A janta foi totalmente tranquila. Piscki, Adam e eu não falamos nada durante toda a janta, ficamos apenas escutando Horquídea falar como aquele trem era incrível, como andava rápido e como a arquitetura da Capital era totalmente e extremamente fabulosa (que com o tempo você vai aprender que é uma palavra que o pessoal da Capital adora falar). Ela falava sem interrupções, quase sem respirar durante um longo período de tempo, enquanto eu apenas balançava a cabeça e sorria fingindo concordar e prestar muita atenção, mas na realidade eu já tinha me perdido no meio das frases que ela falava.

Apesar daquele alimento que eu nunca comeria novamente estarem na minha frente, eu não toquei nenhum dedo em nenhum prato, apenas comi um pedaço pequeno de carne. Adam comia como um animal, o que me acendeu na mente, memórias antigas dele.

–Pelo menos algum tributo aqui come com educação, não é Adam??!!

–Desculpa - ele falou, o que foi extremamente estranho, ele nunca admitiria que estava errado ou que tinha errado alguma coisa. Era esse seu jogo, parecer facilmente manipulado, mas na hora ele iria mostrar como realmente era, e para minha sorte, eu sabia como ele poderia ser.

Piscy começou a nos passar algumas regras muito básicas, como não acender nenhuma lareira a noite, não pegar nada na cornucópia. A única coisa que era necessária era um pote.

–O QUE?- falei extremamente perplexa. Eu já tinha pensado em pegar várias coisas, menos um simples pote.

–Éh- repetiu nosso mentor em um tom óbvio- Colocar água, guardar carne... É bem útil.

Depois daquele comentário, eu fiquei quieta, pensando se um pote teria mais de duas utilidades.

O jantar acabou tranquilamente e eu fui para o meu quarto. Coloquei uma fina camisola de cetim e me deitei na cama, me espalhando por toda ela. Eu dormi imediatamente. Foi uma noite sem sonhos. Uma noite fria.

Acordei no dia seguinte com Horquídea berrando "educadamente" (como ela falava) em minha porta. Da que algumas horas estaríamos na Capital e ela queria passar algumas dicas sobre o meu comportamento, que ela falava ser um dos mais impecáveis que já viu.

Ocupei meu tempo estampando meu rosto com sorrisos falso para as pessoas da Capital.

Chegamos e com o mar de pessoas vestidas de palhaços o que eles chamavam de "look da capital", eu sorri e abanei como se fosse perfeita e soubesse exatamente o que estava fazendo. Descemos do trem tranquilamente e fomos a um alto edifício metálico com o total de doze andares. Entramos cercados pelo um mar de diferentes cores que fervilhavam e gritavam. Os carreiristas eram aclamados por toda a Capital e nós do 10, 11 e 12 éramos apenas invisíveis aos olhos dos palhaços coloridos da Capital.

Subimos e simplesmente passamos a tarde tirando medidas para as roupas do desfile nas carruagens de cavalos para Panem.

Eles fizeram com que Adam tirasse aquela quantidade imensa de casacos que cobria seu corpo, até que ele tirasse a camiseta e meu rosto ficar vermelho de vergonha nas bobagens que pensei.

Ele era realmente musculoso e muito bonito. Seus olhos eram perfeitos, sempre mudando de cor de acordo com o dia, às vezes verdes, outros marrons. Seu cabelo castanho ralo estava bagunçado-arrumado como sempre e ele estava perfeito.

Ele percebeu meus olhar vibrante para seu corpo e sorriu para mim. "Você não estava deprimido??" aquilo correu por minha mente rapidamente, mas eu ri de volta. Era engraçado sabe. Aquelas pessoas tirando nossas medidas e conversando abertamente sobre nada mais preocupante que a pele de raposa que eles não tinham conseguido ou o novo batom que tinha acabado o estoque nas lojas. Eles não iriam morrer, era fácil para eles. Eu iria morrer, mas porque ficar me carcomendo enquanto tinha mais alguns dias de vida? Aquilo era um suicídio mental lento, eu estava me deprimindo e não poderia deixar isso acontecer pelo menos até chegar na arena. Afinal, eles me deixariam bonita, e era aquele rostinho bonitinho e inocente que eu deveria exibir para os patrocinadores.