Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 55
O último suspiro e o último capítulo




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Horquídia mirava a visão pela janela e comentava que em breve eles estariam no Distrito 1. Piscki dormia em um sofá de couro tranquilamente e Adam caminhava para lá e para cá lendo e relendo os papéis que a Capital tinha os dado. Hoquídia já tinha passado tudo o que Adam deveria falar. Exatamente. O que ele deveria falar, e nada mais além disso. Era mais um controle da Capital para que ninguém falasse nada...desnecessário.

As árvores começaram a serem mudadas e ocupando seu lugar, os altos arranha-céu que se espalhavam pelo Distrito 1 e faziam com que a cidade inteira mergulhasse em sombras e fosse obrigado a recorrer a sua eletricidade. Adam agora também observava. Ali era como a Capital. Ele não poderia dizer que não era bonito, era extraordinário e de imensas proporções.

O trem parou.

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Adam caminhava direto para um pódio prateado com holofotes apontando para ele apesar de ainda ser dia e um grande microfono o esperava. Ele tocou duas vezes o microfone e ouviu o som surdo. As famílias dos tributos do Distrito 1 estavam posicionadas logo á sua frente com os olhos mórbidos a o encarar. A família de Annie era composta por três pessoas. Um mulher alta e magra, com cabelos morenos lisos e grandes olhos verdes como o da filha, apenas pelos grandes olhos já era possível perceber que era a mãe da garota. O homem ao seu lado era baixinho como Annie e gordo. Uma garotinha esperava na frente do casal. Ela tinha os cabelos como o da mãe, mas seus olhos eram castanhos como os do pai.

O lado aonde deveria estar a família de Floyd se encontrava uma velinha com cabelos grisalhos e mechas loiras presas em um coque muito puxado que quase fazia seus olhos castanhos pularem das órbitas. A avó de Floyd. Aonde estava a sua mãe e pai? Talvez mortos ou em qualquer outro lugar, mas não ali.

Adam começou a falar enquanto passava o rosto pela plateia. Eles tinham um jeito semelhante de se vestir como o gosto da Capital. As coisas ali eram apenas um pouco menos exageradas. Era tudo preto e com jóias ou ouro, como se eles necessitassem mostrar o quanto eram ricos.

– Eu estou aqui, não para falar da minha vitória sobre os jogos, mas sim, me desculpar por seus filhos ou parentes não poderem estar aqui. Comigo também trago as desculpas da Capital....

Ele escutou Piscki e Horquídia sentados em cadeiras de madeira, como as do público respirando. Piscki ainda tateava sua bengala no chão embora aquilo fosse desnecessário. Horquídia sorria como se aquilo fosse colado em seu rosto.

–...porque apesar deles saberem que aquilo foi necessário, foi uma grande perda para os nossos jovens. - Adam falava como se lamentasse muito e como se tivesse perdido um filho naquele jogo imbecil. - Eu quero pedir desculpas e falar que, seus filhos não morreram em vão. Eles estão ajudando a progredir e construir uma Panem melhor. Isso une todos nós.

Adam se silenciou, a luz dos holofotes foram descendo devagar até o garoto ser iluminado novamente pela luz do Sol. O povo aplaudiu, mas as famílias ficaram inertes, sem se importar com o que passava ali ou com o que tinha saído da boca daquele garoto. Eles só queriam as crianças que tinham perdido.

Adam foi escoltado por Pacificadores até de volta ao trem junto com Piscki, agarrado a seu braço para ter mais facilidade de andar, e Hoquídia observando as grandes e escuras construções.

Eles entraram no trem e sentaram no vagão principal. Agora que Adam parara ele percebera que seu bolço estava pesado, mas ele não teve curiosidade suficiente para descobrir o que era. Ali estavam apenas guardados os seus cartões da Capital se no caso ele esquecesse de alguma palavra ou coisa importante, era apenas checar.

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Eles passaram pelo Distrito 2, 3, 4, 5, 6 e finalmente chegaram no sete. Ele se lembrou de Kahinan e Renata. Principalmente de Kahinan em seu treino. Ele olhou pela janela assim que o trem parou. kilômetros e kilômetros de árvores completavam o Distrito inteiro. Homens atravessavam as ruas de pedra antiga com machados apoiados nos ombros e pedaços de madeira. Você escutava o rachar dos troncos ao serem repartidos e via aqui e ali árvores caindo. Cantos de pássaros ecoavam pelas florestas extensas e fazia com que tudo aquilo lembrasse Adam de casa. Ele desceu do trem e sentiu um cheiro de pinheiro atravessar o ar.

