Além das Salvias escrita por AnandaArmstrong


Capítulo 3
Capítulo 3 - Clarent Hill


Notas iniciais do capítulo

Agora sob o ponto de outra pessoa, a Louise :D Gosto muito dela, espero que vocês gostem também ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/262429/chapter/3

Hoje está um dia lindo! Os passarinhos cantam, as árvores chiam com o vento batendo (eu definitivamente AMO esse barulho!) e os apaixonados pensam na pessoa amada. É um dia realmente feliz. Bom, não pra mim. Eu estou meia hora atrasada pro trabalho, ou seja, estou completamente ferrada. Principalmente porque já deve ser a terceira vez esse mês! Fazer o que, sou uma pessoa difícil de acordar. Acho que a maneira mais fácil de me fazer sair da cama é me jogar no meio do carnaval de Salvador, no Brasil. Se bem que eu acho que eu levantaria da cama e começaria a dançar numa boa e pegar muitos caras. Quer dizer, quando eu acordo, geralmente eu fico com um mau-humor impossível. Enfim, é melhor eu correr, porque quando se tem um chefe como o Sr. Felbouw (ou Tommyzinho da pamonha, como preferir), NUNCA SE ATRASE! Ele é um ótimo chefe, mas é muito rígido. Ele tem uma história de vida bem longa. Tipo, muito mesmo. Não parece, mas ele é BEM VELHO.

- CORRA PELA SUA VIDA, LOUISE, UM DIA VOCÊ CHEGA NO SR. FELBOUW COM OS DOIS PULMÕES INTACTOS E COM OS JOELHOS INTEIROS! – Ouvi o Donatello me gritar do outro lado da rua, ele estava sentado na calçada (todas as ruas do vilarejo são de paralelepípedo) com o seu inseparável cigarro. O cara é pior que chaminé de indústria, aquelas gigantes que parecem ser maior que o Empire State e algum outro arranha-céu gigante juntos. E cara, eu não sou tão desastrada desse jeito. Quer dizer, é muito difícil correr nessa rua de paralelepípedos. Certo, certo, devido á família a qual eu pertenço, era pra eu ser ágil e equilibrada, como um gato. Mas eu acho que isso fica só na teoria, eu sempre ando com band-aid’s nos joelhos, por precaução nos bolsos e na bolsa também. Nunca se sabe a hora em que o chão vai sumir de debaixo dos seus pés, e quando você notar, estará caindo em precipício como uma jaca mole. Você vai precisar de um band-aid. Isto é, se você sair de lá vivo. Certo, é o que eu tenho que fazer se quiser tomar vinho forte á noite (eu já disse que AMO vinho?).

- OLHA QUEM TÁ DANDO LIÇÃO DE MORAL SOBRE PULMÕES NÉ? EU ESPERO QUE VOCÊ CHEGUE AOS VINTE CINCO SEM ELES ESTAREM NECROSADOS, E AOS VINTE E OITO, TOMARA QUE ELES NÃO TENHAM CAÍDO! – Dei o dedo do meio pra ele, que deu uma gargalhada, e eu continuei minha corrida! Certo, Flash se prepare, vou te substituir na Liga da Justiça!

- Corre Loui! – Ouvi outras vozes me gritarem.

- Um dia você chega lá! – Eles riram. Eu só não tive tempo de reconhecê-las, mas pude ouvir um “Ela está sempre correndo, sempre atrasada” e algumas risadas. Acho que as minhas sonequinhas pela tarde e ficar até a madrugada assistindo reprises de Rebelde não está ajudando a acordar mais cedo. Certo, só de brincadeira, eu não assisto Rebe... Tá, eu assisto mesmo, idaí?

Finalmente quando eu virei a esquina de casas coloridas e em estilo colonial, algo como um estilo vitoriano alternativo. Tipo as casinhas do Pelourinho, na Bahia, são todas juntinhas umas nsa outras, como se tivessem sido coladas por super bonder. Todas elas tinham um degrau na porta, onde sempre ficávamos conversando na casa de alguém, á noite. Apesar disso, elas eram todas diferentes umas das outras, umas altas, outras mais baixas, com adornos diferentes nas portas, janelas e cores diferentes nas casas. Umas bem chamativas como roxo e vermelho, outras comuns como azul e amarelo claros. Era realmente uma visão bonita de se ver. As várias árvores e o céu muito azul completavam, fazendo o paraíso na terra. Eu amo esse lugar.

