Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 16
Capítulo XV




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Era verdade que estava no seu auge astral nas semanas anteriores àquela. Tudo parecia estar dando certo, tanto na vida profissional quanto na amorosa, como se os planetas estivessem finalmente alinhados e sua lua estivesse na posição correta. Luna sabia que era um espírito solitário: seu espírito via verdades que algumas pessoas não viam ainda, mas isso não a impedia de querer mostrar o dom do progresso de aquário para Neville.

Ela queria que ele visse que o mundo só tinha a evoluir quando companhias cegas pela ganância parassem de destruir o patrimônio da humanidade que, em sua mais profunda convicção, era a natureza.

– Quando eu o vi pela primeira vez, claro que já tinha uma imagem formada na cabeça, porque você nunca para de falar nele. – Luna falou repentinamente, deixando Gina confusa por um instante. – Mas houve um dia em que não apenas o olhei, eu o vi, sabe? E ele tinha aquela luz em volta dele... Eu juro que ele parecia brilhar. Sei que é algo estranho de dizer até mesmo pra mim, porque ele estava lá com seus quase um metro e noventa de altura, mas parecia leve... Com uma aura perturbada pelo passado, mas disposto a viver uma vida feliz. Eu achei que seríamos do tipo que se completaria, meu espírito rebelde e seu dom da honra, só que ele mentiu para mim e a mentira escurece a alma.

– Omitiu, na verdade. – Gina tomou um gole do suco de laranja sem agrotóxicos comprado na feirinha da área rural. – Ele sabia que você não aceitaria bem.

– Isso não é desculpa, Ginny. – Luna replicou, triste. – Eu sei que tenho que perdoá-lo para que possamos os dois seguir em frente e evoluir, mas eu nunca me senti assim antes, como se eu não conseguisse ir adiante...

– Talvez seja porque você gosta dele de verdade. – Ela disse paciente, sentindo as mãos geladas de Luna envolverem a sua. – Quando a gente gosta de verdade de alguém, colocamos todas aquelas expectativas na pessoa, entende? Queremos que sejam nossos reflexos, por mais assustador que isso seja se você pensar bem, porque a gente não deveria querer alguém que pensa como nós e talvez a gente nunca consiga deixar de esperar demais da outra pessoa, pois a idealizamos e isso não ajuda ninguém, só acrescenta uma pressão desnecessária e nos impede de conviver com os defeitos e divergências. Neville de fato brilha ou qualquer outra coisa esotérica bizarra que você disse, ele é a pessoa mais inteligente que eu conheço e ele usa o que ele sabe para ajudar quando ele pode, como você faz.

– Mas como ele pode ajudar alguém quando ele trabalha para Malfoy? – O rosto sereno de Luna se contorceu em uma leve careta de asco. – Você sabe quantas reservas naturais foram destruídas para que ele comprasse mais partes da cidade?

– Não que você esteja errada em defender o que você acredita e esse lance de rebeldia. – Gina tentou se manter paciente, o que vinha sendo difícil diante dos acontecimentos atuais, quando até sua amiga mais “zen” parecia perturbada. Talvez os planetas estejam completamente desalinhados. – Porém você não pode esperar que as pessoas defendam as mesmas causas que você; Você pode tentar e eu posso te dar um murro, por exemplo. Se você quiser me mudar o tempo todo quer dizer que você não gosta de quem eu sou e se você não gosta de mim por quem eu sou, que sentido isso faz?

– O quão hipócrita eu seria se eu namorasse um cara que defende tudo o que eu mais odeio? – Luna tinha um tom mais sereno agora.

– E quão estranha é a vida quando eu sou a voz da razão? – Gina perguntou para fazer Luna sorrir. – Que tal alguém apaixonada? Sem contar que eu não acho que ele defenda tudo o que Malfoy faz, ele apenas trabalha para ele o que é completamente diferente. Draco e Harry são amigos, eu gostaria de acrescentar, e não quer dizer que os dois acreditem nas mesmas coisas.

– Talvez você tenha razão. Talvez esse seja apenas o preço a se pagar por namorar um leonino. – Luna respirou fundo, sentindo-se mais tranquila. – Obrigada, amiga.

Gina torceu o rosto para a palavra carinhosa “amiga”, porém sorriu. Gostaria de poder trancar Neville e Luna em uma sala e só deixá-los saírem de lá quando se resolvessem. Alem disso, só sairiam se a resolução fosse satisfatória para Gina.

