Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 17
Capítulo XVI




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Às sete da manhã daquela quinta feira, três coisas importantes aconteceram simultaneamente:

Harry pegou o metrô para visitar Sirius.

Ron se dirigiu à sala do Comissário Interino.

Hermione acordou com Vitor Krum avisando que eles precisavam conversar.

– Você tirou a barba. – Sirius notou.

– Gina consegue ser ameaçadora às vezes. – Harry se justificou, fazendo o padrinho sorrir.

– Tenho certeza que sim. Como ela está?

– Bem. Te mandou um abraço.

– Obrigado. E como você está?

– Bem também.

– Eu estive preocupado com você.

– Eu sei. Sinto muito, Sirius. – E sentando-se ao lado dele, continuou: - Foi uma ótima dica aquela do amuleto. Provavelmente não teríamos conseguido encontrar Pettigrew sem isso. Eu queria te agradecer em nome de todos os envolvidos no caso.

Sirius sorriu emocionado, mas deu de ombros como se não fosse nada demais.

– Quando tudo isso acabar, gostaria que você morasse comigo, ao menos temporariamente. – Harry convidou e dessa vez foi difícil para Sirius esconder o quanto isso significava para ele. – Ron vai tentar agendar a operação com o comissário hoje. Se tudo correr como planejado, em um mês, no máximo, você será um homem livre.

Black sentia o ar faltar quando pensava nessa possibilidade.

A dignidade recuperada, o direito de ir e vir como bem entendesse...

– Você acha que é muito tarde para abrir um bar?

– Não. – Harry riu. – Acho que nunca é tarde demais para se abrir um bar. – E antes que pudesse piscar, estava sendo abraçado pelo padrinho.

– O seu pai estaria muito orgulhoso, Harry. Muito orgulhoso mesmo.

– Weasley. – Snape apontou a cadeira à sua frente. Ronald já estivera sentado ali muitas vezes em diversas ocasiões diferentes, mas em nenhuma delas (nem mesmo em sua primeira vez, ainda quando era um cadete) se sentira tão desconfortável quanto se sentia agora.

– Obrigado, senhor.

Severo abanou a mão com indiferença enquanto olhava para o relatório que havia recebido na noite anterior.

– Li o seu caso.

– Então o senhor já pode deduzir que venho formalmente pedir autorização para montar uma força-tarefa.

– Há muitas provas obtidas de maneiras circunstanciais nessas folhas, detetive Weasley. – Snape disse, ignorando o que o detetive falara. – Devo deduzir que você e Potter se utilizaram de clarividência?

– Não, senhor. Frequentemente, na busca de informações que possam fortalecer o processo decisório de um caso, nos deparamos com situações em que não é possível o acesso direto a elas, embora, às vezes, outros indivíduos tenham esse acesso e possam estar dispostos a colaborar para o comprometimento da informação desejada. Para tanto, uma técnica conhecida como recrutamento operacional é utilizada de forma a prospectar as informações de interesse. Comumente nós chamamos isso de “obter respostas a partir de informantes”. Talvez o senhor esteja familiarizado com o termo.

Snape estreitou os olhos.

– Você acha que pode bancar o esperto comigo, Weasley?

– Não, senhor. – Mas sua expressão facial claramente dizia o contrário.

– Eu não gostava dos métodos de Potter e certamente não gosto dos seus, Detetive Weasley.

Ronald permaneceu irredutível em seu lugar sem proferir nenhuma palavra.

– Conte-me o que você tem em mente e reze para que eu ache muito, muito inteligente.

Ron contou ao comandante a mesma estratégia que tinha oferecido e discutido no jantar da noite anterior com sua equipe, omitindo o fato de que usaria civis. Não confiava na integridade de Snape e seria um consolo ter essa carta na manga só para si, ainda que isso pudesse lhe trazer problemas posteriores.

– Você está me pedindo dois furgões, dez policiais da divisão de detecção eletrônica, quatro detetives e vinte policias a paisana, bem como toda a aparelhagem tecnológica necessária para contato instantâneo dos envolvidos durante uma operação dupla?

– Basicamente, senhor.

Severo Snape passou a mão pelo rosto e depois o encarou com incredulidade.

– Você sabe quanto isso custaria?

– Não, senhor.

– Muito alem do que o limite liberado para uma força tarefa comum.

– Essa não é uma força tarefa comum, senhor. Desmantelaremos diversas operações ilegais que assombram a cidade há anos. A credibilidade da Scotland subirá a níveis estratosféricos. Todo o dinheiro utilizado na operação voltará em forma de melhorias para a central. É um investimento.

