Sombras No Espelho: Parte 1 - Terra escrita por Lucas Iraçabal


Capítulo 18
Um Segredo


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas aqui está... Capítulo que vai fazer vocês ficarem de queixo caído... Espero que gostem ^^



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Rodrigo agora estava novamente envolto em nuvens de tempestade. Mas estas eram rosadas e quentes. Sim, quentes. Podia parecer estranho, mas era uma sensação confortável. Pareciam mais cobertores o envolvendo do que nuvens. Com os olhos semicerrados, esquadrinhou o local à sua volta. Não conseguia ver nada além de alguns filetes elétricos que passavam de vez em quando, bem distantes. E também não pôde deixar de notar que estava nu e todo encolhido, em posição fetal. O cenário era tranqüilo e sonolento, então ele voltou a fechar os olhos. Nada mais passava na mente do bruxo. Só pensava em como aquilo era confortável. Era como se estivesse sendo gerado novamente. Como se estivesse em renovação. A calmaria durou por horas. Mesmo que o bruxo não tivesse nenhuma noção de tempo ali dentro, lhe pareceu realmente uma eternidade. Mas ele não se cansava de estar ali. Era confortável demais para pensar em se enfadar pela inércia. Por esse mesmo motivo, resmungou quando as nuvens se moveram por um instante à sua volta. Ele abriu os olhos lentamente e notou que estava escorregando para baixo. Franziu as sobrancelhas, resmungando de novo, enquanto ganhava cada vez mais velocidade numa espécie de túnel fofo e em espiral. Mas o bruxo não ligava para a queda, que talvez o estivesse esperando. Estava sonolento demais para pensar direito. Ele só não queria sair daquele lugar.

Mas então tudo acabou.

Viu-se piscando rapidamente para enxergar através de um forte clarão, que quase o cegou. Uma luz fortíssima entrava por janelas abertas atrás de sua cabeça. Cortinas brancas estavam estendidas aos seus pés e ao seu lado esquerdo, presas ao teto por uma vara de metal. No lado direito, duas pessoas o observavam com sorrisos calmos nos rostos. Um deles lhe era familiar. Júlia fitava o bruxo com seus olhos verdes, trazendo um sorriso lindo no rosto.

― Rodrigo? ― perguntou sua namorada.

― Olá ― respondeu ele sorrindo para ela.

― Como pode ver, ele já consegue falar ― disse a outra mulher encarando a menina, gesticulando. ― Mas ele vai ter que ficar em repouso... No mínimo quinze dias.

Esta era uma senhora de meia-idade, baixinha e atarracada. Os cabelos eram escuros, curtos e encaracolados. Os olhos castanho-claros fitavam a menina morena à sua frente, por trás das lentes dos óculos que usava. Trajava um jaleco de médico sobre um vestido preto e trazia um estetoscópio enrolado ao pescoço.

― Nossa! ― reagiu Júlia surpresa. ― Isso tudo!

― Isso se tudo ocorrer bem ― disse a mulher mais velha com um sorriso triste. ― Se ele se esforçar demais, pode ter que esperar mais tempo. Afinal, não estamos falando de costelas quebradas. Estamos falando da Essência Mágica dele, que se esforçou demais.

Júlia assentiu tristemente e encarou o bruxo, que encarava a médica da mesma forma.

― Isso quer dizer que eu vou ter de ficar nessa cama por quinze dias? ― perguntou o bruxo lentamente, como pôde. Seu peito ainda latejava um pouco. ― Eu não posso esperar todo esse tempo! Meus pais precisam de mim.

A médica encarou a Morte tensa. As duas trocaram olhares que diziam mais que palavras. Depois a médica assentiu.

― Então, é isso ― disse ela. ― Eu vou indo. Ainda tenho muitos para atender. Sabe como é, ninguém se cura sozinho. Volto em quinze dias para te avaliar, mestiço. ― E lhe lançou um olhar sorridente.

O bruxo a encarou com os olhos brilhando de admiração.

― Você é a Cura? ― perguntou ele maravilhado.

Ela assentiu sorrindo gentilmente.

― Isso mesmo ― respondeu ela e lhe deu um beijo na testa, pegando uma mala sob sua cama logo em seguida. ― Então, aqui vou eu. ― E sumiu num piscar de olhos.

