Fight for the cure escrita por Pat Black


Capítulo 4
Anton




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Sam se debruçara sobre o mapa sobre a mesa, estudando com atenção a rota para o destino escolhido.

“O CDC em Atlanta é a nossa única escolha” Ela falou deslizando o dedo pelo papel áspero e amassado.

Olhando para a figura forte da garota, e em como todo o grupo parecia deslizar ao redor dela como mariposas perto de uma lâmpada, fizera Anton pensar que apesar de seus instintos gritarem que aquela expedição seria um fracasso, quem sabe, talvez no final poderia dar certo. Quem sabe pudesse acreditar na fada dos dentes e no papai Noel também.

Certo que todos sabiam como aquela coisa que tinham nas mãos era enorme. Big mesmo. Mas estavam seguros agora e aquela excursão para longe das paredes daquele novo abrigo tinha tudo para dar errado.

Primeiro se dividiriam e isso não era nem um pouco legal. Se afastar de Giles e Meg era o que Anton menos desejava no momento. Segundo eram apenas garotos e o mundo estava infestado por monstros, mortos e vivos. E por seu belo topete eles com certeza se bateriam com os dois em muitos momentos nessa viagem.

“Eu vim daquela área Sam. Aquilo lá é o inferno.” Lucy opinara colocando as mãos sobre a mesa. “Quase não conseguimos passar por Columbus quando saímos e a nossa rota no levará bem na mesma direção”

“Não. Pegaremos essas vias secundárias aqui e aqui para sair de Jacksonville. Subiremos em direção a Albany e desviaremos de Columbus bem aqui.”

Sam seguira com o dedo no mapa a rota escolhida e nem Lucy pode contradizer a lógica da mais velha.

“Mesmo assim quando chegarmos a Atlanta teremos que passar com uma boa parte da cidade para conseguir chegar ao CDC.” John comentou após se aproximar da mesa e examinar com cuidado o mapa.

“Não há outra forma. Seguir por outra rota seria arriscar demais. Não há lugar onde eles não estejam e sofremos muitas perdas no Alabama para darmos a volta por aquele caminho.”

Sam fixou seu olhar em Giles.

“Nem pensar em seguir pela costa.” Giles falou sério como poucas vezes o viram fazer. “Só vão encontrar mais dos vermes que seu pai acertou m chamar de selvagens Sam.”

Anton encarou o amigo e soube que havia muito mais na história de Giles sobre o que passara em Savannah do que ele chegara a contar a algum deles. Bem, talvez não a Sam. Por que aquele olhar trocado entre os dois certamente tinha muito mais escondido. Sam parecia saber com clareza o que passava na mente de Giles assim que ele mencionara os selvagens e Savannah.

“O veículo estão preparados. Estamos levando apenas o que precisaremos. A maior parte dos mantimentos ficará para vocês e as crianças Giles.”

“Ainda acho que deveria ir com vocês. O John poderia...”

“Giles.” Sam murmurou se aproximando e parando junto ao gigante negro de dezesseis anos. “Preciso que o John vá conosco. Não só por suas habilidades com armas, mas por que ele é nosso único mecânico. Não posso arriscar agora. Assim como não posso arriscar as crianças que ficam aqui.”

Giles fez menção de contrapor e Anton percebeu que Sam estava irredutível. Devagar ela colocou a mão no ombro do amigo tão maior que ela.

“Sei que é jovem. Somos todos jovens. Mas sei que cuidará dessas crianças com toda a sua força e sua vida. Sei disso. Nós voltaremos.”

Isso acontecera há uma semana e Anton olhando para fora, para o mar de mortos vivos ao redor do prédio em que estavam encurralados, não acreditando nem por um momento que houvesse forma de cumprir aquela promessa.

“Qual o grande plano agora?” Lucy gritou para Sam parando por um momento de caminhar de um lado para o outro.

Sam estava próxima a uma das janelas e não se dignou a responder a pergunta histérica da garota. Sentado ao largo Anton podia observar cada um deles e notar a apreensão de todos.

O que Lucy não entendia é que Sam não tivera opção. Aquele bando simplesmente surgira do nada na estrada e de repente se viram cercados por dezenas deles. Talvez centenas. Não havia como retornar. Só poderiam pisar na merda do acelerador, derrubar alguns daqueles desgraçados e fugir.

Conseguiram fazer tudo, mas em algum momento bater em muitas daquelas coisas acabou por destruir a suspensão do carro e tudo o que Sam pudera fazer foi colocá-los o mais próximo daquele prédio, rezando para que estivesse com poucos deles em seu interior.

