Cavaleiro De Cristal escrita por LBeyond


Capítulo 5
A Marca


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse será o mais emocionante de todos.
Acho que até pode ser um dos mais logos.
E desculpa pela demora!
Tem sido difícil postar novos capítulos esse mês.
É final de ano e a escola tá me cobrando muito tempo.
Pelo menos consegui postar antes do fim do mês! XD
Espero que gostem!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/263972/chapter/5

Joshua e Micha voltaram para casa, silenciosos. Eles não sabiam o que vinha pela frente a partir de agora.

Os pais de Joshua já não o consideravam mais um filho como antigamente (se você já achava ruim o jeito que eles o tratavam quando ele era realmente um filho imagine o pesadelo que foi quando eles não o queriam mais como filho), eles passaram a não ligar mais para ele (eles ligavam pra ele? O.o) e a ignorá-lo (eles não o ignoravam já?).

Joshua chegou em casa ainda em silencio, não havia dito uma palavra desde que saiu do tribunal, marchou em sua marcha fúnebre até seu quarto e lá se trancou.

Tirou seu terno preto, sua camisa e calça social e os substituíram por uma bermuda azul esverdeado, com duas listras laterais laranjas, e uma camiseta preta, com o símbolo da banda Metallica estampada nela, ele a havia ganho de sua tia no seu ultimo aniversario. Ele quase não a usava; não que ele não gostasse dela ou da banda, que sua tia havia lhe ensinado a gostar, mas por causa de Dustin. Para evitar provocações e futuras judiações por parte do irmão mais velho, ele só a usava quando ia visitar a tia.

Mas agora, não havia mais ninguém para lhe perturbar, lhe judiar, lhe chatear, lhe ameaçar, brigar, implicar...

Enfim, em certos pontos ele estava feliz: nunca mais teria que aturar Dustin novamente, mas de certa forma iria sentir falta das implicâncias cotidianas. Tristeza e alegria, depressão e euforia. Sentimentos contraditórios invadiam seu corpo.

Ele estava incomodado. Não sabia o que era que de dentro vinha roendo seus pensamento e suas emoções; sentia dor, frio, calor, não sabia se ficava alegre ou triste pela decisão do juiz. Triste, pois teria que voltar para casa e encarar seus pais depois de ter quase matado seu irmão que agora estava em estado vegetativo no hospital; alegre, pois estaria a salvo com sua irmã longe da cadeia.

Suas idéias também estavam transtornadas quando pensava em algo outro pensamento vinha a interromper as anteriores assim tornando-se um emaranhado de idéias incompletas e mal concluídas; aquilo estava deixando Joshua louco.

Não sabia de onde essa sensação vinha, seria do coração ou somente de sua cabeça, só sabia que uma coisa era certa, ele teria que ver Cristian de novo para que ele, talvez, pudesse ajudá-lo a arrumar as idéias.

Estava tudo tão confuso dentro da cabeça de Joshua que aquilo não o deixará dormir a noite inteira, e ele nem se dera conta de que já havia amanhecido. Ele havia chegado e se deitado a tarde mais ou menos na hora em que ele e Micha costumavam a ir ver Cristian e os cavalos selvagens, mas na hora que ele decidiu ir ver Cristian de uma vez por todas já era aquele mesmo horário do dia seguinte, estava tão agoniado, ocupado tentando entender a si próprio que nem viu que ficou um dia inteiro sem comer, sem dormir, só deitado remoendo as idéias, e so soube que já era outro dia porque o alarme do relógio havia tocado avisando que era hora de ir ver os cavalos selvagens.

Ele se levantou em um pulo, sentiu uma tontura, pois havia se levantado rápido demais depois de passar um dia inteiro deitado, alem de estar fraco e faminto, pois não havia comido nada desde o almoço do dia anterior.

Seu estomago roncou alto, ele pousou a mão na barriga tentando acalmar a “fera faminta” dentro de si. Trocou a bermuda que vestia por sal calça jeans que geralmente usava para ir ver Cristian, ignorando o “rugido da fera”, sentou na cama e calçou seu tênis de caminhada, ia sair do quarto, mas voltou para pegar seu casaco, afinal já estava tarde e a noite fazia muito frio, se realmente queria visitar Cristian iria precisar dele.

