Katniss não gostou nada do que Haymitch falou. Ela saiu praticamente bufando da sala de jantar e bateu a porta com toda a sua força.

Olho para Haymitch, mas não digo nada. Vou para meu quarto. Sento-me em uma poltrona confortável perto da janela.

Porque Katniss saiu com raiva? Será que ela não quer ao menos ser minha amiga? Seria ótimo se eu pudesse saber o que ela estava pensando.

[...]

Às dez horas Effie Trinket me chama. Está na hora de ir ao Centro de Treinamento, de ver de perto todos os outros Tributos.

Entramos no elevador. Apesar de todo o edifício ser chamado de Centro de Treinamento, os tributos treinam apenas no subsolo. Os outros andares são como uma espécie de casa, podemos assim dizer.

Todos os outros tributos já estão no local, eles não estão vestidos da mesma maneira como Katniss e eu. Somos os únicos vestidos iguais. Assim como os outros tem o numero de seu distrito pregado às costas, logo colocam um grande numero 12 em mim também.

A treinadora Atala faz um discurso dizendo que são expressamente proibidos combates corpo-a-corpo. Durante nosso treinamento em grupo, somos livres pra treinar em qualquer estação. Atala lê a lista das estações de habilidades.

Olhando ao meu redor, vejo os outros Tributos. Os Carreiristas deste ano são enormes. Com certeza devem ter treinado muito pra estar aqui. Todos eles exalam arrogância e desprezo. Atala termina de ler e eles vão para estação com as armas mais mortíferas.

Cutuco o braço de Katniss para perguntar onde devemos ir, ela não estava prestando atenção então toma um grande susto.

- Por onde quer começar? - Pergunto.

Ela olha em volta, observando os outros. Olha para os Carreiristas que estão claramente se exibindo, depois para os outros aprendendo a lidar com uma faca.

- Que tal fazermos alguns nós? - sugere ela.

- Ótima ideia - respondo.

A estação de nós está absolutamente vazia. Permanecemos nela por uma hora, até aprendermos alguns nós uteis. Depois vamos para a área de camuflagem. Nunca fiz camuflagem em mim mesmo, mas não deve ser diferente de decorar os bolos da padaria, então me divirto bastante nessa estação. O professor parece aprovar meu trabalho. Katniss me olha de uma forma estranha. Deve estar achando que sou maluco por estar me esfregando em argila.

- Sou eu que faço os bolos. - Explico a ela.

- Bolos? - Ela parece distraída com algo. - Que bolos?

- Em casa. Os gelados para a padaria. - Respondo.

Agora ela parece saber do que estou me referindo. Prim sempre a levava para vê-los.

- É lindo. Se ao menos você pudesse congelar alguém até a morte. - Diz ela.

- Não seja tão superior. É impossível saber o que você vai encontrar na arena. E se o bolo for de fato gigantesco? - Pergunto.

- E se a gente fosse para outra estação? - Pergunta ela.

[...]

Três dias se passam. Aprendemos a acender fogueiras, arremessar facas, fazer abrigos. Fomos a todas as sessões, menos na de arco e flecha e levantamento de peso como instruiu Haymitch.

Enquanto estamos treinando, eles nos obrigam a almoçar junto com os outros tributos. Como se para colocar medo nos outros tributos, os Carreiristas tomaram todo o espaço em volta da mesa. Humpf! Exibidos, esnobes e mesquinhos metidos a besta.

Katniss e eu nos sentamos para comer juntos. Ainda estamos seguindo o que Haymitch disse. Se não fosse por isso, acho que Katniss nem estaria falando comigo.

Para mantermos a conversa, esvazio a cesta de pães e observo-os. Conto a Katniss que foram cuidadosos em incluir pães típicos dos diversos distritos junto com os pães mais refinados da Capital.

- E ai está - Digo colocando os pães novamente na cesta.

- Com certeza você tem muitos conhecimentos - comenta Katniss

- Só sobre pães – Digo. Afinal isso foi o que aprendi minha vida inteira. - Tudo bem, agora pode rir para dar a impressão de que o que eu acabei de dizer era engraçado.

Como ótimos atores, nós dois rimos como dois velhos amigos de infância que não somos.

- Certo, vou continuar sorrindo prazerosamente e você fala. - Sugiro.

- Já te contei do dia em que fui perseguida por um urso? - Pergunta ela enquanto eu sorrio.

- Não, mas me parece fascinante. - digo.

[...]

No segundo dia, estávamos treinando arremesso de lança, mas quando eu olho para o lado a vejo: morena, de olhos negros brilhantes. A garotinha de doze anos do Distrito 11. Ela observava nosso treino.

- Acho que tem alguém nos vigiando - Digo. Katniss olha para o lado e a observa também. Jogo minha lança que acerta o ombro de meu boneco de treinamento. Droga! - Acho que o nome dela é Rue.

- O que podemos fazer a respeito? - Pergunta-me ela.

- Nada a fazer. - Respondo. - É só manter a conversação.

[...]

Effie e Haymitch se preocupam em nos atormentar, perguntando tudo o que fizemos durante o dia. Finalmente nos mandam dormir.

- Alguém deveria arrumar uma bebida pro Haymitch – Digo quando estamos em frente aos nossos quartos.

- Não vamos fingir quando não há ninguém por perto, certo? – Pergunta ela

Eu não estou fingindo, eu realmente quero ser amigo dela. E alguém deveria mesmo arrumar uma bebida para o Haymitch.

- Certo, Katniss. – Digo por fim, cansado.

Ela não entende mesmo que eu quero me aproximar dela, não é?

[...]

No terceiro dia, somos levados à nossa sessão particular com os Idealizadores dos Jogos.

Um a um, os tributos masculinos de cada distrito vão entrando, seguidos pelo tributo feminino. Enfim me chamam e me levanto. Estou muito nervoso com isso tudo. Com certeza os Idealizadores dos Jogos estão de saco cheio vendo todos os Tributos se apresentarem.

- Lembre-se do que Haymitch disse: para não esquecermos de arremessar os pesos. – Diz Katniss. Ela está falando comigo e não tem mais ninguém na sala. Estranho.

- Obrigado. Vou me lembra disso. – Digo – Você... Vê se acerta bem na mira. – Que estupido!