Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 9
O Esconderijo Cai


Notas iniciais do capítulo

Aqui está outro capítulo. Um tanto corrido, porém mais trabalhado que o outro. Espero que goste ^^



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Helena encarou Luan meio tensa. Vida tinha razão, teriam de tomar muito cuidado e nunca se esquecer de retocar a camuflagem, ou estariam todos perdidos. A localização do esconderijo se revelaria. E os Senhores Eternos cairiam matando.

― O que vai ser agora? ― perguntou Juliana encarando os bruxos mais velhos.

Os dois a encararam.

― Vamos nos manter escondidos ― respondeu Helena. ― Pelo menos até a próxima reunião, que será no próximo mês.

― Até lá, teremos que treinar muito ― completou Luan.

As três guardiãs e Roberto assentiram veemente. Helena encarou Rodrigo com remorso, e só então notou um filete vermelho e endurecido que escorria de sua testa: sangue.

― Filho, o que aconteceu aqui? ― perguntou a bruxa tirando o cabelo dourado do filho de sobre sua testa, analisando o pequeno ferimento.

― Eu encontrei Abaré ― respondeu ele mal-humorado.

― Maldito homem! ― praguejou ela enquanto Luan balançava a cabeça negativamente em desaprovação. ― Vem comigo, vou te dar sanationem.

Helena guiou o jovem bruxo até a cozinha da casa. Esta tinha muitas janelas, mas nenhuma cortina. A porta dos fundos também era de vidro, o que fazia o cômodo ser bastante iluminado. Um balcão de mármore claro, com gavetas, ao centro; um fogão embutido em outro balcão que acomodava eletrodomésticos; e vasos de plantas e fruteiras para terminar o visual. Helena era uma mulher perfeccionista e fazia tudo até os últimos detalhes. Mesmo que fosse uma casa provisória.

Caminhou até um dos vasos de planta sobre o balcão central. Dentro deste, havia uma planta muito interessante. Em vez de galhos, a planta tinha tentáculos negros que não paravam quietos, além de olhos nas pontas de cada um, também escuros. A mesma emitia sons estranhos, como sussurros.

Helena se aproximou dele e, com uma faca, arrancou um dos tentáculos, que logo parou de se mover. Assim que o tentáculo foi arrancado, outro cresceu no lugar, tão vivo e chacoalhante quanto o outro. A bruxa foi até o balcão, pegou um copo e espremeu o olho negro da planta, até todo o líquido espesso e negro cair. Depois jogou o tentáculo inútil no lixo e entregou o copo ao filho. O jovem bruxo, sem hesitar, tomou o líquido. Este era espumante e quente. A sensação do gosto dava vontade de rir e de chorar, dava medo e coragem. Assim que Rodrigo tomou tudo e pousou o copo sobre o balcão, sentiu um frio subir da barriga para testa.

― Sarou ― disse a mãe inspecionando o machucado novamente.

Depois, com um pano, Rodrigo limpou o sangue. Não havia nem sinal da ferida que estava ali segundos antes.

Helena o encarou com as sobrancelhas franzidas. A luz que entrava pelas janelas realçava ainda mais seus olhos castanho-claros.

― Sinto muito, filho ― disse ela.

― Pelo que? ― perguntou o jovem cruzando os braços e franzindo as sobrancelhas.

― Por ter te envolvido nisso e nem ter conseguido salvá-lo, antes de virmos para cá ― respondeu ela. ― Seu pai disse que você sabia se cuidar sozinho e, bem... ele tinha razão.

― Tudo bem, mãe ― disse ele sorrindo com o elogio.

A mãe também sorriu e esticou os braços, pedindo um abraço. O bruxo não pensou duas vezes e se atirou nos braços da mãe. Dois segundos depois, eles se soltaram.

― Agora, eu tenho que fazer o almoço ― disse ela sorrindo.

O jovem assentiu sorrindo e voltou para a sala. Suspirou com alívio ao ver os guardiões e seu pai com a televisão ligada e o videogame num jogo de corrida. Odiaria ter que treinar agora. Ainda estava cansado da luta contra aquele velho do ar.

― Quem está ganhando? ― perguntou o bruxo se sentando  ao lado de Victória, o único lugar disponível.

― Seu pai ― respondeu Juliana sorrindo.

Na disputa, estavam Roberto, Luan e Laura. Juliana, Victória e Rodrigo eram a platéia, que vaiavam ou comemoravam, dependendo do jogador. A cena era realmente hilária e divertida.

― O almoço está pronto ― disse Helena da cozinha, quando um cheiro maravilhoso invadiu a sala.

Todos, desligando a TV e o videogame, saíram correndo para a cozinha. Lá, um banquete enorme os esperava. Espaguete, bifes, filés, saladas... Tudo em abundância. Sentaram-se todos e comeram em completo silêncio. Quando terminaram, Rodrigo sentiu seu corpo como gelatina. Um sono agradável lhe invadia o corpo inteiro.

― Eu preciso dormir ― disse ele. O pai o guiou até um quarto vago, o deixando lá com um sorriso.

O pai o guiou até um quarto vago, o deixando lá com um sorriso. Este, por sua vez, nem teve tempo de analisar o local, só de cair pesadamente sobre a cama. Talvez o efeito do sanationem incluísse sonolência. O menino pegou no sono assim que fechou os olhos. Teve sonhos bem aterrorizantes.

