Prólogo

 

Perto do jantar, Adam chega a casa. Agatha sai da cozinha, anda até a sala.

 

Agatha: - Oi, amor. – O beija – Demorasse hoje...

 

Adam: - É que tive que ajudar um amigo do trabalho em uma reportagem de nove folhas.

 

Agatha: - “Nove folhas”?

 

Adam: - Pra falar a verdade: nove folhas e metade de uma décima.

 

Agatha: - “Nove folhas e meia”?

 

Adam: - É sério! Se você continuar a falar o que eu digo, irão te chamar de “Sra.Clichê”.

 

Agatha: - É que nove folhas e meia é muito. Por que você nunca fez uma matéria desse tipo?

 

Adam: - É que eu sou um colunista. Faço pequenas crônicas com minha opinião sobre certo assunto.

 

Agatha: - Só?

 

Adam: - “Só”? Como assim, “só”? Quando você trabalhava, eu sustentava a casa inteira e você também, só com esse... – Olhou para o lado -... ”só”.

 

Agatha: - Desculpe, querido. Eu sei como sua profissão é importante. Eu só fiquei impressionada com a “responsa” do cara. Nove páginas não são pra qualquer um.

 

Adam fica um pouco enciumado.

 

Adam: - Quer o telefone dele também? Talvez você se torne amiga dele e ele à mostre outras nove coisas na cama.

 

Agatha: - “Outras nove coisas”? Interessante!

 

Adam: - Afe!

 

Adam sobe o primeiro degrau da escada, irritado, mas Agatha o para.

 

Agatha: - Espera! Eu tenho uma surpresa pra você.

 

Adam: - “Surpresa”?

 

Agatha: - É mais que uma surpresa. É a realização de um sonho seu.

 

Adam: - “Sonho”?

 

Agatha: - Agora, você está dando um de “Sr.Clichê”.

 

Adam: - Mas que surpresa é essa? Que sonho meu vai se realizar?

 

Agatha: - Nana-nina-não! A surpresa é só pra amanhã.

 

Adam: - “Amanhã”? Mas...

 

Agatha: - Nada de “mas”. É amanhã e ponto final.

 

Adam: - E se eu morrer amanhã?

 

Agatha: - Deus não ia ser tão generoso com o Dustin, assim.

 

Fim do Prólogo

 

No dia seguinte, no recreio do colégio, Dustin fica notando Camila. Antes, ele nunca havia a notado, mas depois daquele dia que ela o beijou, seu tratamento, seu modo de vê-la tinha mudado, ficado diferente.

Dustin está sentado em um dos degraus da escada que leva até o andar de cima e Simone vai até ele.

 

Simone: - Oi, Dustin! – Senta do seu lado – Você e a Camila nesses últimos dias não se desgrudam mais, né?

 

Dustin: - É! Ela é uma grande amiga.

 

Simone: - Só “amiga”? Tipo, vocês não estão transando?

 

Dustin olha para Simone, surpreso.

 

Dustin: - Não. Eu não costume transar com minhas melhores amigas.

 

Simone: - Hum... – Simone aperta a perna de Dustin – Interessante!

 

Dustin: - “Interessante?” – Ela vai até o pescoço de Dustin e o dá um beijinho – “Ok! Isso é abuso sexual, não?”

 

Simone: - Sabe... – Aperta a barriga dele –... eu estou tão ex...

 

Dustin: - Não termine a frase! “É abuso sexual! É abuso sexual sim! Será que posso processá-la por isso?”

 

Simone: - Você parece estar me evitando.

 

Dustin: - Olha... – Não sabe muito bem o que dizer – Eu não posso... – Percebe que Abel está vindo – Abel! Me ajuda, cara!

 

Abel nota que Simone está tentando coisas com o Dustin.

 

Abel: - Ajudar? Vamos fazer ménage a trois?

 

Dustin: - Não! Me ajuda... Me ajuda... Me ajuda a não pensar em sexo!

 

Quase todos ouvem o pedido de ajuda de Dustin e Camila que está meio longe do local, consegue notar a aproximação de Simone e Dustin nota isso.

Dustin fica preocupado por causa disso e olha novamente para Abel, esperando alguma coisa que nem ele sabia muito bem o que era.

 

Abel: - Er... – Percebe que Camila não tira os olhos deles – Você está excitado?

 

Dustin olha para Simone, “massageando” sua barriga sem ligar para os outros que olhavam.

 

Dustin: - O que tu acha? – Pergunta enfurecido.

 

Abel: - Desse jeito é difícil esquecer.