O pensamento a fez feliz, até lembrar-se que namorava um policial e que talvez isso fosse considerado sequestro e crime de cárcere privado, nada legal.

Desejou ao menos poder convidar Luna e Neville para o jantar que daria na casa de Harry apenas para que eles pudessem sentar um de frente para o outro e finalmente cederem, mas lembrou que Luna não tinha nada a ver com o caso e que Nev insistia em se manter nas sombras, ajudando como pudesse no papel de coadjuvante.

Pelo menos tinha esperança que Luna apelasse para a espiritualidade ou sei lá e voltasse a fazer casal bonitinho com Neville, porque os dois estavam deixando-a impaciente e, pior de tudo, triste.

Estar ativo era algum tipo de eufemismo para Harry Potter.

Ele estava elétrico e em um ritmo frenético desde o momento em que Neville Longbottom – que os Deuses do infinito o abençoassem – abrira aquele laptop mágico e trouxera imagens que comprovavam que algo muito importante, criminoso e grave acontecia naquele cassino.

Podia não ser mais o responsável oficial pelo caso, podia não estar incorporado a força e podia não estar portando uma arma e um distintivo naquele momento, podia estar arriscando a vida e a carreira de todo mundo que amava só em convidá-los para aquele jantar. Ainda assim, abraçaria suas chances: se aproximava a data em que Voldemort finalmente pagaria pelos seus crimes e ele estaria lá, de uma maneira ou de outra, mesmo que houvesse algo de esquisito em não seguir as regras e fazer com que as pessoas se submetessem a coisas erradas com ele.

É por uma boa causa, Gina vivia lembrando-o, porém Harry não conseguia deixar de se sentir culpado pela situação.

Para começar estava encobrindo um fugitivo de segurança máxima, tendo como cúmplices seus amigos e namorada. Conseguia informações sobre o caso de maneira pouco ortodoxa e ainda estava envolvido até o último fio de cabelo com o caso em que recebera ordens expressas para que ficasse longe, já que estava afastado da policia.

Talvez ele merecesse estar suspenso mesmo.

Deu de ombros quando encarou o fluxograma que improvisou na parede do apartamento.

Os nomes ainda precisavam ser preenchidos, mas sabia como uma máfia de sistema vertical funcionava e, como já conhecia Voldemort, já o estudara a anos e conseguia sentir sua arrogância através de todas as suas ações, sabia que sua equipe não funcionaria de forma diferente: ele era o chefe, o maior e único. Uma espécie de Lorde do crime. Talvez ele se autodenomine assim. Lorde Voldemort.

Enquanto pensava a respeito, Hermione e Ronald chegaram juntos, sendo os primeiros e com minutos de antecedência, já que Ronald estava constantemente preocupado com a saúde mental de Harry desde que este fora afastado da polícia.

Mas ao ver a bagunça de fios vermelhos e tachinhas no quadro de cortiça arranjado na sala de jantar, o detetive viu que ele dera um jeito de se ocupar. Por telefone, Ronald o mantinha a par de tudo o que acontecia, mas vê-lo funcionando e se dedicando ao caso trazia uma nova perspectiva a ele e um lampejo de ferocidade, no sentido bom da palavra, que garantia que iam resolver esse caso.

Por isso abraçou o amigo. Harry era forte e eles iriam dar um jeito.

– Em uma máfia nesse esquema – Harry começou a discursar quando Lupin, Tonks, Draco, Astoria, Ronald, Hermione e Gin se encontravam em seus devidos lugares amontoados na nem tão grande mesa de jantar de seu apartamento. – Existe um presidente, que suspeitamos que seja Tom M. Borgins, também conhecido como Voldemort. Alem dele, subordinados em um esquema hierárquico, por se tratar de uma equipe relativamente pequena perto de máfias mais atuais que funcionam de maneira mais horizontal.

Harry tinha apenas a figura de Voldemort no topo da lista.

– Precisamos descobrir quem figura as outras posições da lista. – Ele disse, usando um grupo de fotos com os nomes que pesquisara através da lista desconexa de Sirius e com as informações que tinha em seus arquivos.

– Peter Pettigrew, do qual colhemos uma amostra de DNA em nosso breve encontro... – Lupin começou a dizer.

