Destino escrita por Eve


Capítulo 36
Capítulo Trinta e Seis


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo, meus anjos. Primeiramente desculpem-me mais uma vez por esse intervalo de um mês; tenho fé de que essas férias vão chegar e conseguirei me organizar melhor e postar com mais frequência. Dessa vez temos revisados até o capítulo 23, e mais personagens foram adicionados aqui http://laboullant.tumblr.com/inspo para quem quiser dar uma espiadinha.
Boa leitura ♥



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XXXVI

 

 

Poseidon abriu os olhos para a claridade fraca que adentrava o aposento através da pequena abertura que fazia as vezes de janela. Seus membros pareciam pesados e sua cabeça latejava de forma incômoda e insistente. Com alguma dificuldade, ele se revirou no colchão fino e localizou suas peças de roupa espalhadas pela curta extensão do quarto. Reuniu as poucas forças que possuía para se levantar da cama e vestir-se. Sua camisa denunciava com precisão o que estivera fazendo na noite passada: o tecido amarrotado de quando fora descartada às pressas em meio ao aroma do álcool misturado à essência do esforço de corpos se movimentando em conjunto.

Ainda teve que fazer mais uma rápida inspeção no cômodo a fim de encontrar seus sapatos; quando enfim estava tão digno quanto possível na atual situação, deixou o local sem fazer barulho e desceu rapidamente os estreitos degraus que o conduziram até uma pequena porta que ele teve de se esforçar para abrir. Por fim chegou aos fundos da hospedaria de Philip, que dava para um quintal descampado onde eles provavelmente despejavam dejetos e outros resíduos indesejados dos quartos e da cozinha.

Fazendo uma prece silenciosa para que não fosse flagrado por algum morador naquela situação, Poseidon se esgueirou pelo espaço aberto, pulou a pequena cerca e deu a volta no estabelecimento em busca da viela que o conduziria de volta à praça principal. Ainda era cedo da manhã e o sol mal se fazia presente por detrás do céu nublado, mas Poseidon ergueu mesmo assim o capuz de seu manto. Tudo o que menos queria no momento era ser reconhecido ali e virar o alvo de especulações indiscretas.

Enfim chegou ao local onde deixara seu cavalo e partiu da vila rapidamente agradecendo a deus e a todos os santos por não ter cruzado com nenhum camponês rumo às plantações. Cavalgou a distância até os muros do castelo no tempo de algumas batidas do seu coração acelerado. Lá dentro os servos já haviam iniciado mais um dia de trabalho, mas era fácil passar despercebido pela movimentação. Caso fosse questionado, poderia dizer apenas que havia acordado cedo e saído para um passeio.

Já dentro de casa, rumou direto para seu quarto, parando no caminho apenas para pedir que um criado mandasse preparar seu banho. Descartou de qualquer jeito num canto do quarto as roupas da noite anterior e mergulhou na banheira de água quente desejando se livrar daquela sensação indevida provocada pela fragrância doce do hidromel e do persistente perfume feminino o perseguindo e o recordando a todo momento do que fizera.

A noite passada havia sido exatamente o que ele necessitava: uma distração. Depois que o álcool correra pelo seu organismo e fizera seu efeito havia sido fácil ignorar qualquer possível reluta em esperar que o avô de Medusa mandasse a jovem fechar a taberna para que fingisse se despedir enquanto dava a volta no estabelecimento procurando a entrada dos fundos e Medusa o aguardava em um dos quartos desocupados da estalagem.

A moça se rendera facilmente sob seu toque e seus lábios o provocaram a todo tipo de coisa que ele tanto havia se esforçado para manter longe da mente. Não havia qualquer sentimento no atrito suave dos seus corpos nus, mas a lascívia e a excitação alimentadas pela embriaguez os conduziram noite adentro com facilidade e entre um e outro suspiro abafado era possível até esquecer por um instante quaisquer motivos pelos quais aquilo seria considerado errado.

Mas isso havia sido na noite passada. A manhã chegara e com ela a culpa e a vergonha que inundavam Poseidon enquanto ele se vestia e era tomado pelas lembranças que o atingiam como golpes. Desceu para pegar algo na cozinha para o desjejum determinado a não pensar mais no assunto. Não havia nada que pudesse ser feito para mudar o passado e o arrependimento tardio de nada lhe servia no momento.

Nenhuma das servas o questionou sobre a cama intocada do seu quarto ou sobre a lareira apagada durante toda a noite anterior, mas Poseidon estava bastante ciente dos olhares que Bia e Penélope trocaram assim que o viram. Ele pescou uma maçã do cesto sobre a mesa e se retirou sem conseguir pronunciar um cumprimento sequer. Sentia seu rosto formigar de embaraço.

Decidiu que o dia seria de trabalho interno; passaria o dia no seu escritório evitando qualquer contato com outras pessoas. Dispensou os intendentes e pediu que levassem seu almoço até ele quando fosse a hora e assim passou toda a manhã e tarde isolado dos questionamentos dos habitantes do castelo.

Decerto não seria difícil supor o que ele estivera fazendo enquanto ausente, mas aquela era uma prática comum o suficiente entre a grande maioria dos homens casados para que Poseidon pensasse que a criadagem desviaria os olhos e trataria o assunto como algo corriqueiro. Claramente havia subestimado a simpatia que todos nutriam por Atena. A dama de sangue nobre com gestos simples de uma bastarda era verdadeiramente idolatrada pelos criados e servos em geral, e uma ferida no orgulho ou na honra de sua senhora seria o mesmo que uma ofensa pessoal para muitos deles.

