Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 13
Capítulo XII


Notas iniciais do capítulo

Hey. Voltamos para terminar Cross, como prometido, mas nunca cumprido. :)
Não sabemos se ainda tem gente pra ler, mas caso a resposta seja positiva, essa é a musica que usamos para o capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=lEUgORVsECs
Um abraço,
Lu (escrevendo por mim e Abbie!)



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– Diretamente da New Scotland Yard, nossa correspondente Leah Foster.

A imagem mudou para a gravação ao vivo na 10 Broadway, região administrativa de Westminster, onde ficava a sede central da policia metropolitana de Londres.

Harry sentiu um embrulho no estomago ao ver o local de trabalho pela TV de casa. Recebera ordens expressas para não pisar no local naquela manhã. Dumbledore não queria que aquele acontecimento comprometesse de alguma maneira a investigação de Potter, e ele, por sua vez, não tinha nenhuma intenção de voltar a chamar a atenção da mídia. Racionalmente, sabia que manter o traseiro no sofá era o melhor a fazer, mas isso não o impedia de se sentir inútil.

Nesse momento, o Comissário Alvo Dumbledore está se retirando do local junto à advogada Hermione Granger, escoltados pela força policial local. Seu afastamento temporário, decorrente da suspeita de homicídio de Ariana Dumbledore, é um verdadeiro choque para cidade de Londres e está provocando grande comoção publica em frente a Central. O futuro de Sir Dumbledore é incerto, mas enquanto os fatos são apurados, Severo Snape foi convidado para assumir seu lugar. Os tramites legais dessa transição já estão sendo realizados e o anuncio oficial deverá ser feito ainda nesta semana.

Ele esmurrou o braço do sofá, porque parecia uma decisão um pouco mais sensata do que quebrar a televisão. Com Dumbledore fora, as coisas seriam imensamente mais difíceis. E agora com a Yard descredibilizada por um crime que Alvo jamais cometera, a pressão social para que seu caso fosse resolvido com sucesso e o mais rápido possivel seria enorme.

– Chega de noticias por hoje. – Gina desligou a TV e massageou seus ombros, o que o fez sentir-se um pouco melhor. – Eu estava pensando se conseguiríamos dar uma passadinha para ver o Sirius antes de eu ir para o trabalho.

– Não acho uma boa ideia. – Suspirou, cansado. – Ele vai ser transferido hoje.

– Eu fico emocionada quando você me deixa a par das coisas com antecedência. – Ironizou.

– Gina, agora não, por favor. – Harry se concentrou em se acalmar, respirando mais alto do que gostaria. – É apenas importante que ninguém o descubra.

A ruiva se moveu inquietamente pelo apartamento: quando as coisas pareciam se encaixar, o universo de alguma maneira chacoalhava e modificava tudo. Ela não podia ajudar Dumbledore ou como Harry se sentia em relação ao mentor sendo afastado e todo o departamento sendo investigado pela corregedoria – afinal, se até o Comissário estava envolvido em escândalos, não poderiam se arriscar com o que quer que fosse que pudessem encontrar sobre a equipe o circundava.

Obviamente Harry não poderia aparecer por lá hoje.

– O que não quer dizer que não podemos trabalhar. – Gina falou, em voz alta. – Você pode se sentir um lixo inútil largado no sofá o dia inteiro até tomar coragem e conhecer seu novo chefinho...

– Interino. – Ele fez questão de acrescentar.

– Ou a gente descobre quem Severo Snape é. – Ela sorriu, tentando animá-lo ocupando sua mente.

– Não vejo no que isso seria relevante. – Harry respondeu, carrancudo.

– Detetive, precisamos saber se esse homem está no nosso lado ou não. Me parece muito providencial o fato de o seu superior e nosso maior aliado na polícia ter sido afastado quando estávamos nos deparando com pistas e aumentando nossa força tarefa.

– Não sei que pistas! – Harry bufou. – Parece que apenas nos deparamos com pontas soltas e becos sem saída.

– Se fosse fácil, Voldemort estaria preso há anos. – Gina encolheu os ombros. – Todos cometem erros, Harry, só devemos descobrir qual foi o erro dele.

