Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 4
A Conexão


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste deste capítulo, pois foi um tanto trabalhado. Boa leitura ^^



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― Que tipo de dragão é esse? ― perguntou o bruxo.

― De uma raça muito rara ― respondeu Roberto ainda observando o monte de estrelas que vagava pelo céu com grande admiração. ― Talvez até mais rara do que a dos aéreos.

Rodrigo arregalou os olhos e então notou que seu anel brilhava mais do que nunca. Os dois olhos de lápis-lazúli da águia eram como duas lâmpadas pequenas. Era um sinal.

― Olhe ― disse Rodrigo, mas logo notou que o guardião também observava seu símbolo de bruxo. ― Aquele é o meu dragão!

O jovem bruxo pulou da cama apressado. Com um estalo de dedos, estava trajando suas roupas de bruxo novamente e Roberto seu cinto.

― Vamos atrás dele ― disse Rodrigo intensamente.

Roberto o seguiu para fora de casa, onde o bruxo criou novamente as asas brancas e enormes e os dois seguiram o grande réptil negro. Este voava calmamente, nem suspeitando que estava sendo seguido. Ou estava os ignorando completamente. Não era certo afirmar nada. Agora, mais próximos dele, os dois jovens podiam ver melhor o tamanho e a forma. Era bem menor do que os outros dragões que Rodrigo enfrentara: devia ter uns três metros de comprimento da ponta da calda até o pequeno chifre que brotava de seu nariz. As asas eram enormes e igualmente cheias de estrelas. O corpo era mais amplo do que os dos dragões-elétricos e Rodrigo se perguntou como seria confortável montar em costas tão largas. Roberto observava o dragão com curiosidade. Tinha as cores mais lindas que ele já vira em um dragão.

Então o réptil retraiu as asas de couro negro e começou a descer. Roberto e Rodrigo o escoltaram. Seguiram para uma floresta escura, onde o dragão quase se camuflou na escuridão, não fosse pelos brilhos das estrelas em todo o corpo. Assim que tocaram os pés no chão úmido da floresta, o chão inteiro se iluminou e em seguida todas as folhas de todas as árvores. Azul, verde, violeta. Era uma explosão de bioluminescência. Até mesmo as pedras, que ficavam no leito de um rio ali perto, brilhavam. Foi quando o dragão ficou completamente visível. Os olhos eram como duas luas pequenas. O rosto era triangular, como o de uma serpente. A cauda era longa e robusta. Tinha quatro patas com garras afiadas além do par de asas enormes. Rodrigo, assim que visualizou melhor o réptil, caminhou em sua direção. Roberto o observava e o seguia, caso algo saísse errado. Assim que o dragão notou a presença dos jovens, virou-se para eles e se sentou, de maneira altiva. Os olhos estavam cravados em Rodrigo, que hesitou, tamanha era a imponência do animal.

― O que eu faço? ― perguntou o bruxo.

― Você tem que o cumprimentar ― disse o guardião. ― Vá até lá e toque em uma de suas patas. Se ele achar que você é digno de tocá-lo novamente, vai se curvar para você.

Rodrigo engoliu em seco, mas começou a caminhar em direção ao grande réptil. Este, por sua vez, só o acompanhava com o olhar lunar. Rodrigo tocou uma de suas patas dianteiras e recuou para ver a decisão do dragão. Roberto, por sua vez, tinha o punho cerrado, nervoso. O jovem bruxo não conseguia tirar os olhos do grande dragão, temeroso que ele o atacasse. E então aconteceu. O grande dragão noturno se mexeu e se deitou sobre a grama luminosa bem lentamente, com um olhar tranqüilo.

― Ele achou que você merece ― explicou Roberto sorrindo empolgado. ― Agora vá até lá e toque sua testa.

O bruxo hesitou um pouco, mas logo avançou na direção do réptil e tocou sua testa. No mesmo instante, suas mentes estavam em conexão. Rodrigo viu cores, sabores e aromas bem familiares. A cor do céu: azul. Sua comida favorita: frango. O cheiro que o jovem bruxo tanto adorava: o das rosas. Assim que afastou a mão do dragão, seus olhares se encontraram e eles sabiam que tinham nascidos um para o outro. Que tinham um destino a seguirem juntos.

― É ele mesmo ― disse Rodrigo olhando para Roberto e sorrindo empolgado.

Seu anel brilhava com ainda mais força agora. Ele tinha certeza completa que achara seu dragão.

― Monte-o ― disse o guardião. ― Ele é seu agora.

Rodrigo assentiu sorrindo e fez as asas brancas se desfazerem, montando às costas de seu réptil, que se ergueu novamente. Suas costas eram quentes e aconchegantes, como o bruxo havia imaginado.

― Que nome dou a ele? ― perguntou Rodrigo.

― Isso é com você ― respondeu o jovem guardião.

Rodrigo o olhou uma última vez e decidiu logo:

― Bruno ― disse ele e o dragão chacoalhou o corpo.

― Por que Bruno? ― perguntou Robert confuso.

― Esse nome significa escuro ― respondeu ele. ― E ele é escuro como a noite.

Roberto assentiu com um sorriso.

― Suba! ― disse o bruxo desfazendo as asas de seu amigo também. ― Vamos para casa, Bruno!

Assim, o dragão abriu as duas asas enormes e alçou vôo. Rodrigo, agora com a mente conectada à do dragão, conseguiu sentir a sensação exata das asas abertas, como ter garras... Era como se ele e o dragão fossem um, por isso foi bem fácil levá-lo para casa.

Ao chegar, Rodrigo pousou o dragão na rua e o desmontou.

― Onde iremos deixá-lo? ― perguntou o bruxo.

