Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 15
Capítulo XIV




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Aquele era um péssimo dia, Gina murmurou para si mesma enquanto saía do seu apartamento do outro lado da cidade. Sua editora chefe tinha expressado profunda decepção por atrasos em entregas de matérias, uma vez que Gina prometeu que o trabalho na polícia não prejudicaria sua carreira.

A jornalista precisou prometer novamente a melhor matéria exclusiva de sua carreira para uma cada vez mais descrente McGonagall, enquanto entregava o perfil de Severo Snape, o que deveria ter sido feito no dia anterior.

McGonagall sabia que aquela era sua melhor jornalista: a que se enfiava até os cotovelos em uma história até entregar a matéria mais consistente que poderia obter. Olhando para seu rosto seguro e até um pouco arrogante, tentou lembrar-se do momento em que dera autonomia demais a Srta. Weasley.

Lembrou-se das centenas de matérias que Gina escreveu durante os anos em que trabalhava ali e especialmente a que tinha destacado-a dos demais: “De que lado eles estão? A ascensão e a queda do Ministério” que falava da destituição de Cornelius Fudge do cargo de Primeiro Ministro, o breve governo de Rufus Scrimgeour, o leão, que assim como Fudge fez o país acreditar em melhorias e foi assassinado em um caso nunca solucionado que muitos acreditam ser um golpe de estado e Pius Thicknesse, que supostamente fora subornado diversas vezes para aprovar e vetar leis - inclusive a que proibia cassinos e outros jogos de azar que estava tramitando há anos - impedida quase no ato por Thicknesse.

Na reportagem, Weasley alegava a possível relação entre o Ministério e a lenda urbana autointitulada Voldemort, sempre impune e sempre temido. Também tratava da deposição de Thicknesse e ressaltava a crise no parlamento nacional, indicada pelo numero exorbitante de ministros em menos de uma década, citando por fim que a entrada provisória de Kingsley Shacklebolt como ministro finalmente trouxe esperança para os britânicos, e que ele poderia significar que talvez impunidade não virasse um lema inglês.

A audácia de Gina em escrever um artigo político que feria a reputação e a carreira de tantos homens do parlamento, quase escondeu o brilho obsessivo de seu olhar quando falava ou lidava com qualquer assunto relacionado a Voldemort. McGonagall a admirava, talvez por isso fosse tão permissiva.

– Apenas não me decepcione. – Ela disse, dispensando Gina. – Isso é tudo.

Quando saiu da sala de sua editora, todos a olharam com expectativa, achando que seria demitida pelo simples fato de não a verem ali frequentemente. Ela sorriu falsamente para os colegas, piscando para todos eles na saída.

Repassou o momento em mente até chegar em casa, instante em que recebeu uma mensagem de Ronald perguntando se ela tinha notícias de Harry, já que este não atendia o celular há dias e nem a porta do apartamento, aparentemente.

Isso a fez bufar e pegar rapidamente algumas roupas limpas e o carregador do celular antes de sair correndo de casa outra vez.

Harry estava sentado no sofá quando ela chegou.

Aliás, ele estava sentado ali há uma semana, levantando-se para pegar cervejas e ir ao banheiro apenas. Dormia ali, acordava ali e permanecia ali até tornar aquele o local mais confortável do mundo. Afinal de contas, o que fazer quando te tiram da forma mais indigna tudo o que você tem? Tudo o que você sabe fazer jogado na lama.

Ele era um policial, ele era um detetive. O melhor detetive.

– Oi. – Gina hesitou. – Harry?

Ele demorou alguns segundos eternos para responder de acordo com Gina.

– Ei, meu bem. – Harry falou em um estado de torpor. Talvez ainda estivesse bêbado, observou Gina. Nunca a chamava de “meu bem”.