Oh, ali está. A livraria do Tommy da Pamonha (se ele me ouvir falando isso, meus rins serão dolorosamente arrancados pela minha boca. Acredite, ele pode fazer isso. Pra todos os efeitos, isso permanece um segredinho nosso, oui?). É uma construção completamente diferente das outras, feita em estilo gótico. A faixada era uma parede enorme que acabava quando as casas vizinhas começavam. Era feita das mesmas pedras que construíam os castelos góticos. A porta era de uma madeira escura e pesada, mas muito agradável de alisar, se quer saber (quem diabos fica alisando uma porta de madeira e acha agradável? Eu. Sou única nesse quesito, cherie). Um belíssimo, gigantesco e muito colorido vitral se encontrava acima da porta, e dava um charme em particular para a única estrutura de estilo arquitetônico diferente em toda a rua (que também não era lá muito grande). Uma janela ficava á esquerda, e dava pra ver uma exposição de livros novos, antigos, manuscritos e o preço de cada coisa. Dava pra ver também o interior da loja, que não era lá muito diferente da faixada. O piso era da mesma pedra, e os móveis eram todos da mesma madeira da porta. Várias estantes de livros grudadas umas nas outras, e um interminável corredor atolado de mais prateleiras. Dava pra ver uma montanha também, opa, hehe, brincadeira, aquele é o Sr. Felbouw. Tom e o seu belo cabelo alguns tons mais claros que a cor da pamonha e alguns fios grisalhos. Fala sério, se o homem não fosse quase duzentos ou quinhentos anos mais velho que eu, ia ser um deus grego! Ele é... Opa de novo. Quem é aquele ser do sexo feminino parado ao lado dele. Eu nunca a vi na vida, e isso é impossível aqui em Clarent Hills. É um vilarejo pequeno, então todo mundo se conhece. E ainda com o mesmo uniforme da loja? Huummm, vou investigar sobre ela mais tarde.

Quem sabe se eu entrar na surdina ele não me ouve e eu posso fingir que estava lá o tempo inteiro espanando os livros naquele interminável corredor? Certo, péssima idéia. Aquela porta faz mais barulho que uma gata no cio.

Eu me aproximei lentamente da porta, empurrando-a o mais leve que conseguia. Dava passos dignos de um gato, e aporta já estava quase aberta o suficiente para eu passar, quando o pior aconteceu:

A porra da porta fez um barulho desgracento agourento.

- Boa sorte na próxima tentativa, Srta. Macky. – Ele falou sem se virar para mim. – Coloque o avental e venha cá, vou lhe apresentar á Clair Gunnhil, nossa nova funcionária.

- Merda de porta. – Praguejei baixinho, e depois acrescentei enquanto virava o corredor da área restrita para funcionários. – VOCÊ PRECISA COLOCAR OLÉO NAS DOBRADIÇAS DESSA JOÇA, DAQUI A POUCO ELA VAI DESPENCAR EM CIMA DE ALGUM CLIENTE E EU NÃO VOU ME RESPONSABILIZAR PELO SEGURO DE VIDA!

- Pra você chegar atrasada de novo e eu não notar? Não, obrigada. – Ouvi ele falar, enquanto deixava a minha bolsa no gancho atrás da porta e vestia o avental verde escrito em dourado “Clarent Books” na fonte Times New Roman. Criativo? É, eu sei.

- Não diga que eu não avisei. – Disse desdenhosamente enquanto parava ao lado dele e da tal de Clair.

- Clair, essa garotinha petulante é a Louise, minha funcionária favorita. – Ele disse, ignorando meu comentário. Eu o interrompi.

