Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 14
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo! :DD
Abbie e eu estamos trabalhando loucamente para revisar, editar e produzir novos capítulos da fic. Infelizmente, durante a semana fica difícil pra gente por conta da faculdade (no meu caso) e o trabalho (no caso da Abbie). Mas estamos empolgadas e loucas para terminar de contar essa história pra vocês.

Queriamos também fazer um agradecimento especial a Edwiges, Harley e Arya pelos comentários carinhosos mesmo depois de tantos milhões de meses!



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Dinheiro é sinônimo de sucesso, de acordo com os vários livros que Hermione praticamente memorizara para Matemática Financeira II na época da faculdade de Direito.

Seus colegas não entendiam o porquê de estudar algo dessa natureza já que poderiam contratar um contador para calcular seus honorários sem dificuldade. Eles gostavam de dizer que analisar livros caixa e inventários não era trabalho de advogado - entre dezenas de coisas arrogantes dessa natureza. Aliás, essa era a principal razão de Granger não ter amigos na faculdade – além de preferir livros a pessoas, principalmente se fossem pessoas prepotentes e idiotas.

Hermione não precisava ser uma incrível matemática graduada em ciências contábeis para saber que aqueles números estavam errados. No entanto, as somas dos valores apontavam resultados coerentes, apesar de parecerem superfaturados: nenhum cassino deveria lucrar tanto dinheiro assim.

– Se esse cassino fatura tanto assim, quanto desse dinheiro é convertido em impostos e quanto vai para o inventário da família Lestrange? – Hermione perguntou quase que para si mesma, uma vez que Ron já não estava consciente debruçado na mesa do bar. Ela sabia que precisava levá-lo ao escritório em algum momento já que estava de carona na viatura dele. – Alguma chance de eu conseguir a declaração de imposto de Renda dos Lestrange?

Era óbvio que Ron não a responderia, mas havia algo de excitante e impulsor em ser desafiada por ele o tempo todo. Fazia Hermione querer provar quem ela era apenas para que pudesse ver o pequeno lampejo de admiração e surpresa nos olhos dele. Ele conseguia disfarçar na maioria das vezes, mas ela jurava que podia ver às vezes. Mesmo em silêncio e inconsciente, era divertido imaginá-lo fazendo algum comentário sobre seu nariz ser arrebitado por estar sempre enfurnado em algum livro.

– Que tudo está sendo superfaturado, é verdade. – Ela repetiu para si mesma, enquanto se justificava como em uma declaração na corte: estava montando um caso. – Todavia, esse dinheiro não pode ser proveniente de mesas de aposta, como consta aqui. É possível verificar o lucro de máquinas caça níquel e outras máquinas de azar através dos números de série da máquina. Ninguém seria ingênuo de fraudar esses valores, porém, lançaram valores a mais nessas mesas. Mesmo que eu pudesse questionar esses números seria baseado em conjunturas, porque não posso provar o valor que cada cliente gasta no cassino por noite.

Isso a fez franzir o cenho. Lembrou-se da cópia do livro de registros: Mais de mil e duzentos clientes por noite desfrutam de máquinas de jogos, apostas e shows ao vivo.

Algo estava errado. Mil e duzentos clientes não geram um lucro médio 450 mil libras por noite. Sim, existiam apostas altas e pessoas muito abastadas. Mas também existiam gastos com manutenção, dezenas de funcionários, impostos, atrações e incontáveis coisas que impediam esse lucro de ser tão exorbitante diariamente. Uma semana de cassino funcionando a todo vapor gerava mais de três milhões.

Onde estava esse dinheiro?

– Esse cassino é um esquema. – Concluiu, ouvindo Ron grunhir. – Acordou?

– Não. – Ele respondeu e ela o apoiou no ombro, tentando leva-lo ao carro. – Seu perfume é bom. O que é que você usa? Com certeza deve custar mais que meu salário anual, mas tudo bem, eu vou comprar! Perfume bom.

Hermione evitou rir enquanto enrubescia.

