À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 4
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/264640/chapter/4

Mas é claro que ela voltou para casa frustrada. Quem não ficaria? A ansiedade e a esperança de que tudo sairia bem eliminou todas as possibilidades de erro de sua pesquisa o que a deixou ainda pior. Ela não esperou pelo fracasso nem por um minuto. 

Não que tivesse fracassado, claro. Mas a surpresa a deu uma rasteira. 

Ergueu a cabeça e mais uma vez - erradamente - pensou que no próximo dia de visita as coisas iam melhorar. 

Algumas vezes coisas inexplicáveis acontecem como forma de aviso, um alerta para que pensemos antes de agir, ou mesmo para interromper algo. Não sei ao certo se foi o destino ou o próprio Sr. Eduardo, mas os dois não estavam nem aí pra Lívia e para o que ela queria conquistar.

Na semana seguinte, lá estava ela de pé na porta, batendo outra vez.

- Sr. Eduardo? Sou eu, Lívia, vim na semana passada, mas acredito que o senhor estivesse dormindo e não pode me atender? Eu posso entrar?

Nenhuma resposta. Calvin a observava baixar a cabeça do final do corredor - é ele mesmo, o garoto esquisito que foi zoado no primeiro dia do grupo no asilo - e por pena, ou vingança, ele a incentivou de longe, fazendo o gesto de bater na porta outra vez.

Ela bateu, mas ninguém respondeu. 

- Tem certeza de que ele está ai dentro? - Ela perguntou incrédula.

- Ele não sai daí. Nunca. Mas garanto, está vivo. Só abre a porta para os médicos e fala quando lhe perguntam alguma coisa importante.

- Por que eu tive que ter pego justamente ele? - Ela perguntou mais para si do que para a Calvin.

- Não vai se dar ao luxo de desistir, não é? - Ele perguntou cruzando os braços - Por que eu não desisto quando tenho um desafio de matemática.

- Pessoas não tem respostas exatas, Calvin. Mas obrigada pelo incentivo. - pigarreou e falou pouco mais alto - Volto na semana que vem Sr. Eduardo!

Ela não quis falar com a mãe nem com os amigos sobre sua evolução no trabalho. Até seu gato parecia mais bobo. Ficava a encarando com aqueles olhos verdes esbugalhados, cheios de brilho enquanto ela o ofendia mentalmente. 

- E você também!?

- Miau.

- Você só sabe falar isso, "miau"?

- Miau.

- Tudo bem, sobe aqui. - Disse dando dois tapinhas ao seu lado na cama. Gatos, veja só. 

E foi assim, por semanas e semanas. Ela batia na porta, ninguém respondia, seus amigos evoluíam em sua pesquisa e ela permanecia parada. Sem aprender ou ensinar. 

Numa das viagens de volta para casa dentro do metro a inconformidade a tocou fundo e fez com que ela sentisse vontade de dizer umas boas para aquele velho, provavelmente ressequido e mau educado. Não havia feito nada de errado, não mesmo.

A raiva acompanhou-a até o próximo dia de visita onde esbravejou algumas palavras bem irritadas... Para a porta. 

- Sr. Eduardo? Eu sei que já bati algumas vezes, é que... Eu naõ acredito que o senhor esteja dormindo todas as vezes que venho aqui. Sabe, eu enfrento estações de metrô lotadas. Não estou dizendo que isso é um grande esforço, mas valeria mais a pena se cumprisse meu objetivo. E seria no mínimo educado da sua parte me dirigir a palavra, para que eu coloque no meu trabalho da escola que foi o senhor que não quis conversar comigo. Entendeu? 

Olha quer saber? Eu não estou nem aí para você! A minha mãe me ensinou a ser sempre educada, e quando ela diz sempre, é pro resto da vida. Você não tem crédito porque já está na terceira idade! Todos os meus amigos me disseram que seus companheiros são gente super fina. Então o grande carrancudo daqui é você? Ah, que sorte a minha! Falta de educação é opcional, tá?

Mais uma vez nenhuma resposta. Além da impressão de ter ouvido algo se mover perto de uma moita do jardim. De lá saiu um gatinho rajado ainda filhote, correndo atrás de um pedaço de plástico que voava.

- Gato? - ficou parada por um momento observando perseguir o plástico - Gatos. É isso! Olha, eu estou indo. Não vai me vencer assim tão fácil!

Saiu pisando duro, sacando o telefone da bolsa. Tinha que perguntar à mãe se ainda tinha ração. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Francesa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.