– Harry, você comeu alguma coisa? – Perguntou, atenta ao fato de que aquelas eram provavelmente as mesmas roupas que usara no dia anterior, que havia muitas garrafas de cerveja a sua volta e que ele não cheirava tão bem quanto de costume.

– Ainda não. – Ele disse, dessa vez olhando para ela. – Acho que me esqueci.

– Vá tomar um banho enquanto eu peço algo para você comer. – Gina disse, sabendo que não existia nada além de cerveja e uma lata de atum na geladeira.

– Não quero comer. – Ele falou, encolhendo os ombros.

– Não seja infantil Harry. – Gina disse, um pouco impaciente. – Você precisa comer.

Ele ergueu uma sobrancelha para ela, que continuou encarando-o até que ele se levantasse. Parecia que o sofá já estava com o seu formato. Harry seguiu sem vontade em direção ao chuveiro enquanto ela pegava o telefone e ligava para uma pizzaria ali perto. Sentia-se triste por encontra-lo naquele estado, porque aquele não era Harry que conhecia.

Sentia-se irritada, porque ele se recusava a se mover daquele sofá como se sua vida se resumisse a arquivos sobre Voldemort e a se lamentar internamente sobre sua sorte. Mas, principalmente, sentia como se o namorado tivesse sido injustiçado e isso a deixava cada vez mais furiosa.

– Eu não quero falar sobre isso. – Harry disse, sem camisa e secando o cabelo com uma toalha. Parecia mais desperto apesar do ar letárgico, mas sabia que ela iria falar mais uma vez sobre o estado deplorável em que ele se encontrava. – Não há nada que eu possa fazer e nada que você possa fazer então faremos nada.

– Nada? – Perplexa, ela o encarou e repetiu: – Nada?

– O que você sugere que eu faça? – Ela conseguia ver a raiva em seus olhos, porém sabia que não tinha nada a ver com ela. – Chame aquela sua amiga hippie para um protesto em frente à New Scotland Yard até que devolvam minha arma e meu distintivo?

– Seria melhor que esse monte de nada que você está fazendo. – Pela primeira vez em uma semana ela rebateu no mesmo tom que ele. – Não dá mais para te ver jogado no sofá, com essa barba que não combina com sua cara de morte e esse cheiro insuportável de cerveja velha e quente.

– Então vá embora. Ninguém está te obrigando a ficar. – Ele falou de pirraça e Gina empurrou o sofá antes que ele pudesse se sentar.

– Eu iria, Harry, eu iria de verdade se eu não quisesse tanto te dar uns tapas. – Gina cruzou os braços, para evitar gesticular o tanto que queria. – Talvez assim você acorde e para de ser um garotinho de seis anos de idade que perdeu a pipa e ao invés de arranjar outra fica chorando e enchendo o saco de todo mundo com essa péssima ideia de reclusão.

Harry sentiu-se magoado. Não tinha muita certeza a respeito dos conceitos de um relacionamento, mas sabia que uma das concepções era a de que o amor é paciente, compassivo e tudo suportava, entre algumas outras definições religiosas. Era verdade que não tinha feito muita coisa além de analisar arquivos já antigos, ignorar a campainha e beber cervejas. Seria bom ligar para Ronald em algum momento, porque esse já devia estar cuspindo marimbondos e talvez estivesse preocupado. Entretanto, não precisava ouvir aquelas palavras, não de Gina pelo menos.

– Não adianta me olhar com essa cara de profundamente magoado. – Gina colocou a mão no coração e girou os olhos. – Eu não estou jogando na sua cara, antes que você pense que eu sou a pior namorada do mundo, mas eu vim aqui todos os dias e te deixei em paz, te obriguei a comer e tomar banho, te ouvi reclamar da Cho Chang, o que nem achei tão ruim assim, mas até eu estou com pena da moça. E já chega! Se não for eu a pessoa que te disser que você está se comportando como um moleque, quem vai?

– Você não deveria estar me dando apoio e dizendo que tudo vai melhorar? – Harry a encarou, cruzando os braços.