Chegar a Atlanta fora até muito tranqüilo. A rota escolhida se mostrara a melhor possível. E os poucos errantes que encontraram não foi páreo para eles.

O mais difícil tinha sido a separação do grupo. Fora ser abraçado pelo Giles e sentir que não veria nunca mais aquele sorriso inocente do amigo ou a massa vermelha de cabelos da Meg. Após a morte de seus pais nas mãos daquelas criaturas, Anton não havia se sentindo tão triste na vida.

“O térreo e o segundo andar estão limpos, mas não acho que as portas irão agüentar muito tempo.” John falou entrando na sala após verificar todo o andar inferior.

“Eles estão se concentrando na área em que entramos.” Sam falou virando-se para o grupo. “A parte inferior do prédio parece nossa melhor opção.”

“Mas sem um carro não vamos chegar longe” Lucy contrapôs se aproximando de Sam.

“Em algum momento após entrarmos na cidade teríamos que nos livrar do veículo.” Sam explicou com a aquiescência de John.

“Mas...” Lucy parecia perdida.

“Presta atenção garota.” Marcos por fim se pronunciou. “Não podemos chamar atenção em uma cidade infestada por essas coisas. Temos que ultrapassar a parte leste da cidade em sigilo. Daí por diante, segundo o mapa, utilizar um veículo não será problema. Vamos conseguir outro. Para isso o John está aqui.”

“Anton, pegue a Lisa. John siga na frente. Marcos retaguarda. Lucy comigo.” Sam ordenou agarrando a sacola.

Anton não contrapôs. Carregando apenas sua arma e munição, colocou a garota nas costas e seguiu o grupo logo atrás de John, tendo Sam as suas costas como cobertura.

O caminho estava escuro e apenas as suas lanternas iluminavam aqui e ali. Sentiu que Lisa apertava um pouco mais o seu pescoço e o gesso em seu braço roçava sua pele causando um grande desconforto. Entretanto, nada o faria colocar a criança no chão naquele momento. Não enquanto não estivessem em uma área mais segura.

Chegaram por fim a parte inferior do prédio e John fez um sinal para que parassem. Devagar o loiro, após verificar que não havia nenhum deles por perto abriu a porta e todos se esgueiraram para fora.

O frio do fim de tarde açoitou a face de Anton aumentando ainda mais a sensação de vida em seu corpo. Esgueiraram-se em direção do descampado, mas a presença deles foi notada por dois bastardos à esquerda.

Sam os avistou primeiro.

Em um momento ela e Marcos estavam na formação e no outro se preparavam para o ataque corpo a corpo. Enquanto fossem poucos não seriam loucos de usarem as armas.

Sam atingiu um dos podres com a coronha da arma duas vezes. Tão logo ele caiu uma faca já varava seu rosto, atingindo seu cérebro.

Marcos parecia estar tendo mais dificuldade. Mas após alguns golpes a criatura não mais se mexia.

Apesar daquela não ser o melhor hora para avançarem, estando como estavam em uma área urbana onde mais daquelas criaturas estavam à solta, a noite que se aproximava oferecia a mais perfeita cobertura naquele momento.

Anton podia sentir o coração de Lisa contra as suas costas e a respiração ofegante no seu ouvido. E seu coração se apertou um pouco mais pela garota. De todos naquela empreitada a vida dela era a mais valiosa. Talvez cada um deles em algum momento sacrificasse muito de si mesmo para mantê-la viva e levá-la ao seu destino. Mas o que ela mesma entendia daquilo?

Quando Sam se ajoelhara ao lado da garota naquela última noite no abrigo, com todos eles ao seu redor, Anton sentiu que seu coração tinha diminuído no peito diante da enormidade do que pediam a uma criaturinha que nem compreendia o que estava acontecendo com o mundo, a não ser que os monstros dos contos de fadas pareciam ter criado vida.

Saindo de seus pensamentos Anton sentiu os pelos da nuca se eriçar sem razão aparente. Até que o barulho do primeiro tiro o alertou de que mais do que um ou dois zumbis estavam no encalço deles.

Virando devagar absorveu a imagem de dezenas deles que se aproximavam ao largo e a direita. Alguns mais velozes. Outros m ais lentos. Mas indubitavelmente se aproximando deles.

A corrida começara então. John ia à frente para abrir caminho, atirando em um ou outro desgarrado que aparecia a frente, enquanto os demais se ocupavam em lhes proteger às costas. Sam e Marcos estavam mais atrás e Lucy seguia ao seu lado.

