Echoes escrita por xMilax


Capítulo 2
Capítulo 2 - Santana


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar o capítulo, alguns termos de Relações Públicas que serão utilizados:
Ofício: Agradecimento e recusa de um convite
Clipping: pesquisa sobre tudo que foi dito na internet e na imprensa sobre determinada personalidade, organização, acontecimento, etc



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– Lopez! – Um homem de terno e cabelo lambuzado de gel irrompeu em seu escritório. O olhar superior e um sorriso enjoado brincando nos lábios.

– Danson. – A morena moveu os olhos da tela do computador para lançar ao homem um olhar aborrecido. – Eu tenho secretária por um motivo. Sabe, trabalhei duro para conseguir esse direito e pretendo fazê-lo valer.

– Preciso que você revise para mim o contrato da Jessica Alba. Prometi ao advogado que entregaria isso em... – Ele colocou uma pilha de papéis da mesa de Santana e olhou no relógio de pulso – Uma hora.

– Revisão de contrato é função de estagiário. – Ela respondeu, lembrando-se, sem uma gota de nostalgia, do trabalho entediante que realizava quando entrou para a Dany & Danson – uma das mais conceituadas agências de Relações Públicas de Los Angeles.

– Não quero deixar um contrato de um cliente grande como a Jessica Alba nas mãos de um estagiário. Além do mais, nossos estagiários estão ocupados fazendo ofícios. Você sabe, estamos numa semana muito corrida e tem muito evento para pouco ator...

– Ofício é padronizado! Dios, eles praticamente só precisam mudar nomes! Aliás, revisar contrato também é! Tanto faz se é da Jéssica Alba ou do coitado dos filmes independentes, o procedimento é o mesmo! – Santana cruzou os braços sobre o peito, arrastando a cadeira para encarar abertamente o homem.

– Mas eles têm apenas uma hora para enviar esses ofícios. Norma padrão. – Ele disse com uma falsa voz de profissional que ela identificou imediatamente.

– Danson... não existe nenhuma norma padrão para ofícios! – Santana tamborilou os dedos em sua mesa, perdendo a paciência. – E eu preciso sair em meia hora para encontrar o empresário da Kirsten Dunst! Você sabe como é difícil trazer um cliente desse porte para a agência? Eu tive que prospectar durante mais de dois meses. Apenas para conseguir marcar esse almoço!

– Claro que eu sei. Também trabalho com prospecção, lembra-se? – Ele abriu um sorrisinho sacana. – E é por isso mesmo que eu vou pessoalmente nesse almoço. Preocupe-se somente com a revisão de contrato, sim? – Então o homem virou-se para sair.

– Danson! – A latina chamou, mas ele já estava batendo a porta.

Praguejando em espanhol, Santana olhou pelo enorme vidro do seu escritório, que permitia uma vista ampla dos funcionários do seu departamento. Todos pareciam realmente ocupados. Ou então fingiam muito, muito bem. Então seus olhos se viraram para o homem que entrava no escritório oposto ao seu. Charles Danson. O filho mimado do sócio majoritário da agência. Era a única explicação para o trasgo ter chegado aonde chegou. Não era o chefe imediato de Santana, mas ocupava um cargo superior ao seu. Não podia, portanto, ignorar abertamente um pedido dele.

A morena respirou fundo, o sangue fervendo. Ah, como ela queria ir totalmente Lima Heights pra cima da bunda branquela de Charles. Ele estava sempre sondando... quase nunca conseguindo fazer nada por si próprio e no lugar de buscar aperfeiçoamento pessoal, gastava seu tempo tentando roubar os trabalhos e méritos de Santana. Se ela pudesse fazê-lo provar o sabor de seu punho apenas uma vez...

– Amanda! – Ela pegou o telefone, ligando para sua secretária do outro lado da porta, não confiando em si mesma, caso se levantasse. – Como foi que você deixou Danson entrar sem falar comigo antes?!

