Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 5
A Senhora Eterna


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo está um tanto mais animado que os outros. Espero que goste ^^



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― Como assim?! ― perguntou o bruxo confuso e assustado.

― Os repórteres disseram que seus pais propuseram igualdade entre bruxos e guardiões ― explicou Roberto se sentado ao seu lado. ― Mas eles negaram, dizendo que isso desequilibraria as Leis Eternas. Então, seu pai disse que se a proposta não fosse aceita até a próxima reunião, ele, sua mãe e você irão se mudar para lá!

Rodrigo estava boquiaberto. Aquela era, sem sombra de dúvida, a decisão mais radical que os pais já haviam tomado. Tudo bem que seu pai era um bruxo da noite e sua mãe uma bruxa do dia e os dois eram um dos mais influentes de seu mundo, mas, ir a reunião de bruxos que eram tão, ou mais, influentes que eles e propô-los uma mudança drástica como essa nas Leis Eternas? Os Senhores Eternos iriam matá-los! Era radical demais.

O bruxo e o dragão se encararam tensos, trocando pensamentos num milésimo de segundos, antes de se levantaram num salto.

― Eles querem nos matar?! ― perguntou o bruxo desesperado.

E então a casa estremeceu levemente, derrubando uma fina camada de poeira sobre eles. Roberto também se pôs de pé, alarmado, quando três figuras pularam para dentro do local, chutando a porta. As três eram meninas que deviam ter a mesma idade do guardião. Vestiam calça jeans, camisas de cores diferentes, e coletes pretos.

― Vocês precisam sair daqui agora! ― disse uma delas alarmada. Era loira e tinha os olhos profundamente verdes. Traziam nas mãos dois katares de lâminas duplas. Sua camisa era azul.

― Quem são vocês? ― perguntou Rodrigo cerrando os punhos. ― E o que pensam que estão fazendo invadindo minha casa?!

― Podemos explicar no caminho, se vier conosco ― disse uma segunda. Esta tinha os cabelos e olhos escuros. Trazia um chicote enrolado e preso a um cinto. Sua camisa era vermelha.

― Não vou a lugar nenhum sem saber quem são e o que querem ― insistiu Rodrigo firmemente, as encarando.

Bruno tinha o mesmo olhar firme, cravados nas três. Seus músculos estavam visivelmente tensos o que indicava: Um movimento brusco e eu arranco o seu braço.

Roberto, por sua vez, estava boquiaberto e os olhos brilhavam, como se aquelas três fossem as deusas mais lindas do Olimpo.

A terceira bufou, impaciente.

― Olha aqui garoto, não temos tempo para isso ― disse ela. Esta tinha cabelos ruivos tingidos e olhos azuis profundos. Trazia em uma das mãos uma pistola que parecia bem mais moderna do que as que vemos na Terra. Sua camisa era amarela. ― Quer sobreviver? Então sugiro que venha conosco.

Foi então que a casa à frente estremeceu, com um som ensurdecedor de uma explosão. Rodrigo olhou para as três meninas, que pareciam tensas e desesperadas.

― Vão vir conosco ou não?! ― perguntou a loira. ― Sabemos dos seus pais e só queremos ajudar.

Rodrigo hesitou, mas depois de olhar fixamente para os olhos da loira e perceber sua sinceridade, finalmente assentiu.

― Para onde vamos? ― perguntou ele.

― Para longe daqui ― respondeu a morena. ― Como saímos desse lugar sem ter que passar pela frente?

― Tem uma passagem por aqui, venham ― disse ele as guiando pelo túnel até a garagem e em seguida saindo dela.

Lá fora, deram a volta na casa correndo o mais rápido possível, chegando à rua. Lá, um veículo os esperava. Era parecido com uma van, porém tinha um lindo teto de vidro fumê e pneus para rali.

― O Bruno não vai caber aí! ― lembrou o bruxo e as três meninas torceram o nariz.

― Nós três vamos com o seu guardião por terra e você nos segue pelo ar, com seu dragão ― disse a ruiva. ― Só precisamos sair logo daqui!

