Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 21
A Trindade É Desfeita


Notas iniciais do capítulo

Então, como prometido, aqui está. Capítulo cheio! Espero que gostem dos quilos de informações que estão aqui... Bem, é isso, boa leitura ^^



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Morte andou apressadamente até o elevador, onde o chamou e as portas se abriram imediatamente. Ela entrou rapidamente, para não perder tempo, e logo apertou o andar da enfermaria. O frio na barriga, que indicava que o elevador subia, só aumentava seu nervosismo. Mas as portas não demoraram a se abrir. Assim que isso aconteceu, ela disparou para dentro da enfermaria, encontrando Rodrigo e sua mãe ainda conversando lá.

— O que houve, Morte? — perguntou Helena notando os cabelos despenteados de Júlia, que conseguira graças à sua corrida até ali.

A Senhora Eterna respirou fundo, tentando manter o coração compassado, sem muito sucesso. O fato de a Terra estar despertando era demais para ela. Porém, ela encarou o mestiço e depois voltou o olhar para Helena, firmemente.

— O Rodrigo precisa vir comigo numa viagem até o Templo Central da Terra — disse Morte sem delongas.

Helena se colocou de pé num salto, completamente abismada.

— Está maluca?! — perguntou ela de sobrancelhas franzidas, em voz alta. — Ele não pode sair da cama, se esqueceu?!

— Helena, você precisa entender — disse Júlia calmamente. E, depois de uma pausa para umedecer os lábios, continuou: — A Terra está para despertar.

Helena arregalou os olhos e deixou os ombros caírem. Rodrigo, não muito diferente da mãe, se sentou, com um gemido quase inaudível de dor, surpreso e confuso.

— Como assim? — perguntou ele balançando a cabeça.

Júlia deu um meio-sorriso triste.

— Eu sei o que devem estar pensando — disse ela. — Meu pai mentiu para todos nós. Mentiu para várias gerações, na verdade. — E fez uma pausa para constatar que os dois bruxos estavam terrificados. — A Terra não abdicou ao trono, como ele dissera... Ela foi aprisionada no fundo da terra. — E fez outra pausa quando os bruxos se entreolharam. — E, neste momento, vários bruxos da terra estão reunidos no Templo Central para tentar despertá-la. Ela até se mostrou em sonho para uma serva da Guerra e disse que Rodrigo é essencial para que isso acontecesse. Por isso, eu preciso levá-lo até lá.

Helena respirou fundo e suavizou a expressão.

— Morte, eu entendo o que você está propondo — disse ela. — Mas, isso é mesmo necessário? Despertar a Terra só nos trará mais guerra e desentendimentos.

A Senhora Eterna engoliu em seco. Teria de contar a eles.

— O Rodrigo não é o mestiço da profecia — disse ela olhando Helena nos olhos.

A bruxa deixou-se cair sentada sobre a cama do filho, chocada.

— Como assim? — perguntou depois de balbuciar coisas inaudíveis enquanto olhava para todos os cantos, nervosamente.

— O mestiço de verdade está no nosso planeta de origem: Terra — explicou Júlia. — E a única pessoa que sabe como chegar lá é a própria Terra. Por isso, nesse exato momento, Poder também está tentando despertá-la. Quer chegar antes de nós e matá-lo.

Rodrigo estava completamente terrificado. Ela tentara lhe dizer isso, mas não acreditara na primeira vez. Agora tudo se tornava claro como água à sua frente.

Helena, por sua vez, sentiu um gosto metálico na boca e algo preso em sua garganta, como se tentasse engolir uma bola de golfe.

— Mas eu não posso arriscar em deixar Rodrigo ir, Morte — disse Helena quase em súplica. — Não me peça para permitir isso, porque eu não vou.

Júlia franziu as sobrancelhas, pensando em algo que pudesse ajudar naquele momento. Algo que pudesse fazer Rodrigo ir até o Templo, mas, ao mesmo tempo, sem sair da enfermaria e de seu repouso. Foi quando uma luz clareou sua mente.