Senhorita Lopez, eu

– Aliás, se eu soubesse que era ele, iria pedir pra que você dissesse que eu não estou! Arrumei um vidro que só permite visualização de um lado para que não soubessem o que eu estou fazendo aqui, você consegue entender isso? E se eu estivesse dançando pelada? Ou trepando? O mínimo que você tem que fazer é me avisar se alguém quiser entrar, preservar a porra da minha privacidade! - Santana rugiu. Sabia que em determinado momento não estava fazendo sentido nenhum, mas ela precisava descontar sua ira em alguém. E ela adoraria pensar que a secretária teve uma grande parcela de culpa no que acabou de acontecer. No fundo, sabia que não havia nada que Amanda pudesse fazer caso Charles quisesse realmente entrar.

A moça começou a balbuciar desculpas, a voz tremendo. Obviamente estava muito assustada e temerosa para conseguir formar palavras claramente.

– Quer saber? Não quero ouvir o que você tem a dizer. Apenas certifique-se de cumprir minhas solicitações da próxima vez. – Então a latina bateu com força o telefone na base.

Santana mirou os papéis na sua mesa, desejando que eles queimassem só com a força do seu olhar. Tomou um gole de água da sua garrafinha e pegou o telefone novamente, tentando controlar a voz. Aquele não era o momento para deixar sua raiva vencer a lógica. Ela demorou muito para aprender a direcionar seus esforços, e não era agora que Danson conseguiria tirá-la de si.

– Amanda. Ligue para o advogado da Jessica Alba e confirme o prazo de entrega do contrato, por gentileza.

Agora me-mesmo, senhorita Lopez. – Ela respondeu rapidamente.

Quando a confirmação do prazo veio, alguns minutos depois, Santana começou a praguejar novamente. O hijo de la puta tinha planejado aquilo, com toda certeza! Ah, mas ele não sabia do que Santana Lopez era capaz, não mesmo. Nem se o inferno congelasse ela deixaria que Charles-broxa-Danson roubasse seu almoço!

Os procedimentos do que faria em seguida vieram rápido em sua cabeça e ela prontamente agiu.

Santana entrou no site de guia de trânsito de Los Angeles, abrindo um sorriso de satisfação ao constatar o óbvio. O centro estava totalmente interditado, como sempre estava na hora do almoço. Era por isso que, quando saía nesse horário, ela fazia uma meticulosa rota alternativa, evitando qualquer possibilidade de atraso. Mas ninguém precisava saber disso.

Ela ligou para o restaurante que havia marcado horário, comprovando com sucesso que o empresário de Kirsten ainda não tinha chegado. Só então ela discou, do próprio IPhone, para Marco Lanza.

– Marco. – Ela saudou em tom simpático que não condizia nada com seu humor. – Não, você não está atrasado! – Ela forçou uma risadinha. – Na verdade, ah, eu nem sei como dizer isso... acabei presa no trânsito. O centro está um caos! Ah, você também está preso? Caramba! Sim, sim, terrível. Definitivamente, falha na sinalização... ouvi falar que eles estão propondo um novo projeto. Também espero que adiante, estou parada no mesmo lugar há vinte minutos! Mas onde exatamente você está? Estamos um pouco longe, estou no meio da avenida ainda... posso ligar e tentar adiar em meia hora nossa reserva... Você deve chegar em uns quarenta minutos lá, se eu estou me localizando bem, certo? Remarcar? Nossa, estou me sentindo muito mal por fazer você gastar seu tempo! Ah sim, sei que não é minha culpa, mas mesmo assim... Entendi. Certo, certo, obrigada pela compreensão... claro que preciso agradecer! – Forçou outra risada. – Sim, terça está perfeito! Definitivamente, vamos marcar em um lugar longe do centro, não quero me encontrar nessa situação novamente. Desculpe pelo incômodo, sei como tudo é muito corrido... imagina! Muito bem, até terça então... tchau, tchau.

Santana desligou o aparelho com um sorriso vitorioso nos lábios. Danson provavelmente já havia saído. Se ela certificou-se bem, e ela sempre se certifica bem, que ele não tinha o telefone do empresário. Quando terminou de revisar o contrato, a latina tinha perdido um pouco do sabor da vitória. Foi como voltar aos tempos que não era nada novamente. Fazia muito tempo que ela não fazia um trabalho tão chato.