– E essa seria eu de alguma maneira? – Ela o encarou de volta. – Eu acredito que tudo vai dar certo e melhorar, de verdade, mas eu também acredito que a gente tem que fazer alguma coisa para isso acontecer.

– E eu vou fazer o que Ginevra? O que? – Harry disse exasperado. – Eu não sou mais detetive, eu sou um civil. Eu não posso fazer mais nada, eu não posso me envolver no caso e perdi a chance de pegar Voldemort, mais uma vez ele vai sair impune e eu não vou poder fazer nada! Nada!

– Você tá ofendendo quem ainda está no caso, queria te dizer. – Gina falou, o fazendo encolher-se todo ao ouvir ainda está no caso. – Oficialmente, eu quis dizer.

– Não melhorou muito. – Ele comentou rabugento.

– O que eu quero dizer é que você está se escondendo atrás de um distintivo para agir como se você fosse alguém só por possuí-lo. – Gina disse, jogando os braços para cima. – O distintivo não te torna o Batman!

– Você não está entendendo. Eu não posso mais participar do caso! – Harry afundou o rosto nas mãos.

– Você não pode ou não quer? – Ela o forçou a olhar para ele, puxando as mãos dele.

– É ilegal. Eu estou suspenso, Ginevra – Ele falou pausadamente, como se Gina tivesse algum problema cognitivo e dificuldade em entender o que ele estava falando. A jornalista, por outro lado, se via cada vez mais furiosa, jogando os cabelos para trás e amarrando-o em um nó só para ter o que fazer com as mãos alem de enforca-lo.

– Não me chame de Ginevra. Eu não sou a culpada pelos seus problemas e pouco me importa de verdade a maneira injusta com a qual você foi afastado. Eu sei que foi uma injustiça, fiquei furiosa e que chato. Mas mais do que isso, o que me importa de fato é o que você vai fazer para sair dessa porcaria de estado vegetativo em que você se encontra, porque eu não tenho mais paciência. Eu tenho todo o amor do mundo por você, por mais que nunca tenha dito isso antes. Amo você para caramba e esse seu desperdício de vida só está me fazendo querer te agredir ao invés de te ajudar.

– Que bela maneira de dizer que me ama. – Harry girou os olhos.

– Eu te falo essas coisas porque amo mesmo e amo tanto que fiquei aqui e vou ficar mesmo sem paciência. – Ela se sentou ao lado dele no sofá. – Eu só quero que você saiba que você pode fazer mais que isso, você pode fazer o que quiser, você é Harry Fucking Potter.

Harry estava perto de dizer que a amava também. Ele queria lhe pedir um daqueles beijos que trariam toda a paz de espírito que ele precisava e ainda assim lhe tiraria o fôlego porque aquela era de fato a mulher mais incrível do mundo, mas ouviu a campainha tocar e Gina se apressou em atender, acreditando ser o entregador de pizza.

– Até que enfim te encontrei! Sabia que aqui deveria ser o primeiro lugar a vir te procurar. – Harry não reconheceu a voz masculina que falava com Gina com tanta familiaridade. – Minha sorte é que não existe mais privacidade no mundo após a invenção da internet.

Neville parecia elétrico como Gina não via há mais ou menos uma semana. Sentiu-se uma péssima amiga por estar tão absorta nos próprios problemas que não ligara para saber como ele estava após o término com Luna (muito embora soubesse que a amiga estava furiosa da maneira zen dela – que significava altamente decepcionada no tipo não-o-mencione-nunca-mais). Mas ali estava ele, agitado e na casa de Harry.

– Consegui finalmente acesso ás câmeras. – Neville disse, adentrando o apartamento com a pizza de pepperoni nos braços. – Você me deve 10 pratas.

– Está tudo bem com você? – Gina perguntou, pegando a pizza do braço dele. – Você parece... Ativo.