Os três foram encaminhados para a praça aonde era feita a colheita e Adam subiu á um pódio de madeira. Bandeiras negras com o símbolo da Capital em branco reluziam á luz do por do sol. Adam olhou diretamente para os poucos raios que ainda restavam antes do Sol desaparecer atrás do horizonte e imediatamente fechou os olhos. Assim que suas pálpebras permitiram com que ele enxergasse ele mirou o público. A maioria dos rostos ali eram sujos de terra. A maioria das pessoas eram grandes com braços fortes por causa do árduo trabalho. A família de Kahinan era feita por um casal, com ambos os cabelos cacheados. Os cabelos da mulher estavam presos em um rabo de cavalo, mas ela tinha permitido que alguns fios escapassem. Uma menina e um menino de cabelos loiros olhava Adam não como se quisessem culpa-lo por seus atos, mas sim como se estivessem com pena. O homem era alto e musculoso e mantinha o braço em volta da mulher. Ele parecia ser um homem carrancudo, mas quando sua mulher o olhou ele sorriu. Não um sorriso feliz, mas sim um sorriso de consolo. Renata provavelmente era a única filha. Seu pai tinha cabelos morenos e ondulados, ele tinha lábios finos. Sua mãe tinha um cabelo loiro liso e era mais baixa. Adam fez o mesmo discurso e de repente, bem ali, olhando as várias árvores, ele viu uma magnólia pequena e fraca, com apenas uma flor. O vento soprou e a florzinha cedeu.

Os olhos de Adam se banharam de lágrimas e ele quis parar ali mesmo e chorar. Ele quis se desculpar com as famílias e sair, mas ele sabia que teria que continuar. Ele procurou seus cartões em seus bolsos pesados e ele os achou, mas também descobriu porque eles estavam mais pesados que o natural. Ele sentiu o cabo prata esfriar sua mãe a fazer suar. Ele também sentiu um papel fino com algumas rabiscos e nele a coisa mais chamativa eram os olhos castanhos e agitados e o sorriso. Difícil de ser imaginado dormindo pela eternidade.

A lâmina estava afiada.

Ele soluçava.

–Querem saber. - ele olhou diretamente para o homem carrancudo e depois para a mulher de cabelos loiros lisos. - A morte dos filhos de vocês não foi necessária. Eles morreram, sim, em vão. Não pensem que eu venci. Você nunca ganha, porque as lembranças não abandonam. Mas não agora. Eu quero pedir desculpas a todos vocês. À Panem. Me desculpe pai, e meus dois irmãos. Me desculpe Melin, apesar de eu saber que a ideia de colocar o desenho no meu bolço e a faca tenham sido suas, me desculpe. Eu sei que você queria que eu lembrasse desses objetos porque marcaram a minha vida, mas eu vou usa-los. Me desculpe, e apesar de ter quase toda a certeza que a maioria de vocês não vai mudar a sua opinião sobre mim, sabendo que eu tentei, eu vou descansar... tranquilo.

A lâmina correu pelo tecido e a ponta foi encostada em sua barriga, aprofundando sua carne cada vez mais,e ele segurando o desenho de Flo. A mesma faca que tinha a matado. 

Hoquídia correu para ajuda-lo quando o corpo caiu imóvel no chão frio de madeira, mas mesmo que ela soubesse como, ela não poderia fazer nada. Piscki escutou e sabia o que acontecia e ficou imóvel em sua cadeira. O sangue vermelho pintou o chão e molhou toda a roupa do cadáver.  Os olhos castanho esverdeados foram se apagando e perdendo a vida. A última coisa que Adam viu foi o céu, tingido de vermelho como se ele próprio tivesse espalhado sua marca. O Sol se pôs. 

Naquela hora, o vento parou de soprar, os pássaros pararam de cantar e as folhas deixaram de farfalhar, pois todos queriam escutar os últimos suspiros de Adam Zeander.



                                    FIM


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