Exit escrita por Relinked


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Em homenagem a duas pessoas styles. ;3



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Alec corria desesperado, com todas as suas forças. Fugia de um bicho de pelúcia extremamente grande, apavorado, mas sorrindo. Um sorriso jovial. O bicho de pelúcia o tocou, fazendo com que ele parasse de correr e virasse imediatamente na direção de Melanie, que estava sorrindo também. Ele correu em sua direção, mas ela permaneceu estática, até Alec esticar o braço para tocá-la e ela agarrar-lhe o punho a alguns centímetros do ombro.

- Certo. Agora a gente tem que ir andando. – disse Melanie, ainda segurando o punho de Alec, que ofegava.

- Poxa, mas nem brincamos direito! – exclamou Alec aborrecido. – Eu podia criar mais uns bichos de pelúcia e a aí a gente podia, sei lá, brincar de esconde-esconde.

- Não. – disse Melanie, com firmeza, embora ainda estivesse sorrindo. – Você precisa colorir esse mundo e, se não começarmos agora, demorará ainda mais para que você se livre do que tem que fazer. Vamos lá. – soltou o pulso de Alec. – Crie um balão. Vamos dar uma voltinha.

Sapos coaxando. Ou era sua imaginação, ou a lagoa, até agora vazia, tinha se enchido repentinamente de sapos. Abriu os olhos e viu que não era a sua imaginação, no fim das contas. Estavam todos aqueles sapos, ainda sem cor, olhando pra ele, de forma estranhamente sem emoção, como se estivessem fingindo estar ali só por estar. Tinha permanecido deitado até agora, mas resolveu sentar logo que viu que as colinas a sua frente estavam deixando de lado o cinza chato para tornarem-se verdes. E a cor aproximou-se dele, de forma que cada folha de grama contagiou-se com um colorido inimaginável depois de toda aquela visão monocromática. A lagoa tornou-se azul, da mesma forma que o céu também assumia a mesma cor, que quase sorria para ele, e logo a onda de cor atingiu a ilha, colorindo os sapos. Algo fez uma sombra enorme sobre ele e, ao olhar para cima, deparou-se com um cesto de um balão.

- Uau, olha só o tamanho dessa colina! – exclamou Alec, entusiasmado, olhando as planícies do balão laranja onde se encontrava.

- É. É especialmente bonito ver tudo ganhar cor. – disse Melanie, e suspirou. – Talvez tenhamos que voar uns três dias para que você veja tudo e, assim, deixe tudo colorido.

- E aquele lago enorme ali? – continuou Alec, sem ouvir o que Melanie dizia. – Puxa, essas montanhas são dignas de uma foto. É, uma câmera seria uma boa. – olhou para o chão – Oh, que incrível, encontrei uma bem aqui no chão! – disse, com um sorriso largo, e passou a tirar fotos e mais fotos com a recém-criada máquina fotográfica. – Ah, é muito bom ter as coisas dessa forma, você não acha? – perguntou à Melanie, mas esta apenas sorriu.

E o mundo começava, mais uma vez, a explodir em cor.

Abriu os olhos e ficou ali, olhando pro teto. Seus membros estavam pesados, confortáveis naquela posição e relutantes a se moverem. Aquela caixa era aconchegante, e ele poderia passar o resto do dia dentro.

Estava confuso. Não tinha a menor idéia de onde e por que se encontrava, nem mesmo fazia idéia de quem era e do que estava acontecendo. Não sabia absolutamente nada, mas não pretendia continuar sem saber. Brigando com a própria vontade, levantou-se da confortabilíssima caixa e se viu num quarto simples, onde podia ver uma estante abarrotada de livros, uma poltrona vermelha simples e empoeirada e, no chão, um tapete redondo com o desenho de uma cenoura.

Saiu da caixa e permaneceu em pé, ouvindo. Haviam vozes animadas vindas de um lugar próximo e, como só havia uma porta no aposento, dirigiu-se até ela, ficando ali, parado de frente para a porta, sem ter certeza de ter visto uma maçaneta nem ter idéia de qual seria sua utilidade.

Erick estava apenas escutando a discussão que acabara de começar, sem prestar real atenção no que era dito. Ouvia termos desconexos, como “plantação”, “IBAMA”, “Sua mãe” e “azeite”, mas não via forma de ligá-las. De repente, pensou que seria bom dar uma olhada no adolescente que se encontrava no quarto ao lado. Levantou-se e foi até a porta do quarto, consciente de que a conversa parara. Quando pôs a mão na maçaneta, sentiu-a girar. Sozinha.

