(Ainda deslocado no tempo)

Katniss.

Sinto o nome flutuar para fora de meus lábios. Isso quer dizer que estou recobrando um pouco do controle sobre meu corpo.

Isso quer dizer que ainda tenho um corpo. Devo estar vivo, afinal.

Dessa vez, percebo que há tubos conectados aos meus membros. Minha cabeça está enfaixada, um gesso cobre meu braço esquerdo.

Droga. Cadê a Katniss?

Luto para lembrar o que aconteceu. Parece auto-sabotagem: pontadas de dor surgem cada vez que tento acessar as memórias perdidas.

Então, como um deslizamento de terras elas surgem todas de uma vez, uma avalanche. O Massacre Quaternário. Finnick. Katniss e o plano de Beete... Eu sei que algo aconteceu naquela arena, e não deveria. E com essa certeza vem o medo dos resultados de mais esse possível fiasco. Teriam os Idealizadores dos Jogos matado a todos, e deixado apenas a mim vivo, como vitorioso? O pensamento me dá ânsia.

Não, penso. Eles não podem ter feito isso com a Katniss. Já consigo sentir as lágrimas ferindo meu rosto mais uma vez.

– Não, não… – digo em voz alta, se conseguir me controlar. – Não pode ser… Onde ela está? ONDE ESTÁ KATNISS? – grito em desespero. Se ela morreu… Se… Se… Estão eu não quero mais viver. Não conseguiria. Não haveria mais nada para mim nesse mundo…

Entôo uma prece silenciosa: Deus, por favor. Não me deixe perdê-la. Eu só… Só não agüentaria viver sem ela, por favor…

Estou me debatendo. Muito. O pensamento de que talvez o Presidente Snow tenha dado ordem expressa para aniquilar a minha falsa noiva, o amor da minha vida, me atormentando, fazendo com que eu comece a gritar e a arrancar os tubos dos braços. Dois fios presos ao meu nariz. Muitos outros espalhados pelo meu corpo, grudados com uma espécie de adesivo.

Meus olhos estão desfocados. Eu não consigo ver nada, não consigo enxergar nada senão o corpo frígido, imóvel. Sem vida. Aqueles olhos tão lindos, cinzentos, misteriosos e brilhantes de inteligência, agora opacos, vazios.

Eu não consigo suportar.

Levanto-me num átimo daquela cama onde pareço estar deitado. Ouço vagamente muitos bips vindos de todos os lados, como alarmes soando depois do toque de recolher…

Logo sinto mãos me agarrando e um líquido sendo injetado em minhas veias, fazendo com que meu corpo pare, fazendo com que eu perca o controle. Porém o terror continua preso à minha mente, onde agora está enjaulado.

Eu, o único sobrevivente do Massacre Quaternário, e uma Katniss morta.