– Voltei a consumir cafeína. – Explicou. - Agora que não tenho namorada para fazer limpeza no meu organismo e na minha aura e provavelmente vou morrer sozinho. Talvez de maneira precoce por overdose de cafeína. – Ele falou rapidamente e Gina notou as olheiras enormes em seu rosto. – Enfim, você está perdendo o foco principal da conversa, eu tenho acesso às câmeras. A todas as câmeras que eu quiser!

Harry observou Gina abraça-lo com felicidade e cumprimenta-lo com a mão aberta.

Vários elogios e muita alegria sendo compartilhada a berros de “você é um gênio!” e essas coisas. Não sabia ainda se poderia sentir ciúmes da cena ou se queria saber como ele tinha conseguido acesso às câmeras de Londres, que câmeras eram essas e o que ele tinha encontrado em tais câmeras.

Quando era seguro interromper aquela cena esquisita? Não quis parecer rude, mas pigarreou.

– Ah. Que horrível da minha parte, não é? – Gina disse, ainda sorrindo. – Harry, esse é o gênio da informática e meu melhor amigo, Neville Longbottom. Nev, como você já sabe, pois já o stalkeou na internet, esse é Harry Potter, meu namorado.

Neville quis comentar o fato de ela apresenta-lo como namorado, que era algo inédito e incrível. Porém, com seu mau humor e a falta de crença no amor e no universo em geral, sua voz sairia a coisa mais irônica e dolorida no universo. Ele sabia que tinha que se ater a regra de “não sinto o que não posso explicar”, que se aplicava a raiva e agora ao amor também.

– Prazer em finalmente conhecê-lo. – Harry falou, colocando as mãos no bolso.

– Igualmente. – Neville soou solene.

– Ok. – Gina girou os olhos. – Me mostre!

– Malfoy me alertou para o fato de que eu estava pensando pequeno com as tais câmeras de segurança da cidade. As câmeras do cassino jamais denunciariam algo que queriam esconder. – Neville disse excitado, abrindo o laptop que tinha acabado de tirar da mochila. – Então primeiro consegui acesso a todas as câmeras de segurança que só funcionam nos principais pontos da cidade. O governo deveria ter vergonha em dizer que a cidade inteira é monitorada por câmeras tão fáceis de serem hackeadas.

Então ele olhou apreensivo para Gina e indicou Harry com a cabeça.

– Ele não vai te prender, Neville. – Ela rolou os olhos mais uma vez.

– Isso não é exatamente estar dentro da lei, Gin. – Neville disse, ainda observando Harry de soslaio.

– Ele não te prenderia nem se pudesse, não é Harry? – Gina quase o beliscou para que ele pudesse concordar com ela. – Até onde sabemos você é um informante anônimo que fez o que fez sem nossa ajuda ou algum tipo de comando. E nós não trabalhamos mais para a polícia por enquanto.

– Isso o que ela disse. – Harry falou, observando o rapaz mostrando imagens nítidas do cassino em tempo real.

– Certeza? – Neville olhou para Gina mais uma vez em busca de segurança. Depois fez questão de olhar para Harry – Eu vou precisar assinar alguma coisa?

– Ninguém vai te prender. – Harry assegurou, colocando a mão no ombro de Neville que se encolheu. Quis rir, mas achou que o rapaz ficaria ainda mais nervoso.

– Então tudo bem. – Harry e Gina observaram enquanto Neville abria mais uma janela no computador e colocava as câmeras particulares do cassino, que eram bem mais nítidas, mas não mostravam nada de diferente. – Vocês conseguem ver isso aqui? Gina e Harry não faziam ideia do que era “isso aqui”.

– Só acontece às vezes. – Ele reprisou o momento. – E é bem rápido.

– Nos ajude, porque não conseguimos ver. – Gina falou pelos dois.

