POV Justin

- Obrigado - peguei  troco com a atendente da lanchonete e os dois milk shake ao mesmo tempo. Sai dali tentando guardar o dinheiro em meu bolso e tentando não derrubar as coisas de minha mão.

Já fora da lanchonete, vi Demi ainda sentada no gramado da praça, jogando algumas pedrinhas no lago a sua frente, ela logo me vi ali em frente e começou a rir, se levantou e veio na minha direção.

- Hey, deixa que eu seguro antes que você derrube tudo. - ela pegou os dois copos que estavam em minha mão, ainda rindo.

- Não ria de mim. - tentei parecer bravo, mas logo ri junto com ela. Guardei o dinheiro e Demi esticou o meu shake na minha direção. E assim que peguei vi vários machucados em seu pulso. Minha expressão foi de risonha para de surpresa. Peguei o meu copo com uma mão e com a outra segurei em seu braço, afastando as pulseiras que ela usava. Não sabia o que pensar, o que falar vendo aquilo. Ela ... se .. corta? Nunca pensaria isso se não tivesse diante de tantos cortes. 

Demi puxou seu braço com força, sua expressão não era de surpresa como a minha. Ela estava apavorada, seus olhos já estavam transbordando de lágrimas. Ela abria a boca para falar, mas não conseguia e eu ainda olhava pra ela sem acreditar.

- Nã.. não é .. nada. - disse com dificuldade, gaguejando.

- Como não? Demi, você se corta? - falava negando com a cabeça.

- Já disse que não é nada. - Demi se virou e começou a andar rápido pelo cominho de volta para casa. Já eu não conseguia me mexer, não conseguia acreditar no que vi. Várias coisas se passavam pela minha cabeça. Porque ela fazia isso? Pra tentar chamar a atenção? Não podia ser, se ela quisesse isso faria coisas muito piores. E de todos os pensamentos o que mais gritava em minha cabeça era: Eu quero ajuda-la. 

Demi já estava bem na minha frene, corri em sua direção tentando alcança-la, gritava seu nome e quando ela ouviu percebeu que eu estava seguindo-a. 

- Demi espera.

- Não, me deixa em paz. - ela limpava com força as lágrimas que estavam em seu rosto.

- Por favor .. só quero te... entender.

- Não, você não quer e você não precisa. - ela dizia friamente.

- E porque não?

- Porque você não se importa, com certeza só esta curioso. 

- Eu quero te ajudar. - então ela parou.

- Como é?

- Eu quero te ajudar Demi. Você não precisa disso.

- Ai que você se engana. - ela riu abafado.

- Porque faz isso?

- Faz o seguinte, finge que você nunca vi nada, ok? 

- Acontece que eu não sou muito bom em fingir. 

- Aprende. - ela deu de ombros. - É muito simples, com o tempo você se acostuma.

Ela voltou a andar, já estávamos perto de casa, minha mãe poderia estar lá e eu não queria chegar discutindo com Demi, então deixei ela ir. Eu não sei os motivos dela para fazer isso, mas sei que eu realmente quero ajuda-la.

POV Demi

Estava completamente apavorada, com ódio de mim mesma por deixar verem isso tão facilmente. Não era para ele descobrir, não era pra ninguém saber. O que eu faria agora? Ele podia muito bem contar pra todo mundo. Ia ser a novata louca que se corta. Ou pior, ele podia contar para Pattie que com certeza contaria pro meu pai. Além de que eu não consigo acreditar que ele realmente queira me ajudar, é claro que não, só devia estar curioso. Ninguém realmente se importa e acreditar nele só ia me dar mais uma magoa pra a coleção. Então é isso, vou evitar Justin, falar com ele somente o necessário, principalmente para que Pattie não perceba nada de errado.

Entrei na casa, indo para o meu quarto o mais rápido possível e me tranquei lá. Me encostei na porta e escorreguei até o chão, me sentando lá e chorando. Tudo o que eu queria agora era aquele objeto na minha mão. Me levantei, indo direto para o banheiro, procurando a afiada lâmina, mas minha busca foi interrompida com batidas fortes na porta do quarto.

- DEMI ABRE A PORTA.-  ouvi uma voz rouca gritar. Justin. Não respondi, ignorei completamente voltado para a minha busca. Minha visão estava embaçada, as lágrimas não paravam de cair e a raiva de mim mesma por ser tão burra me consumia.

-  ABRE A PORTA DEMI. - ele insistia.

- ME DEIXA EM PAZ. - gritei de volta. 

Ele parou imediatamente e agradeci mentalmente por ele ter feito o que eu pedi. Mas logo percebi que ele não fez isso por eu ter pedido, pois ouvi alguém chamar por ele, Pattie.

Finalmente achei a lâmina, a raiva que eu senti agora era maior do que a vontade de guarda-la. Estiquei meu braço e passei o objeto metálico ali, logo sentindo o sangue escorrer pela minha pele, fiz isso novamente mais uma vez, meu choro estava cessando, então somente sentei no chão do comodo em silêncio.

[...]

Estava colocando a minha roupa para o meu primeiro dia de aula em Atlanta. Peguei meus cadernos, coloquei em minha bolsa e desci, era cedo ainda então só vi Pattie na cozinha.

- Bom dia Demi. - disse ela sorridente.

- Bom dia. - disse com um pequeno sorriso.

- Animada para o primeiro dia de aula? - claro, com certeza, eu amo estudar. Pensei irônica.

- Er ... Um pouco. - menti, era óbvio que não.

Ouvi passos e logo Justin apareceu na cozinha também, se sentando na minha frente. Eu passei o domingo todo evitando ele, fiquei no quarto, sai de lá poucas vezes. Não queria falar com ele porque com certeza ele ia tocar no assusto de sábado.

- Bom dia gente. - disse ele.

- Bom dia. - eu e Pattie dissemos juntas. Sei que não era pra mim falar com ele, mas tinha que agir normalmente na frente de sua mãe. 

- Bom crianças, eu tenho que ir pro trabalho. - ela disse pegando sua bolsa em cima de uma cadeira. 

- Mãe .. - Justin começou a falar mas Pattie o interrompeu.

-Eu sei, vocês não são mais crianças - ela revirou os olhos e eu ri - Demi, você vai com Justin pra escola ok?

- Ok. - assenti.

- Tenham um bom dia. - então ela saiu, me deixando sozinha com Justin que e encarrava. Abaixei o olhar, pegando uma torrada, a mordendo. Não disse uma palavra até a hora de irmos.

- Vamos então? - ele me perguntou e eu apenas assenti com a cabeça.