Assaltado escrita por Miss D


Capítulo 4
Dia 3


Notas iniciais do capítulo

Hey! Estou postando bem rápido, ein?! Não se acostumem! HAHAHA' Enfim, estou realmente empolgada com a história. Agora chegamos ao ponto em que acabou-se aquela introdução. É aqui que as coisas realmente começam a acontecer.
Enjoy C=



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(Após o colapso nervoso)


Na terceira vez em que acordo, as coisas estão mais calmas. Há claridade, as janelas estão abertas, as cortinas puxadas… É assim que sei que eles já acabaram comigo.

O período de recuperação. Eu me recordo perfeitamente bem dele, dos primeiros jogos, quando perdi minha perna. A mesma coisa: dias tenebrosos em uma sala fechada, o único som sendo o bip do computador ao lado do leito, lembrando a você que está vivo – mesmo que não tenha certeza se é isso o que realmente quer.

Uma Avox loira chega com o meu café da manhã: uma sopa rala. Quase não resisto ao impulso de perguntar-lhe o que tanto quero saber. O que aconteceu. Onde está Katniss. Entretanto, logo desisto lembrando a mim mesmo que, até se quisesse, não poderia responder a pergunta alguma.

A comida é só um caldo ralo que eles chamam de sopa. É como se tivessem pego um pouco de água, fervido com algumas folhas da floresta, como Katniss fez naquela primeira arena, e me dado para comer.

Só que eu sei que o melhor a fazer é não discutir.

Termino minha parca refeição com a Avox me espreitando. Posso sentir seus olhos em mim, seus enormes olhos castanhos. Apreensivos. Tentando transmitir algum tipo de mensagem que eu não consigo entender.

Sei que Katniss entenderia. Ela sempre entende essas coisas, de um forma como eu jamais irei compreender.

Assim que sou deixado novamente à sós, suspiro. Sinto como se estivesse confinado. É bem aí que o Presidente Snow em pessoa entra em meu quarto, e eu percebo que, o que quer que tenha acontecido, é ainda pior do que eu imaginei.


– Vejamos, Peeta – começa ele, com sua voz reptiliana. – Você sabe por quê eu estou aqui, não sabe?

Encaro aqueles olhos vítreos. Quase consigo sentir a frieza cortante da neve contra meu corpo por esse olhar.

Não. Eu não sei, eu não faço a mínima idéia. Só quero saber como está a Katniss.

– Eu não estou entendendo… Onde está a Katniss? O que aconteceu? Só me lembro de uma explosão, e de uma luz muito forte… Ela está aqui, não está? Vocês a trouxeram comigo, certo?

Meus olhos inchavam e aumentavam à medida que eu tentava conter as lágrimas. Eram quase súplicas aquelas perguntas.

Snow estreitou os olhos.

– Não, senhor Mellark. A senhorita Everdeen não está aqui.

Empalideço. Então imaginei o certo: sou só eu. Eu contra o mundo. Eu e as assombrações das próximas crianças mortas nos Jogos Vorazes. Eu naquela casa vazia, sem Katniss.

A dor é tão grande que começo a sufocar ante o olhar atento do Presidente. Ele parece estar me avaliando, assim como faria uma cobra prestes a dar o bote – e embora jamais tenha visto uma cobra cara-a-cara em toda a minha vida, a comparação é inevitável.

Um cheiro enjoativo de rosas mancha o ar. Há outra coisa por trás dele, também, mas não consigo identificar com aquele perfume doce ao extremo encobrindo-o.

Snow fala sem um tom de hesitação, temor ou qualquer outra coisa que não seja seu habitual som sibilado na voz:

– Katniss Everdeen foi raptada por um bando de rebeldes inconseqüentes, Senhor Mellark.

– O quê? – explodo, interrompendo-o – Como foi que…

– Ao que parece, Plutarch Heavensbee, meu mais novo Idealizador Chefe era também um dos líderes dessa loucura. Os Idealizadores Chefe não têm sido muito confiáveis ultimamente.