Foi então que ela decidiu fazer um clipping básico de Kirsten Dunst, já confiando que conseguiria trazê-la para a agência depois que conversasse com Marco Lanza.Sua atividade era fácil. Consistia basicamente em fazer um levantamento de dados de tudo que apareceu na imprensa sobre a atriz. Isso também era trabalho de estagiário, mas ela estava com tempo livre na tarde, uma vez que a tinha reservado exclusivamente para o almoço que não aconteceu.

Ela abriu alguns sites aleatórios, fugindo de seu método tradicional e dos softwares próprios para isso. Foi quando se deparou com a notícia de uma nova turnê da Beyoncé pela América Latina. Ela sorriu. Um sorriso meio triste, é verdade, mas, ainda assim, um sorriso. Brittany iria adorar conhecer todos aqueles países. Mesmo que tivesse ido a todos os estados do EUA, ao Canadá e à maior parte da Europa, Brittany sempre amava conhecer lugares novos.

Tinha dias que Santana sentia uma saudade de matar. De matar mesmo. Ela sentava na sua enorme cama e espalhava as milhares fotos que tinha junto com a loira. Eram fotos dos tempos do McKinley, mas também dos tempos em que ela estava na faculdade de Relações Públicas e Brittany havia decidido ser dançarina profissional. Antes mesmo de se formar, Brittany havia se mudado para New York e elas já não se viam tanto. Depois de formada, então, as fotos se tornavam escassas, mostrando uma realidade difícil. Raramente se viam. E nenhuma das duas quis o relacionamento à distância. A angústia, a insegurança e todos os obstáculos foram fortes demais. Mas, por mais que o tempo passasse e corpos ocupassem sua cama kingsize sem realmente preencher algum espaço, Santana se arrependia por não ter sido mais forte. A saudade doía mais que qualquer problema que tinham antes.

Espantando uma lágrima que ameaçava cair de seu olho, a latina continuou seu trabalho, selecionando o que a interessava de forma mecânica. Até que outra matéria chamou sua atenção.


“Famosa atriz Quinn Fabray engata namoro com Cole Davidson”


Santana olhou a foto dos dois. Pareciam estar se beijando, mas, pelo que ela sabia das técnicas dos fotógrafos, aquele era um ângulo duvidoso. Para ela, que conhecia bem Quinn, estava óbvio que a matéria não condizia com a realidade. Ainda mais por Cole Davidson definitivamente não ser o tipo da amiga.

A latina dava boas risadas ao ler mais detalhes da matéria e do aparente “tórrido romance” de Quinn com o ator. Cole era o típico ator bonitão, musculoso e charmoso. Alto, com olhos verdes, ditos penetrantes pela imprensa. Mas Santana conhecia os boatos que rolavam nos bastidores das revistas. Sabia que ele era apenas isso. Uma carcaça bonita com algum talento para atuar. Iria definitivamente provocar Quinn por aquela história, e, como se o destino tivesse captado sua mensagem, seu celular tocou e a foto da loira apareceu na tela.

Com um sorriso zombeteiro nos lábios, ela atendeu.

Preciso de você. – Foi a saudação.Santana soltou uma risadinha.

– Wow, Fabray! Você é mesmo direta... mas será que Davidson vai gostar disso? De acordo com a People, o romance de vocês é caso sério. E você me conhece... eu não sou segunda opção de ninguém.

Muito engraçado.

Santana abriu um sorrisinho de lado. Conseguia visualizar perfeitamente a amiga revirando os olhos do outro lado da linha.

Mas é exatamente sobre isso que eu quero falar. – Quinn continuou, não esperando resposta. – Isso foi trabalho do idiota do meu assessor, quer dizer, acho que o termo certo agora é ex-assessor.

A latina endireitou-se melhor na cadeira, a pose profissional entrando em cena.

– É mesmo? E o que eu posso fazer por você? Precisa de alguma recomendação? Eu adoraria trazê-la para minha agência, mas não estou muito feliz com ela no momento para trazer um cliente grande como você.

Não quero outra agência. Quero atendimento personalizado.

– Quer um agente RP independente? Isso é um pouco mais difícil, você sabe, eles costumam cobrar mais caro se forem assessorar apenas uma pessoa... mas tenho certeza de que posso levantar uns nomes bons pra você... amanhã mando a lista por e-ma-

Você não está entendendo. – Quinn interrompeu-a com a voz irritada. – Eu não quero mais um desconhecido cuidando da minha imagem.

