Pérola Carmim escrita por Gii


Capítulo 3
Gelo




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Não era linda como antes, agora a tinha o rosto deformado em uma expressão que eu nunca vira antes. Os olhos já não eram os mesmos, estavam amarelos e opacos sobre as olheiras tão fundas e escuras feito hematomas, acompanhando a boca aberta que produzia aquele chiado medonho. E o pior era que ela vinha pelas paredes, andando sobre as mãos e joelhos em uma velocidade aterrorizante.

- Andressa – surpreendi-me em ter reconhecido ela naquela criatura.

- Atire! – quase gritou o homem que estava ao meu lado me estendendo a arma prateada enquanto não parava de tentar arrombar a porta.

Peguei a arma da mão dele e apontei para a criatura que Andressa tinha se transformado.

Minhas mãos tremiam e as palmas estavam suadas de nervosismo. Apertei o gatilho duas vezes e não a acertei.

Já não conseguia respirar normalmente, estava tão nervosa que podia sentir o quão rápido meu coração batia em meu peito.

Mais uma vez senti a mão dele segurar meu braço e me puxar. Ele tinha conseguido arrombar a porta enquanto eu tentava mirar na criatura que corria pelas paredes em nossa direção sem que eu tivesse notado.

Corri por vontade própria dessa vez. Ele nem precisou me arrastar pelo braço. A cobertura do prédio era um espaço enorme. Uma piscina não muito grande ficava na direção em que estávamos correndo.

Eu queria olhar para trás, mas não tive coragem. Tive medo de ver o que nos seguia novamente.

Tivemos que parar de correr. A grade preta sinalizando o limite da cobertura.

Fiquei atrás dele. O chiado ainda nos perseguindo, mesmo que mais baixo no local aberto ainda era possível ouvi-lo.

Um tiro foi disparado e o silêncio tomou o ar em seguida.

Não tinha mais chiado em meus ouvidos, só minha respiração irregular.

Fiquei por um tempo abraçando a mim mesma de costas para a cena. Soltei a arma com certa repulsa e a deixei cair no chão.

Ele pousou a mão em meu ombro e eu tive coragem de me virar.

Levei a mão até a boca em choque.

O corpo estava estendido no chão a nossa frente, o sangue empossado em volta da cabeça. Cheguei perto para ver seu rosto, para confirmar se ainda tinha alguma vida nela.

- Você a matou!

O corpo que jazia próximo aos meus pés não estava com o mesmo rosto demoníaco que nos perseguira. Me ajoelhei ao lado dela, olhando para seus olhos azuis entreabertos e sem vida. Estavam com um pouco de sangue que escorria da testa baleada. Naquele momento eu me senti livre para chorar, mas nada além de duas lágrimas saíram de mim. A incapacidade de chorar me doía mais que qualquer coisa naquele momento.

- Não era mais ela – disse o homem quebrando o silêncio.

Olhei assustada para o lado e vi o homem de preto se abaixar para pegar a arma que eu tinha deixado cair.

- Quem é você? – a pergunta soou meio idiota.

- Vá para sua casa e durma – disse ele, o tom sério me incomodando.

- Não. Vou ficar aqui com você.

Não queria sair de perto dele. Se ele nunca mais aparecesse eu iria perder a oportunidade de ter uma explicação para o que aconteceu com Andressa.

Me perguntei se ele tinha me ouvido, já que ele foi até a saída da varanda e deu as costas para mim e para o corpo de Andressa.

Ele estava com um celular no ouvido, transformando o descaso com a morte de Andressa ainda maior.

Me levantei quando ele desapareceu nas escadas, nem ao menos tive tempo de olhar mais uma vez para o rosto da moça baleada.

- Hey! – tentei chamar a atenção dele para me esperar.

Corri até a saída do terraço e desci o primeiro lance de escadas com pressa. Tínhamos dois andares de diferença, mas como ele andava devagar enquanto falava no celular tive tempo de alcançá-lo.

- Não demore a chegar, o corpo está na cobertura do prédio – o ouvi dizer antes de desligar o celular.

- Para onde está indo? – perguntei, talvez com um tom autoritário demais.

- Para sua casa, ela deixou a bolsa lá, não é?

Chegamos ao andar do apartamento sem muita demora, a porta jogada no chão juntamente com lascas da madeira escura que denunciavam a brutalidade com a qual ela fora posta ao chão.

Entrei antes dele no apartamento vazio. Logo encontrei a bolsa preta de Andressa, abaixei-me para a recolher do chão. Pendurei a fina alça preta no ombro e me virei para a entrada da casa.

- Agora pode dizer seu nome? – perguntei para ele.

Ele estava de braços cruzados no portal onde a porta deveria estar de pé. Suas roupas negras me chamando mais uma vez a atenção. Achei bonito o jeito que o sobretudo igualmente preto cobria seus ombros largos.

William – respondeu ele.


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Notas finais do capítulo

:P "Bom leitor deixa review"