Abriu a porta do seu quarto, não havia ninguém e o silencio consumia a sala, exceto pelo barulho da televisão e pela figura de Micha, que estava sentada no sofá assistindo seu desenho preferido, concluiu ele que todos já haviam jantado e se esquecido dele, mas algo lhe chamou a atenção, a expressão de Micha não estava alegre como a de quando ela tinha quando assistia aquele desenho, pelo contrario estava triste sentada na frente da TV. Joshua foi falar com ela:

– Oi Micha. – ela ficou em silencio - Você está bem? – ainda em silencio - Parece triste. – esperou em vão uma resposta da irmã - Olha esse é o seu desenho favorito. Você sempre fica feliz assistindo ele e... – ele foi surpreendido por um abraço, em prantos, repentino da irmã.

– Nos não fomos ver o Cristian. – disse chorando agarrada ao irmão - E eu estava preocupada com você. Você está trancado naquele quarto desde ontem, e Mamãe e Papai não me deixaram levar comida pra você. Me desculpa! – disse entre soluços.

– Não se preocupe eu estou bem. – disse afim de tranquiliza-la, o que não deu certo.

– Não! Você está branco feito o Cristian. – disse preocupada.

– Por falar nisso... Você não acha que deveríamos ir ver ele? –disse aproveitando essa brecha para tirar a preocupação da mente dela.

– Você devia comer um pouco antes, não? – em vão Joshua!

– Não precisa! – disse se levantando e tontura de novo – Vamos logo! – disse tentando disfarçar - Já estamos atrasados.

– Ta bom, mas o Papai, e a Mamãe principalmente, me proibiram de ir até cerca.

– Você diz que nos vamos brincar bem ali e que em vinte minutos nos voltamos e eles nem vão saber que nos fomos lá, se nos voltarmos em exatamente vinte minutos, por que eles não vão precisar ir lá fora para nos procurar se nos voltarmos na hora certa, e alem disso eles nem vão ligar se eu demorar mais um pouco... – ele olhou para ela que lhe olhava com um olhar curioso e preocupado - Preciso muito falar com o Cristian! É uns problemas...

– Você também está tendo sonhos?!? – disse animadamente curiosa.

– Que sonhos? Você está tendo sonhos?

– Não! – disse se defendendo – Eu so perguntei por perguntar. – disse sem graça. Ele abriu a porta e parou no meio do caminho.

– E para sua informação: nem consegui dormir, muito mais sonhar! No estado que estou... eu provavelmente teria pesadelos! – logo se arrependeu de falar isso, pois viu a expressão de preocupação (Nível. Maximo) se estampar no rosto da irmã – Vai lá pedir pro Pai. Ele é mais liberal que a Mãe. – ela acenou que sim com a cabeça e saiu correndo e subindo a escada em direção ao escritório do Sr. Clarent, onde ele costumava ficar depois do jantar – Não se esqueça de pegar o casaco! – gritou para ela, mas como não obteve resposta, ficou sem saber se ela havia escutado ou não.

Com certeza sim! Por que ela voltou com seu casaco rosa claro na mão. Eles dois saíram pela porta da frente, o ar frio e gélido da noite bateu em seus rostos, gelando-lhe os ossos. Devia estar uns 20º lá fora, já estava escuro, apesar de ainda se poder ver os raios de sol poente, ofuscados pelas nuvens, ainda em bons tons de laranja e vermelho sangue transitando para o azul celeste, e desse para o azul escuros, e desse para o negro.

“Vermelho sangue... Azul celeste... Negro...” – pensava Joshua que mesmo sem saber o porque, pensar naquelas cores lhe dava arrepios e fazia seu corpo enriquecer.

– Você vem Joshua? – disse Micha, inocentemente preocupada com o irmão, desprendendo-o de seus pensamentos perturbadores.

– Claro! – disse com um sorriso falso tentando parecer feliz para a irmã. Estendeu a mão para ela segurar e foram de mãos dadas até a cerca.

