À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 5
Capítulo 2.1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/264640/chapter/5

Ou aquela menina tinha algum retardo mental, ou é asiática. Só cabem esses dois motivos à explicar sua insistência.

Como profetizado, voltou todos as semanas e permanecia plantada a minha porta falando sem parar  - como uma vitrola quebrada - do início ao fim do horário de visita. 

E eu não tinha escolha, senão ouvir. Não ia me dar o desconforto de trancar-me no banheiro por duas horas só para não ouvir sua voz. De todo não foi tão ruim, eu podia me divertir com sua ingenuidade rindo de seus argumentos.

Vou lhe contar, essa menina deve ter tido uma criação péssima. Daquele tipo de mãe que não teve coragem de pôr de castigo, ou era mole demais para demonstrar um pouco de autoridade. Não para de falar sobre si mesma e como sua vida é complicada...

Até que na semana seguinte ao seu desrespeito apareceu bem arrependida, com o rabo entre as pernas pedindo desculpas.

- Desculpe-me pela semana passada. - Ela disse - Eu me alterei. Já estava uma pilha de nervos e acabei descontando no senhor. Sabe, no final de tudo, descobri que uma porta trancada é muito mais que uma simples porta.

(Aqui ela tentou filosofar para demonstrar um pouco de inteligência)

- ... Quando me formar, direi à meus pacientes para se sentarem em frente a uma porta, num corredor vazio , onde - de preferência - passem muitas rajadas de vento. Faz um bem danado.

Fez uma pausa. Alguma coisa me diz que ela está comendo. 

- ... Já que não quer conversar comigo, vou falar sozinha até o fim do horário de visita, tá? 

Eu nunca paguei para entrar num teatro que fizesse monólogos, que dirá teria paciência em ouvi-la... O que eu fiz para merecer isso? Alguém pode me dizer? Sou só um velho sossegado. Tem algum pecado nisso?

Bom, e se houver pecado eu já estou no inferno, somando todos que fiz quando jovem. Mas aí, depois eu me entendo com... Com nada. Essas coisas de religião não existem.

- Agora vou cantar para você. Deixa eu pensar... Já sei! Há anos não canto Kelly Key. "Anjo, eu juro que te amo (te amo!) é com você todos os meus planos..." Agora Rouge! "Olha lá quem vem virando a esquina vem Diego com toda alegria festejando, com a lua..."

 E se existisse algum ser sobrenatural, eu gostaria de pedir, POR FAVOR, para tirar essa pedra do meu sapato. Aceito ir para o quinto dos infernos, mas essa garota cantando ninguém merece!

- Eu estava brincando com o meu gatinho ontem a noite e lembrei-me do senhor. Ele é tão teimoso quanto você...

Agora mais essa de me comparar com um gato. Técnica. Só para me comover. 

As vezes ela falava tanto, mas tanto, sem nem parar para respirar que assustava. Que tipo de jovem estão se fazendo, agora?

Não sei como, ela conseguia terminar o assunto em poucos segundos e se despedir, sempre prometendo voltar na semana seguinte. Ela já não perguntava minha opinião sobre sua estada ali, somente comunicava que viria. Como pais fazem com crianças desobedientes. E isso me pareceu gozado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!