– É um risco.

– Senhor, não há maneira da operação ser um completo fracasso. Ainda que não alcancemos todos os nossos objetivos, ainda que Tom M. Borgins consiga escapar, haverá comoção publica. Toda uma série de criminosos serão presos com tantas provas que nem os melhores advogados conseguirão livrar seus respectivos cus da reta.

– Modos, detetive Weasley. – Snape sibilou.

– Desculpe, senhor.

– Oito policiais da DDE, três detetives e quinze policiais a paisana. É o que posso fazer por você.

– Eu fico com a proposta. – Ron anunciou, sem pensar duas vezes, o que fez Snape franzir o cenho.

– Você parece muito confiante.

– Só quando as probabilidades são favoráveis, senhor.

– 14 de Maio está bom para você? – Snape parecia dificultar tudo com aquele curto prazo de tempo. Sabia que Ronald precisava treinar a equipe, preparar o terreno e passar segurança aos colegas. Ainda assim, Weasley aceitou a proposta porque sabia que apesar dos pesares, aquilo era o melhor que conseguiria de Snape.

Ele tinha consciência de que precisava escolher suas batalhas.

– Sim, senhor.

– Ótimo. Selecione sua equipe. Quero um relatório com nomes até meio dia. Se isso chegar sequer um minuto atrasado em minha mesa, eu volto atrás e veto seu pedido. Entendido?

– Sim, senhor.

– Dispensado, detetive Weasley.

Snape sabia, no instante em que Ronald saíra que acabara de dar aval para a sua própria morte. Com um suspiro e pensando em quão ridícula sua vida era, ele fez a ligação que oficializaria sua espécie de suicídio.

– Tom. – Ele saudou.

– Severo. – O homem do outro lado da linha repetiu o gesto. – Novidades?

– Tudo me leva a crer que Sirius Black está sendo protegido por Harry Potter e Ronald Weasley.

O problema em ser um agente duplo - Snape pensara consigo mesmo - era que escolher que tipo de informações passar era um inferno.

Gostaria de xingar Dumbledore por isso.

– Alem do mais, acabo de autorizar uma operação ao Sun’ Town no dia 16 de Maio.

Tom riu do outro lado da linha.

– Isso será esplendido.

– Tenho certeza que sim, senhor. – E evitou pensar no que aconteceria caso Voldemort sequer desconfiasse que ele estava lhe passando uma informação verdadeira com uma data falsa.

– Obrigado, Severo.

– Há mais uma coisa. Não acredito que Weasley esteja apresentando relatórios completos. Talvez ele já tenha um ou outro policial infiltrado no cassino. – Difundir a duvida através de meias verdades era o que Snape sabia fazer de melhor.

A ligação ficou em silencio por um instante.

– O que você sugere?

– Uma reunião com seus subordinados mais próximos. Talvez uns dois dias antes da operação.

– 14 de Maio?

– Sim.

– Isso parece muito especifico, Severo. – Snape sentiu um calafrio percorrer a espinha, mas forçou-se a manter a voz neutra.

– Apenas uma sugestão, senhor. Poderia ser no dia 13. Ou 15, embora eu ache imprudente uma reunião às vésperas da ofensiva.

– Hm. – Tom considerou. – Talvez você tenha razão. Vou fazer como sugere, Severo, mas antes preciso de uma prova final de que posso confiar em você.

Snape cerrou os punhos.

Dumbledore já havia previsto isso.

– É claro, senhor.

Hermione levantou-se, vestiu o robe e acompanhou o namorado até a sala de estar. Ela notou que o café da manhã já a esperava numa bandeja em cima da mesa de centro.

– Está tudo bem, Vitor?

– Sente-se, por favor.

Ela concedeu ao pedido, preocupada. Krum sentou-se ao seu lado, segurando-lhe as mãos.

– Eu estou partindo.

– Como? – Piscou, confusa.

– A temporada de treinos começa amanhã, meu voo está marcado.

– Oh. – Ela tinha consciência de que em algum momento anterior ele havia mencionado isso. Estava tão absorta com o trabalho que ignorara completamente a data e, mais do que isso, não tirara um dia sequer para ter tempo de qualidade com ele.

– Você não lembrava. – Ele constatou, magoado.

– Vitor, eu sinto muito.