– Acho que precisamos jogar água e café na sua garganta. – Ela falou, dirigindo para o escritório em que pretendia hospedar Ron. – Conversamos sobre o cassino da Madame Lestrange amanhã. Preciso encontrar mais alguns arquivos para corroborar na minha história, mas acho que estamos perto de algo fantástico, Ronald.

Ela o viu encarando-a, sorrindo e fechando os olhos em questão de segundos.

E quando ele acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça infernal e com poucas memórias do dia anterior, ela estava com o nariz amassado ao lado de uma garrafa de café, dormindo. Ron aproveitou a pose pacífica e desconfortável da advogada para tentar entender o que ela tinha encontrado em suas pesquisas durante a noite e provavelmente madrugada a dentro.

Observou os valores que ela anotara e os vários pontos de interrogação em volta da palavra “origem”. Cassino movimenta dinheiro em espécie, ela anotou como observação e Ron completou mentalmente que dinheiro em espécie é difícil de rastrear, uma vez que esse dinheiro é lançado nos livros registros, é mandado para bancos fora do país que prometem sigilo bancário e poucos impostos... Paraísos fiscais como Hermione observou.

– Precisamos descobrir o patrimônio dos Lestrange. – Ron murmurou para si mesmo.

O detetive compreendeu o que Hermione quis dizer em suas anotações: mesmo que o cassino fosse um lugar legítimo, o que evitou suspeita da divisão financeira do parlamento muito facilmente, diga-se de passagem, tratava-se de um local que recebia mais dinheiro do que possível. Porém - e ele não sabia se ela tinha chegado a esse local da investigação - esse dinheiro precisaria ser repassado para alguém de alguma maneira em algum momento.

Investimentos, Ronald leu no bloco de anotações.

– Sim, o dinheiro passa de forma despercebida por meio de investimentos. – O detetive, coçou o cabelo e obrigou-se a pensar mesmo com a cabeça doendo. – Os rastros desse dinheiro nunca serão encontrados se repassados através dos bancos internacionais... A não ser que soubéssemos quem estamos procurando.

A resposta era óbvia.

– Tom M. Borgins. – Ele movimentou-se pelo escritório de Hermione que, já acordada, observava-o andando de um lado para o outro. – Ele não seria tão arrogante de receber milhões em seu próprio nome.

– Ele precisa de uma empresa que forneça algum serviço para o cassino ou até mesmo uma outra empresa que recebe investimentos regulares abaixo do valor investigativo para o governo. – Hermione falou, com a voz rouca.

– Ele é esperto. – Ronald disse, sentando-se na mesa em frente a ela. – Se alguém for preso pelo esquema dele nunca será ele, já que tudo está em outros nomes. Qual empresa será essa?

Hermione levantou-se com a garrafa térmica elegante e caminhou em direção a pequena cozinha perto do escritório. – Vou passar mais café, quer?

– Obrigado. – Ele disse, seguindo-a até a cozinha. – E se a gente descobrisse um fornecedor em comum aos cassinos? De acordo com o dossiê da Gin e com uns nomes aleatórios que um informante deu, temos razões para acreditar que muitos estabelecimentos dessa cidade são negócios de Tom M. Borgins.

– Mas nunca ligaremos o dinheiro a ele, ele é esperto demais para isso. – Hermione disse, ligando o fogão e sentindo os olhos de Ron encarando-a. – O que foi?

– Achei que você tivesse uma daquelas maquinas mirabolantes que servem expresso, cappuccino e coisas caras. – Ron confessou, embaraçado.

– Não gosto de café de máquina. – Encolheu os ombros.

– Bem – Ron pigarreou antes que voltassem a falar de gostos e intimidades. Ainda não podia acreditar que os dois estavam se tornando menos hostis um com o outro e talvez até amigos. Sacudiu a cabeça para abrir espaço a novos pensamentos. – Acho que devemos pedir a Harry para investigar e interrogar o responsável pela divisão financeira do parlamento.