– Essa câmera da parte lateral do cassino. – Ele apontou para a câmera particular do cassino que apontava para uma rua ao lado do cassino. – Nunca acontece nada nesse ponto, além de pessoas andando e alguns carros passando. Mas ás vezes, principalmente depois das nove da noite, um pequeno holofote cega a câmera por alguns segundos.

– É quase imperceptível! – Harry falou, chegando perto da tela do computador. – As câmeras de segurança da cidade não pegam nada.

– Porque o holofote está do mesmo lado da câmera da cidade, mas essa câmera não pega esse ponto da rua. – Ele apontou para perto de uma caçamba de lixo, bem nítida na câmera do cassino. – Imagino que haja algum tipo de sensor de movimentos que ative o holofote para que ele se pareça um farol de carro.

– Por que o cassino teria uma câmera em frente a sua passagem secreta e depois teria esse trabalho todo para encobri-la?

– Porque eles não podem arriscar que qualquer pessoa descubra a passagem. – Harry falou, esperando que o holofote se acendesse mais uma vez. – Ainda precisam vigiar a passagem e não podem arriscar colocar um segurança.

– E é algo indetectável se você não presta a atenção na frequência com a qual acontece. São apenas 3 segundos ocasionais e facilmente confundíveis com faróis de carro, como eu te já disse. – Neville falou, observando Harry absorvendo todas as novas informações. Esperou que ele o olhasse impressionado para que completasse. – Então eu fui procurar outras câmeras que me dessem outra visão daquela rua. Se eu tivesse mais tempo, poderia hackear as câmeras de segurança dos prédios em volta ao cassino, porém envolveria trabalho de campo, já que precisaríamos saber a empresa que presta o serviço de segurança e etc. Então decidi pensar alto.

– Você hackeou um satélite? – Gina perguntou abismada e boquiaberta.

– Não tão alto Ginny. – Neville girou os olhos e Harry riu. Gostara daquele rapaz. – Essa é uma zona popular da cidade e então o que temos? Movimento, certo?

– Você hackeou as câmeras nacionais de tráfego? – Harry perguntou surpreso. – Nós no departamento temos que enviar um mandato e esperar um policial autorizado para termos acesso.

– Precisamente. – Neville sorriu orgulhoso, apontando uma terceira janela no navegador. – Observem, se você souber o que está procurando...

Os três viram quase que ao mesmo tempo uma pessoa no corredor, o holofote misterioso e a pessoa desaparecendo em seguida.

A passagem não poderia ser na parede. Seria muito engenhoso de verdade, mas as plantas mostravam apenas um armário de casacos ali e era coerente com o espaço. Gina lembrou-se da pergunta: para que seguranças em um armário de casacos?

– Assistam de novo. – Neville disse, apontando para um ponto perto da caçamba de lixo.

– A passagem é subterrânea – Disseram em uníssono e riram.

– Deve existir algum tipo de código oral ou não que dá acesso a esse espaço secreto. – Harry falou, o mais animado que esteve nos últimos sete dias. – Tá vendo como ele ainda não desapareceu totalmente? É como se ele estivesse descendo uma escada que dá acesso a uma câmara.

– Exatamente! – Neville confirmou, com o ego inflado. – Infelizmente não consegui extrair áudio das câmeras de segurança.

– Não, isso já foi o bastante! – Harry mal podia acreditar na sua sorte. – Parabéns Neville, isso foi realmente genial.

Neville sorriu, orgulhoso de si mesmo e sentindo-se um pouco mais útil do que vinha se sentindo ultimamente.

Agora que tinha certeza que ajudara efetivamente a solucionar uma parte crucial do caso - hackear câmeras e observar coisas que realmente faziam sentido, não era para qualquer um - sentia como se pudesse de fato fazer qualquer coisa.

Inclusive ganhar sua garota de volta.

