- É um menino - a médica anunciou. Olhei para Mary Jane que sorria radiante e sorri de volta. Eu, Harry e a mãe de Mary Jane estávamos dentro da sala. Mary Jane e sua mãe haviam conversado e haviam decidido que Maria - mãe dela - ajudaria Mary Jane.

- Você já pensou em algum nome? - Harry perguntou. 

- Ainda não. Pensei que vocês poderiam me ajudar.

Do lado de fora da sala, Anne, meu pai, Gemma e Nicole esperavam o fim da consulta. Depois de algumas recomendações, saímos da sala e, assim que chegamos à sala de espera, fomos cercados pelos quatro que estavam ansiosos pelo resultado.

- Acalmem-se - Mary Jane falou.

Todos ficaram quietos.

- É um menino - ela repetiu a informação abrindo um sorriso.

Todos sorriram também.

Mary Jane explicou tudo o que a médica havia falado, destacando os cuidados especiais.

- Não poderá ser um parto normal, já que é uma gravidez potencialmente complicada. Será cesárea.

Saímos do consultório e fomos tomar sorvete. Harry iria jantar em casa como meu namorado. Esse era um pensamento estranho, a palavra "namorado" não se encaixava com ele. Eu precisava me acostumar com isso. "Esse é meu namorado". Estranho. Ainda bem que ele não era meloso, porque doçura demais me irrita. Ser romântico é diferente de ser meloso. Ele era romântico. 

- Preciso falar com vocês - Mary Jane falou séria.

Olhamos para ela, ficando em silêncio.

- Eu e minha mãe... Bem, nós decidimos que eu voltaria a morar com ela e meu irmão. Ficarei com eles - ela foi direta.

Fiquei quieta pensando, enquanto Nicole expressava toda a sua indignação.

- Como assim? Você vai nos abandonar? – ela se exaltou no meio da sorveteria.

- Nicole, você nem mora totalmente aqui! E não, eu não abandonarei a Marcela. Só vou morar com minha mãe novamente.

Maria se intrometeu.

- Eu queria passar mais tempo com ela, só isso.

- Mary Jane vai ficar com a família – meu pai disse – Nossa porta estará sempre aberta para ela, mas ela precisa ficar com a mãe nesse momento.

Suspirei. Ele tinha razão. Ela precisava de apoio da família, já que ela mesma começaria uma.

- Quando você vai? – perguntei.

- Eu pensei em fazer minhas malas amanhã e, no outro dia, John iria me ajudar a carregar as coisas para minha casa.

Assenti. Eu ainda queria conversar com ela sobre isso, mas teria que ser em particular.

Terminamos o sorvete e cada um foi para sua casa. Entramos em casa e, assim que meu pai fechou a porta, Nicole começou a gritar de novo, ainda estressada.

- Nicole! – gritei. Todos olharam para mim – Cale a boca, garota, vai acabar tendo um ataque cardíaco.

Meu pai foi para seu quarto e nós três nos sentamos na sala.

- Mary Jane – comecei – Por que não nos contou sobre isso antes?

- Porque... Achei que vocês ficariam bravas. E eu tomei essa decisão junto com minha mãe, uma decisão nossa.

- Nós poderíamos ter te aconselhado. Você se lembra de que ela te expulsou de casa, não lembra?

- Lembro – ela se encolheu e abaixou a cabeça, se lembrando daquele dia.

- Então! E... Você tem certeza que quer morar com ela e seu irmão?

Ela levantou a cabeça de novo. Seus olhos estavam marejados.

- Desculpem-me. Eu amo morar com vocês, do fundo do meu coração, mas ela continua sendo minha mãe e... Eu quero ficar com ela. Eles dois são minha única família. Eu preciso deles. Amo vocês, são como minhas irmãs. Mas eu preciso da minha mãe.

Suspirei.

- É claro que precisa.

Disso eu e Nicole entendíamos. Apesar de eu não ter minha mãe, eu tinha meu pai. Ele era meu porto seguro, me criou e me educou e se esforçou ao máximo para que eu tivesse uma vida boa. Eu não conseguiria ficar sem ele.

Ela assentiu, secando as lágrimas.

- Obrigada – falou.

Eu e Nicole nos entreolhamos e abraçamos Mary Jane, dando risada. Ela riu também.

- Vamos fazer suas malas? – falei franzindo o nariz.

Subimos as escadas e fomos arrumar as coisas de Mary Jane.

- Tenho tanta coisa para guardar... – Mary Jane reclamou.

- Não se preocupe. Arrumar malas é nossa especialidade – Nicole falou.

Tive que concordar. Caso tudo desse errado, eu e Nicole poderíamos abrir uma empresa. Nosso slogan: “Viaje com tranquilidade: as maiores especialistas em viagens de todos os tempos”.

Entramos no quarto e, obviamente, liguei meu iPod. Um de meus rituais para arrumar malas.

I see you driving round town

With the girl I love

And I'm like

FUCK YOU!

oo ooo ooooo

Essa música era tão engraçada. E foi perfeita para nos animar.

Arrumamos uma pequena mala com roupas. As coisas de Mary Jane ficariam para o outro dia, porque tínhamos que nos arrumar para o jantar com Harry. Anne, Gemma e Robin também viriam. Eu ainda não havia sido apresentada a Robin, padrasto de Harry.

Um pensamento me ocorreu: eu precisava comprar um presente para o bebê!

No banho, percebi que ficaria sem Mary Jane. Ela era mais velha, mas eu sempre pensei que eu cuidaria dela. Como eu ficaria sem acordar com ela pulando em mim? Sem a tagarelice dela, sem seu rosto fofo, cheio de sardas? Eu ia começar a chorar, mas me controlei. Deixaria as lágrimas para a despedida.