Tom levantar-se e se ausentar da sala. – Tenha um ótimo dia.

– Obrigado.

Ele observou o homem caminhar tranquilamente para longe de seus punhos. Impotente, voltou para o próprio gabinete só para descontar a frustração na mesa.

Harry sentiu que não poderia aguentar nem mais um minuto daquela conversa sem álcool. Ele suportara bem durante todo o tempo que Sirius explicara a própria fuga (alargando as escondidas os respiradouros de sua cela, o prisoneiro havia se metido por um duto no teto, entortando as grades que encontrou pela frente com ferramenta rudimentar feita pelo próprio, alcançando o telhado e escapando por uma brecha previamente feita no prédio da oficina), mesmo quando seu senso moral rugia em protesto àquele absurdo.

No entanto, tudo se tornou progressivamente mais complicado quando Sirius mostrou a ele o único pertence que havia mantido consigo desde o encarceramento: uma foto borrada, gasta e antiga onde Harry pôde vislumbrar - alem de três homens jovens e sorridentes - dois rostos, familiares apenas por conta de outras fotografias. A respiração falhou involuntariamente e ele sentiu uma vontade insana de pedir para que Gina se retirasse porque de repente aquilo se tornara pessoal demais, e o detetive não sabia o quanto Weasley poderia querer compartilhar antes de tomar a sensata decisão de não se envolver com um homem complicado como ele.

– Eu sabia que você me lembrava alguém. – Ela disse, observando a foto e o homem amarrado a sua frente, respectivamente. – Se Depp emagrecesse uns trinta quilos... Ele seria você. Num filme do Tim Burton, obviamente. – Harry apreciou a tentativa da jornalista de amenizar o ar pesado, mas ainda tinha vontade de ficar sozinho.

– Porque agora? – A pergunta saiu antes que ele pudesse ponderar se ela era prudente. Sabia que soaria vulnerável, sabia que dessa forma Sirius veria que estava mais aberto a uma suposta história sobre o passado dos pais e, ainda assim, não conseguiu evitar.

– Você sabe por quê. – Eles se encararam por muito tempo. Harry baixou o olhar para uma Lilian de olhos muito mais bonitos que os dele, em sua visão pessoal. Lembrou-se do modo como ela morrera e porque morrera e tentou decidir o que ela gostaria que ele fizesse agora.

Sirius e James pareciam realmente amigos na fotografia. Tinham expressões parecidas – dessas que só se adquirem ao se passar muito tempo ao lado de alguém – e seu pai estava com um dos braços em torno dos ombros do prisioneiro, num gesto típico de parceria.

E foi assim que Harry soube que não tomaria nenhuma atitude sem saber da posição de Ronald primeiro.


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