 

O sinal do recreio toca e Dustin se levanta, desgrudando de Simone.

 

Dustin: - Bom... é... Tipo, Michael Jackson morreu mesmo, né?

 

Simone sai da escada e fala para Dustin.

 

Simone: - Te espero na hora da saída. – Ela vai embora.

 

Dustin vira para Abel.

 

Dustin: - Ela falando assim parece àqueles valentões que esperam você no final da aula para te surrar.

 

Abel: - Cara, que loucura foi essa?

 

Dustin: - Eu vou saber? Ela começou a me apalpar.

 

Abel: - É estranho um homem falar “ela começou a me apalpar” já que na maioria das vezes quem falam isso são vítimas de pedófilia. (pequena pausa) Só sei que a Camila pareceu não gostar muito.

 

Dustin: - Eu nunca imagine que iria odiar uma guria me tocando.

 

Em uma sala de espera, Gabriela espera ser chamada para sua audição.

 

Gabriela: - Caramba! Foi metade das pessoas dessa sala e eu nem fui chamada ainda. E isso tudo só pra fazer um simples comercial onde eu vou fazer uma vítima do H1N1.

 

Outra mulher entra na sala e senta do lado dela.

 

Claudia: - Oi!

 

Gabriela: - Oi. – Responde sem interesse.

 

Claudia: - Eu me chamo Claudia.

 

Gabriela: - Prazer. Bom, se eu passar no teste irei me chamar Renata. – Faz a piada, ri e Claudia fez cara de quem não entendeu – Sou Gabriela.

 

Claudia: - “Gabriela”?

 

Gabriela: - Daqui a pouco, talvez, será Renata.

 

Claudia: - É Gabriela ou Renata?

 

Gabriela: - É Gabriela! Não entendesse a piada, não?

 

Claudia: - É que você me parece familiar.

 

Gabriela: - É que, bem, de vez em quando eu apareço em alguns comerciais.

 

Claudia: - Também, mas não é só isso. Você estudou no colégio SG?

 

Gabriela: - “SG”?

 

Claudia: - É!  “SG” é as iniciais de Stéfani Gordi, também chamado de “Saco Grande”.

 

Gabriela: - Estudei sim, mas não me lembrava mais da história do “Saco Grande”. – Estranha.

 

Claudia: - Eu sou Claudia! – Repete com uma animação que antes não era presente.

 

Gabriela: - Eu sei. Você já disse isso. – Responde secamente.

 

Claudia: - Eu era sua melhor amiga na escola! A gente saia junto e tudo mais. Não lembra?

 

Gabriela não consegue ligar os pontos.

 

Claudia: - Não se lembra? (pequena pausa) Meu apelido era “Betty, a feia”.

 

Gabriela: - Ah, sim! Quanto tempo, hein? “Já havia novela colombiana de mulher feia como protagonista naquela época?”

 

Claudia: - Eu não sabia que você era atriz. Sempre andava com uns trapinhos e era pobre. Ficava imaginando que você trabalhava como diarista.

 

Gabriela: - Para ver como são as coisas, né? – Da um riso forçado.

 

A porta se abre e aparece o próprio diretor do comercial.

 

Diretor: - Próximo!

 

Gabriela: - É minha vez! Como estou? Com cara de quem tem a gripe A?

 

Claudia: - “Gripe A”? Você parece que está com gripe de todas as letras do alfabeto. Arassa!

 

Gabriela: - Ta! “Essa amiga parece ser demais! Mas olhando em para ela, entendi o porquê tinha aquele apelido.” – Vai até a porta.

 

No final da aula, Dustin tenta encontrar Camila, que não falou com ele o resto da aula, mas não a acha.

 

Dustin: - Droga! Agora que uma garota quer transar comigo, fico apaixonado! Que mundo cruel!

 

Abel: - Que desanimação, cara. Você ta muito emo.

 

Dustin: - Velho, você já se apaixonou?

 

Abel: - Já!

 

Dustin: - Já ficasse do jeito que estou agora?

 

Abel: - Já!

 

Dustin: - Então, se você compreende a situação, Poe que me chamou de emo?

 

Abel: - Eu não sei... – Fica pensando na resposta – Sou um sem vida. – Disse balançando a cabeça negativamente.

 

Dustin e Abel passam pelo portão do colégio e dão de cara com Simone.

 

Simone: - Oi! Eu queria continuar a nossa conversa.

 

Dustin: - “Continuar”?

 

Abel: - Vais continuar a conversa pra ir onde? Pra uma cama?

 

Simone fixa Abel que sai do local.