– Muito bem. – Ele convidou Gina a sentar-se do seu lado, e essa afagou seu cabelo. – O que precisamos saber sobre Severo Snape? E como descobriremos?

– Antes de ser aprendiz de detetive e a mulher dos seus sonhos, Potter, eu costumava ser jornalista. – Ela lhe lançou uma piscadela, que o fez sorrir pela primeira vez no dia. – Não que McGonagall tenha me demitido ainda, mas preciso te dizer que vou precisar de uma puta de uma matéria quando a gente terminar esse caso. Mas vamos aos fatos: eu sei fazer uma pesquisa.

– Me mostre sua mágica. – Harry ergueu uma sobrancelha. – Srta. Gina Molly Weasley aprendiz de detetive e jornalista.

– E a mulher dos seus sonhos. – Ela acrescentou, procurando o laptop na pilha de bagunça que Harry prometeu arrumar eventualmente.

Ele a observou digitar uma senha enorme no computador, abrir um aplicativo no computador que dava em uma página de pesquisas na internet, então ela digitou Severo Snape e muitas páginas apareceram.

– É um programa que me ajuda a filtrar páginas por relevância. – Falou sem olhar para Harry, concentrada em abrir milhares de abas com pesquisas e artigos sobre o cara. – Também me ajuda a encontrar imagens antigas ou não da pessoa.

– É igual quando você seleciona as preferencias avançadas do navegador. – Ele girou os olhos.

– Basicamente, só que um pouco melhor. – Gina olhou para ele pela primeira vez e sorriu. – Neville que instalou para que eu parasse de encher o saco dele com coisas simples.

– Parece justo. – Harry se aproximou ainda mais dela para que pudesse ler o que ela estivesse lendo, concentrado em não deixar o cheiro doce de lavanda tirá-lo do foco.

– Vamos lá. Severo Snape, nascido em 9 de Janeiro de 1960, filho de Eileen Snape e Tobias Snape. Ok, por enquanto normal. Se formou com honras na academia de polícia, foi a faculdade e estudou Criminalogia com especialização em Química Forense... – Gina estava escaneando a página e falando as informações que julgava mais importantes. – Diz aqui que trabalhou com Dumbledore por anos na força, tem dezenas de fotos deles aqui.

Harry procurava por nomes e detalhes que lhe chamavam a atenção.

– Hey! – Ele pediu, quase colando o dedo na tela do computador. – Pare bem aqui.

Rua da Fiação.

Era alguma matéria sobre uma homenagem que a cidade tinha prestado a Snape pela resolução de um assassinato que envolvia um serial killer e ácidos. Queriam trocar o nome da rua em que ele tinha crescido por Rua Severo Snape e ele negou veemente, dizendo que existiam outras pessoas mais importantes que ele que residiam ou residiram aquela rua.

– Por favor, procure Rua da Fição naquela função de imagens no mapa. – Pediu, com ar pensativo. Conhecia o nome da rua, mas de onde?

Gina, sem entender, fez o que ele pediu e o observou analizar a rua e dar zoom em partes da rua.

– É muita coincidência. Não faz sentido. – Harry murmurou para si mesmo.

– Detetives não acreditam em coincidências. – Gina o lembrou, o incentivando a continuar.

– Essa era a rua da tia Petúnia, antes de ela se casar com boçal e ter Boçal Jr. – Harry falou, consertando os óculos arredondados no rosto. – Minha mãe passou a infância antes da escola ali.

Harry a observou digitar na barra de pesquisa Lily Potter e Severo Snape. Nenhum resultado relevante. Talvez eles não se conhecessem de fato e fosse apenas uma coincidência uma vez que ninguém conhece todos os seus vizinhos, ele não conhecia seus vizinhos, por exemplo. Mirou um ponto aleatório na parede para ver se conseguia pensar em algo, já que nada em Snape inspirava confiança, nem os fatos ou as fotos sempre ranzizas e carrancudas, com aquele estilo sombrio presente nas roupas negras e no cabelo escuro que contrastava completamente com a pele pálida do Comissario Interino.

Voltou a olhar para Gina, que sorria para a tela do computador.