― Que Senhora Eterna legal ― disse Rodrigo sorrindo, um tanto sonolento ainda.

― É... ― concordou Júlia com o olhar distante.

O bruxo a encarou e franziu as sobrancelhas levemente.

― O que aconteceu? ― perguntou ele, retendo a atenção da Senhora Eterna. ― Eu não lembro como vim parar aqui.

― Eu e Guerra te salvamos do Destino ― respondeu ela.

― Você e a... Guerra? ― perguntou o bruxo confuso.

― É, ela está do nosso lado ― disse Júlia e seu um meio-sorriso tenso.

O bruxo parecia intrigado.

― E como isso aconteceu? ― perguntou ele. ― Digo, dela se juntar à nossa causa?

Júlia engoliu em seco e seu sorriso sumiu.

― Há muito mais coisas envolvidas nessa rebelião do que você e o vilarejo, Rodrigo ― disse ela tensa. ― Muito mais coisas.

― Que coisas? ― perguntou o bruxo preocupado.

Júlia olhou o namorado nos olhos e abriu a boca. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta da enfermaria se abriu violentamente.

― Filho! ― sua mãe entrou gritando com um sorriso enorme no rosto.

O bruxo lançou um último olhar para Júlia, que queria dizer: conversaremos sobre isso depois. E depois voltou o olhar para sua mãe.

― Mãe! ― disse ele com a maior empolgação que conseguiu.

Ela se aproximou da cama e o abraçou bem forte. O peito esquerdo do bruxo latejou intensamente, como uma pancada.

― Mãe, está doendo! ― alertou o bruxo.

― Ah, desculpe ― disse ela o soltando e colocando a mão sobre a boca, assustada.

O bruxo assentiu e semicerrou os olhos, tentando fazer a dor passar.

― Fico tão feliz em vê-lo acordado, meu filho ― disse ela. ― Não sabe como a mamãe ficou preocupada.

― Mãe! ― reclamou o bruxo depois de encarar Júlia e notar que ela ria baixinho.

Helena sorriu e deu um beijo na testa do filho.

― Fico muito feliz em saber que está bem ― disse ela.

O bruxo sorriu e abraçou a mãe levemente. Ela retribuiu o abraço um tanto hesitante, com medo de machucá-lo novamente.

― Quanto tempo vai ficar aqui na enfermaria? ― perguntou ela.

― Quinze dias ― respondeu o bruxo tristemente.

Sua mãe deu um sorriso triste e assentiu.

― Tudo para sua recuperação ― disse ela e afagou os cabelos do filho.

Ele assentiu e encarou Júlia, que estava séria e com o olhar distante. No que será que ela tanto pensa?, pensou o bruxo intrigado enquanto estreitava os olhos.

― Quer comer alguma coisa, filho? ― perguntou sua mãe e virou-se para Júlia. ― Ele pode comer?

Júlia assentiu com um sorriso.

― Então, o que quer comer? ― perguntou ela voltando-se novamente para o filho.

― Macarrão ― disse ele e fez um beicinho.

Sua mãe sorriu, lhe beijou a testa rindo, e saiu da enfermaria. Rodrigo estreitou os olhos e encarou a Morte, que deu um sorrisinho amarelo.

― Pode começar a falar ― disse o bruxo assim que a mãe saiu pela porta. ― O que é tão preocupante assim?

Júlia ficou séria e o encarou.

― A Terra não está desaparecida ― disse ela depois de umedecer os lábios.

― Como assim? ― perguntou o bruxo temeroso. ― Mas a história fala que ela desapareceu durante uma festa.

― Eu sei, mas essa história não é verdadeira ― disse a Morte seriamente. ― A história verdadeira é que o Poder a aprisionou num deserto. Assim como aprisionou o Céu e a Água, em seus respectivos reinos.

Ele estava boquiaberto.

― Quem te contou isso?

― Guerra. Ela descobriu isso tudo quando se aliou ao Poder. ― E fez uma longa pausa. ― Além de que descobriu um fato muito importante.

― Qual fato? ― perguntou ele preocupado.

― Rodrigo ― disse ela pausadamente enquanto segurava suas mãos. ―, você não é o mestiço da profecia.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram do segredo? Mande reviews e eu posso tentar postar até sexta ^^



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