Chegando lá viram uma cena que não esperavam: Cristian sozinho aguardando-os. Como sempre, ele parecia saber de tudo. Eles não esperavam ver-lo, lá esperando, quando os outros cavalos já haviam ido embora, deitado bem no meio da campina. Joshua e Micha foram ao seu encontro:

– Eu estava esperado por vocês. – disse ele - Vocês não vieram aqui ontem. – ele disse isso como se ele fosse o dono da loja de doces preferida deles, onde as duas crianças iam, todos os dias, comprar suas doses diárias de doces - Eu entendo Joshua – disse compreensivo -, você ficou transtornado com o julgamento. Fico feliz com a sentença. – disse mais alegre - E Micha – continuou com seu tom compreensivo -,sei que você queria muito vir, mas seus pais lhe proibiram e Joshua não estava com você para ir escondido. – ele falava isso como se tivesse visto tudo bem de perto.

– Como você sabe tanto, Cristian? – perguntou Micha.

– Vocês podem não me ver, mas eu estou sempre perto de vocês. Esperava vocês aqui porque queria lhes disser uma coisa muito importante.

– O que? – perguntou Joshua.

– Vocês dois concluíram seus objetivos iniciais, tudo era só uma questão de destino. – disse essa palavra pausadamente: “destino”!

– Quer disser que tudo o que aconteceu tinha que acontecer? – questionou Joshua incrédulo.

– Nem tudo algumas coisas poderiam ter sido mudadas, ou até mesmo evitadas, o futuro é uma coisa incerta. Mas, sim! Tudo tinha que acontecer. – as crianças olharam confusas para o corcel branco, entreolharam-se sem disser uma única palavra. E por fim Cristian disse - Chegou à hora de vocês conhecerem o seu destino. – ele disse aquela palavra da mesma forma e quando terminou de disser isso, ele sumiu como se fosse poeira cósmica, azul como o brilho das estrelas, deixando para trás somente o seu esqueleto que parecia feito de um cristal reluzente, mas não qualquer cristal um cristal que era como o cristal da caveira de cristal do filme “Indiana Jones e a Caveira de Cristal”.

Eles ficaram durante um bom tempo em silencio olhando para aquilo que antes era Cristian, sem ação e incapazes de disser algo. Por fim, Joshua tomou coragem e se aproximou dela, chegando bem perto, olhando de perto aquele esqueleto de cristal.

Viu que as tatuagens, que havia na pele de Cristian, também estavam encravadas no esqueleto. Mas algo chamou sua atenção em especial, o crânio que brilhava e reluzia em tons de azul, brilhos irregulares e nada perfeitos que se combinava com os sentimentos de Joshua em ondas de mesma freqüência, isso deixava Joshua encantado. Pegou o crânio ficou olhando para ele durante um longo tempo.

Micha, incentivada pela curiosidade, também se aproximou do esqueleto, mas Joshua não percebeu, ele estava enfeitiçado pelo brilho do crânio que resplandecia em seus olhos. Micha se agachou e ficou observando a marca do peito do esqueleto (agora sem crânio) de Cristian.

Ficou passando o seu pequeno dedo pela marca, sua atenção foi desviada para algo que estava dentro do esqueleto, por detrás da marca, brilhava mais que o crânio, seus raios de luz era tão fortes que iluminavam o rosto de Micha, seu brilho não era irregular como o do crânio, ele era pulsante e vivo, em um momento brilhava e apagava, mas logo voltava a brilhar de novo, uma coisa pulsava não sabia o que era.

Joshua, de tanto olhar para o crânio, percebeu que ele parecia um capacete e, motivado por uma curiosidade instintiva, e sem pensar, resolveu por ele. Joshua o virou, de modo que ele via sua parte de trás do crânio, ergueu-o com as duas mãos, pousando-o bem encima de sua cabeça, foi flexionando os braços lentamente e o colocou por todo.

Quando posto todo em sua cabeça, Joshua viu durante um breve segundo sua visão da floresta azulada.

Isso foi antes daquilo acontecer!