— Tive uma idéia — disse ela com um meio-sorriso.

— E qual é? — perguntou o mestiço quase desanimado demais para falar.

Estava mais do que na cara que Rodrigo não gostava nada do rumo que a conversa tomava. Algo o dizia que ele teria que fazer algo muito além de seu alcance, como sempre.

— Vou pedir ajuda ao Sonho — disse Júlia ainda sorrindo. — Ele pode fazê-lo ir até o Templo, mas você ainda estará aqui, em repouso.

— Projeção astral — disse Helena com um leve sorriso enquanto balançava a cabeça. — Boa idéia!

Júlia assentiu sorrindo e encarou Rodrigo, que parecia terrificado. E ele estava mesmo. O que o esperava à frente? Não podia ser coisa boa.


No Templo dos Senhores Eternos:

— Como pôde, Terror? — perguntou Poder sussurrando em se ouvido enquanto o outro membro da Trindade jazia, impotente, sobre o piso de mármore. — Como pôde me trair a esse ponto? Possuir minha filha, sua sobrinha, e achar que eu não acabaria sabendo... — e balançou a cabeça, incrédulo. — Foi muita presunção sua.

— Poder, eu já lhe disse — ofegou Terror de forma fraca, quase ininteligível. — Não fui... Não fui eu quem a possuiu.

Uma rachadura profundamente dolorosa se formara no rosto cinzento de Terror. Aquilo era resultado da briga anterior, quando o Senhor Eterno de olhos vermelhos acertara a cabeça numa coluna depois de receber um soco no queixo e voar para trás.

— Ah, não? — perguntou Poder ironicamente, ainda sussurrando. — Então, quem foi?

Terror engoliu em seco e começou, lentamente, a descer a mão até o cinto. Precisava da adaga. Com ela, tudo aquilo acabaria e ele seria o novo Poder.

— Foi o... — e continuava a descer a mão, alcançando as costelas naquele momento. — O... — alcançara a cintura. — Que se dane! — e colocou a mão na bainha, puxando a adaga para fora. Só então notou que ela não estava mais lá. — Mas... — disse Terror se erguendo e encarando a bainha vazia.

Poder franziu as sobrancelhas e, depois de alguns segundos com Terror desesperado alisando seu cinto, gargalhou.

— Terror, você é patético — disse ele e bateu com o pé no chão.

Poucos sabiam disso, mas as solas do sapato do Poder eram feitas de diamante, envolto em ouro puro. Com isso, podia apenas pisar mais forte e toda a Essência Eterna de seu inimigo passaria a lhe pertencer, aumentando ainda mais seu poder.

Com isso, Terror caiu sobre o piso de mármore, inconsciente, enquanto Poder era invadido por sua Essência. Anos de medo. Anos de pânico. Anos de pavor. Tudo o invadia como uma onda fria e enorme. Nunca tinha absorvido a Essência de um Senhor Eterno tão poderoso antes, mas estava se saindo bem, contendo toda a raiva que ela lhe lançava. Apesar de que a Essência lutava para se soltar, como se soubesse que aquele não era seu corpo original.

— Deliciosa — disse Poder de olhos fechados, se deleitando com a nova Essência adquirida.

Enquanto isso, Terror, ainda jazido no chão como trapos velhos sem conteúdo algum, era consumido pela rachadura negra, que aumentara e o envolvera completamente, dando-lhe uma nova cor. Agora, tinha uma pele clara e alva. Os olhos, assim que se abriram, tomaram uma coloração escura, como duas azeitonas negras. Podia ainda estar usando suas vestes de Senhor Eterno do Terror, mas não parecia nada imponente. Ele se levantou e encarou Poder, sem conseguir ver seu rosto, ocultado pela grande Sombra.

— Guardas! — trovejou Poder para as portas, que logo se abriram.

Dois homens altos e musculosos entraram e encararam, com pânico, o novo Terror que renascia. Depois desviaram o olhar para o Poder.

— Sim, mestre — disseram em coro com uma reverência.