– Eu sei... – Ele abriu um sorriso evasivo. – Você está trabalhando muito. – Ela concordou prontamente com a cabeça. – Mas o caso é que você sempre está trabalhando muito, Hermione. – E antes que ela pudesse abrir a boca para responder, ele continuou – Eu admiro isso em você e odiaria ser a pessoa a te cobrar qualquer coisa em relação a isso, e é por isso que, até segunda instancia, estou partindo definitivamente.

– Definitivamente?

– Sim. Eu amo você. Mas não posso continuar com isso. Não desse modo. Não é saudável. – Apertando-lhe as mãos, ele a encarou. – Você terá tempo para descobrir se realmente quer estar nesse relacionamento. E quando você souber, eu vou estar esperando a resposta.

– Vitor... – Ela não tinha a menor ideia do que dizer. Sabia que se dissesse “fique”, ele ficaria. E seria injusto pedir algo que não tinha certeza se queria, apenas por odiar ser a causa do coração partido dele.

Ele soube que ela nunca retornaria com uma resposta positiva no momento em que ela deixou de concluir a frase e desviou o olhar para bandeja.

Engolindo todo o orgulho que tinha, Krum respirou fundo, contente por ter colocado as malas no carro anteriormente e não precisar passar por nenhum momento constrangedor a mais.

– Eu realmente sinto muito. – Hermione repetiu, levantando-se.

Ele se permitiu um ultima demonstração de explicita falta de amor próprio quando a beijou uma ultima vez.

– Se cuide.

– Você também. – Hermione pediu. – Por favor.

Ele a encarava com a feição impassível, enquanto essa aguardava sua resposta visivelmente tensa.

– Você sabe que precisamos de você, Neville. – Gina reforçou o pedido.

– Eu nunca pedi para fazer parte da sua equipe, Gina.

Eu sou apenas o cara dos computadores que fica sentado no escritório o dia inteiro e quando chega em casa dorme. Eu não tenho estrutura, preparo físico ou qualquer tipo de fôlego para correr. E se eu levar um tiro?

– Ele se justificou mais uma vez, correndo os dedos entre os cabelos. – É claro que eu nunca me neguei a te ajudar, faço isso sem nem pensar duas vezes, mas existe uma zona e ela é de conforto por uma razão.

– Você não vai levar um tiro, Longbottom. – Ela girou os olhos, prendendo o riso.

– Não? – Neville olhou para a pose segura dela, desconfiado.

– Como você pode ter tanta certeza?

– Vamos te dar um colete a prova de balas e uma camiseta agradecendo sua participação. – Gina tentou descarregar o sarcasmo de sua voz. – Ah, vamos lá, vai ser como uma daquelas missões de videogame que você tem praticado sua vida inteira, só que dessa vez vai servir para alguma coisa.

Neville examinou seu rosto por alguns minutos. Ela tinha que compreender, não era como se estivesse pedindo para que ele invadisse sistemas, procurasse biografias e a ajudasse a cavar os podres secretos das vidas de pessoas influentes na cidade de Londres. O que Gina estava solicitando, de acordo com o que adiantara sobre a operação, era bem mais que isso: completamente arriscado e diferente de tudo o que ele já tinha feito na vida.

Neville era o cara por trás das telas, dos bastidores e, ocasionalmente, o que esperava no carro e acelerava motivado por gritos grotescos de Gina e a trilha sonora escolhida do dia. Não tinha ideia se dava conta do que ela estava pedindo. Porém, sua vontade de se colocar à prova, de aceitar o desafio e não ser apenas Neville o-nerd-dos-computadores duelava com sua insegurança (e medo de levar um tiro).

– Você acha mesmo que eu consigo ser policial por um dia? – Ele perguntou, com as mãos no rosto.

– Acho que você está fazendo muita confusão para ficar dentro de um furgão dando ordens para umas pessoas. – Gina girou os olhos.

– Você sabe que não é dessa parte que eu estou falando. – Longbottom cruzou os braços.

– Eu confio em você, Nev. – Ela sorriu sinceramente. – Até porque, é preciso coragem para ser meu piloto de fuga por tanto tempo, hackear computadores de organizações criminosas do mal e, se somarmos tudo, para manter uma amizade comigo.

– Existem organizações criminosas do bem? – Neville perguntou franzindo o cenho.

– Você me entendeu. – Gina riu, abraçando-o. – Isso quer dizer que você faz parte dessa operação?

– Faço parte dessa operação. – Confirmou com a cabeça.

– Mas se eu levar um tiro, você vai se ver comigo. Sou muito jovem e ainda nem inventei meu próprio jogo de videogame.

