Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 19
Traição


Notas iniciais do capítulo

Vocês me odeiam? Tudo por causa da revelação no último capítulo? Não me deixem ):
Bem... Eu tenho aqui outro capítulo... Espero que gostem...



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E lá estava ela mais uma vez. Largada sobre a cama e com os olhos úmidos.

Desprezada por ser uma irmã menos atraente; desprezada por não ser tão poderosa quanto à irmã; desprezada por não conseguir quem queria, como a irmã conseguia. Mas, a culpa era dela mesma. Não devia cobiçar o namorado da irmã. E descobrira, da pior forma, que não se devia competir com ela, pois sempre perderia.

É isso o que eu sou, uma perdedora”, repetia em sua mente e voltava a soluçar e a deixar as lágrimas quentes correrem pelas têmporas. “Por que as coisas têm de ser tão difíceis pra mim? Por que eu não nasci como a minha irmã?”, voltava a se perguntar.

Podia não perceber, mas a inveja a consumia lentamente, como uma cobra se enrolando lentamente, porém de forma mortal, sufocando um pobre cervo. Pobre coitada.

O que viria a seguir? Como iria agir diante disso? Não poderia chorar para sempre. Então, ela secou as lágrimas e ficou a encarar o teto branco, quando teve uma idéia do que fazer. Poderia ser loucura, mas tentaria. Sentou-se na cama e, depois de lançar um olhar para a luz dourada do sol que entrava pela janela, se levantou, saindo de seu quarto, decidida. No corredor infinito, encontrou aquelas milhares de portas com os nomes dos Senhores Eternos que viviam no Palácio. Mas nenhum daqueles nomes era o que ela procurava. Só então o achou. Do lado direito. Lá estava ele. O nome Destino escrito em dourado e em letras cursivas. Bateu à porta, mas não obteve resposta. Colocou a mão na maçaneta e a girou assim mesmo. Abrira a porta lentamente e entrara no quarto, vazio, na ponta dos pés. O som do chuveiro ligado sinalizava que ele estava no banho. Decidiu se sentar à cama e esperá-lo.

Ela estava ficando louca? Aquele homem a possuíra! Era o pior tipo de espécie de Senhor Eterno que existia! Eram tipos como ele que sujavam a raça pura dos Eternos. Então, o que ela fazia em seu quarto? No fundo de sua mente, ela sabia. Destino era sua única opção. Os dois desejavam a mesma coisa: poder. E os dois fariam de tudo para conseguir isso. Por isso ele conseguira tomar conta de seu corpo tão facilmente.

O som do chuveiro cessou e logo Destino saíra do banheiro, enrolado num roupão tão vermelho quanto sangue. Um D preto estilizado estava costurado no roupão. Calçava chinelos da mesma cor e tinha os cabelos dourados molhados e puxados para trás, o máximo que seus cachos permitiam. Trazia uma expressão assustada e surpresa no rosto. Os olhos azuis cravados na menina sobre sua cama.

— Você? — perguntou Destino com medo do que aquela visita significaria.

Vida engoliu em seco e encarou o Senhor Eterno de sobrancelhas franzidas, destemida, porém um pouco nervosa. Destino, achando que ela descobrira sobre a entrega da adaga para o Terror, engoliu em seco, enquanto seu coração acelerava.

— Destino, eu preciso da sua ajuda — disse ela finalmente.

Ele pareceu ter recebido um soco bem no queixo. Aquela garota, que ele havia usado, estava o pedindo ajuda? Ele estreitou os olhos, desconfiado e cruzou os braços.

— Que tipo de ajuda? — perguntou.

— Quero me unir a você, na luta contra o mestiço — disse ela.

Ele pareceu ainda mais surpreso. O que ela estava falando?! Será que estava bêbada?! Ela queria lutar contra os próprios servos, que eram os pais do mestiço?! Achou que tivesse ouvido errado, então perguntou:

— O quê? — passou totalmente sua confusão e surpresa no tom de voz.

