—Era uma noite chuvosa, eu tinha apenas 9 anos, e fui acordado por um telefonema.

“se você não colaborar, sua irmã vai morrer” disse alguém do outro lado do telefone.

Eu fui correndo para o quarto de Suze, e ela não estava lá. Desesperado, percorri a casa inteira atrás dela, mas não achei nada. Simplesmente nada.

“o que você quer?.

“apareça no Central Park as duas da manha”.

Eu comecei a ficar com medo, temia que acontecesse algo à Suze, mamãe ficaria depressiva de novo, como quando meu pai “morreu” (alguns anos depois eu descobri que ele foi obrigado a nos deixar). Suze era filha do meu padrasto, John, e da minha mãe, John tinha morrido um ano antes. Ele era como um pai para mim.

Eu não podia contar à mamãe, ela me chamaria de louco, mas ligaria para a policia para avisar o sumiço repentino de Suze. Afinal, segundo ela, eu sumia toda hora quando eu era pequeno.

Coloquei alguns travesseiros na cama de Suze, para mamãe não suspeitar, e fui para o meu quarto. Estava determinado a trazer minha irmã a todo custo para casa.

Cheguei ao lugar combinado às duas. Fiquei esperando algum tempo, e achei um broche de ouro, com o desenho do sol, e resolvi guardar. Logo depois, ele chegou.

Tinha um rosto coberto por uma máscara, e estava carregando a minha irmã. Ela estava dormindo, e ele disse

“Você chegou tarde demais”.

Não, ela estava apenas dormindo, pensei, mas reparei que ela não estava mais respirando.

Eu desmaiei.

Acordei horas mais tarde (ainda estava escuro) com um choro de uma menina. Fui atrás dele, e era a minha irmãzinha gritando e chamando por mim. Parei.

Não pode ser, ela está morta, eu a vi morrer, pensei.

Mas o grito era agonizante e voltei a correr para o lugar onde estava.

De repente, vi o que estava fazendo o som. Eram enormes e monstruosos ciclopes. Um deles estava gritando como a voz da minha irmã. Atrás deles, reparei em uma garotinha que estava adormecida, e amarrada em um poste. Ela era idêntica à Suze, tinha cabelos castanhos claro acinzentados, mas não conseguia saber a cor dos olhos dela, porque estavam fechados.

“vamos ter um ótimo jantar. Dois semideuses em uma noite! Eu fico com o de Apolo. Dizem que eles têm um sabor apimentado. Vocês dois podem dividir a garota” disse a mulher mais alta.

“mas mãe! É uma filha de Hades! Ela deve ter gosto de morte!” o mais baixo falou.

“não quero saber, eu que te dei a vida, e está querendo que eu coma carne morta?” a mãe ciclope falou.

“ninguém vai me comer não!” eu resolvi dar o ar da minha graça.

“Ora, Ora, o Filho de Apolo sabe falar!” disse um dos irmãos.

Uma voz na minha cabeça disse ‘pegue o broche’ e eu obedeci, logo que eu segurei ele com força, ele se transformou em um arco e uma aljava cheia de flechas douradas. Peguei o arco e mirei na monstra mãe, acertei o coração dela, e ela morreu na hora.

Logo depois, os filhos ficaram com raiva e tentaram me pegar, mas eu era rápido demais, e eles eram desastrados. Subi em uma árvore, e mirei em um deles, acertei, e depois no outro. Quando finalmente, os dois tinham morrido, corri até a menina.

Desamarrei-a, e depois de algum tempo, ela acordou.

Assim que vi aqueles olhos cinzentos e espetaculares, lembrei da minha irmã.

“Você vai me devorar também?” perguntou ela assustada.

“não, eu matei os ciclopes. Está tudo bem com você?”.

“Sim, eu acho”.

“O que aconteceu? Como eles te pegaram?”.

“Uma voz me disse para vir até aqui. Eu sei, devo ser doida por escutar vozes, e achei esse anel (ela me mostrou um anel prata com uma pedra preta lapidada nele).

“A voz falou para vir até aqui, que eu encontraria algum Alexandre. Seu nome é esse?”.

“Sim, sou Alexandre. E as vozes te disseram por que você tinha que me encontrar?”.

“Sim, ela disse que você me levaria para onde é seguro”.

De repente senti que devia proteger aquela garotinha indefesa, como eu não havia feito com a minha irmã.

“Venha para a minha casa, mamãe não vai reclamar, ela sempre quis que eu tivesse amigos”.

Bem, eu também não te falei, na escola, eu era o esquisitão, e nunca tive nenhum amigo. Mas isso não vem ao caso...

“Mas perai, e o Acampamento?”.

“Acampamento?”.

“Sim, as vozes disseram que lá é seguro”.

“E onde fica esse Acampamento?”.

“Eu que te pergunto”.

Fomos para a minha casa. Eu falei para a garota se esconder até a minha mãe acordar. Ficamos no meu quarto, conversando e contando sobre o que tinha acontecido até aquele momento. A garota era dois anos mais nova que eu, tinha sete. Ela tinha vindo de longe, ela morava em LA quando a mãe veio para Nova York, onde ela se perdeu dois dias atrás. Ela estava com muita fome. Fui até a cozinha e preparei um cereal para ela.

Ela comeu tudo, e me agradeceu.

Fomos dormir as quatro da manha, e ela me acordou uma hora mais tarde.

“Precisamos sair daqui imediatamente!” ela estava totalmente assustada.

“o que aconteceu?”.

“não é seguro contar agora, vamos para o Acampamento imediatamente”.

“Mas não sabemos onde fica!”.

“Eu sei” ela rabiscou um endereço em uma folha em branco.

Peguei algum trocado na caixinha de emergência, e deixei um bilhete para a minha mãe.

‘Desculpe, eu não consegui proteger a Suze, não fique triste, estou indo para um lugar seguro. Daqui a algum tempo, eu volto, para ver como você está. Tente viver como se não passasse de um pesadelo, eu prometo que irá passar.

Beijos e até mais,

Alex’

“Ela vai te perdoar um dia, eu sei” disse a garota tentando me confortar.

Chamei um táxi, e arrumei uma mala, e chegamos ao Acampamento sem estresse, o que foi realmente uma grande sorte—

—E porque você está me contando isso? —perguntei curiosa.

—Você era a garotinha.