Neville notou que Gina não prestava mais atenção as suas novas ideias para a operação quando notou seu olhar fixo na porta e um excesso de expressões faciais e talvez leitura labial.

A cadeira de escritório velha de Gina mal rangeu quando ele a girou e viu a garota loira encostada contra a madeira escura da porta, seu semblante sempre sereno parecia um pouco preocupado.

Talvez Neville não tenha percebido o quão feliz ficou em vê-la, mas era algo impossível de ser negado pelo brilho dos seus olhos e o tamanho de seu sorriso, por mais que existisse a probabilidade de ela não querer trocar uma palavra cordial com ele. Precisou lembrar-se que estava no apartamento de Gina, então ela não fora ali exatamente para vê-lo.

Luna, por sua vez, experimentou novamente toda aquela sensação de leveza que sentia em apenas olhar para ele. Já tinha dito anteriormente, mas precisava repetir para si mesma que o tanto de luz que ele emanava era além do normal e que todas as suas cores eram lindas, como se ele fosse uma criatura fantástica que ninguém tinha descoberto ainda. Aquele sorriso espontâneo que Neville a lançou ao posar seus olhos sobre ela fez seu rosto se acender ainda mais, como se milhares de vagalumes o iluminassem e apagassem qualquer traço de escuridão sobre sua aura.

– Eu não queria interrompê-los. – Luna disse em seu tom pacato, de ombros retraídos. – Posso voltar outra hora.

– Não está interrompendo. – Gina sorriu, gesticulando para que ela entrasse no cômodo.

Pensou em si mesma como uma espécie de casamenteira quando viu o sorriso que Neville nem se preocupou em conter e a óbvia vontade de Luna de apenas falar com ele.

– Não mesmo. – Neville assegurou, levantando-se da cadeira, como se quisesse abrir espaço para ela sentar-se. Visivelmente inquieto, colocou as mãos no bolso e se afastou da cadeira.

Gina levantou-se da mesa do escritório sob o pretexto de fazer um chá para Luna que parecia muito cansada, mas ninguém lhe deu muita atenção. Neville observou que a sempre serena Lovegood parecia nervosa, agarrando seu amuleto de cristal de estrela – que supostamente a ajudaria a realizar todos os seus desejos profundos – enquanto hesitava para começar a dizer algo que não tinha decidido ainda.

– Eu... – Luna começou pela quarta vez antes de confessar: – Eu não sei o que dizer.

– Nem eu. – Neville balançou o corpo para frente e para trás, com as mãos nos bolsos.

Entretanto, não queria que sua única oportunidade de conversar com ela terminasse em silêncio. Por isso permitiu que seus olhos saíssem do rosto suave (porém sério) de Luna. Ela vestia uma saia azul celeste com uma camiseta de desenhos de árvores verdes e floridas em um fundo branco, alem de sandálias de tecido e o cabelo loiro preso em uma trança longa.

– Você está bonita.

– Você também. – Luna sorriu, sentando-se enfim na cadeira que Neville oferecera. O ato pareceu aliviar um pouco da tensão de seus ombros, então aproveitou para levantar a bandeira branca. – Eu estava com saudades.

– Eu também. – Neville permitiu-se se aproximar alguns centímetros e disse o que queria ter dito se tivesse tido a chance, já que se explicar não faria sentido. – Eu sinto muito por ter estragado tudo.

– Talvez não tenha sido tudo ainda. – Luna estendeu a mão que ele envolveu com os dedos. – Não sabemos as intenções do universo. Sei que ele vive nos colocando frente a frente, sei que meu espírito ficou irrequieto depois daquele dia e que talvez devêssemos ao menos sentar e conversar sobre o assunto.

– Eu gostaria muito. – Neville sorriu mais uma vez.

Sem se mover, - pois não queria soltar sua mão da dele – Luna disse:

– Eu recebi aquela foto do nascer do sol que você enviou. – Ela comentou sobre a fotografia que ele tirara no primeiro de seus encontros às quatro da manhã no terraço de um prédio.

– Achei que você estava mais bonita que o sol. – Ele encolheu os ombros. Luna achava a vaidade exagerada algo terrível, mas ainda assim, aquele era o melhor elogio que poderia ter escutado.