– E precisamos descobrir de onde vem esse dinheiro se quisermos montar um caso. – Hermione falou, colocando o café sem açúcar na garrafa térmica e enchendo uma xícara para Ron e para si.

Talvez pela primeira vez desde que começaram a trabalhar juntos, o detetive não se importou com a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural. Por algum motivo, estavam trabalhando bem juntos e ele já não conseguia encontrar tantos gracejos e piadas que pudesse usar para tirá-la do sério. Não podia negar o quão inteligente, obstinada e dedicada ela era ou sequer deixar de notar sua beleza, toda arrumada e elegante como costumava vê-la ou com o rosto marcado por vincos e cabelo desajeitado após dormir debruçada em anotações.

Ela não tinha motivos para tê-lo ajudado, mas ali estava, assistindo-o tomar o café que tinha feito agora, sentada ao lado dele e sentindo aquele cheiro de grama fresca de chuvisco, menta e um pouco de álcool que exalava dele. Passou tanto tempo implicando com Ronald que não imaginava que ele fosse tão... Astuto. Não imaginava que conseguiriam pensar em conjunto e em sintonia e nem que estivesse preocupada como a sanidade mental dele após ver sua ex-noiva na cama com outro rapaz.

– Obrigado. – Ron fez seus pensamentos se dissiparem quando disse relutante algo que não poderia deixar de falar. – Não apenas pelo café, mas por... Ontem à noite.

Pela primeira vez, Hermione não soube o que responder. Poderia dizer “De nada, você está melhor?” ou “Foi um prazer te ajudar, fique o tempo que precisar” ou “Se você precisar, podemos processar a sua ex-noiva irritante. Me diga se quiser montar um caso, está bem?”.

Apenas sorriu genuinamente.

Rose, the One. ­– Ela se limitou a dizer, sorrindo. Ele a olhou confuso. – O perfume que eu uso. Você me perguntou ontem à noite.

– Ah. – Hermione viu as orelhas de Ron adquirirem um tom vermelho e riu, enquanto ele escondia o rosto com a xícara de café. – Me desculpe por ter sido inapropriado.

Por algum motivo, achou as orelhas meio grandes do detetive engraçadas e achou interessante o modo como se tratavam quando esqueciam o desprezo mútuo. Não tinha mais como se detestarem, não agora que descobrira uma admiração mútua e um certo conforto naquele arranjo em que servia de consultora civil para um detetive inteligente.

– Você está melhor? - Ela hesitou em perguntar, com medo de ser íntima demais e estragar a nova relação dos dois. – Você pode ficar aqui até resolver tudo com a Lilá, se você quiser.

– O que? Somos amigos agora? – Ele disse sem perceber que estava soando rude até ver uma careta se formando no rosto dela. – Foi mal, não estou acostumado a ser seu amigo.

Ele encolheu os ombros e emendou antes que ela dissesse algo irritante em resposta à sua grosseria:

– Eu estou apenas um pouco rabugento, mas estou bem. – Tentou sorrir, para mostrar simpatia, mal acreditando que estava se esforçando para não brigar com Hermione. – Vou ficar bem, obrigado de novo por me deixar ficar, por me carregar até aqui e Deus sabe mais o que.

– Acho que somos amigos agora. – Murmurou quase para si mesma e também encolheu os ombros. – Então, por nada.

Ronald aproveitou aquele momento silencioso desconfortável para procurar o celular e ligar para Harry, pois se iriam investigar o parlamento, deveriam fazê-lo o quanto antes, já que se soubessem que pretendiam investigar a receita de Sun’s Town Hotel & Gambling House e o envolvimento de funcionários públicos na sonegação de impostos e em documentos de licitação, talvez os impedissem antes que tivessem a chance.

Harry poderia interrogar algumas pessoas e mexer alguns pauzinhos enquanto ele conseguiria de alguma maneira legal as declarações de imposto de renda dos Lestrange.

Quando achou o celular no bolso quase sem bateria, viu dezenove ligações perdidas de Lilá – ou Mozi como ela tinha se identificado no aparelho dele.