– E eu já mandei para o laboratório para análise. – Astoria completou, em seu tom monótono. – Agora que temos provas que aquele é de fato Peter Pettigrew, aquele homem que fugiu de Azkaban pode ser inocentado, já que o assassinato nunca ocorreu. – A essa altura, todos já sabiam sobre Sirius.

– Esplêndido! – Lupin exclamou, feliz. Em menos tempo estavam conseguindo chegar mais longe do que ele tinha chegado em todos esses anos. Sentia-se orgulhoso de participar da equipe, num misto de nostalgia e orgulho. James e Lily, e não apenas eles, mas os Weasley (quando Ronald e Gina tiverem coragem de contar o caso em que estavam envolvidos) e até Frank e Alice, se estivessem conscientes, estariam muito orgulhosos daquela nova equipe que tanto se assemelhava a equipe da operação Fênix de décadas atrás.

– Peter não estava tão relutante em falar assim, já que tinha medo que revelássemos sua identidade. Garantiu-nos que existiam alguns cassinos espalhados pela Inglaterra, porém os de maior atividade financeira relevantes para o nosso caso são os dois de Londres: o Sun’s Town Hotel and Gambling House, dos Lestrange e o Imperius Play House, de Bartô Crouch Jr. – Lupin concentrou-se em responder, não podendo conter o sorriso da pequena e ainda sim enorme vitória.

– O filho de Bartolomeus Crouch? – Hermione disse surpresa e então indignada, meneando a cabeça. – O Parlamento está completamente infectado por todos eles.

– Bartolomeus e o filho não se falam há anos, na verdade. – Gina interferiu, ajudando Harry a recolher os pratos do jantar. – Então acredito que ele não seja o facilitador da equipe de Voldemort no ministério.

– Em nossa pesquisa sobre as finanças do Sun’s Town – Ronald começou a falar. – Notamos um montante que não fazia sentido na apuração de lucros diários do cassino, que confirma a possibilidade de lavagem de dinheiro. Porém esse dinheiro só pode ser repassado a Tom Borgins através de um laranja de uma empresa prestadora de serviços. Chegamos à conclusão que pode ser qualquer uma dessas três... – E olhou para sua mais nova parceira, afim de que ela pudesse falar também.

– Shrieking Shack Corporation, Nagini Association e Landrome Inc. – Hermione recitou. – Essas empreses recebem valores regulares com pouca variação, todos os meses, por prestarem serviços de advocacia e manutenções gerais para o cassino dos Lestrange. O valor que recebem todos os meses é o limite e por essa razão não precisa ser aprovado pela receita.

– Essas empresas devem “prestar serviços” para todos os cassinos, na verdade. – Draco se manifestou pela primeira vez na noite em um tom um tanto amargurado, atraindo a atenção de todos, principalmente a de Astoria, que se sentia estranhamente preocupada com ele desde a ligação telefônica e ainda mais quando pousou os olhos em seu rosto e ele falhou em fazer qualquer comentário sobre levar seus seios para jantar.

Ele levantou-se e procurou a figura de Lucius Malfoy na pilha de fotos de Harry. De costas para as pessoas, sorriu com certa angústia para o rosto daquele com quem partilhava tantas semelhanças, como a pele pálida e os cabelos naquele tom tão claro de loiro que o irritara tantas vezes. Sempre desejara que os únicos traços similares aos de Lucius fossem físicos, porque nunca o achara tão repugnante quanto achava agora.

– Se esse é realmente o esquema de Voldemort, lhes apresento o Diretor Executivo. – Ele disse colocando a foto do pai logo abaixo da de Tom Marvolo Borgins (com Riddle entre parênteses) – O responsável por fazer o que quer que o chefe quer que ele faça, certo? Pelas memórias agradáveis da minha infância e adolescência, isso eu sei que ele sabe fazer: obedecer ordens por covardia, ameaçar as pessoas com subornos e empréstimos impossíveis de serem pagos e mandar subordinados para o serviço pesado.

O tom afetado de Draco fez com que todos prestassem muita atenção ao rosto do pai dele sendo pregado com uma taxa no meio da testa no quadro de Harry. A essa altura todos sabiam do envolvimento de Lucius Malfoy no caso. Não sobre o papel que ele ocupava exatamente, mas ninguém tinha dúvidas que os dois tinham negócios.