 

Simone: - Enfim, sós.

 

Dustin: - Olha, Simone, não vai dar nada entre mim e você. “Acho que essa frase tem algum erro de concordância.”

 

Simone: - Você não me acha atraente?

 

Dustin a seca, de boca aberta.

 

Dustin: - Claro que acho. Minha parte de baixo que o diga. Eu só tenho motivos para não ter nada com você.

 

Simone: - Quais?

 

Dustin: - Eu... eu estou apaixonado pela Camila.

 

Ambos ficam quietos por um tempo até que Simone acaba com o silêncio.

 

Simone: - Entendo. Eu só queria te ajudar já que me falaram que você nunca fez o que... – Olha pra ele tentando usar boas palavras -... você nunca fez. (pequena pausa) Bom... – Suspira -... Morra virgem.

 

Ela vai embora. Dustin fica olhando ela ir embora, perplexo.

 

Dustin: - Ah, cara!

 

Na hora do almoço, Adam entra em casa, deixando Dustin para trás e já vai até a cozinha, sem dar chance de Agatha notar alguma coisa.

Adam fica a encarando.

 

Agatha: - Oi e o presente é só na hora do jantar.

 

Adam: - O que? Sabe quantas horas faltam para o jantar?

 

Agatha: - Agora é meio dia. Como geralmente eu faço o jantar às seis horas, iria demorar seis horas, mas como quero fazer o jantar as nove, então creio eu que irá demorar.

 

Adam: - Não! Não faça isso comigo, eu imploro!

 

Agatha: - Não implore por algo que eu irei te dar de qualquer forma. Só espere a hora chegar. – Ela pega os pratos e bota na mesa – Vamos almoçar!

 

Dustin chega.

 

Dustin: - Hi. – Diz desanimado.

 

Agatha: - Oi, Dustin. Parece pra baixo. Aconteceu alguma coisa?

 

Dustin: - Ah... nada.

 

Agatha: - Já sei! É uma coisa que não tem como falar com uma mulher, certo?

 

Dustin: - Não estou querendo dar uma de machista, até por que eu adoro lésbicas...

 

Agatha: - Dustin, por favor.

 

Dustin: - Sim! Você está certa!

 

Agatha vai até Adam.

 

Agatha: - E olha quem está aqui?

 

Dustin: - Ele. – Responde.

 

Agatha: - E não é só um simples “ele”. Por que você não conversa com o Adam? Vocês andam conversando muito, ultimamente. Se sentirá melhor.

 

Adam: - Mas e meu presente?

 

Agatha: - Só mais tarde.

 

Adam: - Ah...

 

Dustin: - Que presente?

 

Agatha: - É uma surpresa que preparei para o Adam.

 

Adam: - Minha surpresa! – Ele aponta para ele mesmo – Minha surpresa que ela nem quer me mostrar.

 

Agatha: - Calma, ok? Eu vou lá pra sala com meu prato. Vocês podem almoçar e ir conversando. – Ela vai até a sala.

 

Adam olha para Dustin odiando a ideia que Agatha deu.

 

Adam: - Então? O que houve?

 

Dustin: - Teve uma menina que deu em cima de mim hoje. Eu acho que ela queria até... – Vai pra mais perto de Adam e disse baixinho -... transar comigo.

 

Adam: - E isso é motivo para ficar triste? – Pergunta, retornando com seu tom sarcástico de sempre.

 

Dustin: - É que, eu estou apaixonado pela Camila.

 

Adam: - “Apaixonado”? Novamente? Mas não faz nem dois meses que você estava apaixonado pela Laila.

 

Dustin: - Só que agora é diferente! Com a Laila foi decepção, mas com a Camila é bem diferente! Acho que ela também quer.

 

Adam: - Então, tenta nela.

 

Dustin: - Eu estou, mas acho que ela está tentando esquecer o Maycon totalmente.

 

Adam: - É o que eu sempre digo: Gente do moro, a gente nunca esquece!

 

Mesmo Adam quase nunca confortando ele, Dustin já se sente melhor por causa de suas piadas.

 

Dustin: - O problema é que essa guria deu em cima de mim, passou a mão na minha perna, massageou minha barriga.

 

Adam: - Esse é o problema? Uma menina te dando mole e te tocando. (pequena pausa) Fico pensando na solução.

 

Dustin: - É que a Camila viu a menina e como eu disse, ela está sentindo algo por mim. Só que eu não consegui encontrá-la no final da aula. E ainda tive que dispensar a menina que me deu bola.

