Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 22
Guerra Vai à Guerra


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por não postar ontem... É que eu tinha brigado com a minha inspiração e eu não consegui escrever... Mas agora está tudo bem e aqui está o resultado do trabalho... Espero que gostem ^^



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Rodrigo bocejava incessantemente naquele momento. Sua mãe e sua namorada o encaravam ao lado da cama com sorrisos encorajadores, mas não estava adiantando muito.

— Isso é mesmo necessário? — perguntou Rodrigo depois de um bocejo que encheu seus olhos de lágrimas.

— É o único jeito de chamar o Sonho — disse Júlia depois de assentir com a cabeça. — Ou você realmente achou que bocejava por que precisava recuperar o ar perdido durante o dia? Que visão mais ultrapassada. — E deu um risinho.

Mas o bruxo não achava nada daquilo engraçado. Queria pegar logo no sono. Mas estava agitado demais, não conseguiria. Encarou as duas e, com um sorriso amarelo, disse:

— Acho que isso não vai dar certo. — E deu outro bocejo forçado. Aquilo já começava a lhe cansar.

— Vai dar certo sim, amor — disse Júlia segurando sua mão. — É só se concentrar.

O toque da Morte fez o bruxo estremecer. Como podia ainda sentir tantas coisas mesmo depois de tanto tempo juntos? “Amor”, pensou ele e sorriu consigo mesmo. Deu outro bocejo logo em seguida, desta vez naturalmente, o que o encheu de alívio. Com o mesmo sorriso, ele fechou os olhos. Imediatamente sentiu a sensação costumeira de estar envolto nas nuvens de tempestade. As mesmas frias e que pinicavam de sempre, não aquelas últimas quentes e relaxantes. Abriu os olhos e constatou que era isso mesmo o que ocorria. Olhou à sua volta, aguardando a chegada do Senhor Eterno. Mas só via os fios elétricos que dançavam de lá para cá sem emitir ruído algum. E então, com um ronco, que mais parecia um estômago faminto, as nuvens escureceram ainda mais, ficando da cor de piche. O bruxo não conseguia enxergar nada, por mais que se esforçasse. Apenas os fios elétricos eram visíveis. Porém, nem eles conseguiam iluminar muito. E então, os fios foram sumindo, pouco a pouco. Logo o bruxo estava em escuridão e silêncio absolutos.

— Olá? — chamou Rodrigo com o coração batendo forte.

Um fiozinho minúsculo de luz surgiu num horizonte longínquo. Ele estreitou os olhos e encarou a luz, que de repente se expandiu e iluminou todo o cenário. Rodrigo, involuntariamente, protegeu os olhos da luz até que se acostumassem. Quando assim se fez, abaixou o braço e encarou, abismado, o ser à sua frente.

Era alto e tinha a pele dourada, mas não muito queimada. Trazia o peito e o abdômen trabalhado à mostra. Os cabelos eram negros e ondulados, indo até os ombros. Os olhos eram dois orbes cor de mel profundamente hipnotizantes. Usava pulseiras de ouro puro com algumas rubis vermelhíssimas. O cinto também era dourado e a fivela, em forma de estrela, também vermelha. Usava uma longa toga alva como a neve e véus que esvoaçavam à sua volta na mesma cor. Mas o que mais chamou a atenção do bruxo estava nas costas do homem à sua frente. As asas. Sim, asas. Duas longíssimas asas de coruja-branca.

Rodrigo estava boquiaberto. Nunca conhecera alguém tão... majestoso.

— Saudações, mestiço — disse ele. A voz era de um tom profundo e agradável.

Rodrigo se sentiu tentando a se ajoelhar, mas resistiu, apenas engolindo em seco.

— É realmente um prazer conhecê-lo — disse o Sonho novamente.

Rodrigo ainda estava sem reação. O Senhor Eterno a sua frente emanava uma força extremamente confortável. Como se, ao chegar perto dele, estivesse recebendo um abraço de um amigo antigo que não via há muito tempo.

― Eu... eu sou Rodrigo ― conseguiu balbuciar.

― Sim, meu caro, eu sei ― disse o Senhor Eterno com um meio-sorriso. ― Só quero entender o porquê me chamou.

―Te chamei? ― perguntou Rodrigo franzindo as sobrancelhas, confuso.

― Sim, mestiço, você estava forçando vários bocejos ― disse Sonho se controlando para não rir.

