– O que foi isso agora, madame? - Disse Louize, rindo. Estavam as duas (Louize e Lilian) no dormitório, a ruiva jogada na cama, abaladíssima - Chegou correndo aqui, e com o rosto vermelho. Alguém andou perturbando seu coração, Lily?

– Não! Lou, de onde tirou isso?

– Da sua face e sua expressão dona Lilian! O Tiago quase te mata de amor hoje não foi? Eu vi sua carinha de linda, quase infartou, Lily!

Lilian arregalou os olhos e se encolheu, agarrando uma almofada - Ficou tão na cara assim, Lou? Ai, meu Merlin...

Louize riu alto, divertindo-se. Nesse instante, Meggie atravessa o quarto com um saco nas mãos e senta em sua cama. As amigas acham estranho ela nem ter falado com elas. Meggie derramou o conteúdo do saco em sua cama. Doces caíram em cascata e Meggie desatou a devorá-los, provavelmente faminta.

– Ei, hello, Meggie? - Chamou Louize, confusa. As duas tinham parado de discutir para ver o que ela estava fazendo. Meggie se virou como se só tivesse percebido a presença delas naquele instante, segurando um sapo de chocolate na boca.

– Hm? Oh, desculpem, vocês querem? - Ela estendeu um pacote de feijõezinhos de todos os sabores.

– Onde arranjou isso, Meg? - Perguntou Lilian, que se levantara e andara até a amiga, pegando o pacote de feijõezinhos e abrindo-o.

– Nha tozinha – Respondeu, com a boca cheia.

– Na cozinha? - Gritou Lilian, jogando o pacote na cama revoltada - Você faz ideia do trabalho que aqueles elfos domésticos têm e você exigindo que eles te dêem comida?

– Ei, calma aí Lily! Posso te explicar direitinho, quer ouvir? - Como a outra não respondeu, continuou - Primeiro: Eu não exigi que eles me dessem doces, apenas pedi, educadamente - Lilian cruzou os braços, os lábios contraídos de raiva - Segundo: Eles amam isso! Acham divertidos, e, como funcionários de Hogwarts, nos tratam como patrões! E... Terceiro: Ora, vamos lá! É Halloween, dia de pedir doces!E os elfos realmente ficaram contentes ao ouvir o meu "Doces ou Travessuras". Desencana.

– Ridículo - Murmurou Lilian.

– Você não tem motivos para reclamar, ela está certa - Ajudou Louize, protegendo Meggie, que voltara a devorar seus doces. Lilian, irritada, descruzou os braços e disse:

– Eu nem posso acreditar nisso, Meg. Mas, tudo bem, vou descontrair dessa vez. Só espero que não esqueça que sou monitora. E vou ficar com isso.

E, pegando de volta o pacote de feijõezinhos, saiu do dormitório, batendo a porta com força.

– O que aconteceu com ela? Onde está aquela parte do: "Não importa, vou contar para a profª Merrythought!"? - Indagou Meggie, impressionada. Louize balançou os ombros.

* * *

– Droga, droga, droga, droga, Sirius. Qual é o seu problema?

– Eu já pedi desculpas! Caramba!

– Caramba nada, você... Você... Cagou o nosso romance. Essa foi a única oportunidade da minha vida com a Lily, e você... Argh! Vá ao inferno.

Sirius riu da braveza de Tiago e percebeu que fizera algo muito errado, pois recebeu um olhar de reprovação feroz do amigo, que se jogou na poltrona e cruzou os braços, enfezado. Os três estavam no salão comunal (Pedro havia permanecido na Dedosdemel e Remo e Sirius deixaram ele lá sozinho antes de voltarem com Tiago para Hogwarts), exaustos do passeio lá fora.

– Olha, Tiago, relaxa...

– Não vou relaxar! Mané! Droga... Droga! - Tiago se contorcia de raiva, dando socos nos braços da cadeira. Remo ignorou os dois e abriu a mochila, despejando os livros e começando os deveres. Sirius fez o mesmo. Tiago, ao notar, soltou um suspiro e saiu batendo os pés, entrando no dormitório masculino.

– Já tá enchendo o saco, não é? - Falou Sirius, para Remo, enquanto colocava um ponto final numa frase.

– Qualé, Sirius. O Tiago é louco pela Lily desde o primeiro trem de para Hogwarts! E continuamos amigos, mesmo assim. Só porque ele conseguiu um avanço, você não pode pensar que ele não tem o direito de ficar com raiva. Pensa se fosse com você. Pensa se fosse na Emily...

– Qual o problema de vocês? Eu não namoro mais a Emily, caramba!

– Viu... - Remo revirou os olhos para o seu trabalho, deixando Sirius com o olhar no ar.

* * *

Porcaria. Era só o que imaginava Tiago. Como a vida era injusta com ele. Tinha tudo, mas não tinha nada. Queria poder ficar somente com Lilian, e sem nada mais em volta. Abraçá-la... Envolvé-la infinitamente em seus braços. Ele queria ela fosse sua. Só sua. Mas era impossível. Primeiro porque ela é amiga do Ranhoso. Segundo porque ela não vai com a cara de Tiago, porque ele é "metido a besta". Terceiro, quando ele consegue ser perfeito para ela, vem aquele debilóide do seu melhor amigo e estraga tudo!