Ainda assim era difícil assisti-lo descontar sua frustração e algum tipo de decepção de quem já não admirava uma figura paterna há séculos em um pedaço de plástico e uma foto. Draco encolheu os ombros no fim e voltou ao seu lugar.

– Também há o fato de que meu pai é dono de duas das empresas que a fulana ali mencionou. – Ele disse apontando para Hermione que apenas girou os olhos enquanto ele voltava ao seu lugar. – Tenho alguns papéis aqui que comprovam algumas transações financeiras entre eles e que datam alguns anos antes do meu nascimento.

– Ok. – Harry ficou dividido entre colocar a mão no ombro dele em um gesto de conforto que ainda não sabia se deveria ou juntar os papeis que ele jogou na mesa antes de se sentar. Harry se dirigiu a todos, exceto Draco. – Então o subchefe é o Lucius Malfoy. O que sabemos sobre ele?

– Além de ele ser um ser humano desprezível e covarde? – Draco fez questão de dizer, tentando usar o tom habitual. – Em alguns desses papeis temos endereços, memórias pessoais de jantares com Tom Riddle ou Borgins, sei lá. Também tem o número de seguranças e o patrimônio financeiro declarado dele e o não declarado também, que indica contas espalhadas pela Europa, porque além de péssimo pai, ele também é um tanto estúpido. Descobri que algumas das coisas mais ilegais dele como a Landrome Inc estavam no nome da minha mãe.

Draco cerrou os punhos e respirou fundo, antes de sorrir.

– Não precisam me olhar como se eu estivesse com um maldito câncer, continuem a reunião pessoas competentes e Ronald.

– Bom... Não foi dessa vez, mas ainda não perdi as esperanças de te fazer ver o sol nascer quadrado, Malfoy. – Ronald o respondeu em um tom ofensivo falso porque parecia o certo a se fazer. – Pegando o gancho de Riquinho Rico, imagino que então o consigliere seja Antonin Dolohov, o advogado de Tom Borgins. Encontrei alguns processos em aberto que põe sua credibilidade a prova e ele se encaixa no perfil de conselheiro.

– Faz total sentido. – Gina completou, colocando a foto de Dolohov embaixo da de Lucius. – Lembro de uma matéria no jornal sobre um assassinato em que ele foi acusado de ser o mandante. Acabou inocentado, mas foi um escândalo na época porque ele é um advogado famoso pela associação a Tom Riddle e agora descobrimos que ele era também funcionário de Tom Borgins.

– Então temos os gerentes. – Harry pregou Bellatrix Lestrange e Bartô Crouch Jr. no quadro. – Compreendo que os “donos” dos cassinos menores não são nomes tão grandes dentro da operação para serem considerados gerentes. Lestrange e Crouch são responsáveis por uma parte grande da operação e imagino que tenham subalternos.

– Ah sim, Tia Bella é um amor de pessoa. – Draco riu naquele tom sarcástico que todos estavam acostumados. – O que quer que ela comande de ilegal em seu cassino, chega em carregamentos bimestrais, porém já perdemos o desse bimestre que foi semana retrasada. Todas essas informações estão nesses papeis que Harry vai ler quando tiver um tempinho. Certamente ela tem amigos na alfândega.

– Todos os seus familiares estão envolvidos na máfia? – Tonks perguntou e depois cobriu a boca.

– Não, um pode ser inocentado. – Draco franzindo o cenho e usou do sarcasmo novamente. – Aparentemente, minha mãe é prima de Sirius Black! Olha como esse mundo é pequeno.

– Acredito que existam muitos operários... – Hermione consultou o dossiê que vinha montando com Ron nas últimas semanas. – Porém os principais intermediários são Crabbe, Goyle, Karkaroff, Macnair e Greyback, o último sendo um fugitivo procurando por diversos crimes, dentre eles assassinatos.

– E com isso, acabo de descobrir que minha infância está completamente mergulhada nessa merda. Filhos de mafiosos eram meus melhores amigos, que história divertida! – Draco se manifestou mais uma vez. – Pensando nos meus amiguinhos da época, talvez os filhos de Crabbe e Goyle estejam na Máfia também, vocês deveriam prestar atenção nisso. Sei que Crabbe filho é gerente de serviços do Sun’s Town e como o cérebro dele é menor que de uma ervilha, talvez seus serviços sejam apenas aqueles que envolvam gatilhos. Qualquer um pode aprender a atirar, não é Weasel?

