Exit escrita por Relinked


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

O rosa do bigode é culpa do Défi. 



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Passar a noite bebendo é algo consideravelmente divertido para a grande maioria das pessoas de 17 anos. Esse era o caso de Takeso, que ficou realmente feliz de ser recebido por uma estrondosa festa de boas vindas na fábrica que deveria invadir para depois sabotar. Ora, se as coisas corriam de maneira mais simples, por que não deixar fluir, seguir a corrente? Passou mais de quatro horas dançando com os seres altos e magros, mas de certa forma aristocráticos, num salão altamente colorido, com pisos laranja e camurça roxa por todas as paredes. A escada principal reluzia de cores fortes, e tinhas listras brancas nos corrimões. Cada degrau variava de vermelho para verde, num colorido de dar dor nos olhos. A iluminação, digna de uma festa badalada do centro de uma cidade grande, não colaborava com a retina de Takeso, mas ele já não estava mais ligando para o que o seus olhos viam. Pulava por sobre as mesas, dançando ao som de algo que parecia talvez um jazz, mas não exatamente um jazz, tocado por uma banda de pessoas vestindo bermudões de praia em cores estrondosas, mas ainda assim com postura nobre, como se usar calções de banho fosse algo digno apenas de reis. As pessoas que se encontravam no centro do salão e dançavam cheios de estilo, como se cada passo tivesse sido ensaiado, não exibiam sorrisos. Na verdade, elas sequer tinham boca. Apresentavam dois grandes olhos amarelos sem pupilas nem pálpebras, e tinham um tom de pele cinzento claro. Nenhuma delas era gorda, mas suas alturas variavam bastante, não havia marcas em suas peles, eram quase manequins com olhos e movimentos célebres.

Takeso pretendia beber, dançar, conversar, gritar e cantar (quando pensava saber a letra) pelo resto da noite, e no que dependesse do pessoal da festa, tal desejo por certo aconteceria. Mas no que dependesse da cara do senhor gordo, baixo, com roupas pretas e um grande bigode rosa, parecendo um grande leão-marinho com uma pitada de carnaval, que se encontrava no topo da escada, a festa não duraria sequer mais cinco segundos. Um punhado de balões multicoloridos cheios de hélio subiu rapidamente escada acima e ele agarrou um com a mão no momento de uma pausa um tanto quanto longa na música. Takeso virou-se e berrou para a banda um som estranho, algo como “Parou por quê?”, mas bem longe disso e talvez mais próximo de uma frase que possivelmente seja melhor continuar excluída desse parágrafo. O senhor bigodudo soltou o balão e a música continuou assim que ele resolveu continuar a descer a escada. Aproximou-se de Takeso, que estava engolindo rapidamente mais um enorme gole de sua bebida, e disse num volume consideravelmente baixo para uma festa:

- O banheiro do segundo andar é mais lustrado.

 O portão de ferro olhava pra eles e eles olhavam para o portão de ferro. Raphael, ainda com o coelho na mão, estava querendo roer o coelho por ele não ter conseguido realizar tal feito com o portão. A ferrugem, ainda impregnando a luva branca de Raphael, provocava-lhe náuseas e um pavor enorme de estar sujo. O coelho olhava assustado para o portão, como se o mesmo fosse comê-lo, despedaçar toda aquela massa branca.

- Certo, e como entramos então? – perguntou Kellyn, as mãos na cintura, morrendo de frio por causa do ar gelado, mas achando graça na frustração de Raphael.

- A questão é justamente vocês. – disse Raphael, parecendo agora devidamente enfurecido – Tenho métodos para entrar lá, mas todos eles levariam única e exclusivamente a minha pessoa para dentro deste muro.

Virou-se mais uma vez para o portão, que rangia enquanto entortava-se para ver melhor o coelho. Raphael passou a acariciar o portão, e percebeu que ele estremecia a cada toque de sua luva, que por sua vez ficava cada vez mais encardida com a ferrugem do portão.

- Alguém venha fazer cócegas nele. – disse Raphael, virando-se para Kellyn, Erick e Rod.

- E por que você mesmo não faz? – perguntou Rod, como quem espera uma resposta que explicasse o motivo satisfatoriamente.

- Por que tenho você pra isso. – disse Raphael, e empurrou Rod pra perto do portão, que com os olhos enormes o observou.

Ficaram ali os dois, Rod sem coragem de olhar pro portão e encarando o chão, e o portão ainda mais torto, acompanhando o coelho.

- Tudo bem, eu faço. – disse Erick, e aproximou-se do portão, esticando ambas as mãos.

Rod e aproximou-se também, e juntos começaram a esfregar o portão por todos os lados, porém não tiveram os mesmos resultados que Raphael. O portão não estremeceu, não rangeu e nem se quer olhou para eles. Continuou fixo no coelho, como se aquele predador pudesse atacá-lo a qualquer momento.

- Não está adiantando. – disse Kellyn, cruzando os braços.

- Eu percebi, senhorita gênio. – disse Raphael, com o humor tão belo quanto suas luvas estragadas. – Deve ser a seda cara das minhas luvas.

Todos viraram-se para ele, e Rod e Erick deram espaço para ele se aproximar do portão.

- Esperam que eu destrua ainda mais minhas luvas?! – disse Raphael, agora decididamente enraivecido, e antes que alguém pudesse responder, começou a rodar o coelho no ar pelas orelhas. Percebeu que o portão tentava acompanhar o movimento não apenas com os olhos, mas por inteiro. – Afastem-se!