– Procurei por Lily Evans. – Abriu um sorriso mais largo ainda e ajeitou o cabelo com uma das mãos. – De acordo com meu dossiê sobre você, esse é o nome de solteira da sua mãe, certo?

– Certo. – Confirmou, olhando para a tela do computador também.

– Agora me diz que eu sou genial e que eu sou quem você sempre sonhou. – Gina riu, mostrando uma dúzia de fotos.

A foto que escolhera para ampliar era uma que dizia “Classe de 1978”. Com o mouse, Gina apontou o rosto de Severo Snape em uma extremidade da fotografia e depois o de Lily, que estava entre James Potter, Sirius Black e Remo Lupin. Ajoelhado na fileira da frente estava Peter Pettigrew.

– Ultrapassamos o ponto das coincidências. – Harry murmurou, mais para si mesmo.

– E o que faremos com isso? – Gina perguntou.

– Descobrimos mais sobre Snape com nossos aliados antes de decidirmos o próximo passo. – Harry disse, pensando em Lupin e Sirius, que nunca mencionaram o atual Comissário anteriormente. Respirou fundo antes de mudar de assunto – Precisamos descobrir o furo daquelas finanças do cassino.

– Infelizmente matemática não é meu forte. – Gina fez uma careta. – Mas talvez seja de Hermione, já que aparentemente não existe nada no mundo que ela não saiba como fazer ou resolver. Deveríamos ligar para ela.

– Porém são arquivos obtidos de forma ilegal e ela é advogada.

– Ela não precisa saber de onde os arquivos vieram. – Gina girou os olhos para Harry. – Precisamos apenas ligar para Ron e pedir para que de maneira alguma ele os abra no trabalho. Ele vai precisar de um computador pessoal e Hermione Granger.

Foi com pesar que todos da academia viram o homem alto, de trajes negros conservadores e cabelo tão preto que brilhava na medida em que ele caminhava em direção ao palanque no auditório de reuniões da Scotland Yard, ser anunciado como substituto interino de Alvo Dumbledore. Os próximos dias, semanas ou meses que viriam, não seriam de forma alguma agradáveis ou fáceis, uma vez que a fama maquiavelista de Severo Snape o precedia: queria resultados, não importava como, apenas quando e que fossem satisfatórios. Os boatos de que ele sempre esteve de olho naquela posição correram mais rápido que a própria suspensão de Dumbledore, e todos sabiam que ele era o principal candidato de qualquer maneira, obviamente, sempre estivera disposto a largar o cargo de liderança da Divisão de Drogas Ilegais e Contrabando se isso significasse transferência para Homicídios.

Era um sonho tornado realidade.

– Boa tarde a todos que foram convocados a esse encontro. – Snape anunciou em tom solene, enquanto mirava o semblante descontente de toda a força policial que se fazia presente. Ele deu falta de alguns detetives, como Harry Potter, que tinha certa fama em todas as divisões da polícia londrina, mas onseguiu reconhecer, pelos cabelos ruivos e pose de desagrado, Ronald Weasley, o parceiro, e por fim a advogada obstinada que estava fazendo confusão há poucos minutos em todo o departamento. – É com muito pesar que anuncio que por tempo indeterminado substituirei nosso valioso Comissário Alvo Dumbledore, que dedicou sua vida inteira a lei, a justiça e ao povo da Inglaterra.

Ron tinha vontade de bradar e esbravejar a injustiça que estavam cometendo. O que seria deles sem Dumbledore?

Snape falou sobre planos de otimização da carga horária e diversas semi-mudanças que estava disposto a fazer pelo departamento, como se tivesse chegado para ficar e então se despediu, curto e grosso.

– Ferrou. – Ron suspirou para si mesmo.

No Sun’s Town Hotel & Gambling House, Tom sorriu para um de seus telões. O rosto repuxado por lifitings e outros procedimentos cirúrgicos era, no mínimo, assustador, mas isso não o perturbava enquanto acendia um cubano e repousava seu Whisky puro em um dos braços da poltrona.

– Um já foi. – Disse satisfeito para si mesmo. – E foi fácil.

