Contos De Fantasmas escrita por Camille M P Machado


Capítulo 2
O Relógio da Noite




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/264152/chapter/2

Esta é uma história de quando eu tinha onze anos, estava na quinta série (ou sexto ano como é chamado hoje em dia), chamo-me Alícia e este é o meu primeiro contato com esses tipos de coisas, ao menos pelo que me lembro. Nesta época eu ainda não ouvia nada, meus dons auditivos apareceram dois anos mais tarde, aos treze. O que aconteceu foi muito estranho e eu fiquei branca depois daquilo que minha irmã disse...

Tudo começou com um relógio, um simples e inofensivo relógio – bom, pelo menos era o que eu pensava. No ano de 2003 ou 2004 minha mãe comprou um relógio para por no meu quarto e ser um despertador para acordar eu e minha irmã e irmos à aula, até em tão ele parecia completamente inofensivo.

Ele era em formato de S e laranja, lembro bem disso, ficava na parte mais alta da mesa do computador da minha irmã. Ficava sempre virado para o meio de nossas camas, assim tanto eu quanto ela
podíamos ver a hora. Teoricamente era para ser desse jeito, mas não exatamente como aconteceu...

Lembro que no primeiro dia eu fui dormir e quando acordei, ele estava completamente virado para minha irmã me impossibilitando de ver a hora. Neste dia, pensei que tinha o deixado para a minha irmã alguma parte do dia anterior e que me havia de virá-lo para o meio novamente, então simplesmente levantei da cama e pus para o meio.

Porém, na noite seguinte a mesma coisa aconteceu, quando acordei estava para minha irmã e não para mim, fiz a mesma coisa do dia anterior um pouco descontente. Na terceira noite, o mesmo fato se sucedeu e depois na quarta, estava começando a ficar com raiva disso. Era desagradável acordar de manhã e não conseguir ver a hora no relógio, ainda mais quando se acorda com a sensação de estar super
atrasada.

Não era este o caso, mas despertava assustada pensando que não ouvira o despertador tocar e por isso estava atrasada para ir à escola ou até que havia perdido a hora da aula. Nessas horas, um relógio para nos acalmar é tudo o que queremos, mesmo você estando com tanto sono a ponto de ver a hora errada, como, por exemplo, ser seis horas da manhã e você ver sete e vice-versa.

Na quarta noite, irritada com o acontecido nas anteriores, eu me certifiquei de que o relógio estava virado para o meio antes de eu dormir. Contudo, na manhã seguinte foi a mesma coisa, o relógio estava virado para minha irmã e não para o centro de nossas camas como eu deixara antes de dormir. Comecei a ficar intrigada e procurei motivos racionais para isso, mas pouco eu sabia...

Formulei minha primeira hipótese, bastava um toquezinho e o relógio caía de tão leve que era. Em minha cabeça a culpa deveria ser do vento, ele vinha da janela a esquerda do relógio (esquerda de uma pessoa virada de cara para o relógio) e o empurrava para a direita, onde se encontrava a cama de minha irmã. O vento deveria ser bem fraco, pois caso contrário o relógio iria amanhecer tombado.

Certifiquei-me de dormir com a janela fechada na sexta noite. Com a janela fechada, o relógio iria amanhecer para o meio, foi assim como pensei. Mas para meu espanto, não foi exatamente o que aconteceu, acordei com ele virado para minha irmã pela sexta vez. Eu colocava para o centro e acordava para ela e não havia interferência do vento de fora do quarto, isso estava me irritando.

Nas noites seguintes aconteceu a mesma coisa, e eu acordando sempre com a sensação de estar atrasada, era agonizante. Não sei por mais quantos dias agüentei essa situação, havia descartado todas as hipóteses possíveis, a única restante era a minha irmã.

Eu não queria acreditar que fosse ela, seria muito vacilo se fosse, mas minhas hipóteses acabaram. O vento da janela não podia ser, pois estava fechada; o ventilador também não, pois se fosse empurraria o relógio para o outro lado; e todas as noites antes de eu ir dormir, eu assegurava a posição do relógio para o corredor entre nossas camas.

Estava furiosa com isso, queria ver a hora quando acordava e não podia por o relógio estar completamente fora do ângulo de visão da minha cama. Ter que levantar todos os dias para consertar isso era chato, queria continuar na minha cama debaixo do meu lençol e com olhos fechados até a hora de levantar. Para alguém com insônia como eu, essa é uma péssima ideia de se fazer.

Houve um dia em que não agüentei mais, fui tomar satisfações com minha irmã e brigar por ela virar sempre o relógio para ela. Minha intenção era apenas de fazê-la parar, surpreender-me estava fora dos meus planos. A resposta dela foi surpreendente e ao mesmo tempo assustadora.

- Eu não estou virando relógio algum! – dissera.

Se não era ela, quem era então? Esta pergunta me deixava pasma, pensar na única possibilidade restante era aterrorizante. Não podia ser alguém de fora do quarto, pois se alguém entrasse, eu acordaria no mesmo instante; e também não era minha irmã, restando apenas algum ser sobrenatural!

Depois da resposta de minha irmã, eu também não sabia mais o que dizer a ela. Continuei meu dia como se nada tivesse acontecido, não havia nada a fazer ou falar. Eu me esqueci do acontecimento por aquele dia, mas me lembro que no dia seguinte o relógio não amanheceu virado para minha irmã, ele estava completamente normal.

Desse dia em diante, nunca mais esse fato se repetiu. Não sei dizer o porquê, apenas sei que o ocorrido cessou de repente, assim como começara. Essas foram as minhas duas ou três semanas mais estranhas de 2004, lembro-me como se fosse hoje ainda...

Talvez o fantasma estivesse brincando com a minha cara e testando a minha paciência ou talvez não, não sei dizer. Acredito que ele more no meu quarto até hoje, pois outros acontecimentos estranhos como esse e algumas sensações ainda ocorrem. Às vezes tento acreditar que é apenas coisa da minha cabeça, mas é realmente muito difícil. Vivo minha vida ignorando tudo, esse foi meu jeito de afastar isso de mim, ou pelo menos não ter medo.

Se algo semelhante já lhe aconteceu, tome cuidado, pode ser o mesmo fantasma daqui de casa ou algum outro. Neste caso, sendo outro, suas intenções podem ser piores que uma simples brincadeira como foi comigo. Os daqui de casa parecem apenas quererem brincar, amedrontar-me ou testar minha paciência, mas os de sua casa podem ser diferentes, talvez mais dóceis ou mais cruéis, então é sempre bom tomar cuidado.

Espero que jamais tenha lhe acontecido isso com você, eles não costumam largar de nossas casas uma vez que se apossem, então desejo boa sorte àqueles possuidores de uma companhia fantasmagórica como eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos De Fantasmas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.