– Não sei Malfoy, você conseguiu aprender? – Ronald sorriu satisfeito. Aquela era sua maneira de ajudar o cara que detestava a quebrar a tensão de descobrir que era provavelmente era a melhor pessoa de sua família e ainda assim não era lá grande coisa. – Ainda existem os associados, que mexem pauzinhos dentro do governo como Dolores Umbridge, Pius Thicknesse antes de ser deposto e alguns outros nomes provavelmente subornados com facilidade já que Tom é um membro do parlamento.

– Parece que temos tudo. – Harry observou. – Agora precisamos de um plano.

– Duas ofensivas. – Ronald tomou a palavra. Hermione não pode deixar de sentir uma espécie de admiração boba pelo modo que ele parecia focado e sério. Também não pode deixar de notar como ele passava tanta segurança quanto Harry. – Precisaremos de uma força tarefa no Sun’s Town e, simultaneamente, uma no Imperius.

– Céus, Ronald, desde quando você tem colhões? – Malfoy interrompeu, mas o detetive não se deixou levar pelo comentário.

– Precisaremos de Tonks e mais alguns policiais da divisão de detecção eletrônica monitorando tudo através dos furgões da policia. – continuou. - Também é importante selecionar os policiais a paisana e as pessoas que participarão efetivamente da operação. – Ele lançou um olhar simbólico para Potter.

– Estou certa de que Neville pode prestar assistência ao pessoal da DDE. – Gina se pronunciou.

Ron anotou a informação mentalmente.

– Sei que não é o melhor cenário, mas a presença de civis de nossa confiança infiltrados nos cassinos me parece uma boa estratégia.

– Civis? – Harry que até então aprovara todas as falas do parceiro, ergueu uma sobrancelha, ao passo que Weasley respirou fundo, sabendo que provavelmente teria que peitá-lo para garantir a sua próxima fala:

– Remo Lupin e Ginevra Weasley, mais precisamente. São membros de confiança da equipe tática e receberão treinamento de segurança adequado caso estejam dispostos a participar. – Seu olhar recaiu em Gina, que parecia estar com olhos mareados de emoção.

Ela sabia o que ele estava fazendo por ela e, mais do que isso, sabia o quanto a decisão exigira do irmão. Se estivessem sozinhos, ela com certeza teria lhe esmagado duas ou três costelas em um abraço forte.

– Eu também posso participar. – Draco se voluntariou.

– Não. – Ronald declarou de imediato.

– Weasel, seu...

– Não. – Repetiu, enfiando as mãos nos bolsos e esperando um confronto direto com Harry que nunca aconteceu:

Potter apenas o encarou longamente. Havia raiva e preocupação em seus olhos, mas ele era racional o suficiente para saber que Ronald estava certo.

– Eu sou o cacete do disfarce perfeito. – Draco teimou mais uma vez.

– Você não vai querer travar essa luta, Malfoy. – Hermione o preveniu. – Acredite. Eu já tentei.

– Hermione é advogada de Dumbledore. Atualmente seu rosto está em todos os jornais e canais do país. Seria suspeito e imprudente. – E olhou de relance para Malfoy. – Quanto a você, não confio na sua discrição. Alem do mais, você obviamente seria insubordinado e eu estou disposto a enfrentar o inferno antes de comprometer essa operação de algum modo.

Em uma situação normal, Draco teria lançado um sorriso torto e maldoso para Ronald, seguido de alguma ofensa que o deixaria nervoso. Mas essa não era uma situação normal e tampouco seu estado de espírito se encontrava neutro. Por essa razão, ele esmurrou a mesa de forma abrupta, antes de se levantar e derrubar a cadeira.

– Com licença, senhores. – Sua voz era cortante. Ajeitando a gravata, ele andou a passos duros até o banheiro, onde teria batido a porta, não fosse uma mão familiar.

Lançando um olhar duro para sua interceptora, ele entrou no cômodo e esperou que ela fechasse a porta atrás de si antes de dizer algo.

– Se esse seu olhar de pena não for me garantir uma noite de sexo, eu prefiro que você saia. – Anunciou, encarando-a pelo espelho do banheiro.

Astoria cruzou os braços e o encarou com a mesma intensidade.