- E única na verdade, até agora. – Dei um sorriso grande para ela, que retribuiu com um sorriso de canto de boca. – Certo vamos lá! Tenho que lhe ensinar muita coisa sobre essa loja, minha pupila.

- Boa sorte, ela é uma péssima professora. – Ele disse enquanto voltava pro seu escritório, e no meio do caminho bagunçou meu cabelo. Na hora eu só pude soltar um “Eeei!” indignado. Aquele dali me ama mesmo, viu.

- Vocês parecem ter uma relação muito íntima, se conhecem desde quando? – Clair perguntou do nada, quebrando o silêncio que havia se formado após a saída dele.

- A maior parte das pessoas aqui se conhece desde sempre. Ás vezes a família de antepassados que moravam aqui retornam ao local de origem, seja em qualquer parte das Ilhas, a gente sempre fica sabendo. Se é que me entende. – Lancei um olhar provocador e suspendi a sobrancelha direita.

- Creia, eu sei como é. Sou de Manhattan, querida. Acho que não existe um povo tão fofoqueiro quanto a Elite de Manhattan. Adoram uma fofoca e nunca perdem a chance de humilhar alguém. – Bufou e continuou andando comigo até o final do corredor, que não era realmente tão grande, mas que todos nós sempre pirraçávamos e dizíamos que realmente era.

- Como era sua vida lá em Manhattan? – Perguntei curiosa.

- Ah, nada demais. Eu morava com meus pais e minha irmã, não fazia faculdade porque meu pai não aprovava, dizia que não havia necessidade. – Ela respondeu, parecendo meio desconfortável com o assunto. – O que eu sempre achei estranho, se ele queria que eu assumisse os negócios da família eu teria que ter um mínimo de noção de negócios. Mas ele nunca demonstrou o interesse, é isso que eu acho estranho.

- Wow. É, realmente. Se as coisas na sua vida funcionam como Gossip Girl, era realmente pra ser assim. – Exclamei, pegando um dos livros e a ensinando a numeração. Todos os livros são classificados por uma ordem de números de sete dígitos, um traço, o número do exemplar, uma barra e a quantidade de exemplares que temos daquele livro. Algo como isso: 1234567-2/5. Temos que ter esse controle, porque depois de alguns anos a livraria também teve que funcionar como biblioteca, já que nem todos tinham condição de comprar livros sempre que precisam de alguma informação, e aqui não tem internet e nem biblioteca.

- Bom, minha vida não é exatamente como a da Blair, apesar dos nossos nomes serem parecidos. Mas... Eu acho que daria um bom personagem de Gossip Girl. – Fez uma pausa e finalizou rindo.

- Certo Senhorita Blair Waldorf, vamos ao trabalho. – Alertei-a. – O chefinho é bem exigente no final do dia.

E o dia passou rápido, de fato. Arrumamos tudo antes de chegar algum cliente, no qual a Clair não se mostrou muito boa. Digo, em atender os clientes e contato. Ela parece ser um pouco desorganizada e não gosta muito de entrar em contato com pessoas, digamos assim. Porque será que ela se abriu comigo desse jeito? Tipo, a garota falou um pouco da própria vida pra mim. É uma coisa que eu vou perguntar a ela, espero que Clair não me entenda mal, eu sou muito sincera. Ás vezes isso pode ser um defeito.

- Ei, Louise. – Clair me chamou, de costas pra mim, ajeitando o lucro recebido na caixa-registradora. Era das antigas, feita de aço, já um pouco enferrujada e fazia um barulho bonitinho quando abríamos.

- Fala. – Sentei preguiçosamente na poltrona confortável do ambiente, também conhecida como “morango mofado” pelos frequentadores assíduos da Clarent Books. Era muito confortável de fato, mas era de um vermelho escuro muito estranho que dava a impressão de estar mofada.

- Onde você conseguiu essa tatuagem? Quer dizer, não tem nenhum tatuador na região, tem? – Ela perguntou parecendo meio insegura sobre a pergunta e eu respondi, tentando não parecer tão apreensiva da resposta quanto realmente estava. Os turistas sempre perguntam sobre isso, digo, a tatuagem é realmente diferente do comum.  Mas os habitantes daqui já sabem, estão acostumados.