― Ah, é mesmo! ― disse Rodrigo em voz alta. ― É que eu preciso de sua ajuda.

Sonho passou a mão pelos cabelos e cruzou os braços, suspirando.

― Do que você precisa? ― perguntou ele.

Rodrigo lhe contou tudo (como conseguiu): sobre não ser o mestiço da profecia; sobre o despertar da Terra; e sobre o portal que Terra abriria para o outro planeta, onde estava o verdadeiro mestiço.

― E é por isso que preciso de sua ajuda ― continuou o mestiço. ― Preciso que me projete de forma astral no Templo Central da Terra. Ela disse que sou importante em seu despertar.

Sonho engoliu em seco e arregalou os olhos de repente, surpreso.

― A Terra? ― perguntou e Rodrigo assentiu. ― A Terra está para despertar?

― Sim, a Terra ― disse o mestiço e sorriu.

Sonho parecia conturbado. Aparentava até mesmo que não achava que aquela era uma boa notícia. Como se o assunto fosse pesado demais.

― O que houve? ― perguntou o mestiço, curioso.

Sonho pareceu despertar para a realidade, balançando a cabeça e sorrindo falsamente.

― Não é nada ― disse ele ainda sorrindo. ― A notícia é boa: eu posso lhe levar até lá. E também posso estabelecer uma comunicação por projeção astral.

― Obrigado, Sonho ― disse o bruxo sorrindo.

― Mas, eu sinto em dizer que não poderei ficar com você no local ― disse Sonho fingindo tristeza.

― Por quê? ― perguntou o mestiço tristemente.

― Digamos que eu e a Terra não temos uma “relação amigável” ― disse Sonho fazendo as aspas com os dedos, o que era bem engraçado para alguém bombado e sem camisa.

Rodrigo deu um sorriso triste, porém assentiu.

― Não fique assim ― disse Sonho tentando consolá-lo, com um sorriso. E lhe estendeu a mão direita. ― Vamos?

Rodrigo segurou sua mão e logo sentiu como se seu rosto fosse se soltar de seus ossos, tamanha era a velocidade com que se moviam. Conseguia ver o Senhor Eterno batendo as asas lenta e suavemente, porém a velocidade das asas não fazia jus à rapidez com que avançavam.

Logo, Rodrigo se vira num amplo salão. Na verdade, era uma ampla caverna, escavada em pura pedra. Inscrições na linguagem antiga de Atlantis roxas e brilhantes estavam espalhadas tanto pelas paredes quanto pelo teto do local. Colunas gregas de pura pedra roxa entalhadas com ouro formando desenhos de flores, também estavam espalhadas pelo salão. No centro, pessoas entoavam louvores à Terra na mesma linguagem antiga de Atlantis. Tudo isso era banhado pelas luzes arroxeadas das inscrições. Mas algo estava deslocado naquele lugar.

Na entrada do salão, acontecia o que se parecia com uma guerra. De um lado, apenas uma mulher usando couraça e roupas de pele. Do outro, um exército de bruxos que lançavam feitiços de vários tipos. Mas, por mais incrível que possa parecer, a mulher estava ganhando, dando uma boa coça com sua clava em Abaré, que estava no meio do exército.

― Bem, eu vou indo, se cuide ― disse Sonho com um sorriso falso e desaparecendo logo em seguida, num piscar de olhos.

Rodrigo ficou a encarar o local onde antes estava o Senhor Eterno, quando uma menina se aproximou dele, um tanto ofegante. Tinha cabelos escuros, cacheados e curtos, que iam até os ombros. Os olhos, também escuros, eram realçados por cílios grandes e elegantes. A boca era um tanto avermelhada e carnosa. Usava um vestido longo e roxo e alguns enfeites de ouro puro, como a coroa pequena na cabeça, as pulseiras e o cordão.

― Olá, você deve ser o Rodrigo ― disse a menina um tanto assustada. Rodrigo assentiu, não muito diferente dela, quando uma explosão se fez ouvir, vinda da guerra que acontecia à entrada. ― Eu sou Larissa, a bruxa líder da terra.

Rodrigo assentiu, de olhos arregalados e desviou novamente o olhar para a entrada.

― Quem é aquela? ― perguntou o bruxo gesticulando.

― É a Guerra, minha senhora ― respondeu Larissa depois de olhar na direção que Rodrigo mostrara.

