— Long Island? – indagou Paul. – Você nos levou de New Jersey para Long Island em menos de quatro horas?

Hunter continuou se embrenhando na mata com os cinco garotos em sua cola, que ainda não pareciam capazes de acreditar que seu protetor havia atravessado três cidades num período de tempo tão curto.

— É fácil manipular o tempo com as ferramentas certas – disse ele em tom relaxado. – Além do mais, tivemos ajuda no caminho.

Os garotos não pareceram ter notado, mas enquanto eles atravessavam Jersey e New York, o vento os impulsionou para frente, fazendo-os ganhar velocidade e encurtando o tempo da viagem. Hunter sabia quem tinha sido o responsável, mas decidiu que ainda não era hora de esclarecer esse pequeno detalhe para os novatos.

Pouco tempo depois eles chegaram a uma colina verdejante. No topo dela havia um enorme pinheiro, e um dragão meio adormecido estava enroscado aos pés da árvore. A criatura não parecia muito grande, mas ainda assim teria conseguido esmagar três crocodilos adultos com folga.

— Onde estamos? – perguntou Neko.

— Esta é a Colina Meio-Sangue – anunciou Hunter. – A entrada do Acampamento Meio-Sangue, refúgio dos semideuses.

— Como assim, semideuses??? – Dippie estava trêmula.

— E o que vem a ser “meio-sangue”? – quis saber Robbie.

— Meio-sangue e semideus são sinônimos – explicou Hunter. – Ambos querem dizer “filho de um deus”.

Ele esperou a informação ser assimilada pelo grupo.

— Semideus? – Paul fez uma careta. – Como nós podemos ser semideuses? Eu me enxergo como o exato oposto de um semideus. Não posso ser um.

Hunter ergueu as sobrancelhas.

— Seria como dizer que é impossível eu ser um sátiro. E vocês viram o hobbit puxando minhas calças. Além do mais, sou como os monstros que vocês viram no caminho; posso sentir o cheiro de um meio-sangue à distância. Quem dirá cinco numa mesma escola. Por isso passei um ano na Snow Angel, disfarçado, para vigiar vocês e trazê-los para cá no momento certo. Não demoraria muito para que algum monstro também os detectasse... Como vocês puderam testemunhar.

— Então... – Paul estava hesitante. – Quer dizer que nossos pais que nós não conhecemos...

— São deuses da Grécia Antiga – concluiu Hunter. – E, por isso, não podiam ficar com seus pais mortais. Na verdade, eles não podem ficar muito tempo com nenhum de seus filhos.

— Espere – disse Dippie. – Há outros como nós?

— Centenas – confirmou Hunter. – Talvez milhares. E todos acabam chegando aqui. Essa é a função dos sátiros: garantir que os meio-sangues cheguem ao acampamento em segurança.

— Falando em segurança – disse Neko, apontando para o dragão. – Aquela coisa...

— Ele é inofensivo – assegurou Hunter. – Peleu protege a entrada do acampamento contra invasores. Não vai ferir vocês, já que estão comigo.

— Então, quais deuses são nossos pais? – perguntou Paul.

— Ou mães – murmurou Rina.

Hunter bateu os cascos.

— Eu poderia tentar deduzir pelo cheiro de vocês, mas o cheiro dos meio-sangues é bem parecido, não importa quem seja seu pai ou mãe divino. Não seria um método completamente eficaz. Além do mais, vocês já têm quinze ou dezesseis anos. Já deveriam ter sido reclamados, isto é, seus pais já deviam ter identificado vocês por meio de um sinal, o que geralmente acontece aos treze anos. Por que só agora o acampamento detectou vocês, não sei. Das últimas vezes em que isso aconteceu com gente acima da idade... – Ele sacudiu a cabeça. – Não importa. Como é o primeiro dia de vocês no acampamento, seus pais deverão reconhecê-los ao longo do dia, possivelmente à noite, no momento da fogueira, após o jantar.

— Fogueira? – soluçou Robbie, nervoso. – Nós seremos queimados ou...

— Não, imagine – riu Hunter. – A fogueira é para outra coisa. É apenas uma tradição do acampamento. De qualquer forma, é um bom momento do dia para que novos recrutas sejam reclamados. Enquanto esperam pela reclamação, irão conhecer o acampamento e descobrir por que este é o único lugar do mundo que é seguro para os meio-sangues, e também o melhor lugar para eles aprenderem a controlar suas habilidades.

Eles subiram a colina. Peleu, o dragão, rosnou de leve quando eles passaram, mas Hunter deu uma tapinha de leve em sua cauda e ele voltou a roncar.

— E aí, Peleu – cumprimentou Hunter. – Sabe, já passa de meio-dia. Acho que você já pode acordar.

Peleu bufou com indiferença e voltou a cochilar.