Mas, antes que pusessem o plano em ação, a casa explodiu em um cogumelo de fogo, os lançando para trás e queimando partes das roupas do bruxo e dos guardiões. Roberto, finalmente voltando a si, disse, se levantando:

― O que foi isso?!

― Onde você estava nos últimos dez minutos?! ― perguntou Rodrigo se levantando ao seu lado. ― Três meninas invadiram a minha casa e ela acabou de explodir!

Roberto olhou em volta.

― Onde está Bruno?

O bruxo também olhou em volta, mas era meio confuso com toda aquela fumaça espessa. Estendeu as mãos para frente e a dissipou com apenas um movimento de mãos. As três meninas estavam em pé, bem à frente deles, com as armas em punho. Bruno estava bem atrás delas, olhando para a casa em chamas. O bruxo inspirou aliviado ao ver o dragão intacto. Então, Roberto e o bruxo se aproximaram das meninas. Os dois com preocupação e desespero no rosto.

― Quem está lá dentro? ― perguntou o bruxo.

― Provavelmente um Senhor Eterno ― respondeu a morena tensa. ― A proposta de seu pai foi muito forte.

Rodrigo arregalou os olhos, assustado. Um Senhor Eterno bem em sua casa! Nem mesmo o bruxo mais poderoso poderia vencer um deles. Eram os seres mais poderosos de seu mundo. Realmente seus pais passaram do limite com a proposta.

― Vamos embora logo, então! ― disse o bruxo e montou em Bruno desesperado.

As meninas e Roberto entraram logo no carro e ele saiu em disparada, cantando pneu. As chamas aumentaram, fazendo os pêlos do braço do bruxo se arrepiarem de medo. E então ele apareceu. O ser que fez aquilo saiu pelo que sobrou da entrada de sua casa. Alto. Cabelos curtos, cacheados e loiros. Os olhos eram profundos e cinzas como uma nuvem de tempestade. Usava uma camisa de gola vê marrom-clara, jaqueta de couro, calça jeans escura e um colar prateado no pescoço. Não devia ser mais velho que seu pai.

O Senhor Eterno olhou diretamente para Rodrigo e deu um meio-sorriso sádico. O bruxo, desesperado, alçou vôo e seguiu o carro das três meninas estranhas. Olhava para trás de cinco em cinco minutos, para se certificar de que não estava sendo seguido. Para sua sorte, o Senhor Eterno desistira dele, mas a nuvem de fumaça que subia de sua casa ainda era visível, mesmo depois de voar por quase meia hora.

Olhou para baixo, ainda seguindo o carro e entendeu o porquê dos pneus de rali. Estavam passando por uma floresta um tanto densa e coberta por pedras. Viajaram mais para o coração desta, onde estacionaram o carro e Bruno pousou.

― Onde estamos? ― perguntou o bruxo desmontando Bruno.

― No esconderijo das três guardiãs ― respondeu Roberto maravilhado, enquanto as três meninas camuflavam o carro com aparelhos de invisibilidade.

― Como as conhece? ― perguntou Rodrigo, confuso.

― Elas são as três melhores guardiãs de todos os tempos ― explicou Roberto. ― Não tem mestres bruxos, mas protegem qualquer um que precise de ajuda contra os Senhores Eternos.

Rodrigo as observou por alguns instantes. Pareciam jovens comuns. Com algumas armas bem peculiares, mas meninas comuns. Deu de ombros.

― Já que você diz.

Então as meninas apertaram alguns botões em seus cintos e uma espécie de paralelepípedo enorme surgiu do chão. Só quando as portas deste se abriram é que Rodrigo notou que se tratava de um largo e alto elevador. Ergueu uma sobrancelha, quase impressionado.

― Onde vou deixar o Bruno? ― perguntou ele.

As três meninas se entreolharam reprimindo um risinho.

― Você e o dragão entram primeiro ― disse a ruiva sorrindo. ― O elevador não vai agüentar o peso de nós todos.