Procurou na reportagem de posse de Severo Snape pelo rosto do detetive policial responsável pelo caso, o filho sobrevivente dos Potter, o culpado pela dor de cabeça severa que o afligia nas últimas semanas. O garoto Potter era bisbilhoteiro como seus pais e estava criando problemas onde não deveria existir, de modo que precisava fazer algo.

Harry estava perto demais.

Já havia descoberto quem ele era sem dificuldades, por mais circunstancial que sua investigação tivesse sido no inicio. Já levara Lestrange a interrogatório e ele próprio teve que aparecer naquele circo para ser questionado por um detetive cínico de meia tigela...

Seus informantes na polícia sabiam que ele estava sendo investigado a fundo e a dupla Potter Weasley tinha fama de quem não deixava um caso em aberto.

Era óbvio que precisava fazer com que os dois parceiros dessem uns passos para trás. E qual era a melhor maneira de ferir um tira honesto?

Não era um bom dia para Longbottom.

Gina estava estressada e, por consequência, ele também. Ela o alugara por meia hora via telefone, falando sem parar sobre a saída do comissário de polícia, o risco que agora havia de Potter ser afastado do cargo e outras milhões de coisas relacionadas.

Neville não estava particularmente interessado em nada disso. Sentia-se disposto a ajudá-la com a parte técnica, mas não tinha a menor intenção de se comprometer psicologicamente com o caso e sua melhor amiga parecia ignorar isso com uma frequência cada vez mais assustadora.

Tudo o que ele realmente queria era terminar o trabalho, chegar em casa e assistir algum documentário animal com a namorada. Não era pedir muito em sua concepção pessoal de mundo, mas aparentemente o mundo estava em desacordo, porque no momento em que deu o dia por finalizado no escritório e desceu até o nível térreo, viu Luna em uma poltrona no saguão, absolutamente compenetrada nele.

Ele podia correr na direção oposta ou continuar parado. Acabou optando pela segunda opção, o que pareceu uma péssima ideia um segundo depois, já que observar a expressão triste no rosto de Lovegood enquanto se aproximava a passos calmos dele era, no mínimo, torturante.

– Olá.

– Oi. – Ele respondeu, enquanto seu cérebro processava maneiras inúteis de mentir.

– Eu vim me desculpar com Malfoy. – Ela explicou, encarando-o. – Seu chefe, ao que parece.

– Luna... – Ele tentou segurar-lhe a mão, mas a artista se afastou delicadamente.

– Está tudo bem. – Sorriu de maneira suave. Sua voz também parecia tão calma quanto em qualquer outro dia. Mas os olhos mareados destruíram todas as estruturas de Neville. – Você deveria ir agora.

Era quase cruel constatar que isso era o que ele mais queria a cerca de um minuto e agora mal conseguia mover os pés. Mesmo assim ele se esforçou e concordou com a cabeça, porque a ideia de argumentar de algum modo e correr o risco de deixá-la ainda pior era inaceitável.

– Nós podemos conversar depois?

– Eu acho melhor não. – Ela desviou o olhar, concentrando-se em algum ponto fixo na direção oposta a dele.

Suspirando e sentindo-se extremamente descontente, ele lhe deu as costas e saiu.

Em algum momento, ele precisaria lidar com o fato de que não tinha mais uma namorada. Uma hora ele sentiria o incomodo que seria acordar sozinho e teria que assimilar como sua vida poderia ser potencialmente patética, mas agora não.

Se ele deixasse para sentir agora, doeria demais. Seria insuportável.

Por isso, assim que chegou em casa, Neville dobrou as mangas e lembrou-se de Draco falando sobre o acesso às câmeras de Londres. Ele poderia ser uma bosta de neto, um filho relapso e um namorado horrível, mas sabia mexer em um computador. E se conseguir algo que ajudasse Gina ainda tivesse o efeito de lhe massagear o ego, então era isso que ele faria, mesmo que custasse o dia inteiro.

Depois ele poderia se desesperar como uma criança.