 

Adam: - Hum... Complicou um pouco. Se você continuar dispensando as garotas desse jeito, nunca irá transar.

 

Dustin: - Adam! Estou preocupado com a Camila e não com qualquer uma que quis me ajudar a... Eu estou preocupado com a Camila!

 

Adam: - Então, liga pra ela.

 

Dustin: - Mas eu vou dizer o que? Tipo, é meio estranho pedir desculpas para uma garota que não tem nada comigo, só por que outra estava dando em cima de mim. E também é estranho eu ligar pra perguntar se ela está bem, já que a única coisa que nos fizemos foi um beijo e só.

 

Adam: - Que tal você comprar um presente e entregar pra ela? Um presente com um bilhete escrito: “Pela nossa amizade que está cada vez ficando maior”. Com o bilhete você estará reforçando que a relação que vocês estão tendo é boa e ela também ficará sabendo que você pensa e não se esquece dela. Isso pode reforçar para que vocês fiquem mais juntos ainda. Que tal?

 

Dustin: - Boa, Adam! Vou lá comprar... sei lá! Flores?

 

Adam: - Isso! Flores são românticas! E compra chocolate!

 

Dustin: - Ok! Vou indo! – Dustin sai da cozinha, quase sem comer nada do prato.

 

Adam: - Meu pequeno garota está crescendo. Estou tão orgulhoso dele.

 

Dustin volta.

 

Dustin: - Eu sei o que eu posso comprar, mas também sei que estou sem dinheiro.

 

Adam: - Meu garoto está crescendo e também está duro. – Dá uma nota de vinte reais para Dustin.

 

Epílogo

 

A mesa da cozinha, agora na sala é preparada com todo o carinho por Agatha. Ela pôs um pano novo sobre a mesa e coloca pratos e copos para dois. Coloca umas velas e as acende.

Adam que está no quarto, desce as escadas e vê todo o preparo que Agatha está dando naquela mesa.

 

Adam: - O que é isso?

 

Agatha: - É o nosso jantar.

 

Adam: - O nosso jantar? – Olha para o relógio – Já é 21:15! Eu dormi por quanto tempo?

 

Agatha: - Estás dormindo desde as três horas.

 

Adam: - Que ótima forma de passar o tempo! Eu deveria fazer isso mais vezes! Mas enfim, cadê minha surpresa?

 

Agatha: - Na-nam! Só depois do jantar!

 

Adam: - Que? Mas que...

 

Antes que Adam solte o palavrão, Gabriela entra em casa um pouco atônita.

 

Agatha: - Oi, Gabriela.

 

Gabriela: - Oi! Oi, Adam.

 

Adam: - Você ajudou a fazer a surpresa? Vocês duas estão nessa? – Ele encara Gabriela.

 

Gabriela: - Que surpresa?

 

Adam: - Você não sabe de nada? (pequena pausa) Burra!

 

Gabriela: - Agatha, será que você poderia vir aqui um pouquinho? – Ela fez gesto com a mão para Agatha vir até ela.

 

Agatha: - Fale, mas seja rápida. O Adam já está ficando louco por causa da surpresa. E como foi sua audiência para ser a vítima da gripe A?

 

Gabriela: - Deu tudo certo. Eu reencontrei uma amiga minha dos tempos de colégio hoje e a gente passou o dia inteiro se divertindo e indo a lojas e tal. Aliás, aqui está seu cartão de crédito.

 

Agatha pega o cartão, desconfiada.

 

Gabriela: - Foi o máximo!

 

Agatha: - Que bom. Foi por isso que queria me chamar?

 

Adam, meio impaciente, se aproxima de Agatha e Gabriela, conseguindo escutar o que elas diziam.

 

Gabriela: - Não... É que... bem... eu estou com vergonha de falar e com medo da sua reação...

 

Agatha: - Gabriela, o que você fez? – Agatha fita ela.

 

Gabriela: - Então, essa minha amiga estava precisando de ajuda e eu disse que iria ajudá-la.

 

Agatha: - “Ajudá-la” como?

 

Gabriela: - Eu disse que conseguiria um lugar para ela por um tempo.

 

Agatha: - E o lugar que você conseguiu é...?

 

Gabriela: - Eu disse que ela poderia passar uns tempos aqui em casa.

 

Adam: - Aqui em casa? – Pergunta.

 

Agatha e Gabriela viram para trás, perplexas de saber que Adam ouvia a conversa.

 

Adam: - Uma estranha vai passar uns tempos aqui em casa? Essa era minha surpresa?

 

Agatha vira para Gabriela que se mostra aflita.

 

Fim do Epílogo