Se Draco soubesse que Neville tinha saído mais cedo do trabalho para acabar indo parar na casa de Harry, teria dado o dia por encerrado também e ido com o funcionário. A verdade é que Harry era a coisa mais próxima que ele tinha de amigo e desde que soubera que ele estava afastado da policia, vinha alimentando preocupações sobre como ele estava lidando com a situação.

Potter era obcecado pelo seu distintivo muito antes de consegui-lo de fato: só conseguia falar disso desde os 17 anos. Seu senso de justiça e de ordem fazia com que Draco sentisse vontade de vomitar, mas uma parte sua – ainda que mínima – apreciava a maneira insistente como o detetive se esforçara para alcançar seus objetivos. Fora por causa de Harry que ele tentara – e na maior parte das vezes conseguira – montar seu império da maneira mais limpa possível. Obviamente era um desafio e Draco adorava desafios, bem como gostava de enganar empresários burros muito mais do que gostava de roubá-los, mas estava ciente de que se ele não cruzava algumas linhas, era porque tinha uma consciência em outro corpo com uma farda e uma tremenda cara de bunda.

– Inferno. – Murmurou entre duas chamadas internacionais importantes. Apertando um botão que fazia linha direta com sua secretária na sala subjacente, disse: – Caro, cancele a próxima reunião.

– Senhor, os americanos...

– Ficariam irritados de qualquer maneira. – Ele a interrompeu. – Cancele, Caro. Invente qualquer desculpa convincente. Você é capaz. Quero uma hora e meia de silencio absoluto.

– Sim, senhor.

Respirando fundo, ele olhou para o teto. Pelos seus cálculos, Harry já estava a uma semana em casa. Ele não sabia se deveria procurá-lo. Os dois ignoravam qualquer regra sobre o que fazer em uma situação como aquela.

Malfoy estava certo de que telefonar era uma péssima ideia e que visitá-lo talvez fosse inconveniente. Precisava de um meio termo que parecesse sensato e por essa razão decidiu pesquisar a respeito do cassino de sua tia. Talvez pudesse ajudar se conseguisse se provar útil para a investigação estranha e longa que ele estava envolvido. Potter já lhe havia pedido isto anteriormente, mas ele acabara se enrolando em uma briga gigantesca com os representantes da Apple e passara os últimos dias realmente concentrado em seus negócios.

Não estava livre ainda, mas agora sentia-se culpado e por essa razão respirou fundo e arregaçou as mangas antes de começar a pesquisa para Harry.

Meia hora depois, já tinha todos os dados que a policia tinha, entre outras informações que acabara filtrando por motivos subjetivos. Seu maxilar tenso e o olhar frio poderiam ter assustado qualquer um que o visse naquele momento...

...No momento em que descobrira que Lucius Malfoy era possivelmente o braço direito do homem mais baixo que existia em toda a Inglaterra.

Draco não tinha nenhuma pista de onde aquela raiva entalada em sua garganta surgira. Seus punhos estavam tão cerrados que os nódulos dos dedos adquiriram uma coloração amarelada.

Fazia muito tempo que parara de se importar com Lucius e com o que ele fazia daquela desgraça de vida. Mas ali estava ele, o fantasma de seu passado, puxando-o com dedos longos e finos, mostrando que de algum modo ele sempre seria só um garoto que esperava coisas demais do pai.

– Caro, eu disse que não queria ser incomodado. – Draco avisou quando o bipe do aparelho eletrônico tocou.

– Desculpe, senhor. Astoria Greengrass está na linha. Você pediu para ser avisado imediatamente caso isso acontecesse.

Ele respirou fundo, tentando dissipar a vontade de quebrar alguma coisa.

– Repasse-a para mim.

– Greengrass. – Cumprimentou.

– Porque tem três homens prestes a destruir meu banheiro? – Guinchou nervosa.

– Seu encanamento estava ruim. Em duas semanas, seu apartamento ficaria inapto para uso. Como, por um acaso, eu sou dono do prédio em que você mora, senti que era a minha obrigação maximizar o bem estar de uma moradora.