Empurrou a porta e viu, de pé, na sua frente, o garoto desbotado que ele havia carregado desde a sala cinzenta. Ele estava com uma cara de indagação, mas estava de pé e parecia bem. Aliviado, Erick disse:

- Você está bem?

- Bom, sim. – respondeu o garoto, meio sem jeito, meio confuso.

- Ah, nossa Bela Adormecida acordou. E nem precisou de um príncipe pra te beijar. – disse Raphael, sorridente. – Bom, agora que essa marmota inútil já acordou, podemos...

- Qual seu nome? – quis saber Kellyn, que também havia levantado.

- Meu... meu nome? – perguntou o menino, meio que considerando a questão – Eu... não faço idéia.

- Rod. – afirmou Erick.

- O que? – perguntou Kelly, como quem quer manter a sanidade em uma conversa.

- Rod. – repetiu Erick. – É o que está escrito nesse... uh... crachá.

Kellyn foi até a porta e viu, preso à jaqueta do menino o que parecia uma plaquinha de plástico retangular, onde era ler a palavra “Rod” em um tom dégradé de cinza, estando a última letra muito apagada.

- Então, seu nome é Rod? – indagou Kellyn ao garoto.

- É? – perguntou ele, também olhando para a plaquinha. – Bom, talvez seja.

- Você não se lembra? – perguntou Erick.

O silêncio mais uma vez perpassou a sala.

- Não, não lembro. – disse o garoto, com firmeza.

- Então chamaremos você de Rod. – disse Raphael, levantando-se da poltrona. – Vocês vão continuar aí, em pé? Me sinto inferior por continuar sentado.

Todos se sentaram, incluindo Rod, que sentou no braço mais baixo do sofá, ao lado de Erick.

- Muito bem. – disse Raphael. – Creio que agora o importante seja reunir os quatro jogadores. Temos de procurar o seu irmão. – disse, olhando para Kellyn – que você me disse ser uma criança de doze anos, certo? E a outra pessoa que também está jogando, que possivelmente é o seu... uh... vizinho, certo? – Kellyn confirmou com a cabeça – Muito bem, sugiro que nós comecemos a busca agora. – e ele levantou-se, encaminhando-se então para observar quão lindo eram as planícies verdes. Sim, verdes.

- Droga! – exclamou Raphael. – Um dos dois jogadores já passou por aqui. Nossa única pista se foi. Teremos que procurar aleatoriamente por aí. – fez uma pausa, e observou que Kellyn ainda estava maravilhada com as planícies, que Erick o observava como quem tenta acompanhar o raciocínio e que Rod olhava de Kellyn para Erick e depois para Kellyn de novo. Continuou – Bom, vamos começar pelas praias, deve ser fácil encontrar uma sem cor. E desceu a colina, acompanhado por Kellyn, Erick e Rod.

A mãe de Kellyn se remexeu na cama, e o telefone tocou. Ela não acordou imediatamente, mas o telefone insistente fez com que abrisse os olhos. Levantou-se da cama e seguiu em direção a ele e, assim que pôs a mão no mesmo, ele parou de tocar. Atendeu, mas ouviu apenas o característico som que se ouve quando se põe um telefone ao ouvido para se fazer uma ligação, e não para se receber uma. Olhou para o relógio e constatou que eram 8 da manhã. Ia acordar mais tarde, mas já que estava de pé, sairia para a feira logo depois. Desceu as escadas cambaleando um pouco, o sono ainda não totalmente vencido, e pôs-se a fazer as atividades matinais que toda e qualquer pessoa faz. Quando começou a comer uma torrada na cozinha, logo depois de terminar as atividades matinais que qualquer pessoa faz, ela lembrou-se de que o telefone tocara e constatou que poderiam ser Kellyn e Alec avisando onde estavam. Se não ligassem em até 10 minutos, tentaria ligar para a casa de Erick, onde ela supôs que eles estivessem. Os 10 minutos vieram e se foram, e a mãe de Kellyn já estava devorando a sexta torrada quando ela resolveu sair para a feira. Trocou os sapatos, pegou umas sacolas, a carteira e saiu pela porta, trancando-a logo depois e colocando a chave no costumeiro vaso de plantas que havia na janela. E o telefone permaneceu sozinho, sem receber ou fazer ligações.