Engulo em seco à memória que ele faz alusão. As amoras, eu e Katniss. Como ambos deveríamos estar mortos, segundo o sádico humor do Presidente. Seneca Crane sendo assassinado. Está bem claro para mim que deve existir um motivo realmente muito bom para ele estar me guardando aqui, quando sei que poderia me matar a qualquer momento. Poderia ter me matado na arena.

O pensamento me causa arrepios.

– Então, Senhor Mellark, a questão é que temos realmente um ponto aqui – sua voz se torna mais fina, cortante. –, já que Katniss parecia estar se esforçando ao máximo para ser a fagulha que acenderia a fogueira da rebelião. E você sabe o que rebeliões significam, Senhor Mellark? – ele faz uma pausa dramática, esperando que sua pergunta assente no ar. – Significam mortes, milhares delas. Dezenas de milhares de criancinhas mortas, de mulheres, de pessoas inocentes que deveriam estar vivendo felizes e seguras em suas casas nos distritos.

Felizes e seguras. É assim que ele descreve a nossa situação de desespero e desamparo nos distritos (salvo o 1 e o 2, e talvez o 3, com alguma sorte), onde nós frequentemente morremos de fome, frio e gripe. Isso quando milhares de nossas crianças não perdem seus pais soterrados lá embaixo, nas minas. Seguras dentro da cerca eletrificada que nos protege dos animais selvagens que estão fora dos limites, mas que ninguém nunca viu.

Claro. Estamos bem felizes e seguros desse jeito.

Não respondo nada porque sei que devo medir minhas palavras para o Presidente. Não me importo realmente com isso, claro, caso ele decida me matar aqui mesmo. Porém, se há alguma chance, mesmo que mínima, de salvar Katniss e deixá-la em segurança, então eu não devo alterar meu tom de voz de modo que possa ser mal interpretado por esse homem cruel.

Penso em minha resposta por um minuto.

– Mas o que faremos? Tem que ter um jeito de evitar essa maldita rebelião. Eles não podem seguir com isso, é perda de juízo.

O Presidente Snow estreita seus olhos para mim, agora ainda mais parecido com uma cobra. Ele me observa atentamente.

– Exato. Nenhum de nós quer que uma rebelião destrua ainda mais as vidas daqueles pobres cidadãos de Panem. Eu não quero isso – ele diz, a voz moldada com falsa preocupação, e uma nota, ao final, de ameaça vazando.

Imagino como deve ser viver assim. Ser desse jeito: não se importar com nada além de si mesmo, querer ter todos seguindo seus mais absurdos caprichos, matar qualquer um que estiver em seu caminho por mero prazer. É ainda difícil acreditar que uma pessoa assim sequer exista.

No entanto, é claro, existe. E ela está sentada bem à minha frente, as mãos sobre o colo e a expressão lutando para não se alterar. Eu consigo perceber a fúria borbulhando por trás de sua fachada cordial, profissional. Posso apostar que tudo o que ele mais quer nesse momento é cortar ambas as gargantas minha e de Katniss.

O que ele não sabe é que não permitirei. Não permitirei que ele encoste um dedo sequer nela. Não deixarei que ele nem mesmo tente. Eu jurei protegê-la. Cuidar dela. E é exatamente isso que irei fazer.

– Então? Existe uma estratégia, não é? Para evitar isso, quero dizer. Temos que tentar evitar. E temos que trazer Katniss de volta, em segurança.

Os olhos do presidente continuam cravados em mim.

– Creio que isso seja uma coisa a discutir, senhor Mellark. Ao que tudo indica, Katniss estava ajudando o tributo do 11 com sua arapuca, a que sabotaria os meus Jogos. E isso, meu caro, faz dela uma simpatizante do movimento. E você sabe qual é o procedimento.

Ouço a advertência latente em sua voz dessa vez. Sim, eu sei. O “procedimento”. Ele quer dizer que ela está condenada.