- Ah, eu fui ao Caribe uma vez e fiz. – Respondi, tentando parecer displicente. Não sou muito boa em mentir, não tanto quando os outros. Principalmente com a Clair, se ela vai morar aqui, vai acabar descobrindo alguma coisa depois. Além do mais, ela está se tornando minha amiga.

- É porque eu nunca vi uma tatuagem assim. Todas as tatuagens que eu vejo parecem ser meio opacas e a nossa parece ser mais colorida, mais vibrante, parece que está quase saindo da pele. – Eu travei a partir do “nossa”. Como assim? Se ela tem uma dessa quer dizer...

- Você tem uma dessa também? – Pulei da cadeira na hora, sentindo a adrenalina correr feito louca nas minhas veias. Pedi ajuda á todas as entidades que conhecia. Pedi ajuda á Esmèr.

- Sim. Porque? – Ela ficou assustada com a minha reação. Quem não ficaria, né? Mas isso não é importante. Eu preciso saber agora o que está acontecendo.

- Me deixa ver. – Implorei.

Ela suspendeu uma parte da T-Shirt que estava usando, e se eu já estava assustada antes, agora eu pirei completamente.

Era o lobo.

O lobo de Joseph.

- Como você a conseguiu? – Exigi, já não escondendo o meu assombro.

- Eu voltei pra casa meio bêbada essa noite, de uma festa e no dia seguinte ela estava aí, eu achei que tinha feito sem querer, afinal, se faz muita coisa estranha estando bêbado. Você sabe alguma coisa sobre isso? – Ela parecia nervosa, e assustada. Deve ter visto alguma coisa. Ou alguém. Será que...

- Alguém em especial tocou nas suas costas naquela noite? Um rapaz talvez? – Questionei.

- Sim. – Ela se limitou a responder, parecia se lembrar de alguma coisa.

- Quem?

- Meu ex-namorado. – Ela desviou o olhar. Eu sabia de quem ela estava falando. Só podia ser uma pessoa. Uma pessoa que desapareceu há um tempo.

- Onde ele está? – Eu preciso saber. Preciso contar á Eric.

- Morto. – A resposta dura me pegou completamente desprevenida. Ela parecia estar quase chorando, mas eu preciso saber. Sua mão se voltou para a sua barriga, que estava um pouco saliente.

- Como ele morreu? – Perguntei ansiosa. Não podia ser verdade, Joseph não estava morto.

- Não sei, dizem que foi em um acidente de carro. Não tinha nem corpo pra contar história. – E eu sabia exatamente o que tinha acontecido. Joseph não estava morto. – Você sabe de alguma coisa. – Era uma afirmação. – Me conta. Eu preciso saber.

- Depois. Depois eu juro que te conto. É uma promessa, Clair. – Respondi olhando em seus olhos verde-escuro. O ar vibrava com o que foi dito. Promessas sempre têm de ser cumpridas. – Se o Tom perguntar, diga que eu já volto.

Eu saí da loja em disparada, deixando uma Clair completamente atônita para trás.

Eu corria usando todas as minhas forças, finalmente usando o legado da família.

Cheguei na frente da grande casa da família Strigo. Pulei o muro e abri a porta da casa, me deparando com a mãe do Eric e perguntei onde ele estava.

- No quarto. Porque? Aconteceu alguma coisa séria? – Me perguntou, mas eu não tive tempo pra responder. Eu já estava na frente da porta do quarto do Eric.

Abri a porta com força.

Ele me olhava sério. Estava sentado na janela. Me viu entrando na casa.

- Ela é uma de nós. – Disse arfante.

- Do que você tá falando? – Sua expressão séria se manteve.

- Da garota nova que você viu na pizzaria com o Donatello ontem.

- Você tem certeza do que está falando, Louise?

- Ela tem o lobo do Joseph. – Foi a única coisa que consegui dizer.

Sua expressão séria se foi.

Ele estava completamente assustado. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

IAIIII? Como foi?