Carregando Lisa, Anton só podia dar alguns tiros aqui e ali. Mas era o bastante para ajudar John.

“Á direita” John gritou alertando o caminho.

Os prédios se seguiam velozes e Anton apenas registrava as barricadas que aqui e ali impediam que se aventurassem em um deles.

“John, precisamos sair das ruas.” Sam gritou ao avistar um grupo de pouco mais de vinte mortos vivos a esquerda deles que se aliavam ao primeiro grupo para persegui-los.

Anton avistou a entrada de um do prédio ao mesmo tempo que John. A fachada de tijolos com os canteiros de flores murchas pareciam evocar a beleza antiquada do imóvel.

Sem tempo, John atirou na porta depois dando um empurrão com o ombro. Já dentro John e Lucy começaram a avançar pelas escadas seguidos por todos. Marcos e Sam ainda permaneceram uns momentos para trás, criando uma precária barricada que não seguraria aquelas coisas por muito tempo.

“Da frigideira para o fogo.” Lucy resmungara atirando do alto das escadas em alguns dos primeiros a conseguir entrar no prédio.

“Aqui.” John gritou e todos avançaram em direção há um dos apartamentos.

Anton entrou com Lisa seguido pelos demais. Tão logo entraram começaram a barricar aquela porta também.

“Ficar nesse local não é seguro.” Marcos se pronunciara.

“Vamos usar as escadas de incêndio para subir ao telhado.” John anuiu.

Os socos na porta começaram tão logo ele acabara de falar. Depois eram muitos e Anton sentiu o frio na nuca aumentar.

Foi estranho por um momento e ele não entendeu completamente por um segundo quando o peso de Lisa abandou suas costas. Por um breve instante pensou que algum dos amigos havia retirado a garota de sua proteção, mas no segundo seguinte sabia que algo estava errado.

Anton virou-se um pouco antes de uma daquelas criaturas morder a jugular exposta da criança e com certeza lhe presentear com um ferimento que a levaria a morte.

Não houve tempo para pensar, não claramente, talvez se houvesse ele tivesse tentado outra coisa. Mas tal qual aconteceu, Anton só pode erguer o braço e colocá-lo entre o pescoço da criança e os dentes da fera.

Ao sentir a carne tenra entre os lábios lacerados o podre o mordeu com mais força esquecendo-se da presa menor, que solta, foi ao chão. No segundo seguinte Anton erguia sua arma e estourava os miolos da criatura.

Com o braço livre se afastou do grupo, enfaixou a ferida como pode diante do olhar consternado de John e Sam.

“Droga, droga, droga.” Praguejou baixinho encostado à janela.

“Anton...” Sam tentou, mas o garoto começou a rir sacudindo a cabeça.

“Não achei que seria o primeiro a morrer nessa história.” Anton gracejou erguendo os olhos sorridentes para o grupo.

As pancadas na porta começaram a se tornar mais fortes e perigosas. Ficar ali não era nem a mais remota opção.

“Pega a Lisa e os outros e vai Sam.” Anton falou.

“Não podemos deixar você para trás.” Marcos gritou se aproximando e colocando a mão em seu ombro.

“Vou seguir vocês e dar retaguarda até quando conseguir.”

“Não...”

“É o melhor a fazer.” Sam falou abrindo a janela e avaliando o caminho de escape.

“Sam?” Marcos murmurou incrédulo.

Sam não respondeu, apenas encarou ao Anton e ele entendeu.

Ela não estava pedindo a nenhum deles algo que ela mesma não estava disposta a fazer. Em poucos momentos Anton estaria fraco, estava perdendo muito sangue, em pouco mais de uma hora eles teriam que carregá-lo e um fardo a mais seria adicionado ao grupo.

“Sam está certa, Marcos. Há muito mais em jogo aqui que eu, ou qualquer um de nós. Levar a Lisa ao CDC é o mais importante. Eu vou ficar bem”

Sem tempo para despedidas, Sam apressou cada um deles, seguindo por último. Enquanto subia as escadas de incêndio Sam olhou para baixo.

Anton estava agachado à janela, ao pé da escada e atirava para dentro do apartamento metodicamente. Seu topete estava impecável e sua mira parecia seguir do mesmo jeito. Um sorriso sacana iluminava sua face e seus olhos brilhavam com as lágrimas contidas. Sam soube em que ele pensava, ali em seus momentos finais, não por que o conhecesse mais que os outros, mas por que a cada tiro ele murmurava um nome: Meg.




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