— Eu quero me unir a você contra o mestiço — não, ele não ouvira errado. — Desde que eu mesma possa matar minha irmã.

Destino ficou boquiaberto. Não podia concordar com aquilo. Não mesmo. Poder o trucidaria.

— Vida, me desculpe, mas eu não posso te ajudar com isso — disse Destino sensatamente, de sobrancelhas franzidas.

— Por que não?! — perguntou ela se levantando num salto, com os punhos fechados tão fortemente que os nós de seus dedos ficaram brancos. — Eu preciso que você me ajude! Você sabe o que eu passo! Você esteve na minha cabeça! Sabe o quanto eu odeio aquela garota! Sabe que o que eu sempre tentei fazer fora me tornar mais que ela! Sabe que nunca consegui ser eu mesma por culpa dela! — E então parou para respirar ofegantemente, enquanto encara seriamente um Destino surpreso. — Você sabe o que é viver na sombra de alguém.

Destino franziu o cenho, magoado. Ela usara seu ponto fraco: seu pai.

— Não é a mesma coisa, garota — disse ele. — Meu pai é outro assunto.

— Então, se não quer me ajudar, me dê a adaga — sugeriu ela estendendo a mão para o Destino. — Deixe que eu faça eu mesma esse trabalho.

Destino engoliu em seco. Não tinha mais a adaga.

— Eu... — disse ele. — Eu não a tenho mais. — E se virou, indo em direção ao seu closet.

— Você o quê? — perguntou ela surpresa. — Então, com quem está?

Destino, fingindo estar escolhendo entre uma camisa de gola vê e uma polo, não respondeu.

— Destino? — insistiu Vida erguendo as sobrancelhas.

Ele bufou, infeliz, e a encarou.

— O Terror a tomou de mim — respondeu impotente. — Disse que se eu não fizesse isso, contaria ao seu pai que eu a possuí.

Vida deu um meio-sorriso. Vira uma brecha.

— Então, que tal eu conseguir ela de volta em troca da minha aliança com você? — perguntou maliciosamente.

Os olhos do Destino faiscaram.

— Acha que consegue? — perguntou ele.

— É claro! — disse ela com um sorriso malicioso, dando de ombros e cruzando os braços.

Destino sorriu, ainda com os olhos brilhando malignamente.

— Bom... — disse ele erguendo as sobrancelhas levemente. — Então, seja bem-vinda ao clube. — E estendeu a mão num cumprimento.

Vida encarou o gesto, segurou a mão do Senhor Eterno e o puxou para si, segurando sua nuca e a puxando, dando-lhe um beijo molhado e sedutor.

— Agora nosso acordo está selado — disse ela sorrindo e saindo do quarto. Deixando um Destino confuso e admirado tocando os próprios lábios.

Aquela menina o beijara?

Do outro lado de Atlantis:

— O quê? — perguntou o bruxo se sentado na cama, somente para voltar a se deitar, tomado pela dor lancinante.

Júlia o ajudou a se deitar novamente e balançou a cabeça tristemente.

— Pelo menos, foi o que Guerra ouviu — disse ela. — Não posso dizer que é certo ou errado, mas pense... — E fez uma pausa para umedecer os lábios. — Por que meu pai ainda não veio pessoalmente para te matar? Se você fosse mesmo o mestiço da profecia, já estaria morto, com certeza.

O bruxo engoliu em seco, sem saber o que pensar.

— E quem é esse mestiço, então? — perguntou ele.

— Isso nós não sabemos ainda — disse ela tristemente enquanto abaixava a cabeça.

— E você realmente acha que podem existir outros mestiços? — perguntou ele. Júlia o encarou, de repente intrigada. — Quer dizer, eu sou o mais odiado. Nunca vi nem ouvi falar de nenhum outro mestiço. Você não acha que pode ser uma... uma armadilha do Poder, para baixarmos a guarda?