Sua caixa postal deveria estar cheia de mensagens, assim como a caixa de mensagens que tinha dezenas de SMS.

– Acho que alguém está te procurando. – Hermione fechou o rosto em uma careta. Não sabia como ela ainda tinha a audácia de tentar se explicar e ligar incessantemente ao ponto de ser inconveniente, por isso o observava com expectativa.

– Que continue. – Ele disse, encolhendo os ombros e dando o comando ao celular para ligar para Harry, o primeiro número do speed dial. – Temos muito o que fazer hoje.

Hermione sorriu satisfeita e voltou a tomar sua xícara de café.

Na semana que tinha se passado desde as descobertas de Ron e Hermione – que continuavam as buscas por registros e declarações de imposto, Harry tinha conversado e interrogado vários funcionários da divisão financeira do parlamento, obviamente sem sucesso, já que ninguém confessa um crime estatal grave sem que o detetive apresente provas de imediato. Mas precisava apenas que um deles cedesse ou vacilasse, o que esteve perto de acontecer com dois dos servidores entrevistados.

Agora precisariam de um mandato para conseguir provar algum tipo de discrepância bancária nos registros dos funcionários.

Estava a caminho do escritório de Snape para discutir os desdobramentos do caso quando um patrulha o abordou apressadamente, dizendo que Chang da Corregedoria estava atrás dele e o assunto a ser tratado era de extrema urgência. Estranhando, pensou em enrolar e passar no escritório da Corregedoria apenas no fim do dia, já que tramites burocráticos não eram assuntos de seu interesse e muito menos de sua experiência.

Todavia, havia um pressentimento. E foi isso que o fez correr em direção ao elevador e apertar o botão do nono andar, o andar da divisão da Corregedoria.

Cho Chang nunca o chamara alegando extrema urgência e ela o esperava ao lado da porta de sua saleta, toda solene e com o semblante tenso. As mãos estavam praticamente coladas a saia-lápis justa e sua camisa social branca não poderia estar mais passada.

A maneira com a qual ela o encarou assim que o viu, mostrava que algo de muito errado estava acontecendo.

– Cho. – Harry disse, sentando-se enquanto ela fechava a porta da sala.

– Harry. – O cumprimentou, sentando-se de frente a ele e juntando as mãos.

Notou que ela hesitou algumas vezes antes de começar a falar e soube que alguma má notícia estava por vir.

– Harry. – Ela começou novamente, com as mãos inquietas. – Você sabe que eu o considero muito, apesar de todo nosso envolvimento pessoal não ter dado certo e essas coisas. Eu cultivo extrema e intensa admiração pela pessoa íntegra e profissional que você é.

– Eu estou morrendo ou algo assim? – Harry perguntou tenso.

– Não é isso. – Ela sorriu contidamente. – Na verdade, e eu estou te avisando antes que o Comissário o faça, você será suspenso por tempo indeterminado da força.

– O que? – Perguntou incrédulo. – Por quê?

– Fomos obrigados a investigar toda a divisão após o afastamento de Dumbledore. – Chang começou a se explicar, levantando-se de sua cadeira e andando sem rumo pela sala. – Uma pesquisa de background revelou que você tem um patrimônio maior que o esperado para um detetive de homicídios.

– Eu recebi uma herança dos meus pais quando fiz dezoito anos, mas é apenas isso. – Harry odiou o tom defensivo de sua própria voz.

– Sim, porém uma pequena fortuna foi depositada em uma conta com o seu nome nas últimas duas semanas. – Cho Chang disse, desejando ter bolsos para colocar suas mãos geladas dentro.

– Isso é... – Harry pensou em milhares de palavrões e não conseguiu vociferar nenhum. – Uma porcaria.

– Eu não acredito que você seja capaz de receber propinas ou qualquer tipo de aliciação, Harry. – Ela tinha o tom de voz complacente.