Arregalo os olhos, espantado e furioso, vociferando:

– O senhor não pode mesmo achar que ela, qualquer um de nós, sabia qualquer coisa a respeito desse plano. Katniss estava tão perdida quanto eu. Provavelmente ainda está. Eles provavelmente…

– Isso não sou eu que estou dizendo¸ senhor Mellark. Ou melhor, não sou apenas eu. A Capital inteira, e penso que os distritos também, viram a mesma coisa. A Garota Em Chamas explodindo os Jogos Vorazes pelos ares. Desafiando algo muito maior do que ela mais uma vez. A fagulha, como eu disse. E agora, com toda essa agitação dos distritos…

– Espere – interrompo –, o senhor quer dizer que houve outros incidentes? Mais deles estão aderindo a essa loucura?

O Presidente prensa seus dois lábios cirurgicamente alterados em uma linha.

Essa não, penso. Essa não. Porque, se ele estiver certo, então os rebeldes que têm Katniss, então eles estão tentando convencê-la a juntar-se a eles. A lutar por eles. E eu a conheço bem o suficiente para saber que, se há levantes em outros distritos, se eles estão se erguendo contra a Capital, ela irá ajudar. Vi isso em seus olhos quando ela escutava, no baile da Capital, as pessoas reclamando da falta de produtos oriundos dos distritos. Eu vi como isso era empolgante para ela. E o fato de que, na arena, Katniss estava a todo custo tentando me manter vivo, mesmo que isso custasse sua própria vida, faz com que um pensamento aterrorizante aterrisse em meu cérebro: ela pretendia ser uma mártir. A Garota Em Chamas, a Mockingjay*, o símbolo da rebelião, morta e imortalizada por seu ato de rebeldia. Naquele instante, quando me estendeu as amoras.

Ela pode muito bem ter feito isso apenas para não carregar minha morte sobre os ombros, porém eles não quiseram enxergar isso. Ah, não. Katniss estava mostrando a eles que deveriam reagir, que se ela, presa à realidade torturante dos Jogos Vorazes, podia lutar contra essa injustiça terrível, eles também podiam. Foi isso que eles viram.

Droga. Às vezes penso que podiam todos ser como o povo da Capital: enxergando só Katniss e Peeta, os Amantes Desafortunados do Distrito 12, escolhendo morrerem juntos à viverem um sem o outro. Às vezes até eu quero acreditar nisso.

Mas não posso. Porque talvez, apenas talvez, ela tenha realmente feito isso como uma afronta. Para não deixar a Capital controlá-la. E isso remete à minha própria frase, dita há muito tempo, no telhado, antes dos primeiros Jogos: “Só fico desejando que haja uma forma de… de mostrar a Capital que eles não mandam em mim. Que sou mais do que apenas uma peça em seus Jogos”. Talvez Katniss tenha pensado a mesma coisa naquele momento.

– Você vê então o problema, pequeno tributo. Porque, quando há fogo se espalhando, alguém tem sempre de apagá-lo. De uma forma ou de outra.

Ele fica lá me olhando, enquanto apenas absorvo suas palavras.

Queria que tivesse sido eu, não Katniss, a ser seqüestrado.



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Notas finais do capítulo

* Mockingjay - na tradução brasileira, Tordo. Os Mockinjays são aves fruto do cruzamento entre jabberjays (gaios tagarela) e rouxinóis (não TORDOS, como está escrito na tradução. Isso faz tudo ficar confuso: cruzamento com Tordos; nova espécie, Tordo. #makes-no-sense-at-all)
E então, o que acharam? ENFIM a história caminha para algum lugar, não é? Eu tentei pensar como a Suzanne, no que ela acha que Snow teria dito, em como ela teria descrito a cena... Tentei também me conectar com Peeta. Tentar ver como é que ele pensa, como suas ideias são organizadas no cérebro...
Meu DEUS, como eu amo esse personagem.
Esperem mais emoções dos próximos capítulos, ouviram? Perceberam que esse saiu bem maior, né?! Espero que eles aumentem mesmo.
Comentários?
BeijoS,
Miss Doll ;*



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