Pérola Carmim escrita por Gii


Capítulo 2
O Intruso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/26355/chapter/2


Fiquei pasma, sem palavras, sem reação. A lógica não me deixava acreditar em nem uma palavra que ela dizia, gritava em minha cabeça que tudo aquilo era mentira e que ela era uma louca. Mas os olhos dela não pareciam mentir, aquele desespero que os olhos dela passavam era real, tão real que me assustou.

– Está dizendo que tem algo como um espírito te perseguindo? – perguntei meio insegura.

– Não sei – disse ela, agora as lágrimas rolando livremente. – Não sei explicar, mas quer me possuir, me atormenta e não me deixa em paz independente onde eu estiver.

– Você precisa se acalmar. Por que não toma um banho e procura relaxar enquanto eu faço uma ligação?

Passei o braço pelo ombro dela e a levei até o banheiro. O banheiro era o único cômodo da casa que já estava completo. Abri a torneira de água morna e a banheira de mármore branca começou a se encher.

– Vai ficar bem, né? – perguntei enquanto saia do banheiro.

– Vou.

– Deixe a porta aberta – recomendei.

Ela já tinha tido a brilhante idéia de se suicidar aquela noite, não queria esse fardo sobre as minhas costas.

Fui para a sala, admito que aquele assunto me deixou com certo medo. Medo de que ela fosse louca e tentasse fazer alguma loucura na minha casa e um pouco, só um pouco, de medo de que ela não fosse louca.

A sala estava vazia, nada do costumeiro telefone fixo preto sobre a mesinha de madeira ao lado do sofá. Tudo que eu tinha era o celular no quarto. Meus pensamentos estavam altos quando me assustei e voltei a vida real.

Um estrondo tinha vindo da varanda, um barulho alto demais para ter vindo de um visinho.

Segui hesitante até a origem do barulho, no começo achando que o maldito filho do visinho de cima tinha jogado alguma coisa novamente na minha varanda. Mas não tinha sido isso. Tudo que vi foi a cadeira em que eu estava sentada há pouco jogada na extremidade oposta da grande varanda.

Passei pela sala a tempo de ver o sofá de três lugares sendo arrastado pelo chão sem que ninguém o tivesse tocado e se chocar com a parede mais distante da sala.

Não gritei, sempre que ficava muito assustada não conseguia gritar.

Corri até o banheiro, não me importando se Andressa estivesse já nua na banheira ou não.

Paralisei quando a vi na banheira. As roupas ainda no corpo, a maquiagem preta dos olhos borrada com o choro e o secador que eu tinha usado mais cedo para fazer o cabelo ligado na tomada suspenso sobre a banheira cheia de água.

– Não faça isso – disse eu com medo de entrar no banheiro e a assustar.

Ela continuava segurando o secador sobre a água da banheira, os olhos mais aterrorizados do que nunca.

– Ele está aqui, não é? – perguntei com medo de ouvir a resposta.

– Sim – disse ela quase em um sussurro entre soluços.

Ela mantinha os olhos vidrados na porta, mas não olhavam para mim, olhava além de mim, como se alguma coisa estivesse parada às minhas costas.

A campainha tocou e me fez pular de susto.

Quem quer que fosse seria bem vindo naquela hora. Mas eu estava com tanto medo de deixar aquela mulher sozinha em tempo de se matar que não tive coragem de desgrudar os olhos dela.

Entrei em um conflito psicológico antes de decidir o que fazer.

A campainha tocou mais uma vez, dessa vez mais urgente.

– Espere aqui, está bem? – pedi sem acreditar na idiotice que eu estava cometendo em deixar uma suicida sozinha. – Não faça nada até eu voltar.

Sai da soleira da porta do banheiro e fui até a porta da sala, tentando não olhar para o sofá fora do lugar.

Antes que eu pudesse rodar a chave a maçaneta girou em seu eixo freneticamente. Me afastei o máximo da porta. Quem quer que estivesse atrás dela estava tentando forçá-la.

Com um baque surdo a porta foi ao chão. Um homem estava além dela, a tinha arrombado com um chute.

– Onde ela está? – perguntou ele com urgência.

– No banheiro – Apontei para o corredor.

Ele foi até o banheiro e me deixou sozinha na sala, olhando para a porta ainda tentando absorver o que estava acontecendo.

Perguntas idiotas enchiam minha cabeça. O que estava atrás daquela mulher? Quem era aquele homem? Como ele sabia que ela estava aqui? O que tinha entrado em minha casa junto com ela?

Um som rasgou o silêncio. Pude ouvir o barulho da água se agitar na banheira e pular para o chão e soube que o pior tinha acontecido.

Quis gritar, não por socorro, mas só por gritar. Mas nada saiu da minha boca, o grito que tinha se formado continuou em minha garganta em um nó desesperador.

A luz no centro do teto que iluminava a sala piscou duas vezes antes de se apagar e mergulhar a casa na escuridão.

Arregalei os olhos em meio ao breu que a sala tinha se transformado, não conseguia enxergar nada através daquele véu negro que me cegava.

A luz fraca da cidade brilhava pela varanda, mas era fraca demais para competir contra o escuro anormal no qual a casa estava mergulhada.

Algo como um chiado veio até meus ouvidos. Não parecia com nada que eu já tivesse ouvido antes, nem parecia ser feito por uma pessoa, mas definitivamente saia da boca de uma pessoa. Permaneci inerte, as costas coladas na parede, o medo me tomando mais que nunca por estar sem saber o que estava acontecendo.

Uma mão pegou meu braço em um aperto de aço. Tentei lutar contra ela, mas foi inútil. Fui puxada por aquela mão, tive que correr para não cair no chão e ser arrastada.

A luz novamente encheu meus olhos, os queimando. Pude ver quem estava me puxando, era o homem que tinha invadido minha casa, estávamos correndo pelo corredor do prédio, subindo as escadas correndo.

– O que está acontecendo? – perguntei enquanto corria sem escolha ao lado dele.

Não tive resposta alguma. Ele nem olhou para mim quando falei. Apenas continuou correndo.

Logo chegamos no último andar do prédio. Décimo oitavo, se não me engano. A porta que dava acesso a cobertura fora fechada, os porteiros a fechavam depois das dez da noite.

– O que houve com Andressa?

– Se matou.

Vi um brilho metálico na mão dele, só então notei que o que ele segurava era uma arma. Não tive tempo para pensar em nada, antes mesmo que eu tentasse o chiado novamente chegou aos meus ouvidos.

– Merda – xingou ele.

Ele deu um chute na porta, abaixo da maçaneta, mas ela continuou no mesmo lugar.

O chiado foi ficando cada vez mais próximo, até que eu a vi.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pérola Carmim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.