Não muito longe dali, Ronald chegava ao escritório de Hermione com as caixinhas do novo restaurante de comida filipina que ficava do outro lado da cidade, mas já que nenhum dos dois tinha experimentado desse cardápio asiático ainda e ela parecia particularmente entusiasmada, resolveu que não havia problema nenhum em dirigir até a Bethnal Green, no leste de Londres, caso isso lhe angariasse alguns sorrisos da advogada.

Não foi de imediato que notou que algo estava errado. Depois de uma hora falando sobre amenidades e sobre Simas, o cadete que estava irritando-o, percebeu que as respostas de Hermione eram apenas monossilábicas.

– Você está estranhamente quieta hoje. – Ron observou, desconcertado por sua falta de tato.

– Algo aconteceu?

– Nada de tão importante. – Ela encolheu os ombros. – A temporada de futebol começou, apenas isso.

– Não sabia que você acompanhava futebol. – Ronald falou e Hermione apenas esperou que a informação o atingisse.

– Ah. Vitor. – Ronald sabia que já havia sido um fã convicto do homem. Agora, no entanto, Krum lhe parecia um belo de um babaca com seus carros esporte, oceanos de dinheiro e uma namorada linda e inteligente.

Ele não costumava pensar a respeito, até porque Hermione nunca o mencionava. Mas ela parecia estar precisando falar a respeito no momento, e mesmo que ele se sentisse desconfortável com isso, lembrou-se de que eram amigos e que mesmo que Hermione merecesse alguém que chegasse pelo menos perto do seu nível de inteligência – que não era mesmo o caso do jogador brutamontes de acordo com Ron – amigos ás vezes escutam o que o outro quer dizer e aconselham e essas coisas que ele não fazia ideia de como fazer.

Então outra coisa – tão difícil de processar quanto à primeira - o atingiu com força no estômago: talvez ela já estivesse com saudades de Krum.

– Eu deveria estar triste? – Hermione perguntou em tom quase inaudível. – Deveria, não deveria?

– Por conta da temporada de futebol? – Ronald perguntou sem entender.

Ela levantou-se e, após caminhar até uma das mesas de centro da antessala, serviu-se de uma dose de Whisky, a qual ofereceu para Ronald que negou por já estar com uma long neck de cerveja na mão.

– Porque ele não vai voltar mais. – A advogada encolheu os ombros. – Algo com o fato de eu passar mais tempo nesse escritório que em casa.

– Ah. – Ronald limitou-se a dizer.

– Mas eu não estou triste. – Hermione sacudiu os ombros. – Não exatamente feliz, mas não estou triste. Isso faz de mim uma pessoa ruim?

– Uma hipótese é que você talvez não tenha se dado conta do que aconteceu ainda. – Ron terminou sua long neck em um gole antes de continuar. – E outra é que talvez você não o ame, não da maneira que achava que o amava. Assim como eu não amava a Lilá.

– Você não amava a Lilá?

– Hoje eu percebo que não. Mas era confortável para mim. Acho que para ela também. Eu só queria ter uma vida regular. – Ele deu de ombros, abrindo mais uma long neck.

– Ainda bem. – Hermione fingiu um suspiro aliviado, um pouco alta pelas doses de whisky que vinha bebendo desde o fim da tarde. – Ela é insuportável, você merece alguém mais interessante e que não tenha uma subcelebridade conhecida por um vídeo adulto caseiro como melhor amiga.

– Um vídeo caseiro adulto? – Ronald riu, o estomago parecia mais leve agora. – Isso deixa alguém famoso?

– Aparentemente pessoas ficam famosas por razões ínfimas hoje em dia. – Hermione tomou mais um gole do seu whisky. - Mas você está bem? Depois do término e essas coisas?

– Acho que você já me perguntou isso. – Ron fez uma careta. – A única coisa que me aborrece, além dos chifres, são as milhares de coisas que Lilá encomendou para o casamento que eu estou tendo que cancelar e algumas sem reembolso. Me diz o que eu vou fazer com trezentos papéis de convite, que ela queria escrever à mão para o casamento? – Os dois riram da cara de desespero de Ronald, que a encarou nos olhos para enfim responder sua pergunta. – Mas eu estou bem, bem melhor que antes.

– Eu fico feliz em saber. – Ela disse sorridente.

– Deveria mesmo. – Ronald falou, bebericando sua cerveja, sentado no tapete. – Em parte é por sua causa. Quero dizer, esse término com Lilá pelo menos serviu para me dar você.