– Você sabe como ser um homem ridículo, Malfoy.

– Sim, eu sei. – Ele andou na direção dela e só parou quando seu rosto ficou a milímetros do rosto petulante de Astoria. – Isso não muda o fato de que eu pratiquei cunilíngua em você, doutora.

Greengrass não girou os olhos. Não lhe respondeu de forma ácida. Apenas continuou encarando-o, parecendo decidir-se por algo, o que o assustou muito mais do que teria se ela tivesse reagido de uma maneira padrão.

– Meus pais tem um casamento miserável. – Ela disse por fim, como se estivesse falando do clima. – Não sei se isso tem relação direta com o fraco que mamãe tem por bebidas e por tentativas ineficazes de suicídio.

Ela sempre conseguia pegá-lo de surpresa. Draco sentiu uma vontade insana de abraçá-la, mas ao invés disso, limpou a garganta e inquiriu:

– Por que você está me contando isso?

– Porque tenho certeza que isso não consta nos registros que você certamente tem de mim. – Respirou fundo. – Porque quero ilustrar que entendo sua frustração e raiva. E por ultimo, mas não menos importante... Porque você disse que só falaríamos sobre pais e essas coisas complicadas no terceiro encontro e eu realmente sinto muito que as circunstancias tenham te exposto antes e para um numero de pessoas considerável. Eu não teria a sua coragem.

Dentre todas as emoções que lhe atingiram naquele momento, nenhuma foi tão densa quanto a gratidão interna que Draco sentiu. Em nenhum momento de sua curta e patética vida até então ele sentira tanto apreço por alguém. Ninguém nunca havia chegado tão perto de desarmá-lo daquele jeito.

Ele pousou ambas as mãos nas maças do rosto de Astoria como se ela fosse a coisa mais importante do mundo – porque naquele instante, ele descobrira que ela era – e fechou os olhos na tentativa de processar essa realidade nova em que ele não era nada mais e nada menos do que a pessoa que faria qualquer coisa para que Greengrass continuasse a ver nele algo que a mantivesse por perto.

E quando ela o beijou – mesmo sabendo que poderia se arrepender muitas vezes daquilo posteriormente – Draco se sentiu sem forças. Sem passado. Sem nada alem daquele sentimento fixo, irritante e pulsante por ela.

– Seja lá o que vocês estão fazendo no meu banheiro, parem, por favor. – A voz de Harry soou do outro lado da parede.

– Você quer participar, detetive? – Draco abriu a porta e Harry fez uma careta deprimente, embora estivesse aliviado ao perceber que ele parecia ter recuperado o sorriso torto.

– Não, obrigado.

– É uma pena. – Astoria piscou para os dois e dirigiu-se de volta à sala.

– Acho que estou apaixonado por essa garota.

– Não quero saber. – Harry meneou a cabeça, tentando ignorar a mancha de batom na cara do amigo.

– Não se preocupe, Potter. Você sempre será o primeiro.

– Pare. Você já estragou o banheiro do meu apartamento. É o suficiente por um dia.

Draco riu e acompanhou-o de volta para onde a equipe discutia opiniões.

O que quer que Astoria tivesse feito, surtiu mais efeito do que Harry esperava, porque foi com absoluta surpresa que observou Malfoy pedir desculpas para Ronald pelo descontrole.

– Tudo bem. – Ron murmurou, mais constrangido com o pedido do que com a cena anterior. – Acho que isso é tudo. – E encarou o relógio de pulso. – Preciso ir. Amanhã cedo convocarei uma reunião com Snape.

Harry assentiu sério.

– Vocês receberão noticias do caso em breve. – Informou quando percebeu que todos iriam aproveitar a saída de Ron para irem embora também. – Astoria, será que nós poderíamos conversar por um instante?

Greengrass assentiu e Potter observou a maneira como Malfoy pareceu em duvida sobre continuar no apartamento ou não.

– Em particular. – ele disse, apontando para a varanda.

Gina e Draco ergueram as sobrancelhas ao mesmo tempo.

– Greengrass, eu gostaria de te pedir uma coisa.

O semblante dela se retraiu.

