Echoes escrita por xMilax


Capítulo 3
Capítulo 3 - Kurt




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– Até mais, Kurt!

O rapaz acenou para Mel, a atriz que representava sua irmã no musical em que atuava. O dia estava sendo particularmente ruim e ele estava se esforçando muito para não ser ranzinza com ninguém. Esconder seu humor e deixar que os sorrisos saíssem fáceis e falsos foi um truque que aprendeu cedo. Um truque que, para quem trabalhava no meio em que ele trabalhava, era vital.

A garoa transformou-se rapidamente em chuva enquanto Kurt caminhava para fora do teatro. Amaldiçoou-se duas vezes. Primeiro por ser sempre um dos últimos a sair e, portanto, não ter uma carona. Segundo por ter esquecido o guarda-chuva em cima da mesa da sala. Acenou para o táxi e praguejou a terceira vez quando ele passou direto, espirrando uma poça d’água no seu sobretudo Marc Jacob novinho. Como se ele já não estivesse molhado o suficiente.

Quando finalmente conseguiu um táxi, seu celular vibrou.

“Amor, acho q vou ficar preso no hotel hj. Minha irmã escolheu um quarto com 2 camas. Te ligo mais tarde. Bjs, já tô com sdds”

O quarto palavrão veio junto com um suspiro. Claro que sua cunhada não iria permitir que seu marido saísse de suas garras. Afinal, eles quase nunca se viam... Um resmungo irônico saiu como um sopro pela sua boca.

Kurt chegou ao seu prédio e, como um dos elevadores estava estragado, teve que esperar o outro descer do último andar até o térreo. Quando finalmente entrou no seu apartamento, o rapaz largou sua bolsa e seu sobretudo de qualquer jeito sobre o sofá. Cuidaria disso quando estivesse com a cabeça fria. Tomou banho e esquentou qualquer coisa que estivesse na geladeira. Já estava deitado, exausto, obrigando seus olhos a permanecerem abertos, quando seu parceiro finalmente ligou.

Kurt! – Foi a saudação feliz, mas reservada. – Escute, desculpe por hoje... você conhece Kate... – O tom de voz havia diminuído e o rapaz teve que apertar o ouvido contra o celular para ouvir direito.

– Ela está aí do lado, não é?! – A pergunta dele não era realmente uma pergunta. Sua voz estava amarga enquanto sua cabeça ecoava “Kurt!”. Seu marido nunca o chamava pelo primeiro nome. A não ser quando estava com Katherine. – E não, não a conheço. Ela nunca quis me conhecer. – Ele acrescentou, não esperando resposta.

Me desculpe. – A voz era sincera e Kurt fechou os olhos, sentindo-se culpado. Sabia o quanto o outro devia à mulher.

– Tudo bem. Meu dia foi uma bela de uma porcaria, arruinei meu Marc Jacob novinho. Sabe, aquele que eu comprei na segunda? Meio caramelo queimado... não, não sei se é essa cor existe realmente, mas você entendeu. De qualquer forma, agora deve estar com cor de burro fugid... Ei! Não ria, isso não é engraçado. David Karofsky!

A risada grave do homem cessou quando ele ouviu seu nome completo. Ele sabia bem o sinal que isso transmitia e tinha muito amor pela vida para continuar a rir.

Você tem razão, eu não devia achar graça. – Ele disse, e a voz diminuiu novamente. – Sinto sua falta.

– Eu também sinto. – Kurt admitiu.

Vou te compensar. Farei um jantar extra-especial amanhã. Rachel e Finn virão mesmo, certo?

– Sim. – O rapaz respondeu melancólico.

Ei, eu sei o quanto você gostaria te ter ido à apresentação final de “Spring Awakening”... mas, olhe pelo lado positivo, fiquei sabendo que teve um olheiro no seu trabalho hoje...

Mordeu a língua para não ser mal-educado. Claro que ele ficara sabendo, Kurt mesmo tinha contado.

– Ele não foi. Que olheiro iria num espetáculo da off-Broadway com tanta coisa acontecendo na Broadway?

Os olheiros que estão mais preocupados em encontrar talentos prontos para se consagrar, não em presenciar os que já se consagraram. – Seu marido respondeu tranquilamente. – Tenho certeza de que ele estava lá. Você só não o reconheceu. Esse é o intuito às vezes, sabia?

Kurt sorriu.

– Obrigado.