O crânio brilhou e reluziu e a testa de Joshua ardeu em uma dor insuportável, como se estivese queimando de dentro pra fora a sua carne, marcou-se um símbolo igual ao que Cristian em sua fronte, gritando de dor Joshua tentou tirar o capacete com todas as suas forças, mas não conseguia. A luz que saia do capacete se espalhou por toda parte, até não poder mais se ver nada, nem a paisagem. Só Joshua Micha e o esqueleto de Cristian. Em uma visão onde não tinha nem teto nem chão. Um lugar surreal, daqueles que só se vê em sonhos, ou pesadelos.

O esqueleto de Cristian começou tremer, e a se modificar, irradiando uma luz igual ao do capacete/crânio de Cristian. No meio de todo aquele brilho azul o esqueleto de cavalo sem crânio levitou girando no ar e foi se metamorfoseou aos poucos no ar, até virar um esqueleto humano adulto com um novo crânio, com sua parte posterior alongada.

Foi andando em direção a Joshua, e dentro daqueles buracos vazios sem olhos, Joshua via um olhar ameaçador, que inspirava medo em Joshua, fazendo-o ficar paralisado de medo. O esqueleto foi aos poucos diminuindo de tamanho até ficar do tamanho de Joshua, de feição ameaçadora, os “olhos” do crânio fitaram firmemente os olhos de Joshua, totalmente concentrado como se estivesse olhando as memórias, os pensamentos, a alma, a vida, o passado, o futuro de Joshua.

Sua atenção foi desviada para Micha que estava sentada no “chão” tremendo de medo, assustada que quase não conseguia respirar, o esqueleto olhou para ela por um curto momento, mas seus olhos vazios retornaram para Joshua, olhando profundamente seus olhos chorosos de medo. Pôde-se ouvir um sussurro mórbido vindo do esqueleto :

– É esse! – sussurrou decidido, e o abrasou.

Joshua sentiu como se uma nova força estivese nascendo de dentro dele e, ao mesmo tempo, como se cada osso de seu corpo estivesse sendo quebrado em mil pedaços, reduzindo-se a farelos que eram arrancados um a um da forma mais dolorosa possível. A luz brilhava cada vez mais intensamente, fazendo sumir tudo e todos do ponto de visão de Joshua, que desfalecia em um grito agonizante de dor.



...



Joshua andava cambaleante pela beira da floresta, saia em um passo vacilante e desesperado de dentro da densa floresta, estava fraco, desnorteado, exausto e todo sujo. Coberto de uma sujeira espessa e vermelha. Escoria como visgo pela sua testa e sujava-lhe a visão embaçada com um Vermelho Sangue!

Aquele vermelho cobria suas roupas: a camisa social branca listrada de azul escuro, manchada e rasgada, quase toda em trapos; por debaixo dela restos do que um dia foi uma camisa preta; um jeans preto rasgado em grandes pedaços e desfiado em varias partes, não deixava de esconder os vários cortes, ralados e ferimentos sujos na pele do garoto.

Ele corria o mais rápido possível para casa acima do morrinho, que agora parecia uma montanha como as que se estendiam a oeste, cambaleando e tropeçando atordoadamente. Caiu vaias vezes tentando escalá-lo, por muitas vezes via-se de cara na terra batida do morrinho. Agarrava-se com as unhas roídas na terra agarrando-se onde podia para facilitar sua subida desesperada até a casa, arrastando-se feito um verme na terra.

Na casa um casal de jovens pais, Sr. e Sra. Clarent, haviam percebido a demora do passeio de seus dois filhos mais novos, Joshua e Micha. Procuravam os dois pela casa, na esperança de que estivessem brincando. Já estavam começando a entrar em desespero, já tinham rodeado a casa olhando para o horizonte em busca dos dois, mas eles não estavam onde disseram que iriam estar. A mãe tinha acabado de entrar em prantos quando se ouviu a porta da cozinha se abrir, correram os dois para lá para ver se os filhos estavam bem, mas se depararam com a cena Joshua com a mão na maçaneta da porta naquele estado e cair quase desmaiado sujando o chão da cozinha:

– O que aconteceu? Onde está Micha? O que você fez? – disse em desespero – O que você fez?!? – gritou ela com o menino nos braços, enquanto o marido segurava firmemente o ombro da esposa desesperada. Perguntas repetidas em vão. Joshua estava tão fraco que não podia nem falar, sua visão foi ficando escura, no ritmo de sua respiração ofegante...


