Fight for the cure escrita por Pat Black


Capítulo 5
Lucy




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“Subam. Rápido. Rápido. Rápido” Sam gritava a plenos pulmões para os que iam à frente.

Lucy ainda pode vislumbrar, do alto das escadas, Anton subir alguns degraus e se virar para acertar os primeiros dos frescos e dos podres que avançavam pela janela do apartamento. Depois, se tornaram uma massa uniforme e não havia como o garoto parar todos eles.

Ela pode ver o primeiro agarrar a perna de Anton e cravar nela seus dentes famintos, para logo depois ter sua cabeça estourada por um tiro certeiro da Sam.

Mas aquelas coisas não tinham medo. Nunca. Não importava quantos tiros dessem, ou quantas bombas caseiras usassem, ou lhes ateasse fogo, ou atirassem as poucas granadas que o Doug trouxera do Forte Payton, nada os assustava realmente. Não estavam mortos, nem vivos, e só possuíam uma idéia, um desejo: saciar a fome que os consumia, dia e noite, noite e dia.

Do alto da escada de incêncio Lucy olhou ao redor, mas a escuridão não deixava divisar muito mais que um metro à frente. Olhando para baixo viu que Sam já se aproximava do último lance e passou a lhes dar cobertura junto com o Marcos.

Anton estava três lances abaixo e já lutava no corpo a corpo com alguns deles. Mesmo sendo exímio com a faca, eles eram muitos e o amigo estava ferido. Lucy pensou em apontar sua arma para o garoto e livrá-lo daquele sofrimento quando o ouviu gritar e começar a ser devorado por mais de uma daquelas coisas. Porém, Marcos ao seu lado segurou seu braço.

“Você sabe o que ele acredita disso tudo.” Marcos dissera quando mais daquelas coisas começaram a devorar o garoto.

E Lucy sabia. Como também entendia mais do que talvez Marcos imaginava.

Anton não ficou para trás apenas para atirar naquelas coisas. Não, só atirar não bastava. O garoto era tolo o bastante para se tornar uma isca perfeita para aqueles monstros, os retardando com carne e sangue mais do que com tolos e inúteis tiros.

Aquele idiota.

“Se afastem, vou usar a última granada para derrubar a escada.” Sam gritou para os dois e Lucy correu no encalço de Marcos em direção ao John e Lisa.

Sam colocou a granada, puxou o pino e correu contando até cinco, se jogando ao chão perto de uma das paredes laterais do terraço antes de chegar ao seis e ouvir o estrondo da granada.

Quando todos se ergueram a escada, junto com parte da parede do prédio, não estava mais lá. Se aproximando do local, por entre a densa fumaça, Lucy viu Sam constatar que por aquele caminho os desmortos não mais os seguiriam.

“Adeus Anton.” Sam murmurou olhando para os destroços abaixo. Os olhos secos, a boca crispada.

“Lacrei a porta a esquerda. E a direita não oferece perigo.” John comunicou com Lisa nos braços.

“E como vamos sair daqui?” Lucy perguntou olhando ao redor e sacudindo os braços. “Voando?”

“Acho que é uma ótima idéia.” Sam respondeu se afastando em direção a uma das laterais do prédio e começando a avaliar as opções.

Após dar uma meia volta e estudar o terreno e a pequena bússola em sua faca, Sam se aproximou do grupo com os olhos brilhando de satisfação

“Não há nem um metro de distância entre este e o próximo prédio. Podemos pular e tentar descer pela escada de incêndio que dá para o beco a leste. O caminho parece estar seguro naquela direção." Sam falou decidida.

Lucy deu um muxoxo.

“E falou a nossa destemida líder.” Comentou cansada de tudo aquilo.

Lucy odiava ter sido obrigada a acompanhá-los naquela loucura. Odiava cada minuto que aquela tola criatura se arvorava em líder e tentava mandar em todos ali. O que não daria para retornar a casa segura e ficar protegida entre seus muros ao lado das outras crianças, de Giles e Meg?

E, mais que tudo, odiava o modo como John olhava para Sam com respeito e um desejo tão poderoso que nem por um segundo ele lhe dirigiu alguma vez.

John só tinha olhos para Sam. Marcos só possuía olhos para Sam. Até aquele abobalhado do Giles parecia arrastar uma asinha em direção aquela idiota que só se tornara a Chefe do grupo, por que seu tolo pai e seu imbecil namorado, Doug, tinham formado o grupo, os unido e mantido seguros ao longo de mais de três estados, perseguidos por selvagens e zumbis fedorentos.

Mas ela, Lucy, estava bem antes de encontrá-los. Era como um gato na noite, com passos leves e silenciosos. Se não fosse pela promessa de conseguir alimento sem todos os riscos que corria sozinha, lá em Tupelo, não teria se unido ao grupo.

Na verdade, se não fosse pela visão de John, teria preferido seguir sozinha.

Mas o tempo havia passado e John a decepcionara em todas as vezes que tentara seduzi-lo. Taciturno, mal humorado, idiota. Podia chamá-lo pelos piores nomes, até de gay e ele não se abalaria, ou a tomaria nos braços e lhe daria o prazer de ter um homem lhe desejando, lhe amando, que havia perdido desde que aqueles malditos mortos vivos dominaram o mundo e destruíram seu reinado no High School Grand Ville.

Descobrira, tarde demais, que naquele grupo de operários e membros da ralé que conseguira ter sobrevivido a praga, uma rainha já governava com mão forte e temperamento frio. E não havia nada que pudesse fazer para desbancá-la a não ser não descuidar de suas costas. O que nunca foi possível.