Não falei nada demais. – Dave falou com a voz tenra. – Ei, preciso ir. Kate quer saber o que eu quero pedir para jantar ou sei lá. Te vejo amanhã bem cedo, ok?

– Ok. Boa noite.

Boa noite. Eu te amo.

Seu marido havia desligado antes que ele pudesse responder.

O homem colocou o celular em cima da mesa de cabeceira, checando se havia desligado o despertador. Por alguma benção dos deuses, da Coco Chanel ou da Cyndi Lauper, o dia seguinte seria sua folga. Com um último suspiro cansado, o sono veio fácil.

Uma abelha. Só podia ser uma abelha extremamente insistente pousando em seu rosto. Por mais que ele balançasse a mão para espantá-la, ela continuava voltando. Uma risada grave e familiar o fez esquecer a abelha. O cheiro de loção de barbear e sabonete o fez abrir os olhos. Era apenas seu homem. Acordando-o com beijos no rosto.Um biquinho formou-se preguiçoso em seus lábios e ele ergueu os braços dramaticamente, espreguiçando-se.

– Não reclame por eu ter te acordado do seu sono de beleza. – Dave disse rapidamente. – São onze e meia da manhã!

– Eu não ia reclamar. – Kurt disse sem muita convicção, erguendo-se. – Eu gostaria de ser acordado assim todo dia, de preferência nesse horário. Aliás, você não deveria estar na empresa?

Seu marido sentou na beirada da cama e sorriu.

– Estou no meu horário de almoço. Pensei em pegar meia horinha a mais e comer com você.

Kurt retribuiu o sorriso e levantou da cama.

– É o mínimo que você poderia fazer! Você disse que estaria aqui bem cedo. – Ele frisou a palavra, fingindo-se de zangado. Era óbvio que seu marido havia passado em casa, o cheiro do sabonete e da loção de barbear deixava isso claro.

– Eu estive. – Dave pegou a mão do rapaz. – No entanto, você estava dormindo como um anjo. Não tive coragem de te acordar. Mas coloquei uma carne pra descongelar e o arroz na panela elétrica. Em quinze minutos nosso almoço está pronto.

Antes que ele o puxasse para um beijo, Kurt desvencilhou-se gentilmente das mãos do homem e foi até o banheiro.

– Preciso ficar decente. Deus, ao menos tomar um banho e escovar os dentes. – Ele se olhou no espelho e soltou um gritinho. – Alguma lógica no universo pode me explicar como eu estou com olheiras mesmo depois de ter dormido quase doze horas seguidas?!

O rapaz ouviu uma risadinha no quarto ao lado antes de entrar no box, permitindo que um sorriso esticasse no seu rosto.

Quando ele chegou à copa, a mesa já estava arrumada e seu marido o esperava, colocando suco em dois copos.

– Parece delicioso. – Ele disse sincero, colocando salada no prato e movendo-se para o lado a fim de dar um beijo nos lábios do homem.

– É porque está. – Dave respondeu sem modéstia.Kurt soltou uma risadinha.

– Sua irmã? – Perguntou sem muita vontade, tentando disfarçar seu desgosto.

– Pegou o voo da madrugada. Disse que volta antes do natal. Ou qualquer coisa assim.

Kurt acenou a cabeça, contendo o suspiro de alívio. Sete meses sem a mulher seria bom. O rapaz observou seu marido encarando atentamente as batatas no prato, como se elas fossem criar pernas e fugir caso ele não as vigiasse; então ele sentiu-se mal por ser tão egoísta. Sabia que David devia quase tudo que tinha à sua irmã.

A época em que seu esposo foi forçado a se assumir para seus pais não foi a melhor. Fim do terceiro ano do Ensino Médio. Depois de muito chororô, drama, psicólogos e até mesmo exorcismo na igreja que a mãe frequentava, uma última ameaça de seus pais pairou na cabeça do então adolescente David Karofsky: eles não bancariam a faculdade do rapaz caso ele não “criasse vergonha na cara”. Foi então que Katherine entrou em cena.

A mulher era uma advogada famosa em Lima e há muito não dependia dos pais. Ela se ofereceu para bancar o irmão em Nova York. Ele havia conseguido uma bolsa de estudos em NYU, para estudar engenharia civil, mas, mesmo assim, morar na cidade grande não era barato. Graças à ajuda da mulher, ele conseguiu se formar e hoje era gerente de projetos em uma grande empresa. A maior parte da renda dos dois vinha de Dave.