No hospital, um medico relatava a situação do garoto na UTI que, apesar de estar nesse setor, estava em estado estável e não corria risco de vida, mas estava muito fraco. A verdadeira razão pela qual ele estava naquele setor era as suas situações, um tanto, incomuns...

– Ele ficara bem Sra. Clarent. – disse o Medico a mãe em prantos – Está com vários aranhões, cicatrizes e ferimentos, alguns leves outros relativamente profundos, mas não corre risco de vida. Porem, algo me assustou muito, em relação ao seu filho, Sr. e Sra. Clarent, e que também me incomodou muito: são as tatuagens dele e as cicatrizes que tem cerca de um mês. – o casal fez uma cara de surpresa e espanto, não sabiam o que estava ocorrendo ali – A Senhora, ou o Senhor. mesmo, Sr. Clarent, sabem onde esse menino tem ido?

– Como assim um mês? Ele só ficou fora de casa por vinte minutos, meia hora no maximo. – disse a Sra. Clarent.

– E como assim tatuagens? Que tatuagens? Joshua é uma criança nunca fez uma tatuagem. – questionou Sr. Clarent.

– Bem, as feridas pelo processo de cicatrização têm um mês. Quanto às tatuagens não são tatuagens comuns, elas parecem ter sido feitas a ferro iguais aquelas feitas para marcar cavalos e gados. Isso, se me permite disser, é macabro. – respondeu o medico – Com licença. Tenho outros pacientes para tratar, sintam-se a vontade enquanto aguardam o resultado dos exames. – disse e se retirou da sala.


Joshua estava deitado em uma cama de hospital sedado, despertava lentamente, vagarosamente tentava abrir os olhos que se recusavam a isso, a luz forte fazia doer seus olhos e arder, como se não bastasse a dor que sentia e o gosto amargo na boca, sua garganta ardia como se o tivessem forçado a beber fel ardente goela abaixo. Questionava baixinho suas dores para que ninguém percebesse que ele acordara.

Sua visão embaçada não lhe permitia ver nada, só a forte luz. Tentou bloquear a luz com a mão esquerda, sua visão foi aos poucos voltando ao normal, o suficiente para ver que sua mão estava enfaixada e manchada de sangue. Uma voz abafada desviou sua atenção da sua mão enfaixada.

– Bom dia, Joshua. – disse uma figura trajando um terno negro, Joshua não conseguiu ver quem era, sua visão ainda estava muito embaçada (talvez fosse a falta do óculos), a voz da figura mau chegava aos ouvidos de Joshua e o que chegava aos ouvidos dele, e o que chegava era como se ele estivesse submerso numa piscina, doía-lhe o ouvido.

– Olá, Joshua. – disse novamente a voz aos poucos voltando normal. A figura começou a andar em sua direção. Aquele andar lhe trazia uma má sensação que Joshua não sabia de onde vinha, que lhe inspirava medo e pânico. Joshua virou o rosto e se protegeu, pondo os dois braços em posição de defesa, em frente ao rosto, uma mão segurou-lhe o pulso, o que fez Joshua abrir os olhos e... ver que a tal figura era somente...

– Detetive Orlando? – perguntou confuso.

– Se sente melhor? – disse o Detetive.

– Bem... sim, mas.... – respondeu ele nervoso.

– Como está se sentindo?

– Melhor do que quando cheguei aqui... – disse Joshua se sentando – Eu acho. – completou.

– Você sabia que a sua irmã desapareceu? – disse o detetive puxando uma cadeira para sentar-se.

– Ah, Micha? – gaguejou Joshua indiferente como se não tivesse ouvido uma única palavra de Orlando.

– Você ouviu o que eu lhe perguntei? – ele não respondeu – Joshua?

– Sim? – disse inocentemente.

– Você lembra de... alguma coisa que aconteceu naquela noite? – disse gesticulando com as mãos.