Rodrigo franziu os lábios e assentiu, surpreso. A Guerra era realmente uma ótima lutadora. Sozinha conseguia quebrar feitiços com sua clava e empurrar bruxos indesejados com seu escudo, o qual também usava para refletir alguns feitiços de transformação. O resultado disso eram alguns ratos aos seus pés, que deveriam ter sido bruxos há pouco tempo.

― Não temos muito tempo, Rodrigo ― disse Larissa o segurando pelo pulso e o puxando em direção ao centro do salão, para o meio do povo, desesperadamente. ― Preciso que chame pela Terra! ― gritou Larissa para ser ouvida.

Rodrigo a encarou meio aflito. Não sabia como fazer aquilo.

― Como? ― perguntou em voz alta também, e se sentiu um idiota completo logo depois de pronunciar a palavra.

― Só... chame-a ― disse Larissa dando de ombros, visivelmente abalada.

O bruxo desviou o olhar para Guerra, que aguentava sozinha o que muitos exércitos não aguentavam e disse simplesmente:

― Terra, levante-se!

E então um longo rosnado se fez ouvir pelo salão. Um rosnado ensurdecedor, que fez a terra sob os pés de Rodrigo estremecer. As inscrições tremularam e começaram a brilhar com mais força; os louvores cessaram; a guerra parou e todos os olhares estavam voltados para o centro do salão, onde algo acontecia.


Na mansão da Morte:

― Ele conseguiu, falou com o Sonho ― disse Júlia sorrindo e ainda segurando a mão de Rodrigo.

― Que maravilha! ― concordou Helena animada.

Júlia não conseguiria contar a alegria e o orgulho que sentia de Rodrigo naquele momento, mesmo que tentasse. Esta mesma sensação lhe escapava pelos cantos da boca, com um enorme sorriso animado. Mas ele logo foi quebrado quando uma de suas servas adentrou a enfermaria, desesperada.

― Minha senhora ― ela falava ofegante. ― TV... Seu pai... Trindade.

Júlia, confusa, soltou a mão de Rodrigo e colocou as mãos sobre os ombros da serva.

― Acalme-se e tente formar uma frase que faça sentido ― pediu Morte olhando nos olhos da mulher.

A mulher respirou fundo e bufou.

― Seu pai está na TV ― disse ela. ― Ligue-a, rápido! ― e correu em direção a uma tela solitária na enfermaria. Colocou no canal correto e aumentou o volume, para que todos pudessem ouvir.

Poder aparecia sobre a sacada do Palácio. A mesma sacada que ele anunciara a abdicação dos elementais. Júlia, notando o local, franziu as sobrancelhas e se aproximou da tela, juntamente com Helena. Milhares de cidadãos estavam em frente ao Palácio, assistindo à aparição de Poder.

― Caros cidadãos de Atlantis ― disse o Senhor Eterno com sua voz de trovão. ― Estou aqui hoje para lhes dar uma notícia realmente incendiária. ― E fez uma longa pausa com um sorriso largo no rosto. ― A Trindade Eterna está oficialmente desfeita. De agora em diante, somente existirá dois no poder: eu e minha digníssima esposa, Misericórdia. ― Um burburinho se espalhou pelas pessoas que o assistiam, todas abismadas. Helena e Júlia não estavam muito diferentes. Trocaram um olhar tenso e voltaram a olhar para a TV. ― E será assim daqui para frente, espero não ter que... ― E então, sem mais nem menos, a TV saiu do ar, chiando numa imagem distorcida.

Helena encarou Júlia e franziu as sobrancelhas. As duas estavam tanto abismadas quanto confusas. Mas logo entenderam o que acontecera. Um tremor fortíssimo fez com que toda a enfermaria ficasse completamente desorganizada. Camas rolavam sozinhas para todos os lados; a TV caíra de seu suporte, se espatifando no chão; e as três mulheres tiveram de se apoiar na parede para não caírem. Júlia era a única sorrindo. Ela sabia o que aquilo significava. E a sensação era ótima.

― Rodrigo conseguiu ― disse ela. ― A Terra está despertando.



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Notas finais do capítulo

E então, gostaram do Sonho? E da Guerra lutando? E da notícia do Poder? E da Terra estar despertando? Mande reviews e eu vou parar de prometer postar num dia certo... Quando eu conseguir um tempo, ele aparecerá aqui kkkk Até a próxima ^^



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