Hermione ainda estava sorrindo quando assistiu o rosto de Ronald perder o sorriso lentamente enquanto suas orelhas acendiam e mudavam de tom até o escarlate. Não conseguiria explicar posteriormente, mas precisou encará-lo por alguns segundos para que aquela imagem se fixasse na coleção de fotos mentais de Ronald que mantinha engavetada e arquivada em algum lugar de seu cérebro em que mal se permitia acessar por conta das borboletas que se formavam em seu estômago e faziam-na sorrir.

– Como amiga. – Tentou se consertar, cobrindo as orelhas com os cabelos ruivos. E tossiu nervoso, pelo o rosto dela vermelho de prender o riso. – Foi o que eu quis dizer.

– Me sinto lisonjeada. – Hermione riu para o rosto desconcertado de Ron, ignorando as malditas borboletas que voavam a centenas de quilômetros por hora em seu estomago. – Obrigada por me fazer rir. Ultimamente sinto como se só você conseguisse atingir tal feito. - Ela abriu os braços e, a princípio, Ronald não entendeu o que ele deveria fazer. - Um abraço, Ronald! – Hermione pediu, abrindo os braços ainda mais.

Ele quis não rir da voz alterada pelo álcool, mas não conseguiu. Arrastou-se até chegar perto dela, que encaixou o abraço no dele por um tempo que nunca pareceu ser suficiente. Ronald sentia Rose, The One o perfume que tanto gostara misturado ao cheiro de baunilha que vinha de seus cabelos castanhos desarrumados.

Sentiu as mãos dela afagando suas costas, deixando um rastro quente no lugar de seus dedos que passeavam lentamente por cima de sua camiseta.

Por fim, pensou em como queria que a operação acontecesse logo e que fosse bem sucedida para que pudesse voltar a ter uma boa desculpa para um daqueles abraços, sem temer que um dia aquilo pudesse ter um fim.

– Granger... – Sussurrou, mandando ao inferno o bom senso e a cautela. Precisava dizer alguma coisa. Qualquer coisa constrangedora e importante, mesmo que se arrependesse depois.

Ela o encarou no mesmo instante que o telefone tocou.

Tom estava vestido para uma ocasião formal. Seus sapatos e terno luziam, destoando do homem taciturno ao seu lado. Severo trajava casaco, sobretudo, calça e sapatos pretos, como em todos os dias. Eles caminharam lado a lado em direção à casa de numero cinco.

A respiração condensava no ar daquela noite fria. Estrelas salpicavam de luz o céu escuro. Era uma boa noite para se estar vivo. Era uma boa noite para se estar morto. Era uma boa noite e ponto.

Só não parecia uma noite propicia para se tornar um assassino.

Snape bateu à porta, sentindo todos os músculos do corpo enrijecidos.

Dumbledore abriu a porta de maneira serena. Ele estava preparado, Snape havia telefonado para ele ainda pela manhã. Mas mesmo se não tivesse, era assim que ele agiria. Com força. Com serenidade. Sem demonstrar nenhum tipo de emoção.

Severo o admirava por isso.

Voldemort também.

Adentrando a casa sem ser chamado – seu nível de satisfação não sofrera nenhum abalo pelo rosto neutro de seu arquinimigo – ele abriu o que ele acreditava ser um sorriso.

– Dumbledore.

– Tom. – Apontou para a sala.

– Seremos breves, comissário. Sonhei com esse momento muitas vezes, mas entendo que as circunstancias me impedem de executar a sua morte da maneira como gostaria. - E circulou pelo hall, braços atados atrás das costas, analisando sua presa. – Entretanto, para mim é suficiente saber que você vai morrer com o nome sujo, desacreditado pela força que trabalhou durante tantos anos... – Ele se aproximou de Dumbledore, os olhos relampejando de prazer.

Com um comando de mão, ele pediu para que Snape se aproximasse.

– Acabe com isso.

– Severo...

Snape o olhou longamente.

– Severo, por favor...

Tom o esbofeteou.

– Morra como homem. – Murmurou, apertando-lhe o maxilar. – Severo? – Chamou.

Snape se dirigiu a escrivaninha pessoal de Dumbledore e, com o auxilio das luvas, pegou a arma do comissário.

– Não é ótimo saber que seu homem trabalhava esse tempo todo para mim, Dumbledore? – Tom riu quando Severo colocou a arma dentro da boca de seu antigo superior. – Amanhã, a essa mesma hora, você não será mais nada alem de um covarde que tirou a própria vida após ser consumido pela culpa. – Com um sorriso de lobo, Tom se afastou.

– Agora.

Snape prendeu a respiração e puxou o gatilho.


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