Mas, mesmo com toda a ajuda, Kate recusava-se até mesmo a conhecer Kurt. Não aprovava a ideia extremista dos pais, mas muito menos apoiava a união homossexual. Então as coisas seguiam assim. Os irmãos se viam duas vezes por ano e Kurt apenas assistia o marido sentir falta da família sem poder fazer muita coisa a respeito. Não é como se houvesse o que fazer. Eles simplesmente não aceitavam a orientação do filho, e o fato de Kurt ser um tanto quanto óbvio não ajudava. Era uma vergonha para eles ver seu único filho homem ao lado de um sujeito obviamente gay.

– Estarei em casa antes das oito, mas preciso correr agora. – David levantou-se da mesa depois de limpar a boca com um guardanapo.

– Promessa? – Ele mirou o parceiro, esperançoso.

– Promessa. – Dave depositou um beijo em seus lábios.

O resto do dia de Kurt passou calmamente. Ele lavou a louça, comprou os ingredientes necessários para o jantar (entre outras coisas), se arrumou, e, quando seu marido chegou e começou a cozinhar, resolveu a checar as novidades na internet – Brittany vai viajar para a América Latina! Quinn vai estrelar um filme novo! E não, não estava pegando aquele ator gato que-

– Sem chance! – Ele arregalou os olhos para a tela.

Antes que ele pudesse continuar, sobressaltado, o interfone tocou. Kurt olhou no relógio do computador. Oito e trinta e cinco.

– Sim, sim, pode mandar subir. – Ele disse impacientemente para o porteiro, esperando que sua amiga e seu irmão subissem rápido.

O rapaz abriu a porta, sem paciência para esperá-la tocar, e ficou parado no batente, ignorando o olhar confuso que Dave o lançara quando ele passou pela cozinha.

– Kurt! – Rachel deu um pulinho de surpresa quando saiu do elevador e deu de cara com ele, quase esbarrando em Finn, que vinha logo atrás. – Lamento muito pelo atraso, alguém – Ela mirou o marido, quase irritada. – tinha esquecido que viríamos aqui hoje para abusar de sua hospitalidade.

– Calma, mulher. – Kurt respondeu animado, dando um breve abraço no casal. – São apenas cinco minutos. E eu preciso mostrar uma coisa pra você! – Ele foi até o seu laptop apenas para encontrá-lo desligado.

– O jantar já está sendo servido. – Dave disse, repreendedor. – Você pode mostrar isso depois.

Enquanto seu marido cumprimentava os convidados, ele teve que se conter para não bater o pé no chão. Mas ele sabia que David estava certo. Teriam tempo para fofocar depois.

– Então, como foi o espetáculo? – Kurt perguntou, bebendo um gole de seu vinho.

– Eu queria tanto, tanto ir, Rach!

– Eu também... – Dave comentou sinceramente. – Os comentários no jornal me fizeram ainda mais triste por ter perdido.A mulher abriu um grande sorriso.

– Foi fantástico. Nossa melhor apresentação, com certeza. E bem, não segurei minhas lágrimas na despedida, é realmente uma pena que tenha acabado, sentirei falta... no entanto, não posso dizer que não estou ansiosa para o meu próximo papel, será bem mais desafiador. – Seu sorriso aumentou ainda mais, se é que era possível. – Isso é, se eu conseguir, claro. – Ela apressou-se para acrescentar, tentando parecer um pouco mais modesta. Contudo, Kurt a conhecia bem o suficiente, e sabia que a amiga estava completamente confiante.

– O diretor do Fantasma da Ópera estava lá?

– Primeira fileira. – Finn respondeu, sorrindo orgulhoso para a mulher.Mas Kurt também conhecia o irmão. Havia algo no sorriso dele que não parecia certo... A realização veio quando Rachel desatou a falar sobre como ela estava pesquisando para interpretar Christine, e ele não gostou nada do que viu. Finn estava inseguro. Pior, estava quase sufocando. Seu olhar voltou para a amiga e ele entendeu. Rachel sabia disso.

Entretanto, quando Rachel começou a incentivar Finn a falar sobre a faculdade que ele começara recentemente, Kurt percebeu que algo nela também estava errado. Algo sobre os sorrisos fáceis demais que ela lançara o jantar inteiro... Restava saber se também eram falsos como os que Kurt tantas vezes se obrigava a fazer para se proteger.