Assim como Roberto, o bruxo fora transportado por entre nuvens negras de tempestades: frias e que pinicavam. Quando se deu por si, estava no mesmo lugar do sonho de Roberto: no palácio dos Senhores Eternos. O teto abobadado com desenhos coloridos da Criação, o corredor ladeado de colunas e o Poder, sobre seu trono dourado. Mas, por mais que o jovem se esforçasse, não conseguia ver seu rosto. A Sombra da Ignorância era forte demais nele, até para Rodrigo. Notou alguém ajoelhado, bem em frente ao mestre dos Senhores Eternos. Como estava de costas, Rodrigo só conseguiu ver que seus cabelos eram curtos, dourados e cacheados: era o mesmo Senhor Eterno que havia destruído sua casa!

― Oh, grande Poder ― disse o Senhor Eterno que estava num plano mais baixo. ― Habilidade e Força falharam. Imploro que venha a mandar servos teus mais poderosos.

O mestre no trono nem se mexera.

― Imploro-te! ― insistiu o Senhor Eterno loiro se humilhando, colocando a face no chão de mármore claro. ― O senhor precisa me ajudar! Imploro-te!

O senhor sobre o trono passou a mão direita sobre o capelo dourado da naja cuidadosamente. Desceu os dedos até a boca escancarada dela e tocou suas presas.

― Não posso fazer nada ― disse o Poder com sua voz imponente e grave, porém um pouco cansada. ― Sabe muito bem que eles usam magia de camuflagem, para passarem despercebidos por nós.

O Senhor loiro ergueu o rosto.

― O grande mestre está dizendo que não pode achá-los? ― perguntou ele.

Poder se inclinou no trono e esticou a mão para o Senhor Eterno no plano mais baixo. Ele pousou as mãos sobre a cabeça e começou a dar gritos horríveis. Depois o Poder o levantou, apenas com gestos da mão e o fez chocar-se contra uma das colunas, depois contra outra, e outra, e outra, quando enfim deixou o homem cair pesadamente no chão, com um estrondo.

Nunca mais me desafie desse jeito, dizendo que eu não posso fazer algo ― disse o Poder com uma voz firme e poderosa. ― Eu posso tudo! Se essa cena se repetir, não será apenas a sua cabeça a doer, mas a sua alma, que será consumida pela Morte.

O outro Senhor Eterno se colocou de joelhos novamente, com muito esforço e gemidos de dor.

― Perdão, oh meu senhor ― disse ele curvando a cabeça.

O Poder bufou e voltou a se recostar no trono.

― E eu sei exatamente onde estão ― disse ele depois de um tempo em silêncio. ― Mas não posso mandar ninguém até eles. Vai contra as Leis Eternas.

― Mas, meu senhor, eles próprios já infringiram as Leis ― lembrou o Senhor Eterno depois de tossir. ― Encare isso apenas como um castigo. Pela insolência deles.

Poder ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo ponderar as possibilidades.

― Está bem ― concordou ele por fim. Mande chamar o Terror. Os demônios das sombras têm trabalho a fazer.

― Obrigado, meu senhor ― disse o outro Senhor Eterno com divertimento no tom de voz, se esforçando para levantar.

Então se virou para Rodrigo e sorriu. Era mesmo o Senhor Eterno que havia destruído a sua casa. Com um sobressalto, Rodrigo estava novamente dentro das nuvens negras de tempestade, sendo transportado para outro lugar. Agora, estava numa espécie de sacada. As paredes eram negras e tinham lindos desenhos dourados. À sua frente, estava o parapeito, sustentando o teto acima com colunas da mesma cor das paredes. A visão além da sacada não era nada agradável: um céu negro, com uma lua enorme e vermelha. Sentada no parapeito, estava quem Rodrigo mais queria ver naquele momento: o amor de sua vida.

― Júlia! ― ele disse e correu em sua direção.

Ela desceu e o abraçou bem apertado.

― Amor, onde está? ― perguntou ela. ― Não consigo encontrá-lo em lugar algum. Está usando magia de camuflagem?

― Eu estou com os meus pais ― respondeu ele. ― Estão usando esse tipo de magia para nos manter escondidos do Poder e dos seus servos. Mas acho que não adiantou muito, porque acabei de ver o Poder dizer que nos localizou.

― Mas que droga! ― reclamou Júlia e balançou a cabeça negativamente, se levantando do parepeito num salto. ― Precisam sair de onde estão imediatamente! Se o Poder os localizou, será apenas uma questão de tempo até chegarem a vocês.

― Eu sei ― disse o bruxo de maneira triste. ― Mas, para onde iremos?

Júlia voltou-se para o horizonte sombrio, parecendo pensar. Rodrigo se juntou a ela, a encarando, quando um sorriso se formou no rosto da Senhora Eterna.

― Vocês podem vir para cá! ― disse ela. ― Nunca acharão vocês no meu castelo! E aqui a comida é abundante!

Rodrigo franziu a testa tristemente.

― Como vou convencer meus pais disso? ― perguntou ele.

― Simples, é só me dizer onde você está que eu vou até você! ― respondeu ela empolgada com a idéia. ― Conversarei com eles, vai dar tudo certo!

― Para falar a verdade, eu não sei onde estamos ― disse ele encabulado. ― Mas é em alguma floresta, numa cabana.

― Acho que sei onde fica ― disse ela sorrindo animada. ― Minha irmã já me mostrou esse lugar.

Então estendeu a mão para o bruxo. Ele a segurou e, num piscar de olhos, estavam os dois no quarto vago da casa.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram do esconderijo? E do sanationem? Mande reviews ^^
E até quarta.



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