No mesmo instante em que Neville começou a trabalhar indiretamente para a policia e sem nenhuma remuneração, Ron desligou o telefone, grato a Harry internamente por ter lhe dado uma desculpa razoável para sair do trabalho. A central estava em polvorosa: todas as divisões de policia pareciam ter se convertido em instantâneas colunas de fofoca. O burburinho geral piorava o estado de espírito do Detetive Weasley, já tenso com o futuro da corporação e de seu caso.

– Thomas. – ele chamou o cadete que menos o irritava. – Você viu a Dra. Granger hoje?

– Até onde sei, ela está na sala do comissário, esculhambando o Secretário de Segurança.

Antes que pudesse se conter, Ron sorriu de maneira orgulhosa.

Podia imaginá-la perfeitamente com algum dos seus inúmeros terninhos, desafiando autoridades de maneira elegante, inteligente e feroz. Geralmente essas eram as três características dela que mais o irritavam, mas dessa vez a imagem o reconfortou e ele se sentiu parcialmente vingado pela maneira suja como haviam tirado Dumbledore do cargo e como o assunto foi propagado pelas grandes mídias.

Por essa razão, esperou pacientemente até vê-la sair marchando pelo corredor principal.

– Granger. – Chamou e ela pareceu quase assustada pela forma educada com que ele pronunciou seu nome.

– Weasley?

– Você precisa resolver algum assunto de imediato?

– Tenho alguns homicídios em mente, mas temo não conseguir realizar qualquer um deles.

Ron concordou com a cabeça de maneira quase solidária, e então explicou:

– Potter me ligou. – Ele deu uma olhada por cima do ombro para ter certeza que ninguém os ouvia. – Ele gostaria que nós conferíssemos umas finanças.

– Oh. – Foi a única resposta.

– Eu gostaria de saber se poderíamos tratar disso na minha casa. – enfiou as mãos nos bolsos, desconfortável. – Os registros são... Extraoficiais.

– Entendo. – E mexeu os ombros para tentar dissipar a tensão daquele dia insuportável. Sair da central seria um sopro de alivio, e ela não se incomodou em verbalizar isso: - Para mim, está ótimo.

Eles foram caminhando lado a lado até a garagem subterrânea.

– A porta emperra um pouco. – Ele se desculpou antecipadamente, quando se aproximaram do carro. Se Hermione não estivesse tão absorta com o caso de Dumbledore, estaria realmente curiosa sobre aquela súbita mudança de atitude do detetive em relação a ela.

– Tudo bem. - entraram no carro e Ron ligou o rádio baixinho, como fazia quando estava dirigindo sozinho.

– Nick Cave?

– Porque o tom de surpresa? – O detetive estava na defensiva, mas não parecia realmente ofendido.

– Eu só... – Hermione pensou a respeito. Nenhuma resposta boa lhe ocorreu, de modo que ela apenas encolheu os ombros. – Desculpe.

– Gosto de escutá-lo.

– Eu também. – Ela confessou e cantarolou o pedaço da musica que estava tocando: - Into my arms, oh Lord...

Ron a olhou de soslaio, antes de dirigir em direção à rua.

A distancia até sua casa pareceu triplicar, mas o silencio que pairou entre eles durante todo o percurso era estranhamente reconfortante.

– Agora que chegamos, talvez você possa ser mais expansivo a respeito dos registros que vamos analisar. – Hermione disse ao descer do carro. A estranha e intima atmosfera que tinha os circundado durante o caminho se dissipara tão rápido quanto surgira.

– Claro. Analisaremos as finanças do Sun’s Town Hotel & Gambling House.

Hermione empalideceu instantaneamente.

– Estamos falando do cassino mais famoso da cidade?

– Justamente. – Ron tirou as chaves do bolso e abriu a porta de casa. - Isso vai ser exaustivo. Você está pronta?

– Você está? – Ela rebateu e Ron se preparava para responder, quando notou algo errado. Ele não soube de dizer de imediato o que era. Primeiro veio a intuição. Com um gesto, ele pediu para Hermione ficar em silencio e sacou a arma do coldre na cintura.