Poseidon afundou em sua poltrona, exausto de considerar todos os piores cenários que poderiam se seguir às suas atitudes. Esse era um péssimo momento para angariar a antipatia do seu povo - precisava mais do que nunca contar com a lealdade dos habitantes de Atlântida caso pretendesse vencer uma guerra contra Ótris. Deixou seu gabinete apenas quando o sol já havia se posto e seguiu diretamente para seu quarto, onde demorou outras várias horas até conseguir cair num sono agitado.

Nos dias que se seguiram Poseidon conseguia perceber que seu comportamento evasivo já estava sendo notado por todos que costumavam conviver diariamente com ele. O ápice do desconforto entre os moradores do castelo e seu senhor foi uma tarde em que finalmente fazia sol depois de todos aqueles dias chuvosos. Ele saíra em busca do mensageiro para despachar algumas encomendas de itens necessários para as festividades que se iniciariam dali a alguns dias e ainda não haviam sido providenciados quando encontrou Sir Ulisses parado em um dos corredores, aparentemente esperando por ele.

Poseidon diminuiu o passo, hesitando frente àquela abordagem inusitada. Havia detestado o rapaz desde a primeira vez que o vira, mais invejando a relação descomplicada que ele nutria com Atena do que qualquer outra coisa. Ele aparentemente tinha plena ciência disso, e sua postura insolente e expressão arrogante ao virar-se para Poseidon comprovavam aquela teoria. Ulisses não fez sequer uma mesura ou cumprimentou seu Lorde de forma apropriada antes de dizer:

— O que está fazendo não é justo com ela. - E o tom de julgamento parecia ainda mais acentuado pelo seu sotaque forasteiro. Poseidon não precisava perguntar quem era a “ela” a quem ele se referia.

— Não devo satisfações sobre o que faço a você. - Foi só o que ele se deu ao trabalho de responder, seguindo em frente e passando pelo cavaleiro. Mas o jovem não parecia disposto a encerrar o assunto ali; deu um passo e bloqueou seu caminho. A irritação dominou Poseidon em apenas um segundo. Os dois estavam frente a frente agora. De perto ele notava que o italiano era minimamente mais alto que ele. Os olhos castanhos de Ulisses o encaravam com nada além de desprezo; Poseidon cerrou a mandíbula e flexionou as mãos involuntariamente.

— Mas certamente deve satisfações à sua esposa. - O cavaleiro declarou, em tom baixo. Poseidon compreendeu a ameaça por detrás daquela frase.

— Pretende contar o que acha que aconteceu à Atena? Fique à vontade. - Ele blefou.

Ulisses riu.

— Não precisarei dizer nada. Milady Atena descobrirá tudo sozinha. Ainda não percebeu o quanto ela é perspicaz? - E balançou a cabeça em desaprovação. - Alguém que consegue a honra de desposar uma mulher como ela e prefere a companhia de uma meretriz qualquer não pode realmente ser muito esperto. Mas meus parabéns, finalmente conseguiu provar que não a merece.

Antes que Poseidon se desse conta tinha as mãos na gola de Ulisses e pressionava aquele atrevido contra a parede do corredor, o levantando alguns centímetros do chão e cortando sua respiração.

— Você não sabe nada sobre minha relação com Atena. - E vendo que o rapaz começava a ficar perigosamente roxo, o soltou. - Eu poderia mandar executá-lo por essa insubordinação.

Ulisses tossiu algumas vezes e massageou o próprio pescoço.

— Faça isso. - Ele desafiou. - Posso não saber nada sobre a relação de vocês dois, mas sei que ela nunca o perdoaria.

Poseidon não resistiu ao impulso de dar um soco diretamente naquele sorriso atrevido. Deixou o rapaz cuspindo o sangue de sua boca cortada e lhe deu as costas, dando meia volta e seguindo para seus aposentos. A fúria tomava de conta dele e por isso preferiu voltar aos seus aposentos a arriscar encontrar mais alguém. Que absurdo era aquilo. Ainda era o senhor daquele castelo, ou não? Nunca ouvira falar de algum Lorde tendo que explicar seus casos amorosos a meros servos. Quem ele escolhia levar à cama era assunto seu, apenas.

Bateu a porta de seu quarto com mais força do que o necessário e foi surpreendido por um grito feminino. Virou-se para mandar embora quem quer que fosse a criada que estivesse ali e surpreendeu-se ao encontrar uma figura encapuzada.

— Medusa? - Ele demorou um momento para reconhecê-la. - Como conseguiu entrar aqui?

A jovem deixou o manto de lado com o mesmo olhar indócil e sorriso esperto que ele conhecera há algumas noites.

— Não consegui me despedir naquele dia. - Ela falou, ignorando sua pergunta. - Meu avô tem me mantido ocupada graças ao seu baile, mas hoje encontrei um jeito de escapar.

Poseidon estava bastante ciente de que ela encurtava a distância entre os dois enquanto falava. Finalmente chegou à sua frente, e eles tinham quase a mesma altura, mas ela ainda ficou nas pontas dos pés para enlaçar os braços ao redor de seu pescoço e depositar um beijo de leve nos seus lábios.

Aquele pequeno gesto fez o que pretendia dizer perder-se antes que conseguisse formular uma frase. Ainda estava consideravelmente conturbado pela discussão que tivera há poucos minutos e antes que percebesse seu corpo já correspondia instintivamente às carícias da jovem. Outra oportunidade de esquecer os conflitos que o dominavam era algo além do que ele seria capaz de resistir; mais uma vez ignorou a parte de si mesmo que protestava e deixou-se levar pela tentação.


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Notas finais do capítulo

Estou aqui casualmente reforçando a tranca de todas as minhas portas para caso meu endereço caia nas mãos de algumas leitoras furiosas. Eu sei, gente, eu sei. Isso foi horrível mas necessário para o desenvolvimento da história. Espero que um dia me perdoem.