Era estranho o fato de sua ex-namorada ser a pessoa que estava lhe dando aquela notícia ruim com a voz cheia de compaixão e dizendo que acreditava nele, quando tudo parecia estar cada vez mais errado.

Cho estava lhe investigando, mesmo acreditando que ele era inocente e ainda assim ele queria descontar tudo nela e xingá-la inteira, mandando toda a Scotland Yard se foder e enfiar o distintivo e sua arma onde eles bem entendessem.

– ...Porém não posso fazer nada, essa é uma conversa de cortesia porque eu acredito em você como policial e profissional, como pessoa também, por mais complicados que tenhamos sido nos últimos anos. – Ela completou, levando as mãos à cintura. – Você será suspenso até que descubram a procedência do dinheiro, por mais que eu acredite que alguém tenha armado para você, não podemos lidar com mais um escândalo quando já estamos frágeis e desacreditados.

Sentiu vontade de rebater as frases prontas de Cho Chang, ir direto a sala do Comissário Interino e jogar a arma e o distintivo sobre a mesa dele e nunca mais voltar. Era uma armação, era um esquema porque alguém o queria fora dali.

Sempre fora um policial limpo, um detetive limpo que lutara muito para chegar ali. Acusar alguém assim - com a carreira tão transparente e honrada, era ir o mais baixo que alguém poderia chegar. Era pisar em um território mais profundo e tortuoso, um território proibido, errado.

– Obrigado pelo aviso. – Harry disse, levantando-se furioso – Acho que o próximo passo é encontrar o Comissário.

– Espero que não faça nada drástico, porque sabemos que você pode ser bem...

Harry não ouviu o que ela disse já que saiu batendo a porta.

Saiu marchando em direção ao escritório do Comissário e apenas no elevador lembrou-se que se chegasse na sala entregando o distintivo e arma, saindo o mais rápido possível daquela confusão infame, prejudicaria o cargo da chefe da Corregedoria - Cho Chang - que fora solícita o suficiente em prepara-lo para a notícia oficial.

Não precisava acabar com o emprego de mais uma pessoa.

Por isso esperou até a hora que o Comissário o chamaria para as “boas novas” e fez o que podia enquanto ainda não estava suspenso. Ronald estava trabalhando com Hermione, Gina estava no The Daily Prophet, e tudo isso era bom já que não gostaria de falar com ninguém, apenas entregar a porra do distintivo e ir embora.

Escreveu uma lista de tarefas para Ronald, mesmo tendo a oportunidade de falar sobre fora do expediente e mesmo sabendo que Ron estava ciente de todas as partes do caso, desempenhando inclusive uma parte crucial independente dele. Entretanto, precisava se sentir útil até não ser mais.

Aproveitou e copiou todos os arquivos do caso do computador do trabalho para um flash drive para que pudesse trabalhar em casa, mesmo afastado do caso. Agora mesmo que ninguém o impediria de ver Voldemort atrás das grades.

Snape sabia que Harry estava ciente de sua suspensão, as notícias correm rápido em uma delegacia de polícia. Por isso, em uma forma de pré-punição, deixou com que ele ficasse remoendo o aviso o dia inteiro, convocando-o a sua sala apenas no fim do expediente para que pudesse ensiná-lo uma lição em discrição.

Não acreditava que Harry era de fato um policial corrupto, mas quando se toca abertamente na ferida de gente perigosa, eles revidam e revidam de maneira dilaceradora, mais rápido que você poderia prever um dia.

– Sente-se. – Severo Snape praticamente cuspiu as palavras.

– Não, obrigado. – Harry disse, olhando para Snape. – Nós dois sabemos por que estou aqui. A essa hora todos da divisão sabem.

Harry tirou o revolver do coldre e o distintivo do bolso e colocou pacientemente sobre a mesa dele.

– Isso é tudo? – Perguntou, cruzando os braços.

– Rapaz insolente. – Murmurou quase que para si mesmo, com o lampejo de um sorriso. Harry o fazia lembrar-se de James, seu pai, que não era sua pessoa favorita durante o ensino médio justamente por ser insolente e arrogante. – Você está afastado do caso atual e de todos os casos em andamento até segunda ordem.