Astoria estava prestes a rebater de maneira malcriada quando notou algo no timbre dele que a conteve.

– Você está bem?

Aquilo era inédito, mas não era o suficiente para melhorar o seu humor.

Ignorando-a, ele continuou:

– Caso você queira, os engenheiros se retirarão nesse mesmo instante e você será reembolsada pelo inconveniente.

– Não é necessário. – Os dois ficaram em silencio por bastante tempo, até ela decidir dizer: - Obrigada.

– Disponha. – E respirando fundo enquanto olhava a foto de seu genitor no monitor, fechou os olhos e se concentrou em evocar uma imagem dela. – Você está bem?

– Estou. – Respondeu, incomodada por estar curiosa a respeito do que estava acontecendo para ele estar agindo daquela maneira.

– Eu fico contente em ouvir isso, Astoria. Eu... – Suspirou, apertando os olhos. – Fico realmente contente.

– Ok. – Disse meio incerta do que fazer a seguir. – Nos vemos por ai, Malfoy.

Draco teve o cuidado de desligar o telefone antes de destruí-lo.

Do outro lado da linha recém-cortada, Astoria se pegou olhando para Hombre, seu esqueleto. Havia algo de estranho acontecendo com Malfoy e havia algo de estranho consigo também, por dar importância a isso.

Tonks estava cochilando sentada quando os resultados positivos começaram a aparecer. Depois de muitos falsos alarmes, ela agora já não acordava tão sobressaltada quanto antes.

Esfregou os olhos vagarosamente, encarou a tela do computador e dividiu os resultados por probabilidade. Quando percebeu que tinha uma chance real de ter encontrado Peter Pettigrew, quase pulou da cadeira.

– Detetive Weasley – Ela cumprimentou por telefone o oficial a quem agora se reportava. - Tenho bons motivos para acreditar que encontrei o paradeiro do nosso suspeito.

Ela o ouvir xingar de emoção do outro lado e sorriu, sentindo-se orgulhosa do próprio trabalho.

– Com o programa de dados?

– Sim, senhor. Remo Lupin me ajudou com alguns detalhes pessoais sobre o homem. Isso auxiliou no filtro de busca. Encontrei um perfil pessoal e, embora alguns detalhes faciais não batam com as fotos que temos, todo o resto se encaixa. Alem do mais, há um objeto pessoal que o Sr. Lupin descreveu e que aparece em todas as fotos. Eu identifiquei o IP do computador mais frequente e através dele consegui o endereço de uma residência fixa aqui em Londres mesmo.

– Bendito seja Lupin.

– Amem, senhor. – Ela comentou e Ron riu com força.

– Ótimo trabalho, Tonks. Você gostaria de terminá-lo?

A empolgação que ela sentia atingiu níveis estratosféricos com a pergunta.

– Você está me perguntando se eu gostaria de realizar o trabalho externo, senhor?

– Você o encontrou. Nada mais justo do que encurrala-lo.

Tonks poderia dançar uma rumba ou chorar de emoção. Detetives da Divisão Eletrônica quase sempre eram esquecidos em casos comuns. Os policiais os consideravam geeks e ignoravam o fato de que tinham tanto treinamento como qualquer outro membro da força, embora passassem mais tempo resolvendo coisas em computadores.

– Eu adoraria detetive Weasley.

– Então vá pegá-lo, garota.

– Senhor? – Ela chamou uma ultima vez.

– Sim.

– Eu gostaria de requisitar a companhia de um dos membros da nossa equipe.

– Remo? – Inquiriu.

– Sim.

– Você tem minha concessão.

Com um sorriso de mostrar todos os dentes, Tonks desligou o telefone e pegando a bolsa de franjas, saiu correndo em direção ao estacionamento.