– Qual noite? – disse admirando as faixas manchadas de sangue na mão direita.

– Joshua você sabe. Aquela noite. – fez uma pausa olhando o menino, que olhava para ele sem entender – Que a Micha sabe...?

Parecia tão diferente daquele menino que viu da primeira vez: rude, durão, irônico, confiante e aborrecedor. Estava frágil, calmo, sereno, tranquilo, confuso e, até mesmo, carinhoso, totalmente o contrario daquele primeiro.

– Você não sabe mesmo. Né Joshua?

– Saber do que?

– Joshua?

– Sim, Detetive Orlando? – perguntou inocentemente.

– Onde esta Micha? – perguntou serio.

Não era possível que aquele garoto tenha mudado para personalidade tão diferente, tão rápido. O garoto tinha sido capaz de matar, pela irmã que amava, sim, mas matar do mesmo jeito. Como um garoto groso tinha ficado tão dócil assim, de uma hora para a outra, e do nada?

Tinha algo errado. E muito errado. Ele tinha falado a ele que a sua irmã tão amada tinha desaparecido e ele se faz como se ele tivesse dito que a garota tinha ido pra casa e que voltaria depois.

– Está em casa. – disse inocentemente olhando pela janela – Há essa hora ela deve estar ir ver Cristian.

– Joshua a Micha desapareceu! Sumiu! Como você pode fazer de conta que isso não aconteceu?!? – disse erguendo num salto, que fez derrubar a cadeira, e quase gritando.

O garoto lhe olhou com uma cara assustada e olhos cheios de lagrimas, isso o fez pensar em outra possibilidade.

– A não ser que... – começou ele pensando melhor - Joshua, você não sabia? - Joshua balançou a cabeça, cabisbaixo, que não, soluçando baixo. Ele estava chorando! – Joshua... – começou ele dando um logo suspiro antes de prosseguir – O que você se lembra? Você sabe de algo sobre a Micha

– Eu não me lembro! – disse isso levantando a cabeça para olhar para o detetive, seus olhos eram chorosos e lagrimas rolavam por sua face.

– Do que se lembra Joshua?

– De poucas coisas, vagamente. – disse enxugando as lagrimas com a mão direita. - Minha cabeça dói! Dói muito! – disse soluçando.

– Quer que eu chame um enfermeiro? – perguntou tentando ser compreensivo, não sabia como agir numa situação dessas.

– Não. Não precisa! – disse ainda chorando, mais seus soluços foram interrompido quando olhou algo em sua mão.

– O que foi Joshua? – disse preocupado ao ver a expressão assustada do garoto.

– Isso é sangue? – disse com a voz tremula, mostrando a Orlando.

– Ah! Não se preocupe! O medico disse que seria normal, isso é por causa da Tatuagem de ferro que você tem na testa.

– Tatuagem? – perguntou confuso.

– É. Tem uma igual na mão esquerda também. – Joshua desenrolou com cuidado a faixa que enrolava sua mão e ficou olhando a marca, com certo espanto.

– Cristian. – sussurrou Joshua.

– Então Joshua. Sei que pode ser doloroso, mas... Do que você se lembra, exatamente?

– Bem, eu e Micha fomos ver Cristian e depois... e depois... estar andando em direção a minha casa sem ela... – disse Joshua voltando a chorar, mas agora em silencio, aquilo estava realmente comovendo Orlando, o garoto estava realmente desesperado – Detetive. Onde está Micha?

– Eu não sei. Nos não sabemos ainda.

– Onde está Micha? – repetiu agressivamente Joshua.

– Nos não sabemos ainda é por isso que... – disse tentando acalmá-lo.

– Onde está Micha!!! – gritou Joshua desesperado.

– Senhor, isso é um hospital e esse paciente está em repouso, se recuperando, se continuar a perturbar o paciente dessa forma eu vou ter que pedir que o senhor, detetive, se retire. – disse o enfermeiro Drake que estava por perto. Drake era o enfermeiro que sempre cuidava de Joshua.

