Exit escrita por Relinked


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Obrigado tio bio, ainda bem que os aquários foram embora.  =3



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Depois de se espantarem com um mar se abrindo à lá Moisés, um castelo de areia monstruoso surgir do fundo do mar agora partido, e uma simpática garota caminhar ligeira até o castelo, Kellyn, Erick, Raphael e Rod estavam calmamente andando por entre corredores e saguões. O castelo de areia era realmente muito bonito por dentro, cheio de detalhes e cheio de criaturas que pareciam peixes. Estavam todos respirando normalmente, graças ao sistema de segurança imposto por Yuri.

- Para entrar em meu saudoso castelo, é preciso... – disse a garota, baixinha, olhando para eles então com uma cara sádica. – SOFRER! – exclamou.

“SOFRER!” significava espetar o dedo em uma agulha. Nela havia um veneno que, no momento, causaria uma vontade avassaladora de chorar. Do tipo que não dá pra segurar, mesmo, quase como cebola. O veneno era, na verdade, constituído parte em suco de cebola, apesar de todos saberem que não era por isso que estavam chorando. Pouco mais de 5 segundos depois de espetar o dedo, o veneno era eliminado pelos anti-corpos e tudo voltava a mais calma paz dentro de seus organismos. A lágrima que caia (normalmente era uma única, já que 5 segundos não é lá muito tempo) tinha, por alguma razão, a habilidade de modificar os pulmões das pessoas por 24 horas, e assim a pessoa tanto respiraria ar normalmente quanto seria capaz de filtrar o oxigênio da água. Era uma picada, uma pequena dor, uma lágrima e um estoque de oxigênio por um longo tempo. Parecia para Yuri um sofrimento inigualável, espetar o dedo em uma agulha. Todos podendo então respirar normalmente, como se nem estivessem sob a água e já fossem completamente acostumados com a respiração subaquática, caminharam por enormes corredores e salas atrás de Yuri, que explicava a situação enquanto andava:

- Basicamente, nós temos uma pequena rixa, eu e a Dayse. Você sabe, são águas diferentes, seres diferentes, pensamentos diferentes. Enfim, a Dayse quer simplesmente tornar o nosso maravilhoso oceano, que ocupa mais ou menos 72% do mundo, em água doce.

- Inveja? – indagou Raphael, em tom interessado.

- Talvez. Suponho que ela queira muita água, mesmo já tendo montes de rios que jogam essas águas doces e nojentas no nosso mar.

- Ela pretende transformas litros e mais litros de água salgada em água doce? – perguntou Kellyn – Como?

- Supostamente há um jeito, não sei exatamente o que é. – disse Yuri, olhando para Kellyn - Só sei que ela precisa de uma ajuda considerável para tal feito. Mas o que importa é que nós nem se quer mechemos com a água doce dela. Só queremos ficar com o nosso vasto mar salgado e monopolizar a indústria de biscoitos. Apenas isso.

- Apenas? – perguntou Kellyn, sem segurar um sorriso.

- Sim, somente isso. – respondeu Yuri, andando com eles e entrando em um salão ainda maior do que os que eles já haviam passado – Não podemos aceitar o fato de que o senhor Vernico está vendendo biscoitos com o nome de “Bolachas-do-mar”, só por que são biscoitos de água e sal redondos.

- Vernico? – indagou Erick.

- É o dono da única empresa de biscoitos que nós conhecemos, a Vernicomidas, uns dois quilômetros daqui. Chama-se Vernicomidas, mesmo fabricando apenas biscoitos. – disse Yuri com desprezo. Aproximou-se da mesa no centro da sala e sentou em uma das cadeiras. Os outros a imitaram. – E então, depois de alguns empregados dele pisarem em nossas bolachas, temos cada vez mais arrecadado dinheiro para comprar a Vernicomidas, estamos agora com mais ou menos uma libra e 12 ienes. Bastante, não? – disse ela sorridente.

Kellyn e Erick riram muito dessa colocação. Yuri olhou para eles aborrecida, e, asperamente, indagou o porquê de tal riso.

- Estão felizes de a senhorita já ter arrecadado tal fortuna, madame. – disse Raphael – Não sabemos a cotação de tais moedas, mas presumimos que isso é muito.

- Sim, eu também presumo. – disse ela, brincando com os cabelos – Era todo o dinheiro que um dos empregados tinha quando esmagou uma de nossas mais bondosas bolachas-do-mar. Uma multa e tanto, não?