– Fabray, assim você me ofende. Eu não recomendaria ninguém cuzão para avacalhar com sua preciosa imagem de loira-magra-sonho-americano. – Santana falou, irritando-se também. Então um sino tocou em sua cabeça e ela diminuiu o tom de voz, olhando pelo vidro de seu escritório instintivamente, mesmo sabendo que não podiam vê-la ou ouvi-la ali. – Espera... você não está sugerindo que... Quinn, você quer que eu seja sua agente, é isso?

Finalmente. – A loira falou com um tom de voz entediado. – Estava começando a questionar minha vontade. Não gostaria de ter uma agente lerda.

– Quinn. – Santana ignorou a ofensa e disse com a voz séria. – Você tem certeza disso?

Santana... venha jantar na minha casa hoje para conversarmos melhor sobre isso. Mas sim, eu tenho certeza. Não quero mais nenhum porco vendido mandando conteúdo indesejado para a imprensa... Você lembra o que aconteceu da última vez...

A morena ouviu o tom de voz amargo da amiga, compreendendo-a completamente.

– Eu levo o vinho. – Falou antes de desligar.


Quando terminou o clipping, Santana assustou-se com o horário. Duas da tarde e ela ainda não tinha colocado nada no estômago. Pegando sua bolsa, levantou-se e saiu do escritório, avisando Amanda que poderia tirar seu horário de almoço assim que ela voltasse. A latina quase se desculpou por ter esquecido que precisava comer antes de liberar sua secretária, uma vez que alguém deveria estar lá caso algo urgente acontecesse. Quase.

Ela passou pelo departamento de cabeça estendida, os saltos funcionando praticamente como um aviso silenciador à medida que ela passava pelas pessoas. Eles paravam no meio de qualquer conversa ou comentário aleatório e viravam-se nervosamente para a tela de seus computadores. Algo nela assustava mais os funcionários do que Charles Danson. Talvez o fato de que ela realmente sabia o que estava fazendo. Tinha chegado tão cedo à posição que chegou por merecimento, não por nepotismo. E todos sabiam que a escalada profissional de Santana não tinha muitos escrúpulos. Ela pisaria em quem tivesse que pisar, caso necessário fosse. A verdade é que, de certa forma, o receio que sentiam de Santana disfarçava uma admiração. Já o receio de Charles, era, afinal, apenas desprezo.

A mulher não precisou apertar o botão para chamar o elevador. Quando ela estendeu o braço, a porta se abriu. Um Charles Danson furioso saiu e a encarou.

– Lopez! Você pode me dizer por que diabos eu fiquei duas horas plantado no restaurante, até ter que ouvir do maitre que meu convidado não iria chegar e que tinha gente esperando para ocupar a minha mesa?

Santana conteve o impulso de dizer que nem o convidado nem a mesa eram dele, e simplesmente colocou um sorrisinho sarcástico nos lábios.

– Ah, não te avisaram? Marco ficou preso no trânsito e remarcou o almoço. – O sorrisinho ainda desfilava irônico e irreverente quando ela enfatizou o primeiro nome do empresário. Já estava mais do que na hora de Danson entender que ele não tinha a menor chance de roubar essa dela.

Então, ignorando a cara agora púrpura do homem, ela entrou no elevador e apertou o térreo, virando-se para o espelho como se nada tivesse acontecido para retocar seu batom.

Santana Lopez mudou e evoluiu desde o ensino médio. Mas jamais deixariam duvidar de que ela ainda era Santana Lopez. E que deviam se apiedar daqueles que ousavam cruzar seu caminho para desafiá-la.



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Notas finais do capítulo

Hey, MUITO obrigada pela resposta no capítulo anterior. Fico feliz em saber que vocês gostaram pelo menos da Rachel :))
Enfim, eu adorei escrever o ponto de vista da Santana. Ela não é a bitch que era no ensino médio, mas, certamente, ainda é uma bitch HAHA.
De qualquer forma, tenham um pouco de paciência comigo, ok? Essa é uma história com Faberry como shipper principal, mas temos mais enredo que isso, e eu tenho toda a intenção de fazer uma fanfic bem longa com um monte de capítulos :)
Mas e aí, curtiram a Santana?
Beijos!



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