– Eu já estava saindo. – respondeu Orlando. Drake fez que sim e saiu do quarto – Joshua, eu juro que vamos fazer o possível para achar a sua irmã. Mas me prometa uma coisa: que vai tentar se lembra do que aconteceu, está bem? – Joshua acenou que sim, ele tinha parado de chorar, seu rosto ainda estava molhado e continuava com uma expressão desamparada – Tente se lembrar Joshua! – disse saindo do quarto.

– Mas eu não me lembro. Eu não me lembro! – repetiu Joshua baixinho para Orlando, mesmo sabendo que ele não iria escutar, de forma desolada e como se estivese tentando se lembrar de algo, mas por mais que tentasse, por mais que se esforçasse ele não conseguia e se sentia muito mal por isso. Ele sabia de alguma forma o desaparecimento de Micha era por culpa dele, só não sabia como.

Joshua não conseguia dormir, estava agitado e, em certos momentos chegou a ficar histérico, e quando ficava calmo tirava as ataduras da mão e fazia sangrar a tatuagem de ferro. E teve que ser sedado para dormir.

Sedado e mais calmo, ficava deitado na cama do hospital, olhava a chuva pela janela do quarto, já que era uma época chuvosa, isso acontecia com frequência. Tentava lembrar o que havia acontecido, mas tudo em vão não conseguia se lembrar de nada.

Começou a ter pensamentos negativos e de culpa, tanto a si mesmo quanto a Cristian, mesmo sem saber em que parte dessa historia Cristian se encaixava. Mas havia começado a culpá-lo sem perceber, como simples pensamento de que tudo começou a ficar estranho quando eles o conheceram, e que tudo continuaria igual se ele não tivesse aparecido na vida deles, se não os tivesse escolhido.

Passado alguns dias, Joshua já se sentia melhor, conseguia até se levantar da cama e pela primeira vez pode se olhar no espelho depois de chagar no hospital.

Ele se levantou vagarosamente, andou até o outro lado do quarto e ficou frente a frente com o espelho. Olhou sua imagem patética no espelho focando em tudo, desde as batinas de hospital até aos pés descalços, mas fixava principalmente nas ataduras. A da cabeça e a da mão esquerda, ataduras brancas feito algodão e manchadas de sangue vermelho vivo, uma mancha pequena, que formava um circulo perfeito.

Tirou as ataduras da mão cuidadosamente, que assim que foram retiradas elas a marca começou a sangrar em fios que pingavam no chão gelado. Olhou novamente para as ataduras na testa por um tempo e as retirou e, assim como a outra, começou a sangrar, escorrendo pelo rosto de Joshua e pingando em sua batina de hospital, o sangue caia em seus olhos e manchava sua vista de vermelho, mas não se importava.

Ficou olhando as marcas tão fixamente com raiva e ódio de si mesmo e de Cristian, dele por não sabre onde estava Micha e de Cristian por não saber onde ele os havia metido. O ódio e a raiva borbulharam tanto em seu interior, como lava quente de um vulcão em erupção, que fez explodir seus sentimentos com um soco no espelho tão forte que ele se quebrou e cortou toda a sua mão direita.

Sua raiva era tanta que ele nem viu Shelly chegando, ela tinha assistido toda a cena em silencio, e preocupada tentou falar com ele:

– Joshua você esta bem? – ao ouvir aquelas palavras seus olhos se arregalaram ele foi tomado por uma onda de sentimento: tristeza, confusão, raiva e vergonha de que Shelly o visse naquele estado de fúria que ficou sem coragem de se virar para encara Shelly. Ficou lá, na mesma posição, parado com a mão direita ainda no espelho do mesmo jeito que ali ela bateu.