– Sim, senhor. – Harry falou solene. – Boa noite, senhor.

Quando saiu da sala do Comissário, que parecia ter mais a dizer do que disse de fato, desejou apenas poder socar vários objetos inanimados até quebrar os nós dos dedos.

– Bem vindo a inutilidade, Harry. – Murmurou para si mesmo.

– Como você está se sentindo hoje, Sirius? – Lupin perguntou, servindo chá ao antigo amigo que resmungou algo incompreensível em resposta.

Desde que descobrira seu paradeiro, Remo combinara horários fixos com Harry para visitas. Agora, sua rotina resumia-se em dar aulas pela manhã, visitar Sirius às cinco da tarde (tomando precauções de segurança desenvolvidas por Malfoy) e passar noites em claro em busca de algum rastro de Peter Pettigrew.

A fadiga estava deixando claro quão pouco saudável vinha sendo sua distribuição de tarefas diárias, mas agora que podia contar com o aplicativo que estava sendo desenvolvido por Tonks, detetive da divisão eletrônica, Remo sentia-se quase otimista. A moça estava criando um programa cujo objetivo era tentar fazer um reconhecimento facial de Peter a partir de fotos postadas em cinco das as redes sociais mais relevantes na internet.

Era audacioso e levaria algum tempo, mas parecia mais promissor do que jamais fora até então. Remo estava certo de que Peter não era imbecil o suficiente para se expor de maneira óbvia, mas contava com o fato de que doze anos haviam se passado desde a morte forjada do homem. Em doze anos, descuidos podiam ocorrer.

– Ninguém consegue sumir completamente sem deixar rastros. – Era o que Tonks lhe dissera quando tentara animá-lo para prosseguir na busca.

De algum modo, era a fé na fala de uma pessoa que em nenhuma outra situação ele consideraria em absoluto que o fazia considerar as possibilidades positivas.

– Existiu algum momento, algum misero momento, em que poderíamos ter deduzido que esse era o nosso futuro, Remo? – Sirius o forçou a voltar a realidade. Sua voz era um rasgar de angustia.

– Não sei, Sirius.

– Penso nisso o tempo todo. – Lupin observou que os tiques nervosos do amigo estavam mais frequentes hoje. Era difícil não se deixar abalar por isso. – O menino... Pobre menino... – Ele balançava a cabeça, absorto em um sofrimento descomunal.

Desde que soubera que Harry havia sido afastado da policia, o estado de nervos de Sirius piorara drasticamente.

– Sirius, nós precisamos de inteligência emocional se quisermos ajudá-lo. Precisamos... – mas Sirius já não o escutava mais. Fora transferido para outro tempo, um lugar bem mais feliz em sua memória, um dia de inverno em 1979:

– É um menino. – James anunciou orgulhoso perante os três amigos.

– É o fim de uma era. – Sirius implicou, só para vê-lo girar os olhos.

– Você vai adorá-lo tanto que será insuportável Black. – James comentou, mostrando a fotografia incompreensível da ultrassonografia de Lily. Ele olhava com extrema paixão para o borrão em preto e branco.

– É uma ótima noticia Prongs. – Remo lhe deu uma batidinha de parabenização nas costas.

Peter sorriu amarelo, encolhido numa poltrona.

– Olhe só quem mais está com ciúmes. – James brincou, apontando-o.

– Agora que Jay vai ter uma criança de verdade para cuidar, Peter terá que começar a agir de acordo com a idade que tem. – Sirius provocou.

– Temo que o mesmo se aplique a você, Padfoot.

– Crianças, se acalmem. – Remo, o intercessor, pediu. – É natal.

– Você vai ser um professor tãããão chato... – Sirius brincou, mas sorria para Lupin.

– Obrigado. Eu, por outro lado, acredito que você será um ótimo fazedor de nada.

Eles riram juntos, até James interrompê-los com presentes.