Rod, Erick e Kellyn saíram de perto da entrada, e Raphael foi um pouco para o lado também, não ficando mais na frente do portão.

De súbito, ele arremessou o coelho e, tão subitamente quanto o arremesso, o portão desprendeu-se das dobradiças e saltitou de forma caricata atrás do pobre animal branco, deixando assim a entrada livre.

- Problema resolvido, luvas parcialmente conservadas. – disse Raphael, e entrou no jardim da Vernicomidas.

Queda livre. O balão amarelo, que estivera tanto tempo flutuando calmamente no mesmo lugar, na mesma altura, resolveu cair. Estava relativamente alto, sobrevoando algumas colinas bem vagarosamente, mas não demoraria muito mais que dez segundos para atingir o chão. Melanie levantou-se, ligeira, e percebeu que Alec estava tendo um pesadelo, e, portanto, pôs-se a acordá-lo. Continuavam caindo, enquanto o bicho de pelúcia que devia estar cuidando da altura do balão tornar-se um monte de algodão voando com o vento estonteantemente rápido que passava. O chão foi se aproximando, a grama não parecia tão macia e nem tão agradável, e Melanie se desesperou. Deu um tapa em Alec, que finalmente acordou mas não percebeu o que estava acontecendo. Continuaram caindo, e Alec começou a berrar perguntas relacionadas ao tapa que acabara de tomar, enquanto o chão se aproximava, ameaçador, e Melanie berrava para que Alec fizesse algo. Os “pouco mais de dez segundos” pareceram durar uma eternidade, e quando finalmente Alec entendeu o que estava acontecendo, que estava perdendo tempo berrando sem tentar ouvir primeiro e que o chão não era realmente amigável, eles bateram no chão com um baque surdo.

Quando chegou em casa, completamente descabelada, com parte das bananas amassada e a outra parte perdida na rua, um enorme buraco na sacola de jabuticabas que fizera com que apenas 4 delas sobrevivessem a dura e longa jornada de cerca de quinze minutos, a mãe de Kellyn percebeu que não deveria ter quebrado o nariz do japonês apenas por ele não ter um pastel, que talvez tivesse feito um mal incurável, que seria processada, que pagaria todos os pecados logo a seguir ou que alienígenas viriam do espaço para julgá-la por ter tacado duas dúzias de laranja na cara de um pequeno japonês indefeso que disse uma mísera palavra. Resolveu que o melhor a fazer seria relaxar e preocupar-se com as frutas depois. Subiu as escadas e mergulhou em um banho demorado, lavando cada uma das partes do corpo afetuosamente, tentando de todas as maneiras não estragar a chapinha que tinha feito no cabelo para o aniversário de Alec, já que havia custado os olhos da cara e o resultado era satisfatório. Foi um sacrilégio, e foi onde ela começou a pagar o pecado de quebrar o nariz de um japonês que não vendia pastéis. O chuveiro de repente parou de fornecer uma gostosa água morna. Ficou ali, parado, fazendo o barulho de sempre, mas sem prover mais água para o banho da mãe de Kellyn. Ela olhou curiosamente, encontrando-se embaixo do mesmo, e recebeu logo em seguida um forte jato de água despropositada e incrivelmente quente, que destruiu todo o trabalho de três horas da cabeleireira da esquina.

Secou-se, indignada, e foi para o quarto, trocar-se. Meteu o dedo do pé na quina da gaveta, bateu a cabeça na porta do guarda-roupa e tropeçou no tapete. Levantou-se, gemendo, e disse a si mesma que já estava velha demais para ficar caindo. Resolveu fazer algo completamente seguro, onde ela não poderia ser atingida pela nova maré de azar.

Então a mãe de Kellyn acessou a internet, enquanto esperava seus filhos e entrou na sua conta em um fórum qualquer sobre culinária mexicana do século 21. Quer dizer, tentou entrar, por que viu a mensagem "Você foi banido deste fórum" pipocar em sua tela. Indignada, criou outra conta e postou 20 tópicos com o título: "POR QUE EU FUI BANIDA?!" Sendo que cada um deles recebeu a mesma resposta amorosa "Por que eu quis" de um moderador chamado Death_Phoenix antes de esta outra conta ser banida.

E agora havia outro grande problema obstruindo a entrada de Erick, Kellyn, Rod e Raphael na Vernicomidas. Duas portas enormes de metal que não rangiam, não tinham olhos, não expressavam o menor interesse em coelhos e tão pouco podiam ser roídas pelos mesmos. Depois de inúmeros métodos criativos por parte de Raphael, incluindo batidas com uma marreta retirada da cartola, Rod simplesmente disse:
- E se tocássemos a campainha?

Todos viraram para ele, que apontava um botão grande em forma de biscoito. Raphael foi até o botão, observou ser tocá-lo, e, mesmo com o grande letreiro escrito “Campainha!”, deu a seguinte sentença:

- Não é uma campainha.

Kellyn começou a rir descontroladamente, enquanto Erick aproximava-se do botão para analisá-lo também. Foi frustrante para Kellyn, mas Erick concordou com Raphael, dizendo que realmente não era uma campainha.

- Se não é uma campainha, - começou Kellyn, colocando o dedo sobre o botão e apertando-o enquanto terminava – o que é?

Silêncio absoluto reinou, ouviam-se apenas os estrondos do portão saltitante, até que ambas as portas foram abertas e eles avistaram, num salão multicolorido, uma grande festa cheia de gente, além de uma faixa escrita “Bem vindos, espiões secretos e tio retardado de cartola!”.


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