- Estamos viajando há muito tempo. – disse Alec, em tom cansado.

- Só se passaram 4 horas. Ainda falta muito. – respondeu Melanie.

- Eu não quero mais ter que colorir o mundo. – disse Alec, agindo como uma criança mimada e cruzando os braços.

- Você tem que entender que é a sua obrigação. – disse Melanie, com um ar de pena – Mas assim que você acabar vai poder fazer o que quiser. Pense pelo lado positivo.

Alec olhou aborrecido para a paisagem colorida e viu que mais a oeste havia lugares ainda sem cor. Mudou o vento e seguiu com o balão para lá.

- Mas de onde você veio, afinal? – perguntou Alec, tentando arrumar um assunto para ao menos não se sentir entediado.

- Vim do seu mundo. – disse Melanie.

- Sério?! – Perguntou Alec, olhando para ela.

- Não pare de colorir. – disse Melanie, gentilmente virando o rosto de Alec com a mão – Sim, eu vim de lá. Não lembro como foi, quando foi e nem com quem eu estava. Mas tenho a impressão de que vim de lá.

- Bobagem. – disse Alec, olhando novamente a cadeia de montanhas que começou então a ganhar cor – você é legal demais pra vir de lá.

- É, talvez – disse Melanie, sorrindo – Mas tenho certeza que tenho alguma relação com você.

- Como você sabe de todas essas coisas sobre esse mundo, então? – perguntou Alec.

- Eu não faço idéia. Simplesmente sei. – Melanie olhou para Alec. – Ficou confuso?

- Um pouco. – disse Alec, e bocejou. – Acho que daqui a pouco vai anoitecer.

Takeso já tinha tirado os sapatos e as meias e estava molhando os pés na água, sorridente, enquanto conversava com Dayse, que estava por sua vez sentada no fundo da lagoa.

- É, e eu fui chorando até onde a minha mãe estava – disse Takeso, enquanto Dayse prestava atenção como alguém que ouve uma boa história – e não estava vendo nada direito, queria uma toalha com urgência. O meu olho esquerdo estava todo fechado e o direito estava lacrimejando, e eu não podia passar a mão pra tirar o sal deles por que elas estavam molhadas e não adiantar muita coisa.

- Esse sal maldito... – comentou Dayse, baixinho.

- É, daí eu fiquei vagando por uns 10 minutos na praia cheia de gente. Não conseguia achar a minha mãe de jeito nenhum, e comecei a ficar com medo. Daí percebi que estava perdido, e que o olho estava finalmente parando de arder. Então eu sentei no chão e fiquei chorando, até que uma moça bonita me perguntou qual era o problema.

- Coitado... – comentou Dayse, outra vez em um volume pouco audível.

- Eu disse que estava perdido e ela me ajudou a achar minha mãe, que também estava desesperada. A partir desse dia eu passei a odiar o mar e a minha família não foi mais pra praia por minha causa.

- O mar é realmente maléfico. – disse Dayse – E agora você pode se vingar dele.

- Mas eu ainda não entendi direito como vai funcionar isso, pra ser sincero, mesmo você tendo me explicado por umas duas horas. – disse Takeso, olhando pensativo para Dayse.

- Certo, basicamente você vai descobrir como o Vernico faz os biscoitos de água e sal dele.

- Vernico é o dono da fábrica, certo? – Perguntou Takeso.

- Sim. Se você descobrir, poderá nos contar como ele separa o sal da água do mar.

- Mas e se ele não separar?

- Aí teremos de fazer a produção de “Bolachas-do-mar” aumentar ao extremo, até secar todo o oceano. – disse Dayse. – Simples, não?