Entretanto, assim como Lucy detestava Sam, a mais velha também não confiava plenamente na outra. Sam sempre a encarava com uma ponta de preocupação, mesmo quando dizia confiar em todos do grupo.

“Se você tiver uma idéia melhor Lucy, pode compartilhar conosco.” Sam declarou.

Apesar da vontade de mandar a garota à merda, Lucy permaneceu em silêncio.

De repente um baque surdo os assustou.

“Eles já estão aqui.” Marcos sussurrou ficando de prontidão.

“Vamos.” Sam declarou.

Primeiro arremessaram as mochilas. Depois Sam lançou-se para o outro lado rolando, após atingir o telhado oposto, para atenuar a queda.

“Joga a Lisa para mim.” Ela pediu.

“Lisa, preste atenção querida.” Marcos falou se ajoelhando em frente a criança “Eu vou jogar você e a Sam vai te pegar. Não precisa ter medo. Ok?”

Lisa anuiu com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas contidas. Marcos a agarrou firme a lançou em direção a Sam.

O corpo da criança voou pelos ares com os braços e pernas abertas por um instante e Lucy não pode conter um pequeno desejo de que Sam não a segurasse e todo aquele tormento que eles passavam, por uma tola e fantasiosa idéia de acabar com algo que não possuía cura, terminasse por fim com a queda da garota. Mas a Sam a segurou com um pequeno som de triunfo e Lucy suspirou infeliz se arremessando para o outro lado também.

Os sons surdos da porta que levava ao terraço se tornaram mais fortes tão logo Marcos e John pularam para o outro prédio. Com cuidado avançaram para a escada de incêndio na lateral esquerda.

Marcos foi à frente analisando o caminho retornando dois minutos depois.

“A escada está com defeito e só está utilizável até o terceiro andar. Por sorte é possível entrármos em um dos apartamentos e tentar chegar do prédio à rua.”

“Se seguirmos a leste só teremos mais algumas ruas a avançar e depois chegaremos e estrada secundária que nos levará até o CDC.” John falou se aproximando de Sam.

Ela concordou com o plano e Lucy não s e pronunciou.

“Vamos então. Podemos descansar por uma hora e depois seguir em frente.” Sam ordenou.

Desceram as escadas e entraram no apartamento com cuidado. Lucy esperou junto à janela com Lisa enquanto os outros três vistoriavam os quartos.

Devagar e paulatinamente Sam, Marcos e John verificaram o local, atentos e com as facas em punho. Mas, a não ser por um corpo ainda em decomposição no banheiro, que não oferecia perigo, mas que teve a cabeça varada por uma das facas, nada encontraram.

“O cheiro vai encobrir o nosso por um tempo.” Sam falou colocando umas luvas que encontrou no armário da cozinha, juntando duas panelas ao lado do defunto.

Lucy viu com desgosto a garota abrir a barriga do morto e devagar dividir suas vísceras nos dois potes, para logo depois salpicar fim da escada e a janela e com cuidado a porta da frente.

“Mesmo que eu veja vocês fazerem isso sempre, eu nunca vou deixar de sentir essa vontade de vomitar.” Lucy comentou levando Lisa para John e se acomodando em um canto para abrir um de seus preciosos chocolates e devorá-lo.

Sam balançou a cabeça e se aproximou de Lisa para verificar se a garota estava bem, Marcos começou a barricar a janela e John a porta da frente.

No escuro do aposento Lucy com os olhos alertas chegava enfim ao fim de uma equação que tomava todo o seu pensamento desde que Sam arriscou suas vidas para levar adiante um plano idiota e sem futuro, pouco depois ded ficarem presos no prédio aquela tarde.

Meia hora depois, cansados como estavam, todos adormeceram. Lucy havia se oferecido para ficar de guarda contando em colocar seu plano em ação.

Devagar agarrou boa parte da munição, das armas e dos suprimentos. Com cuidado retirou as peças que bloqueavam a porta e partiu escada abaixo com cautela.

Não encontrou nenhum fresco ou podre em seu caminho até a rua. Satisfeita avançou por entre os becos com sua natural habilidade de não se fazer notar, até que se achou nos arredores de Atlanta seguindo seu caminho para longe daqueles loucos que pensavam poder salvar o mundo.

Pela manhã, após horas caminhando, avistou um homem de pouco mais de quarenta anos que cortava lenha e cantava no quintal de uma casa velha onde mais ninguém parecia morar, e a quilômetros de qualquer outra habitação.

A sede levou sua prudência embora fazendo Lucy se aproximar com a arma preparada.

“Não precisa apontar essa arma para mim garotinha. Não tenho intenção de lhe machucar.” O homem falou tão logo a viu, os olhos brilhando de satisfação.

“Só preciso encher meu cantil, senhor.” Lucy informou, incapaz de perder a oportunidade de satisfazer a sede com água fresca.

Ela estava com uma automática e ele parecia não oferecer perigo. Estava tão magro, que até dava pena.

“Pode pegar quanta água precisar naquele poço ali minha jovem” O homem falou colocando o machado no canto e erguendo as mãos. “Meu filho está lá dentro e nós já íamos tomar o desjejum. Você gostaria de nos acompanhar?”

Enchendo o cantil e bebendo um pouco da água Lucy meneou que não com a cabeça. Quando sua atenção se desviou do homem para o cantil novamente, este sae aproximou muito rápico e arrancou a arma de suas mãos, lhe deu um golpe com a coronha, lhe derrubando ao chão.

“Mas, veja só minha cara, meu filho insisti que você faça parte de seu desjejum.” E isso foi o último que Lucy ouviu antes de ser arrastada para dentro da casa e se tornar o café da manhã de um garoto que havioa se transformado em desmorto há muito tempo.


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