Adam entrou no Centro de Transformação e esperou Damen. Seu olhar era triste e abatido, ele encarou Adam sem um olhar culpado e o dirigiu a sala aonde Flo e seu estilista tinham conversado. Damen não falou nenhuma palavra, ele jogou seu caderno sobre a mesa e uma página se abriu. Eram desenhos de Florence durante a arena, com o vestido dela no desfile das carruagens, com a pele de lobo em suas costas, mas todas mostravam o mesmo sorriso vivo e olhos brilhantes difíceis de serem imaginados descansando pela eternidade.

Damen não se mexeu, apenas ficou ali observando seus esboços e desenhos.

–Ela foi uma ótima amiga e modelo para as minhas roupas.

Ele comentou e nada mais. Retirou um paletó de um armário e o colocou sobe a mesa ao lado dos desenhos. Os pré-estilistas entraram e começaram a preparar Adam, eles iriam fazer sua barba e bigode, mas ele não permitiu, deixando aqueles vários tufos desregulados espalhados por seu rosto. Levou alguns pontos para alguns ferimentos desaparecerem e seu cabelo que agora se encontrava um pouco acima do ombro foi cortado. Damen o vestiu e colocou alguns pontinhos ali e aqui para finalizar a roupa. Ambos se viraram para admirar o jovem no espelho, mas tudo que viram foi uma criança querendo parecer viva. Uma jovem alma morta.

Adam olhou por uma última vez os desenhos e parou, fazendo com que Damen o encarasse.

–Mais alguma coisa, Sr. Zeander?

– Você se importaria se eu... sabe... ficasse com um de seus desenhos?

Damen olhou para ele com um olhar curioso. Ele desejava dizer não, que aquela menina era obra dele e eram as últimas lembranças, mas era impossível ele dizer não.

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As mãos brancas rasgaram um dos desenhos do caderno e o deu para Adam. A pele branca do estilista fazia com que Adam lembrasse de Flo. Aqueles dedos ficando frios e o rosto perdendo a vida.

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Holofotes iluminavam o rosto que todos os Distritos desejavam ver. Os olhos castanho-esverdeados dele pareciam o de um animal assustado. Era como se quisesse fugir. Ele poderia estar em qualquer lugar menos ali, menos o lugar das lembranças. Suas vestes eram lindas. Seu terno verde escuro era marcado por raízes que se espalhavam por suas vestes descendo dos pés aos ombros. Seu cabelo tinha sido penteado e puxado para trás, mas minutos antes de entrar no palco o garoto o bagunçou, os deixando para todos os lados. Tufos de barba chamavam atenção em seu rosto como luzinhas de natal em um pinheiro. Ele lembrou de quando Florence subiu ao palco, caminhou com suas botas pelo chão brilhante e encantou toda a Panem com suas palavras.

-Adam? O-oi?- O homem de cabelos tingidos de rosa falava com Adam tentando conversar.

Adam encarou as lentes verde esmeralda, que brilhavam, e o sorriso chamava mais atenção. O garoto por alguns segundos não respondeu, mas se recobrou.

-Olá. – Foram as únicas palavras que saíram de sua boca.

-Então, nosso vitorioso! Conte-nos como é saber que vai voltar pra casa?

-Vou encarar a família de Florence e não sei como vou fazer isso. Vou abraçar meus irmãos e meu pai e vou me mudar para a vila dos vitoriosos. –

-Ótimo, ótimo. Deve ser ótimo rever a família, todos que você desejava ver novamente estão ali. Não é?

-É sim, Caesar. – Adam parou ali, era como se ele tivesse alguma palavra a acrescentar mas optou por não fazê-la. Todos que ele queria ver manos Florence.

-Então, Adam, me desculpe perguntar assim, mas é uma questão que toda a Panem quer saber. Você amava mesmo Florence Finnigad?

Todos no grande salão prenderam a respiração, como se seus simples pulmões trabalhando pudessem interromper a resposta gratificante de Adam. O garoto encarava o ar, ele quis escapar dali, se levantar e ir embora, mas ele já tinha feio isso uma vez e não faria novamente. Ele não sentia o coração que deveria estar pulando como uma criança impaciente em seu peito, estava tudo muito vazio, inclusive sua mente, e quando ele menos esperava, as palavras fugiram para fora de sua boca.

-Amava. Sei que devo ter sido a pessoa mais imbecil da terra, mas, apesar de tudo o que eu fiz, eu ainda a amo e minha mente continua preenchida de várias lembranças. Aposto que muitos de Panem não acreditam que eu exerço esse sentimento sobre ela, mas é a verdade.

-Obrigado, Adam, obrigado mesmo por sua colaboração. – Caesar disse em uma voz baixa e quase inaudível, como se não desejasse que o público escutasse.

-E ESTÉ O NOSSO VITORIOSO ANUAL!!!!- berrou o homem d cabelo rosa pink e o público vibrou, como o esperado.