– Quero que fiquem com isso. – E estendeu embrulhos coloridos para cada um.

– Você obrigou Lily a fazer esse negócio para você? – Remo perguntou atento à sacola bonita que segurava. James enrubesceu.

– Bem, ela se voluntariou quando percebeu que eu tinha a pretensão de simplesmente cobri-los com jornais velhos.

– Meu Deus, Potter, se você estiver me dando uma cópia ampliada da ultrassonografia do seu filho, juro que arrebento sua cara. – Sirius alertou, mas abriu o presente mesmo assim. Acabara de ganhar vinis de Led Zeppelin, Pink Floyd e The Clash.

Isso o fez lançar um olhar emocionado ao amigo, que sustentou o contato visual por um minuto inteiro.

Então James desviou o olhar e sorriu para Remo que parecia muito contente com o blazer de camurça e as khakis que acabara de ganhar.

– É para você usar nas suas entrevistas de emprego. Vai fazer com que pareça um professor sério e probo.

– E isto – Ele apontou para o cordão que Peter analisava com interesse, sem poder acreditar em seus olhos. – É o amuleto celta que o seu personagem preferido de HQ usa. Não foi fácil encontrar, mas ai está. É para te dar coragem.

– Sirius? – O rosto de Remo parecia mais pálido que o habitual.

Black o encarou confuso, sem saber que estivera inconsciente nos últimos três minutos.

– Remo. – Sua garganta estava seca de um jeito estranho. – Ninfadora Tonks conseguiria criar um simulador de objetos? Digo, alem de rostos, ela poderia tentar detectar objetos nas fotos? – Ele parecia desesperado. Lupin franziu o cenho, aturdido.

– Talvez. – Balbuciou. – Possivelmente. Por quê?

– Temos um amuleto.

– Amuleto?

– Sim, um amuleto.

Tonks mascava chicletes quando estava ansiosa. Naquele momento, por exemplo, ela considerava a hipótese de tirar a embalagem de mais uma goma enquanto observava o leve zunir de Zelda, sua máquina de trabalho.

Seu programa finalmente começara a rodar – o que era genuinamente bom – mas vinha trabalhando de maneira lenta e gradual. O problema era a falta de instruções mais especificas, ela sabia, mas isso não a fazia se sentir melhor. Fazia apenas com que ela pensasse em quão frustrante deveria ter sido para Alan Turing – um dos caras mais influentes para o nascimento da ciência da computação e do próprio computador moderno, bem como um de seus maiores ídolos - durante a segunda guerra mundial.

– Com licença. – Remo pediu, fazendo com que ela voltasse à realidade.

Coincidentemente, Remo fazia com que se lembrasse ainda mais de Alan. Ele penteava o cabelo da mesma maneira e havia aquele ar introspectivo e bondoso em seu olhar que a fazia sorrir de maneira voluntária.

– Fique a vontade, professor.

Ele julgava impossível. Tonks trabalhava num cubículo minúsculo e claustrofóbico, mas não parecia se importar.

– Não quero tomar muito do seu tempo, detetive. Entretanto, julguei importante trazer informações novas.

– Ótimo! – Ela quase gritou. – O programa está quase implorando para ser alimentado com mais dados.

– É um objeto, na verdade. – Avisou, incerto de que aquilo seria útil.

Mas então Tonks abriu um sorriso luminoso e ele ponderou que talvez Sirius estivesse certo.

Hermione encarou o relógio de pulso e mordeu o lábio inferior de maneira apreensiva. Era a quarta vez naquela semana que chegaria depois de meia noite em casa.

A longeva compreensão de Vitor parecia estar esmiuçando-se a cada dia e ela não tinha certeza se tinha argumentos bons o suficiente para usar quando sua rotina culminasse em uma séria discussão de relacionamento.

– Chinesa ou mexicana? – Ron apareceu em seu escritório, o rosto escondido atrás de folders que ele balançava de maneira sugestiva. A apreensão sumiu no instante em que ele apareceu.

Nos últimos dias eles haviam experimentado todo tipo de comida étnica a pronta entrega das redondezas.