― Onde seus pais deixam os dragões deles? ― perguntou Roberto também descendo do dragão. ― Seria mais fácil deixá-los todos juntos.

Rodrigo assentiu e encarou o dragão, que parecia confuso. Então ele caminhou até ele e tocou seu focinho, que era de uma pele lisa e úmida.

― Está tudo bem, Bruno ― disse o bruxo acariciando o réptil. ― Você vai morar comigo agora. ― E sorriu.

O dragão suavizou a expressão e se colocou a andar, lado a lado com o bruxo. O menino o levou para dentro da garagem. Lá, havia uma passagem grande que ia para trás da casa, onde os dragões ficavam. Bruno olhou o local com curiosidade e começou a farejar os objetos jogados pelo chão: lençóis para aquecer os dragões, palhas para deixar o chão mais confortável e as tigelas enormes onde eram depositadas as carnes variadas.

― Tenho que avisar meu pai que precisamos de uma nova tigela ― disse o jovem bruxo sorrindo para o amigo.

Roberto sorriu rapidamente, mas de repente arregalou os olhos, apavorado.

― A reunião! ― e olhou o relógio. ― Ainda dá tempo, vamos!

― Eu não posso deixar o Bruno aqui sozinho agora ― respondeu o bruxo. ― Ele precisa de mim.

O guardião deixou o estresse se esvair e observou a conexão poderosíssima que unia o bruxo e o dragão: até suas expressões eram iguais. Então ele sorriu.

― Ok, mas eu preciso assistir ― disse ele, colocando as mãos nos bolsos logo em seguida. ― Prometi aos seus pais que iria ver.

― Tudo bem, mas antes disso, traz alguma coisa para o Bruno comer? ― perguntou o bruxo e deu um sorriso.

― Ok ― respondeu o guardião sorrindo e caminhando para dentro da casa.

O bruxo virou o olhar para o dragão, que também o encarou.

― Nem acredito que finamente achei você, meu dragão ― disse o jovem e abriu os braços tentando envolver o corpo largo do réptil, sem sucesso.

O dragão deitou a cabeça sobre as costas do jovem, o dando uma espécie de abraço reptiliano. Os dois ficaram nesse abraço quente e aconchegante até Roberto entrar no local. Os dois se soltaram e encararam o guardião, que traziam duas sacolas que pareciam bem pesadas.

― Eles têm as entregas mais eficazes do mundo! ― disse Roberto depositando as sacolas no chão, ao lado do dragão. ― Pedi umas carnes por telefone, para aquela Carnes & Dragões e eles entregaram na hora!

― Mas, teletransporte é assim ― lembrou Rodrigo com um sorriso.

― Eu sei, mas nunca entregaram algo tão rápido quando eu pedi ― e cruzou os braços.

― E do que são essas carnes?  ― perguntou o bruxo vasculhando as sacolas.

― De feras noturnas ― respondeu Roberto simplesmente. ― É o prato favorito dos dragões-noturnos.

Rodrigo pegou as sacolas e as jogou para Bruno, que logo começou a devorar as carnes nojentas e cruas.

― Parece com fome ― observou Rodrigo. ― Pode pedir mais?

― Não é uma boa idéia ― respondeu o guardião erguendo as sobrancelhas. ― Dragões não se sentem muito bem se comerem demais. Duas sacolas de carne é o suficiente.

Rodrigo assentiu e observou Bruno devorar a carne vorazmente.

― Agora eu tenho que ir ― disse Roberto e saiu para a casa com passos largos.

Rodrigo acariciou a cabeça de Bruno, que acabara de terminar a primeira sacola e já abria a segunda.

― Isso aí, amigão ― disse Rodrigo sorrindo.

“Isso é muito bom” Rodrigo ouviu uma voz grave dizer em algum lugar. O jovem bruxo se levantou num salto, olhando para todos os lugares.

― Quem está aí? ― perguntou ele.

Bruno se colocou de pé, ao seu lado, e também começou a vasculhar o local com o olhar. “O que estamos procurando?” A voz grave perguntou. O bruxo olhou assustado para Bruno e então percebeu o que se passava ali.

― Bruno? ― perguntou ele num murmúrio.

“Sim?” Perguntou a voz grave.

― Vo-vo-você fala? ― gaguejou o bruxo.

Na verdade, isso se chama comunicação mental” Explicou a voz grave de Bruno na mente do bruxo.

Então, podemos nos comunicar assim?” Pensou o bruxo.

Claro!” Respondeu o dragão e curvou os lábios numa espécie de sorriso. “A conexão faz isso”.

Que ótimo!” Pensou o bruxo. “Assim eu vou me sentir melhor, sabendo o que você pensa. Já estava meio nervoso, pensando se você estava gostando da casa nova”.

Eu estou adorando isso aqui, de verdade” Disse o dragão. “Agora, se não se importa, vou voltar a comer”. E se deitou novamente, voltando a devorar a carne.

Uma felicidade enorme explodia no peito do bruxo, que se sentou novamente, com um sorriso enorme no rosto.

O momento foi interrompido, quando a porta foi aberta com agressividade. Roberto entrou com um sorriso animado no rosto e disparou logo:

― A reunião acabou agora ― disse ele apressadamente. ― E seus pais disseram que vão morar no vilarejo dos guardiões!

Rodrigo arregalou os olhos e Bruno o imitou. O bruxo sabia que algo não tinha dado certo na reunião.


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Notas finais do capítulo

Para quem começou a acompanhar agora: Sejam muito bem-vindos à Atlantis e eu realmente espero que gostem do Rodrigo. Sintam-se a vontade para comentar e opinar ^^
Gostaram do Bruno? E do final do capítulo? Mande reviews ^^