Mesmo depois do banho de cor, Seltsam continuava impecavelmente cinza, e as pessoas pareciam continuar a não interagir entre si. Era algo quase insuportável ouvir montes de pessoas falando sobre montes de assuntos diferentes, e Kellyn e Erick logo começaram a conversar entre si para trazer um pouco de razão para a situação. Raphael, mais a frente, cantarolava uma música alegre e circense, olhando as vezes para Rod, que estava ao lado de Kellyn e Erick, mas sem participar da conversa.

- É estranho, não é? – perguntou Kellyn para Erick – A cidade não ficou colorida, no fim das contas.

- Talvez ela seja muito velha e tenha descolorido com o tempo – disse Erick – Lembre-se que qualquer possibilidade é valida aqui. Mas acho que seria mais simples perguntar ao moço de cartola. Qual é o nome dele mesmo?

- Raphael. – afirmou Rod, estacando logo depois com uma cara de horror.

- Como você sabe o nome dele? – perguntou Kellyn, estacando também. – Não lembro de ninguém ter dito enquanto você estava presente.

- Não... não sei, apareceu na minha cabeça. – disse, ainda com a cara de horror, mas essa começando a tornar-se uma cara pensativa.

- Talvez suas memórias estejam voltando. – disse Erick. Fez uma pausa e então acrescentou – Ou talvez aquela coisa de desejos esteja influenciando também a nós.

Seguiu-se um silêncio pensativo por parte dos três.

- Para onde estamos indo, afinal? – perguntou Kellyn, mais para quebrar o silêncio do que por estar interessada.

- Para alguma praia. De preferência, ao sul. – disse Raphael, lá na frente. – Sempre são coloridas por último.

Melanie sobressaltou-se. Tivera uma idéia súbita, um pressentimento que não podia ser ignorado. Virou-se para Alec.

- Deseje que o vento nos leve pro sul. – Disse com firmeza.

- O que? – perguntou Alec, entusiasmado com a câmera.

- Faça o vento nos levar pro sul – repetiu Melanie.

- Mas, porque...?

- FAÇA! – Berrou ela.

Alec fechou os olhos e ambos sentiram o vento mudar de direção. Melanie pediu para Alec fazer o vento ir mais rápido, e logo eles estavam viajando numa velocidade bem mais alta.

- Mas Melanie, a gente está voltando praticamente pro mesmo lugar! – exclamou Alec, aborrecido.

- Esse “praticamente” pode fazer toda a diferença. – afirmou ela.

- Você vai passar o dia inteiro deitado? – disse uma voz.

Takeso abriu os olhos. Viu sobre si algo que parecia terrivelmente com um sapo, mas era esguio e tinha ares de ser humano. A voz, além de tudo era feminina, e a coisa parecia uma garota de 18 anos, porém era verde e não tinha cabelo. Era uma sapa com corpo de garota ou uma garota com cabeça de sapa. Usava uma coroa e segurava um cetro dourado, que ela usava para se apoiar numa posição onde seu rosto quase encostava no de Takeso. Ele prendeu a respiração e fechou os olhos de novo. Ouviu a voz rir.

- Não seja paspalho! – disse ela, ainda rindo – Não vou fazer nada de mal pra você. Anda, levanta.

Ele seguiu as ordens e levantou. Ficou parado, olhando para a garota-sapa, que lhe estendeu a mão onde haviam membranas.

- Prazer, meu nome é Dayse. – Ele apertou a mão dela, um tanto fria. – Você gosta de bolachas-do-mar?

Takeso ficou aparvalhado. Não esperava aquela pergunta, não esperava uma garota-sapa e nem se quer esperava estar ali, respondendo perguntas. Continuou calado.

- Claro que não – afirmou Dayse, dando as costas a ele. – Quem gosta de bolachas-do-mar, afinal de contas? Por que não promover um massacre a todas elas? Por que não acabar, definitivamente, com o mar?

Takeso continuou em silêncio, mas reconheceu a última pergunta. Era um desejo íntimo, única e exclusivamente seu. Queria acabar com o mar, tornar aquilo uma grande porção de água doce. Dayse se aproximou dele.