Agora que Ron era o detetive principal do caso e tendo em vista que Harry ainda não se recuperara do golpe, seu trabalho duplicara. O detetive precisava cobrir outras pontas soltas quando chegava ao escritório de Hermione – onde supostamente deveria usar para descanso – continuava a trabalhar, bem como ela, agora dividida entre a defesa de Dumbledore e as analises de finanças do cassino e empresas que poderiam estar relacionadas.

– Mexicana. – Ela decidiu de maneira aleatória.

– Essa é a minha garota! – Ele brincou, mas enrubesceu logo em seguida ao perceber o que tinha dito. Da cadeira da escrivaninha, Hermione parecia petrificada.

– Eu vou... Eu vou... Pedir a comida. – Ronald gaguejou, saindo de maneira desajeitada e abrupta da sala enquanto se xingava mentalmente.

Estava cansado, justificou-se consigo mesmo, depois de fazer os pedidos e se trancar no quarto para recuperar a cabeça. Estava cansado e confuso por todo aquele drama que havia virado sua vida.

Lilá partira para a segunda fase da separação que consistia em lhe mandar mensagens maldosas, acusando-o de todos os problemas do universo. Para alem disso, havia o caso e sua mãe que exigia que ele arrumasse um horário decente para visitá-la e explicar o que havia acontecido.

No meio de tudo isso, Hermione era um sopro de alivio.

Ele vinha conseguindo falar sobre trabalho e uma quantidade infinita de coisas aleatórias com ela, o que era surpreendente e... Incrível. Alem de Harry, ela era possivelmente a única amiga que tinha, ele refletiu depois de um tempo. Os anos na policia afastaram todos os seus conhecidos próximos e Lilá terminara de finalizar o trabalho posteriormente.

Isso o fez notar que nunca faria nada para comprometer a relação boa e amena que tinha com Hermione. Era quase patético pensar em si mesmo como o cara que fingia ter doze anos e implicava com ela todos os dias no mês anterior.

Se ele fosse um pouco mais sincero consigo mesmo, compreenderia naquele instante que estava o tempo todo tentando chamar a atenção da advogada.

– Ronald? – A voz de Hermione atrás da porta fez com que ele cobrisse o rosto com as mãos.

– Sim?

– Nossas fajitas chegaram.

– Ah. – Sem vontade, levantou-se da cama e abriu a porta.

Hermione o analisava, em duvida do que dizer para dissipar a tensão.

– Escute, Granger, eu sinto muito. Não quis ser inapropriado. Relações de amizade podem ser um pouco confusas para mim. Estou desacostumado a me relacionar com alguém alem de Potter e...

– Ron. – Ela o interrompeu, surpreendendo-o com o apelido. - Está tudo bem. – Sorriu, dando espaço para que ele saísse.

– De verdade?

– De verdade. – E riu da maneira como ele pareceu aliviado. Ele parecia tão ridiculamente encantador naquele momento que antes que pudesse raciocinar, estava abraçando-o.

Com uma interjeição de surpresa, ele rodeou os braços em torno da cintura dela e sentiu o peito comprimir num aperto ilógico enquanto ela ainda ria. Ron sentiu uma enorme e alucinante vontade de encostar o nariz entre o pescoço e ombro da advogada.

– Espero que isso signifique que você vai pagar o meu lanche hoje. – Ele brincou e ela lhe deu um tapinha antes de soltá-lo.

– Nota? – O detetive perguntou depois que eles terminaram de comer em silencio.

– Nove. – Hermione garantiu.

– Comida mexicana segue invicta então.

– Ainda acho que a tailandesa merecia o segundo lugar.

– Sem chance. – Ron fez careta, lembrando que odiara thai curry; estava disposto a enumerar todas as razões para isso quando o telefone de Hermione tocou. Ela se levantou do tapete persa que eles vinham usando como mesa de jantar.

Weasley ouviu algo como “querido” e a comida instantaneamente perdeu a graça.


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