– Me dê um minuto – Ela pediu, fazendo uma cara de cansaço. Aparentemente ela já entendera o que ele queria dizer através de seus olhos suplicantes, mas isso não significava que estava feliz com a ideia. Ao perceber que ela não estava convencida, Harry quebrou o silencio antes do tempo:

– Tori... Em hipótese alguma eu posso ser atendido pelos paramédicos ou visto por outros policiais caso algo me aconteça. Preciso de alguém de minha confiança. – E ao ver que a expressão dela continuava indiferente, reforçou: - você é minha pessoa de confiança.

– É claro que eu sou. – Revirou os olhos. – Isso não muda o fato de que se algo der errado, eu serei a responsável por cuidar de você. E se algo der muito errado... – Pelo vidro da porta de correr, ela lançou um olhar para Gina que parecia distraída no celular.

Harry suspirou.

– Sei que estou pedindo muito de você.

– Está mesmo.

– Eu não faria isso se tivesse outra opção.

– Será, Harry? – ela afundou o rosto entre as mãos, sentindo o principio de uma enxaqueca. – Tudo bem. – Disse ao se recompor. – Eu estarei pronta para te atender caso algo aconteça. – E antes que ele pudesse sorrir, ela ameaçou – Mas se você ousar ficar gravemente ferido... Se você ousar morrer sob os meus cuidados, eu prometo te resgatar no inferno só para matá-lo de novo.

– Parece um ótimo plano.

– E é. – Garantiu, apoiando as mãos na barra de proteção da varanda. A vista não era grande coisa: só dava para ver uma sequencia de telhados, mas ainda assim, era bonito.

– Como vão as coisas com Draco?

– Não. – Ela o impediu. – Não faça isso. Não finja algum tipo de interesse na minha vida sexual para me amaciar. Quero que você se sinta culpado pelo que está me pedindo. Preciso que você se sinta culpado. É a minha única garantia de que você vai ser cuidadoso e não bancará o herói suicida.

– Eu não vou bancar o herói suicida, Astoria – mentiu, olhando-a com firmeza. – E não estou interessado na sua vida sexual e sim no seu iminente relacionamento amoroso com aquela pessoa que está te aguardando no corredor de entrada. – Sorriu, ao passo que ela fez uma careta.

– Aparentemente eu só consigo manter em minha vida homens que me dão dor de cabeça. – Ela estreitou o olhar, ao que ele riu.

– Eu nunca colocaria a mão no fogo por Malfoy nesse quesito. – Potter anunciou, enfiando as mãos nos bolsos. – Mas ele é diferente com você. Achei que seria importante avisar. E estou falando como detetive.

Astoria continuou com os olhos fixos nos telhados, desejando desesperadamente um cigarro.

– Esse nunca foi o plano. – Murmurou, referindo-se a tudo e a nada.

– Eu sei. Não era o meu também.

– Somos dois fodidos.

– Completamente. – Harry concordou. – Ainda assim... É bom, não é? Ter alguém para te levar para casa.

– Suponho que sim. – E depois de uma troca de sorrisos breves, ela deu as costas para ele e saiu da varanda, despedindo-se de Gina e acompanhando Malfoy até o elevador.

Naquela noite, nenhum dos envolvidos no caso conseguiu dormir direito.

Encarando o teto do escritório de Hermione, Ronald repassou milhões de vezes sua requisição para a operação. Sabia que Snape não lhe daria autorização com facilidade e ele queria ter certeza que seus argumentos seriam fortes o suficiente para driblar o homem.

A advogada, por sua vez, estava em casa, mas sua mente continuava no escritório enquanto fingia dormir ao lado de Krum.

Harry e Gina sequer consideraram a opção de descanso: em silencio, os dois analisaram as plantas dos cassinos, lado a lado.

Remo aproveitou a insônia para evocar memórias dolorosas do passado, ao passo que Tonks gastou suas horas de sono escutando novamente a gravação do depoimento de Peter Pettigrew.

Em Chelsea, Astoria fumava um cigarro eletrônico em um quarto imponente e gigante enquanto observava Draco em seu sono irrequieto. Seu rosto parecia febril e ele balbuciava coisas sem sentido, ao mesmo tempo em que os olhos se mexiam de maneira agitada por baixo das pálpebras.

Com cuidado, Astoria se permitiu passar os dedos pelo cabelo dele.

– Está tudo bem. – Sussurrou, mesmo sabendo que era mentira. – Está tudo bem. – Repetiu, pensando na operação e em todas as coisas que ela poderia significar.


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