Encontrar Remo Lupin no Departamento de Literatura da King’s College London não foi muito difícil. Difícil foi ignorar os olhares furtivos que recebia por estar andando ao lado dele.

– Você é uma espécie de misantropo ou algo assim? As pessoas parecem realmente surpresas por estarem te vendo ao meu lado.

Remo a encarou e, como estava de bom humor pelas ultimas novidades, se permitiu rir baixinho. Ele de fato era visto como um homem solitário e recluso, mas Tonks com aquele cabelo rosa e um dos braços fechados por tatuagens e bottoms nerds decorando a roupa de trabalho, era, no mínimo, um contraste interessante ao seu próprio ar blasé, suas roupas em tons pasteis e seu corte de cabelo que permanecia o mesmo desde os anos 70.

– Você aceita? – Ela lhe ofereceu doces, mas ele negou. Encolhendo os ombros, Tonks desembrulhou um pirulito para si mesma, o que fez Lupin se lembrar da produção cinematográfica de 1997 de Lolita e pensar em si mesmo como uma espécie de Humbert Humbert. Inconscientemente, ele se afastou uns centímetros da detetive.

A viagem de carro demorou quarenta minutos. Quando Tonks diminuiu a velocidade do carro e parou no inicio de uma rua urbana, Lupin sentiu o estomago revirar.

Ninfadora apontou para uma das casas.

– É ali.

– Você tem certeza que ele está em casa?

– Absoluta. – Ela conferira os horários de acesso do homem e com um dispositivo instalado no celular vinha monitorando-o durante todo o percurso para observar se ele continuava online.

– Como faremos para abordá-lo? – Estava tão ansioso que esquecera questões óbvias.

– Nós bateremos na porta. – Sorriu. – O senhor Peter Pettigrew aka Gustav Spall pediu uma pizza há quinze minutos.

– Como você sabe disso?

– Porque fui eu quem redirecionei várias propagandas e spams de entrega de pizza para seu computador pessoal. E porque eu estava invadindo todos os sites supracitados quando ele fez um pedido, afinal.

– Era isso que você estava fazendo enquanto mexia no painel e dirigia?

– Exato. – Ela sorriu, saindo do carro. – Fico entediada quando não realizo mais de uma tarefa ao mesmo tempo.

Lupin coçou a barba por fazer antes de segui-la.

Tonks bateu à porta de madeira enquanto o professor ficava ao seu lado.

Quando Peter Pettigrew apareceu, Tonks abriu seu melhor sorriso enquanto apresentava o distintivo.

– Boa tarde, Sr. Pettigrew. Eu sou a detetive Ninfadora Tonks e prometo lhe nocautear caso o senhor tente fugir.

O homem petrificou onde estava.

– Peter. – Lupin cumprimentou com o rosto indecifrável. – Sugiro que nos acompanhe. – E o pegou pelo braço com força, dirigindo-se de volta ao carro. – É hora de termos uma grande conversa que nós sabemos que não sairá daqui, porque suponho que seu chefe não seja tão compreensivo como eu ou a detetive Tonks.

– O senhor tem duas opções. Ou nos conta tudo de útil sobre o esquema dos cassinos ou, infelizmente, terá que nos acompanhar à delegacia, onde muitos policiais certamente ficarão curiosos sobre a maneira como você conseguiu ressuscitar tal qual Jesus Cristo.

– Por favor. – Ele guinchou, tremendo desesperadamente. – Não há necessidade disso. Nós podemos negociar...

Lupin segurou-o pela gola da camisa e embora o homem fosse consideravelmente mais corpulento que ele, não foi o suficiente para impedir Remo de fazê-lo ficar na ponta dos pés.

– Esse é o negocio.

Tonks sacou a arma, lançando-lhe outro sorriso gentil.

– Embora você sempre tenha a opção de dizer oi para a minha pequena amiga. - Tonks sempre sonhara com o dia em que poderia dizer essa frase.


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