Acordei camuflada pelo pêlo branco do animal. Era quente. Consegui amarrá-lo em volta de minha roupa e ficou como um belo casaco. Saltei do telhado, que não era muito alto e cai na neve fofa. Nuvens esbranquiçadas completavam o céu azul e tudo estava silencioso. Tudo. Comecei a caminhar procurando me afastar daquele campo aberto aonde seria fácil alvo para qualquer um. Caminhei por muito tempo entre as árvores e arbustos. Subi em algumas para procurar sinal de meu aliado. Nada.

Aquele silêncio estava começando a me dar pânico, como estar em um labirinto sozinha. Meu nervosismo me consumia como um monstrinho tentando se libertar, mas eu precisava escutar alguém, ver sinal de vida e entender que eu não estava sozinha. Eu tinha vontade de correr para escapar, mas eu não sabia de certo do que estava fugindo, muito menos do que isso me adiantaria.    Caminhei com passos mais largos e minha respiração ecoando pela floresta. Passos. Saltei como um macaco para a primeira árvore que eu vi e me estreitei entre os galhos. Tudo estava claro.

Vi a garota do 4 segurando um tridente e discutindo com o garoto magrelo do Distrito 5.

-Não podemos ir para lá!! Os carreiristas estão lá com o garoto do 7!! – a garota fincou o tridente no chão -

-Nós vamos para lá, eles tem comida e não comemos dês que saímos da cornucópia!! VOCÊ QUER MORRER??

O garoto se aquietou, encostando-se em uma árvore.

-Eu não vou. – ele afirmou confiante do que fazia –

-Você tem certeza das escolhas que está fazendo? – a garota do Distrito dos Mares olhou com seus olhos negros nos olhos fundos e castanhos do garoto. Seus óculos reluziam a luz que refletia da neve e ele começou a tremer.

-S..si.sim. – ele gaguejou.  –

Imediatamente ela desvincou o tridente do chão e empurrou o garoto contra a árvore. Dois dentes do tridente ficaram presos entre o pescoço do tributo enquanto o terceiro se prendia á casca da árvore. Ela errou, e esse foi o mesmo pensamento que o garoto do 5 teve. Ele gargalhou.

-Você errou. – ele falou com satisfação no olhar.

-Acho que isso não seria prudente de fazer, no caso quem está com a arma aqui sou eu.

-Ah, Nike, por favor, tenha consciência, eu sou o cérebro daqui!!

A garota rangeu os dentes e com um último olhar de total raiva, pronunciou.

-Adeus, Mateus. Infelizmente, se não me ajudam e apenas ganho uma pedra no meu caminho, eu devo jogá-la para fora, não é?

Ela girou o tridente e, com um baque surdo, o pescoço do garoto se entortou quebrado e ele caiu no chão morto. Um canhão soou na arena.

-Menos um.  – Pensei –

Agora era só segui-la, afinal, teríamos o mesmo objetivo e a única diferença de nós duas era que , ela não fazia idéia, mas era a minha isca.