– Aceitam café? – Dave ofereceu, lançando um olhar certeiro para ele, e o rapaz percebeu que estivera muito silencioso durante todo aquele tempo.

Ele balançou a cabeça. Não, não era falsidade. Rachel não seria falsa com ele, afinal, ele era o melhor amigo da mulher. Claro que isso não era garantia de que a diva o contasse de tudo que estava acontecendo com ela... Rachel escondia alguma coisa.

– Obrigada por oferecer, sempre tão gentil, David... Mas a cafeína a essa hora da noite atrapalharia meu sono regular.

– Ahn, claro. – Finn respondeu.

– Por que não vamos para a sala? – Kurt levantou-se, enquanto o marido foi buscar o café de Finn. – Não, não, querida, deixe aí, a louça é minha tarefa. E não se atreva a insistir. – Ele acrescentou quando Rachel abriu a boca para retorquir.

Por mero hábito, ele ligou a televisão enquanto o casal se ajeitava melhor no sofá. Começou a zapear para encontrar algum canal de música...

– Aquela é a Santana? – Rachel exclamou, apontando para a televisão.

Kurt parou o movimento de mudar de canal e aumentou o volume.

– Era isso que eu queria te mostrar. É a nova agente da Quinn, acredita? Parece que estão processando a antiga assessoria por enviar material forjado à imprensa...

– Assustador. – Finn comentou, expressando o que parecia ser a opinião de todos, enquanto observava Santana falar com os jornalistas. Quinn estava confortavelmente ao seu lado, respondendo unicamente às perguntas pessoais, geralmente com uma resposta vaga. Mas como o foco era o processo, ela apenas estava sendo linda na televisão. E exibindo um vestido lindo, com saltos ainda mais estonteantes, Kurt reparou.

– Santana está super simpática. – Dave entrou na sala, entregando o café para Finn, e não entendendo porque uma assessora aparentemente gentil era assustador.

– Por isso mesmo. – Rachel esclareceu sem tirar os olhos da televisão.

Quinn, você poderia dar algum detalhe um pouco mais substancial sobre esse processo, já que sua assessora “não pode informar mais do que isso”?

Quinn adiantou-se para responder.

Kurt reconheceu o olhar; alguém seria humilhado em rede nacional.

Vocês estão muito presos a isso, rapazes. – Santana cortou a garota com um sorriso enorme para os jornalistas.

O rapaz riu. Quase conseguia ver a latina rosnar por trás da fachada agradável.

Acabei de receber da produtora a autorização para divulgar, finalmente, o novo sucesso estrelado pela minha cliente. Vocês vão querer mostrar isso. – Santana continuou, olhando de soslaio para a loira em uma deixa clara.

Há um mês, recebi um convite muito especial, que me lembrou dos meus tempos antigos, quando, no Ensino Médio, o Glee da minha escola ganhou o campeonato nacional de corais... – Quinn começou a falar, atraindo a atenção de todos.

Kurt teve que dar algum mérito. Fosse o sorriso encantador, ou a forma com que a loira conseguira transformar a informação em um discurso emocional, ela discorria sobre os tempos do Glee... Infernos, ele estava extremamente excitado pra saber qual era o filme agora.

Eu serei Glinda na adaptação de Wicked, da Broadway, para o cinema. É uma superprodução...

E, antes mesmo de ouvir o resto da frase de Quinn, ou do rebuliço que isso estava causando na imprensa, ele ouviu o gritinho de Rachel. A mulher estava branca feito papel, com a mão sobre a boca, olhando assustada para a TV.

Certo, Kurt pensou, isso definitivamente tinha algo a ver com o que a amiga estava escondendo.



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Notas finais do capítulo

Hey, gente!
Antes de tudo, quero agradecer quem está acompanhando essa história - principalmente as ~~lindas~~~ que me deixam reviews HAHAHA. Sério, é sempre muito motivador :)
Anyway, agora que nós vimos o Kurt, vou pedir só mais um pouquinho de paciência que no próximo capítulo vamos dar uma BOA avançada.
Estava pensando em atualizar a fic todo domingo, com um limite de tipo até terça, já que também dependo da fofa da minha beta (alô Bia!) pra postar. Ela geralmente é rapidinha, mas imprevistos acontecem. Ou a vida acontece, sei lá haha :)
É ISSO!
Me deixem um recado falando o que acharam disso e mimimimi.
Vejo vocês semana que vem!
BJBJ



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