O bruxo assentiu e entrou no largo elevador com o dragão ao seu lado. As portas se fecharam e os números começaram a diminuir, na medida em que o elevador descia. No andar quatro, o bruxo sentiu um frio na barriga e as portas se abriram. Estava agora numa sala super confortável. Poltronas, sofás, uma TV enorme, quadros, esculturas... Tudo era suntuoso e aconchegante. Bruno trazia a mesma expressão no rosto: admiração. Havia uma porta de vidro aos fundos da sala enorme. Rodrigo foi até lá. O lugar à frente era ainda maior. Uma piscina enorme e, em volta, um piso de madeira. Acima, um teto de pedra maciça.

― Gostou, é? ― perguntou a menina loira, aparecendo do nada.

― Muito bonito, com certeza ― respondeu o bruxo fascinado.

― O seu dragão vai ficar aqui fora, se não se importar ― continuou ela.

O bruxo e o dragão trocaram um olhar.

Tudo bem, amigão, eu fico aqui” disse o dragão na mente de Rodrigo.

Certeza?” perguntou o bruxo.

O dragão assentiu com um aceno de cabeça.

― Tudo bem ― disse Rodrigo finalmente.

― Que bom, agora venha ― disse ela e entrou.

Rodrigo deu um beijo no focinho úmido de Bruno e seguiu a menina. Ela subiu uma escada que ficava à direita da grande sala. Esta dava para um corredor, que era cheio de portas.

― Seu quarto é aqui ― disse a menina parando em frente a um dos quartos.

Rodrigo caminhou até ele e abriu a porta. Era simples, mas confortável: uma cama, uma escrivaninha, uma porta que provavelmente daria para um banheiro, um armário e um espelho numa das paredes.

― Gostei ― disse por fim. ― Onde está o Roberto?

― No quarto da frente ― respondeu ela gesticulando com a cabeça para o lado.

O bruxo assentiu sorrindo. A menina sorriu e, com um aceno de cabeça, saiu, fechando a porta atrás de si. “Meninas esquisitas” pensou o bruxo.

Concordo” disse a voz de Bruno em sua mente.

Espera, podemos nos comunicar mentalmente até distantes um do outro?

É o que parece

Legal” disse o bruxo sorrindo.

O dragão não disse mais nada, então o jovem entrou no banheiro, despiu-se imediatamente e se banhou com uma água morna e relaxante. Nada se comparava àquela sensação. Nem mesmo quando usava magia para estar limpo. Depois estalou os dedos e estava com roupas confortáveis e quentinhas. A única coisa incômoda naquilo tudo era a confusão em sua mente. Quem era aquele Senhor Eterno e onde estariam seus pais? E, com um meio-sorriso, o bruxo se lembrou que seus pais eram um dos bruxos mais poderosos de seu mundo. Onde quer que estivessem, estariam bem. Com esse pensamento e ainda sorrindo, Rodrigo se jogou na cama e se cobriu até o pescoço. Bateu palmas duas vezes e as luzes se apagaram. Foi quando uma voz familiar soou pelo quarto.

― Amor ― disse a voz. Era tão doce quanto se lembrava.

O jovem se sentou, admirado, e bateu as palmas mais uma vez, fazendo as luzes se acenderem novamente. Sentada à escrivaninha estava a pessoa que Rodrigo mais amava: Júlia. Cabelos escuros e ondulados. Olhos verdes e penetrantes. O seu perfume favorito: o de rosas. O bruxo se descobriu depressa e se levantou num salto. Os dois correram para os braços alheios e se entrelaçaram, se beijando lenta e apaixonadamente.

― Amor, que saudade ― disse ele a apertando contra o peito. ― Ficou sabendo da minha casa?

― Como não poderia saber? ― disse ela. ― Está em todos os noticiários! Vim te ver assim que pude, para saber se estava bem. Morri de preocupação.

― Você saberia se eu não estivesse bem ― disse ele e a soltou, a olhando nos olhos com um sorriso. ― Você é a Senhora Eterna da morte, se lembra?

Ela sorriu, envolveu o pescoço do jovem bruxo e, o puxando para si, lhe beijou novamente.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram da Júlia? A acharam assustadora? E o amor dos dois, meio errado demais? Mande reviews ^^
Até terça ^^