– Me espere aqui. – Sussurrou e andou silenciosamente pela sala, em direção ao corredor que dava para os quartos. Os batimentos cardíacos de Granger subiram rapidamente. A injeção de adrenalina fez com que, em primeira instancia, ela o obedecesse e permanecesse exatamente onde estava. Mas quando uma porta se abriu e uma mulher gritou, suas pernas tomaram a decisão mais estúpida possivel e ela correu em direção ao som, na esperança de poder ajudar.

– O que ela está fazendo aqui? – Lilá guinchou quando Hermione apareceu.

Granger corou com a situação. Havia um homem claramente desconcertado tentando se vestir as pressas, enquanto sua antiga colega de escola encarava o noivo – em estado de choque – com o dedo em histe em sua direção e a outra mão segurando um lençol que só a cobria parcialmente.

– Oh, Deus. – Hermione sentiu-se zonza, constrangida e compadecida de Ronald, tudo ao mesmo tempo. Com uns passos vacilantes, ela andou para trás como se isso a fizesse regressar aos preciosos segundos em que ela não era testemunha de Ronald descobrindo uma traição em flagrante.

Não adiantou, então ela decidiu sair do lugar e esperar na escada de entrada.

Um minuto depois, Ronald estava ao seu lado. Seus olhos continuavam vidrados e as mãos tremiam ligeiramente.

– Tome. – Hermione tirou o cantil de bebida do bolso interno do blazer e lhe ofereceu.

Ronald virou todo o conteúdo do frasco de uma única vez.

– Whisky escocês? – Fez uma careta.

– Passo 2/3 do meu dia transitando entre tribunais e a central de policia. – explicou-se. – Às vezes é útil.

Ele concordou, desejando beber mais. Quando sons de passos dentro da casa se tornaram nítidos, Weasley olhou desesperado para a advogada.

Ela suspirou e estendeu a mão. Ele lhe deu a chave do carro e, segundos depois, Granger estava cantando pneu enquanto uma Lilá histérica gritava por eles e ficava cada vez mais distante pelo retrovisor da viatura.

Hermione parou em frente ao primeiro bar que encontrou e escoltou o detetive até a mesa livre mais privada que conseguiu encontrar.

Ron jogou o casaco e o envelope pardo (contendo as impressões de todos os arquivos que Potter lhe enviara) na madeira e se deixou afundar no banco. De uma maneira muda que nenhum dos dois saberia explicar após aquele dia, eles entraram em um consenso que Hermione analisaria os dados enquanto ele ingeria o máximo de álcool que o seu fígado aguentasse.

Funcionou por 3 horas ininterruptas.

– Minha vida é uma desgraça. – Ronald disse quando se sentiu bêbado o suficiente para começar a falar a respeito. – Você sabia que eu ia me casar?

– Sim. – Hermione não tirou os olhos dos papéis.

– Você sabia que aquele homem semi nu era o assessor do casamento?

– Não, Ronald. – Ela levantou o olhar por um único instante e o encarou. Os olhos azuis do detetive brilhavam de uma maneira perigosa. - Eu sinto muito.

– É só... – ele riu, sem concluir o que queria dizer. – Nem sequer posso ficar na casa de Harry. Minha irmã mora lá agora, ela só não se deu conta disso. Não tenho nenhum outro amigo próximo. Não quero explicar aos meus pais o que houve.

Hermione suspirou.

– Você pode ficar no meu escritório. Não está pronto para uso ainda e fica a apenas uma quadra da Scotland Yard. Há um quarto minúsculo que eu projetei para quando virar noites por lá.

Ronald a encarou, sério.

– Eu não posso aceitar.

– Não seja estúpido.

– Eu sequer sei seu nome do meio.

– Qual a relação entre as coisas? – mas ao perceber que estava prestes a discutir com um bêbado, suspirou e meneou a cabeça, retrocedendo. – É Jean.

– Bilius. – Ele estendeu a mão, como se estivessem se conhecendo. Hermione não pode deixar de rir.

– Que espécie de nome é esse?

– Você não está muito melhor do que eu, Hermione. – Era a primeira vez que ele a tratava pelo primeiro nome. Havia algo de comovente no fato, mesmo que ele tivesse feito isso no único intuito de provocá-la.

– Talvez. – respondeu, voltando a encarar os relatórios quando percebeu que não estava mais se referindo só ao nome.


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