Abri a porta do quarto e meu olhar percorreu todo o corredor e a encontrei. Não é que eu acho que às vezes a sorte até me consegue encontrar porque né… nem precisei de perder tempo procurando ela.

- Alexis, sua amiga do coração está precisando de si. – falei debochada. Seu olhar pousou em mim e ela me fuzilou com os seus olhos castanhos. – Não vai vir? Eu acho que o que tenho para conversar com você vai fazer seu dia, semana e ano. – Ela riu irónica.

- Jura que está indo para o inferno!

Mostrei-me surpreendida. - Não é que acertou! – Ela arqueou a sobrancelha e caminhou até mim.

- O que você está dizendo?

- Curiosa? – Fiz um gesto para que ela entrasse no quarto. Ela estava confusa. Fechei a porta e dirigi-me até ela. – Vou ser direta.

- Tudo o que eu quero.

- Preciso de sua ajuda. Eu preciso de sair daqui.

- O Nathan pode ajudar você, afinal é ele que cuida de você. Mas para onde você vai?

- Não quero que o Nathan saiba. Vou fazer um pacto com a Brenda… - Alexis revirou os olhos.

- Você está dando uma de louca, porque não é possível querer ser demónio. E o Nathan vai saber mais cedo ou mais tarde.

- Ele vai saber quando eu já estiver longe, e nem deixe ele me procurar.                       

- Você acha mesmo que eu quero que ele te procure? Brooke, quero você longe. – É, ela não gosta de mim. Porquê? Porque ela gosta de Nathan, mas acha que ele está a fim de mim por isso o meu desaparecimento vai ser bom para ela. - Em que consiste seu pacto com Brenda? – perguntou.

- Ainda não falei com ela, mas eu quero voltar.

- Nathan fala que você não está bem, mas agora estou comprovando. Mas eu te ajudo sim e não irei contar nada para ele, pois tudo o que mais desejo é você e ele afastados.

Apenas sorri. A minha vingança estava se formando aos poucos.

- Esse sorriso me enjoa. – falou revirando os olhos. – Se prepare… já venho tirar você daqui. Apenas preciso de ir ver como a Natalie está, você sabe…  - Ela se dirigiu até à porta e a abriu.

A Natalie é uma desmemoriada, como eu. Está recuperando também suas memórias e quem cuida dela é Alexis.

- Tudo bem. Eu preciso de algum tempo mesmo para pensar.

E a porta fechou de novo.

Acho que não vou ter tempo de me despedir de Nathan, mas até que é melhor assim. Eu não sofro, ele não sofre.

[…]

Sabe quando você decide fazer algo, mesmo sendo difícil, e depois quase acaba desistindo porque acaba pensando demais nesse algo e nas suas consequências? Eu mesma, neste momento.

- Oi de novo, querida! – Alexis falou debochada, entrando no quarto. – Olha o que trouxe para você!

- Acertou Alexis! Sabe, tudo o que eu preciso agora é mesmo de uma cadeira de rodas e uma manta velha. – disse irónica.

Ela fechou a porta do quarto e me olhou surpresa.

- Garota, você é muito burra. Pense, não é melhor que ninguém te reconheça quando estiver fugindo?

- Sim, e…?

Eu não estava entendendo… ah, não. Ela nem pense que me vai colocar feita velha na porra da cadeira.

- Então ninguém te vai reconhecer se você estiver feita demente na cadeira!

O que eu estava pensando!

Contudo, aquilo não era uma ideia tão má assim… e coitada, ela ficaria triste se eu acabasse com todo o entusiasmo que ela estava demonstrando.

- Ah, tudo bem. – soltei um suspiro - Até que você às vezes pensa, Alexis.

- Brooke, você vai ficar aí ou vai vir logo? – falou impaciente, esticando a manta cinzenta em minha direção, com o intuito que eu a pegasse.

Coloquei-a em torno das minhas costas, tapando de leve meus cabelos. Adivinhem qual o pensamento que veio até minha mente? Se pensou no momento, após minha violação, em que eu estava desprovida de roupa e meu olhar encontrou uma manta velha que só por acaso também era cinzenta, acertou!

Tudo isto só me faz pensar que, embora indiretamente, as mantas cinzentas são símbolo de azar na minha vida. Por exemplo, esta irá me acompanhar até ao inferno, meu futuro lar.

- Espera, espera! – Alexis correu até mim e começou a desengonçar meus cabelos. – Assim será mais difícil te reconhecerem!

- Vou confiar…

Ela deu um meio sorriso.

Alexis nem é tão fria quanto isso… Eu sei que ela só me está ajudando porque no meio de tudo isto ela sai favorecida, mas eu acho que aquele sorriso foi sincero.

Endireitei a manta e sentei na cadeira-de-rodas.

- Quando voltar até ao mundo dos vivos, você que vai poder esmagar quem te deixou na sombra.

Colocou suas mãos nas pregas da cadeira e moveu-a até à frente da porta do quarto. O que ela dissera não me reconfortou, se era isso que ela esperava, pois naquele mesmo instante um turbilhão de pensamentos entrou em mim.