O bruxo sempre tomava cuidado ao falar do Poder perto de Júlia. Não gostaria de ofendê-la. Principalmente por ela ser a Senhora Eterna da Morte. Por mais que ela o amasse. Não queria vê-la com raiva.

Júlia franziu as sobrancelhas e estreitou os olhos. Talvez Rodrigo estivesse certo. Precisava comunicar isso à Guerra mais tarde.

— Talvez você tenha razão — disse ela. — Ele pode mesmo estar tentando isso. O conheço. É mais traiçoeiro que o Destino, se é que isso é possível.

Rodrigo a encarou com um meio-sorriso triste.

— O que aconteceria se baixássemos a guarda? — perguntou. — Ele nos pegaria, certo?

Júlia assentiu tristemente.

— Provavelmente não veio até você porque não pode entrar no meu reino sem ser convidado — disse Júlia. — Isso explicaria muita coisa.

O bruxo assentiu erguendo as sobrancelhas. Foi quando sua mãe apareceu à porta, trazendo seu prato de macarrão que soltava uma leve fumaça no ar.

— Aqui está filho, do jeito que você gosta — disse ela e sorriu, apoiando a travessa de mogno sobre suas pernas, depois que Júlia o ajudou a se sentar.

Sua mãe sorria, empolgada, ao ver que o filho se alimentava finalmente. Rodrigo, por sua vez, assoprou um pouco do macarrão com molho branco e queijo e enfiou a garfada na boca. Júlia encarou o namorado, também sorrindo. Porém, por dentro, estava mais que intrigada com a idéia que Rodrigo colocara em sua cabeça.

— Amor, eu preciso conversar com a Guerra — disse ela se levantando e lhe dando um beijo na testa. — Eu volto mais tarde para ver como você está, ok?

Rodrigo estreitara os olhos levemente, porém assentiu. Júlia sorriu para Helena, que retribuiu, e saiu da enfermaria. Precisava conversar com a Guerra naquele instante. Atravessou os longos corredores até chegar ao elevador, onde entrou. O frio na barriga indicava que ele começara a descer e este foi até o térreo, onde Júlia sabia que Guerra estava, planejando.

Adentrou o salão principal, onde uma mesa de cedro fora colocada e uma porção de mapas estava estirada sobre ela. Algumas miniaturas de soldados estavam espalhadas pelos mapas, além de algumas outras miniaturas de tanques e aviões. Guerra estava à ponta da mesa, com outros dois homens. Um à sua esquerda e outro à sua direita. Os dois vestidos como generais e encarando um ponto que Guerra apontava. Júlia se aproximou da mesa e encarou Guerra.

— Precisamos conversar — disse ela. — É sobre o mestiço. Acho que algo está errado.

Guerra franziu as sobrancelhas, mas assentiu, dispensando seus generais e sinalizando para que Júlia se aproximasse. A Morte, por sua vez, explicou toda a situação e a idéia de Rodrigo para a amiga, que ficara o tempo todo alisando um tanque de madeira, intrigada.

— É uma possibilidade — disse Guerra. — Mas antes, eu queria te mostrar uma coisa... — E tirou de sobre a mesa um aparelho que parecia um celular. — Talvez faça você mudar de idéia.

Ela tocou a tela e o mostrou para a amiga. A tela se iluminou e logo uma imagem se formou. Milhares de pessoas entoavam louvores na linguagem antiga de Atlantis. Júlia logo reconheceu o que eles entoavam.

— Não, não pode ser — disse Júlia surpresa, reconhecendo o local das imagens. — Onde conseguiu isso?

— Com um dos meus bruxos — disse Guerra apoiando o punho na cintura.

— Eles... — disse Júlia surpresa. — Eles estão tentando despertar a Terra.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram da traição? E da revelação do final? Espero que mandem reviews e eu vou tentar postar até quarta... Até lá ^^



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