Shelly foi andando devagar em direção a Joshua, andando e andando. Chegou tão perto dele que pode ouvir o coração de Joshua bater forte e lentamente. Ela pegou no ombro dele fazendo-o virar, ela olhou no fundo dos olhos dele, sentiu a respiração fria e descompassada dele entres os poucos soluços baixos, pegou em seu rosto carinhosamente, ele ergueu a mão esquerda, que ainda pingava sangue, e segurou a mão dela, seus olhos estavam cerrados e uma lagrima escapou deles, se misturando com o sangue. Ela o olhou com ternura, esfregando o dedo pelo seu rosto, enxugando aquela lagrima e o sangue, ele abriu seus olhos vermelhos do sangue, olhou para ela com desespero, e ela repetiu:

– Joshua você está bem? – ele não disse nada só se pode ver lagrimas escorrendo pela sua face, e depois ele a abrasou forte chorando e sem querer sujando ela toda com seu sangue e suas lagrimas. Naquele momento Shelly viu que ele realmente não estava bem e o abraçou também, ele estava desesperado por alguém que lhe confortasse e de alguém que lhe compreendesse, ela o deixou abraçá-la pelo tempo que ele precisasse.

E depois de um tempo ele já não estava mais chorando, ele se afastou dela e... bem, pode se disser que ali um sentimento maior do que a amizade fluía, ela olhava fixamente nos olhos dele e ele nos dela, ela segurou no braço dele, tomando cuidado para evitar os ferimentos e cuidadosamente o sentou na cama.

– Vou chamar um enfermeiro para você, pra ele fazer um curativo. – disse ela saindo do quarto, deixando-o sozinho.

Joshua estava tão cheio de raiva e adrenalina no corpo que nem percebera que sua mão estava toda cortada e cheia de cacos de vidro dentro dos cortes.

O enfermeiro Drake chegou com Shelly.

– Ora Joshua, de novo esse problema. E parece que hoje é pior você quebrou o espelho com o punho. Rapaz você é bem complicado. Olha para você todo ensanguentado e cheio de cacos de vidro na mão. Carinha isso deve ter doido um bocado. É, vamos ter que fazer um belo de um remendo em você, vai ter que costurar aqui e bem... Fica aqui enquanto eu pego o material.

Drake saiu do quarto para buscar os materiais, voltou com uma agulha, uma linha e muitos outros materiais para fazer o curativo. Ele pegou um pedaço de algodão com uma pinça e tirou o excesso de sangue do corte, com a pinça retirou os cacos de vidro cuidadosamente do ferimento, pegou outro algodão molhou a na água e limpou os cortes, passou um medicamento em cima dos cortes e os costurou para fechar, por fim enrolou toda a mão cortada em ataduras, a outra mão e a testa com as marcas. Em quando Drake fazia os curativos uma senhora da limpeza retirou o espelho quebrado, limpou o chão e saiu um pouco antes de Drake terminar o curativo.

– Proto! Terminei! – disse Drake se levantando e jogando o material sujo fora – Vê se num me apronta mais nada, viu? – disse sorridente e brincalhão e saiu do quarto.

– E agora? Você está bem? – perguntou Shelly após ver a sombra de Drake sumir de vista e ela ficar a sós com Joshua.

– Bem melhor. Desculpa ter te sujado toda. – disse indicando a roupa de Shelly.

– Não faz mal. – fez-se um longo silencio os dois ficaram se olhando fixamente um pro outro (como sempre!). Joshua estava sentado na cama e Shelly estava sentada na beira da cama perto de Joshua. Shelly se inclinou para perto de Joshua, pegou em seu rosto ternamente, se aproximou mais, de modo que suas testas se encontraram.

E o silencio foi quebrado com o som do beijo de Shelly e Joshua, isso Shelly beijou Joshua e Joshua também a beijou, os dois trocaram beijos e não mais palavras. Joshua pegava nos cabelos crespos e castanhos de Shelly, ou ao menos tentava, pois suas mãos estavam completamente enfaixadas, foi um beijo de amor verdadeiro.

Os dois se separaram um tanto ofegantes, Shelly levantou da cama e saiu do quarto sem disser nada, deixando Joshua apenas com a lembrança do beijo, ele fechava os olhos e lembrava dela. Seu olhar aluado disse tudo: eles estavam completamente apaixonados um pelo outro!

Aquilo iria marcá-lo pra sempre e forever, mais do que qualquer outra coisa, mais até mesmo que suas tatuagens de ferro. Essa seria sua verdadeira Marca.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu disse que ia ser emocionante!
Então? Reviews???