- Você quer – tocou o rosto dele com um dos dedos frios – acabar com o mar?

Subiram outra colina verdejante, a brisa suave brincando nos cabelos de Kellyn, que já estava farta de andar e estava torcendo pra que uma abelha entrasse na garganta de Raphael e fizesse algo de muito ruim com suas cordas vocais, para que ele não mais pudesse cantarolar.

- Falta muito? – perguntou Kellyn para Raphael, em tom de choro.

- Falta. Mais umas duas horas, acho, se o espaço não tiver sido mudado.

- Duas horas?!

- Você me ouviu. – afirmou Raphael. Detestava repetir falas.

- Seria tão bom se fosse mais rápido. – disse Kellyn, de mal humor.

- Enquanto você permanecer nesse estado de ânimo, a nossa caminhada vai demorar mais. – disse Raphael – E não é só por que você vai estar chateada.

Colinas verdes já tinham enchido o saco quando eles começaram a descer aquela e avistaram, finalmente, o mar. Mas, ainda assim, estava distante, mais umas duas horas de caminhada. Para desespero de Raphael, o mar estava maravilhosamente azul, com as ondas espumando na areia de maneira poética. Alguém, quem quer que fosse, já havia colorido aquela área.

Duas horas de caminhada vieram e duas horas de caminhada se foram, e eles finalmente pisaram na areia branca e fofa. Kellyn, agora com um humor não muito deplorável, saiu correndo com Erick para pelo menos molhar os pés no mar maravilhoso. Correu rapidamente até atingir uma área onde a areia molhava a areia, quando ela ouviu um creck.

- Ah, não! – Exclamou ela, e caiu de joelhos ao lado de uma das suas pegadas, onde havia uma coisa branca e redonda partida em alguns pedaços – Eu quebrei! Quebrei outra!

- Relaxa. – disse Erick, abaixando-se do lado dela. – É só uma bolacha-do-mar.

- Você não entende! – disse Kellyn. – Eu... eu já quebrei outra dessas!

- Isso não te faz uma assassina. Calma, sério. – Erick estava começando a se desesperar ao ver Kellyn debulhar em lágrimas.

- Da última... última vez... que eu quebrei uma dessas, - disse, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. – meus... meus pais se separaram. É um mau agouro! – e desatou a chorar nos braços de Erick, segurando os pedaços da bolacha-do-mar.

- Eu posso entrar com um processo contra você. – disse uma voz, às costas de Kellyn.

Ela virou-se, ainda soluçando, e viu uma garotinha de uns nove anos, com um bonito vestido branco, cabelos verde-água presos em um bonito coque feito com algo que parecia uma concha e uma estrela do mar pendurada ao pescoço.

Kellyn permaneceu estática, tentando-se acalmar. A garota voltou a falar.

- Você sabe que acaba de cometer um homicídio, não é? Por isso está chorando. – começou a caminhar em volta de Kellyn e Erick. – Com a indenização que eu ganhar nesse processo e nos outros que virão, poderei monopolizar o mercado de biscoitos! E depois – surgiu então um brilho ganancioso em seus olhos – depois poderei... poderei fazer justiça e vender os biscoitos por preços baratos para as crianças!

Kellyn e Erick estavam estupefatos. Raphael, que se recusara terminantemente a pisar na areia para não sujar os sapatos, vinha agora pisando em dois coelhos que, a cada passada, faziam um squeek. Rod o seguia de perto, meio curioso, meio precavido.

- E a senhora se chama...? – perguntou Raphael, determinado, tirando a cartola e fazendo uma referência.

- Senhorita, perdão. Me chamo Yuri. E você, quem é? – disse a garotinha, meio enfezada.

- Ah, sou um mero lacaio desses maravilhosos defensores de bolachas-do-mar, madame. – disse, com um ar sério.

- Eles são defensores das bolachas-do-mar? – perguntou ela, confusa. - Então, por que...?

- Acidentes acontecem, madame. Não vê como minha pobre senhora chora a morte deste pequenino ser? – disse, indicando com a mão.

- Bom... bom, é verdade. – ela ficou em silêncio por uns minutos. – Então, se vocês são defensores das bolachas-do-mar, eu tenho uma idéia para que eu possa esquecer este crime hediondo que cometeram. Que tal colaborarem com meus planos contra...

Uma sapinha chamada Dayse? – e sorriu.


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