A feira estava uma bagunça por si só, e a mãe de Kellyn mal podia se mover no meio da avalanche de pessoas que a cercavam. Carregava duas dúzias de banana numa sacola, uma dúzia de laranjas em outra e um quilo e meio de jabuticabas em uma terceira. Suas mãos estavam cansadas e ela nem tinha chegado à metade da feira. Imaginou se não teria sido melhor pagar quase o triplo do preço na quitanda do seu Jeremias, na esquina de sua rua. Pagaria mais, mas andaria menos. O sol fritando seus cabelos, seus dedos doloridos, seus pés pisados por gente que não percebe que tem bastante espaço perto da barraca de peixes, e ainda faltavam as verduras e o costumeiro pastel de palmito. Teve então a idéia de deixar pra comprar o restante das coisas na quitanda do seu Jeremias, mas essa idéia era absolutamente incabível pelo fato de que a quitanda do seu Jeremias não vendia pastel de palmito. Subitamente teve outra idéia, montar uma barraca com algumas madeiras perto dali, vender tudo que tinha comprado até agora por um preço módico e voltar para casa, para depois ir até a quitanda do seu Jeremias comprar tudo de novo. Mesmo essa idéia sendo mais cabível que a outra, já que ela era uma excelente feirante que poderia vender até mesmo pedras em uma pedreira, ela novamente a descartou pelo fato de que a quitanda do seu Jeremias não vendia pastel de palmito. Podia largar as sacolas ali e sair correndo feito um avestruz emplumado até a barraca de pastéis e comprar o tão cobiçado pastel de palmito, mas a sua seriedade levou-a corajosamente à barraca de alfaces.

- Vocês têm pastel de palmito? – indagou ela com toda a sua coragem, num momento de desespero.

O japonês dono da pequena banca olhou para ela e disse “Nani?” e ficou tudo por isso mesmo.

Agora em outra sala, mais aconchegante que a outra, Yuri e Raphael discutiam maneiras de comprar (ou tomar de alguma forma) a Vernicomidas.

- Podemos processá-la por ter um nome tão terrivelmente ridículo. – Disse Yuri, entusismada de ter alguém para compartilhar seus planos supostamente maléficos para fazer o bem.

- E você acha que algum juiz ouviria tal argumento? – Perguntou Raphael, meio indignado com a pequena garota. – Não. Ainda acho que devíamos ir...

- Pra que? – interrompeu Yuri – De que adiantaria ir até lá? Precisamos atraí-los e obrigá-los a, de alguma forma, quebrar uma regra para que possamos extorqui-los.

- E se eles já estiverem quebrando alguma regra? – Perguntou Erick, falando pela primeira vez na conversa.

- Esse era o meu ponto. – disse Raphael, olhando irritado para Erick, como se ele tivesse roubado um forte argumento e destruído assim sua cena.

Yuri permaneceu em silêncio.

- Se não se importar, - começou Raphael – podemos simplesmente ir até lá pra você. Seria um prazer enorme tanto para mim, quanto para meus...senhores.

O balão encontrava-se estático, parado no ar, sem brisa nenhuma. O dono dos ventos havia adormecido, não apenas ele, mas Melanie também, de forma que estavam ambos dentro do enorme cesto do balão amarelo, cobertos pelos mais fofos e aconchegantes cobertores, dormindo sob a luz da lua. Havia também um grande bicho de pelúcia no cesto, e este cuidava para que o balão permanecesse na mesma altitude.

Continuariam amanhã.

Duas grandes portas, cinzentas, frias e pouco convidativas. A fábrica parecia tão cinza quanto Seltsam, mas bem menos torta. Era, aliás, bem reta, esquadrinhada e sem curvas. Pouco chamativa aos olhos, expelia enormes quantidades de fumaça escura enquanto eram produzidas toneladas e mais toneladas de biscoitos dentro da fábrica, os quais eram colocados em caminhões que saiam pela única estrada vista naquele mundo. Takeso olhava aquilo, meio abismado, meio fascinado, meio desiludido. Já tinha tido um bom trabalho pra pular o muro, mesmo com uma enorme escada, e agora se deparava com tamanhas portas. Esperava estar acompanhado de pelos menos alguns amigos sapos, que teriam um bom plano em mente. Mas não, ele estava sozinho, pensando em uma forma de invadir a fortaleza de metal silenciosamente. Se era pra ser um agente secreto, ele queria agir da forma mais profissional possível, apesar de não fazer idéia de como se portaria um profissional. Achava que James Bond era espalhafatoso de mais pra ser um espião, e ele não queria chamar a atenção. Começou a suar frio. Onde estava a maldita entrada de ventilação, que sempre parecera tão útil para invasões? Haveria outra entrada se não esta?

De repente, as portas se abriram. De maneira automática, não muito rápida, as grandes portas de metal foram arrastando-se para o lado e uma luz multicolorida e cheia de cores festivas invadiu a grama do lado de fora da fábrica. Takeso também foi iluminado e estava em estado de choque por ver, no salão de entrada, uma grande festa comemorativa cheia de gente alta, esguia e quase caricata. Em uma grande faixa havia a seguinte frase escrita: “Seja bem vindo, caro espião secreto!”.   


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