Capítulo 6

De onde eu te conheço?

Eu e John já estávamos literalmente dormindo no fundo da sala espelhada. Uma hora e meia de ensaio e minha mãe insistia em ficar até o fim. Até um dos professores se cansou e se sentou. Dois deles dançavam junto com a Charlie, e eu achei engraçado. Um deles era o asiático que tinha ajudado a menina que torceu o tornozelo e minha irmã estava parecendo amar aquilo.

– Só eu percebi o clima entre eles dois? – John disse segurando o riso e eu também fiz o mesmo.

– É, eu notei também. – Disse rindo e minha mãe nos olhou, censurando. Nem estávamos falando mais alto do que a música!

Eu estava tão concentrada conversando com o John saindo da sala espelhada que não via alguém gritando por trás de mim, por fim me cutucou. John sinalizou com os olhos que tinha alguém atrás de mim, que provavelmente queria falar comigo. Olhei pra trás e vi o rapaz de olhos puxados me olhando curioso e ofegante. Deve ter vindo correndo... Coitado.

– Oi. – Falei e ele recuperou o fôlego.

– Isso é seu? – Ele disse estendendo na minha frente uma bolsa cheia de bottoms.

Arregalei os olhos. Meu Deus, minha bolsa! Eu ia esquecendo a minha bolsa na sala...

– Ah, muito obrigada. – Peguei a bolsa, mas claro, a desastrada aqui tinha que fazer merda. A bolsa tava aberta e caiu tudo o que tinha dentro no chão. John começou a rir e não me ajudou, já que eu me abaixei rapidamente e o rapaz também. Ele me ajudou a por as coisas dentro da bolsa de volta. Que vergonha, até absorvente tinha lá dentro! Minha cara no mínimo foi cômica.

– Ah, desculpe e obrigada de novo. – Falei nervosa. Meu Deus, até os looks desenhados do kichin tinha. Eu precisava fazer umas roupas para dançar daquele jeito! Eu já amava usar meias-calça com meus vestidos, com shorts jeans e blusas mais folgadas ficaria lindo!

Ele me olhou estranho e eu fiquei mais sem graça ainda. Será que ele viu algo aqui que fez pensar que eu sou maluca? Talvez os looks do kichin, são bem excêntricos.

– De nada. – Ele disse meio chocado e levantou rapidamente. Me levantei. – Eu preciso ir. – Disse sem graça, acenou e seguiu corredor a fora, com passos rápidos.

Olhei pra cara do John, que estava meio confuso.

– O que foi isso? – Ele disse e eu dei de ombros. Coloquei minha bolsa nas costas e segui John até a saída. Mamãe e Luke esperavam a gente no carro. Charlie estava impaciente, claro.

– Nossa, até que fim. – Ela disse mal humorada e entramos no carro.

– Eu tinha esquecido minha bolsa, foi isso. – Expliquei pra Charlie e ela virou a cara, bufando.

Na volta pra casa fiquei pensando de onde eu o conhecia. Sabe, ele me parecia muito familiar, mas não me lembrava de onde. Quando chegamos em casa, puxei John pra sala (já que mamãe fazia o jantar e Charlie e Luke estavam na cozinha com ela) e falei:

– Eu acho que fiquei maluca!

– Nossa, que revelação. – Ele disse rindo e se jogou no sofá.

– É sério, John, eu conheço aquele garoto de algum lugar, mas não sei de onde.

– Conhece ele? – Ele disse e eu assenti.

– Eu já o vi em algum lugar.

– Supermercado, colégio, na rua, cinema...? – Ele foi dizendo nomes aleatórios de lugares e eu fui negando.

– Talvez ele se pareça com alguém que conheça e você está confundindo.

– Muito provável.

Mas isso ainda me intrigava.