— Onde eu estou? — sussurrou o antigo Terror confuso, lançando olhares para todos os cantos.

— Quero que levem esse guardião para onde os bruxos tentam despertar a Terra — disse Poder calmamente. — O apresentem a Abaré e digam-lhe que ele será seu novo servo.

Os guardas assentiram e cada um segurou um braço do antigo Terror, o puxando para fora do salão. Eles já estavam se aproximando da porta quando o Poder lhes chamou novamente:

— Guardas!

Eles se viraram para o Senhor Eterno.

— Sim, mestre — disseram em coro novamente.

— Organizem uma conferência — disse ele e ergueu as sobrancelhas. — Tenho que dar uma notícia ao povo de Atlantis.

Os guardas assentiram e saíram do salão com o antigo Terror nos braços.


No Templo Central da Terra:

Aquelas vozes ainda a perturbavam. “Eu posso me reerguer” diziam. “Eu ainda posso fazer muito por esse planeta, minha jovem”.

Terra a convencera de que era melhor que ela despertasse. O mestiço seria trazido até Atlantis e o reinado do Poder acabaria. Mas, a que preço? O que resultaria desse despertar? Como Poder reagiria? Ela não gostava de pensar nessas consequências, mas era impossível. Lançou um olhar para os servos no centro do templo. Alguns entoavam cânticos, outros tocavam tambores, flautas de bambu, chocalhos, alaúdes e sitares. Outros, ainda, contribuíam com palmas, batendo os pés no chão ou assoviando.

A menina suspirou com a cena. Será que aquele era o melhor caminho?

Por que te preocupas, minha filha?” perguntava a própria Terra em sua mente.

A menina engoliu em seco e passou as mãos nos cabelos, nervosamente.

Nada, patrona, não é nada” respondeu envergonhada.

Eu conheço seus medos, filha querida” disse Terra suavemente. “Mas, eu lhe peço que não fique. Seus medos desaparecerão quando eu retornar e lhe mostrar o plano do mestiço, passo a passo”.

O coração da menina acelerara. A voz de Terra era tão profunda e doce que ela tinha vontade de obedecer a qualquer pedido da Senhora Eterna. Até mesmo se ela pedisse a sua morte. Com esse pensamento, a menina repirou fundo, tentando se concentrar.

Por isso, preciso que comande meu exército” voltara a dizer Terra. “Você já os reuniu, mas eu preciso que os comande, pelo menos até que eu me erga. Pode fazer isso para mim, querida?”.

A menina assentiu e Terra deu uma risadinha deliciosa em sua cabeça. E então, sem mais nem menos, um estrondo fez-se ouvir, ecoando pelos corredores do templo.

— Não parem de entoar! — a menina disparou logo.

O povo continuava com os louvores ritmados, quando um dos servos entrara no salão com uma expressão de pânico no rosto.

— Larissa, inimigos estão tentando invadir o templo! — gritava o servo para a menina.

Larissa, como era chamada a menina, estreitou os olhos em direção à entrada do templo. Outro estrondo se fez ouvir. Então ela ergueu as mãos à frente do corpo, iniciando uma comunicação com sua mestra.

— Guerra — disse e uma imagem se ergueu do chão, feita da própria terra.

— Larissa? — perguntou a Senhora Eterna na imagem. — Está tudo bem?

— Não, minha senhora — respondeu Larissa balançando a cabeça. — Estão atacando o templo. Como devo proceder? Mando o exército atacar?

Guerra endureceu o rosto.

— Não será necessário — disse Guerra firmemente. — Eu mesma estou indo. Está na hora de mostrar ao Poder com quem ele está se metendo.

E a imagem se desfez no ar, formando uma silhueta humana que logo tomou cor. Guerra estava presente no templo, segurando uma clava e um escudo.

— Está na minha hora — disse ela e deu um meio-sorriso para Larissa.



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Notas finais do capítulo

E então gostaram do plano da Júlia? E do Terror se tornando um mortal? E da Guerra indo para a batalha? Mande reviews e eu tento postar até quarta ^^