Ódio. Era tudo que sentia. Uma palavra pequena, mas que descrevia todo o tamanho do seu sentimento. Raiva, amor, vergonha. Ódio.

– Por quê? Ela não podia me dar uma chanche? Qual foi aquela de "preciso ir", também? Não precisava ir nada! NA-DA! - Ele disse, alto. Sua voz ecoou pelo quarto vazio, com exceção a ele. A porta se abriu e ele se calou.

– T-Tiago? - A voz era doce, meiga, e baixa. Também temerosa e meio tremida. Tiago se sentou na cama, tão depressa e se sentiu tonto - É você... aí?

– Lily? - A porta se fechou. Lilian caminhou até ele, assustada. Já não estava com a mesma roupa que estava usando no Três Vassouras. Agora tinha uma blusa solta, provavelmente para a festa de Halloween os cabelos penteados e sem neve - O que... O que te traz aqui? Como soube...

– Não interessa. Nada interessa.

– Lily? - Tiago chamou, assustadíssimo. Em sua cabeça Lilian iria beijá-lo loucamente, sem se importar com nada. Mas, é claro, que a sanidade dela não iria a tanto. Ela, desajeitada, sentou-se na cama dele, alisando a saia nervosa.

– Desculpa. Eu... Fiquei com medo. Fugi de você. Desculpa...

Ela jogou tudo para fora, como se estivesse com aquilo na garganta desde que entrou em Hogwarts.

– Lilian...

– Não. Me deixa falar. Tenho muito pra dizer... acho.

Tiago respirou fundo. Ela o imitou e passou da saia para o cabelo.

– Eu relutei. Sabe... No momento em que você falou aquilo e... Bem, tentou me beijar. Eu relutei. Travei uma batalha na minha mente. Tiago, você é um canalha. Esse foi meu pensamento de sempre. Um canalha, cafajeste e otário, sempre em busca do poder e...

– Se veio para falar isso pra mim eu...

– Não! Para! Me deixa falar! Você... Tiago, você precisa aprender a ouvir! - Tiago abriu a boca para relutar, mas, devido ao olhar qu Lilian lhe lançou, ele abaixou a cabeça, vencido - Enfim, eu morro de raiva de você! E... Eu tenho um amigo! Um super amigo!

– Ranho...

– É! É! Ele... Ranhoso... Como vocês chamam. Mas ele é muito mais do que isso que vocês dizem, viu? Ele é bom, companheiro, e amigo! Apenas... Apenas não sabe expor seus sentimentos! Ele... Só sofre demais, Tiago. E você. Insiste. Em. Fazer. Isso. Com ele! - Ela disse, pausadamente, em tom cansado, como se discutirem sobre Severo fosse monótono - E... Eu gosto dele. E você não poderia mudar isso. Não importa o qual... Feio ele seja, nem o qual sem sal e chato que ele seja. Eu gosto dele como é - Ela segurou as duas mãos no peito, e olhou para o teto, pensativa. Se desfez da posição pouco depois, olhando séria para Tiago - Mas, a gente vive discutindo e brigando. Ele... Não consegue me entender, e ele não quer que eu entenda ele! Ele... Fica se isolando, completamente só. E não me enxerga ao lado dele nos momentos certos, e nos errados também. Isso, me deixa triste. E com raiva. E ainda tem você. Que vive me cantando e me enchendo o saco, mostrando que você tem um lado bom e tímido, e que tem seus motivos também. Você não deve fazer ideia do tão confusa eu estou, Tiago. Porque, por mais que eu relute, você é especial pra mim. E eu também gosto de você. E... Talvez você não entenda, mas... Eu preciso pensar. Minha vida estão tão confusa...

Ela cobriu o rosto com as mãos e soluçou. Tiago abraçou-a, depressa. Aquilo o havia chocado. Tudo que ele queria e não queria ouvir estava ali, no ar, na sua mente. E parecia haver um tsunami em seu cérebro.

– Não, Lily... Me desculpa.

– E-Eu quem pe-peço desculpas, Ti-Ti-Ti... - E enrolou num choro - Minha cabeça, ela...

– Xii... Xii, calma... Tá tudo bem, não precisa ficar assim.

– Obrigada... - Ela retribuiu o abraço, sem dar importância. Ele acariciou seus cabelos.

– Lily... Se você... Se você não se importar, nem nada... - Ela lhe olhou temerosa - Você poderia ser minha amiga? Sem isso de passar e me olhar com desprezo. Mas, passar, me abraçar e dizer bom dia... Eu... Só preciso isso de você. Por favorzinho?

Lilian olhou para seus olhos, brilhando. Ela viu claramente dentro deles um certo medo, e sentiu que estava segura.

– Ca-claro... Amigos, então.

Ela se levantou e ele fez o mesmo quase simutâneamente. Ela passou a mão no cabelo e em seguida olhou para o chão, a mão segurando o outro braço. Tiago esticou a mão direita.

– Amigos - Mas Lilian não correspondeu, lhe puxou para um abraço forte, de amigos. Era bom aquele sentimento. Muito bom. Eles se separaram, e ele lhe deu um beijo no topo da cabeça, sorrindo. Ela sorriu também, e, sem se despedir, saiu do quarto. Tiago se jogou na cama, de olhos fechados, memorizando aquilo na cabeça para sempre.