Observei o sangue escorrer pelo crânio do bestante, sujando seu pêlo branco e fazendo-o fechar sua boca de dentes afiados. Ele largou minha perna e caiu pelo buraco, sem vida, mas se eu esticasse o braço poderia alcançá-lo. Escutei os outros lobos pararem de latir e arranhar as paredes, o que me tranquilizou. Saí pelo resto da chaminé e encarei a luz da lua e estrelas. Deitei sobre o telhado gélido e respirei, como se ar fosse à coisa que eu mais necessitasse no mundo. Talvez fosse se contássemos além de tranquilidade, esperteza, beleza, comida, uma boa cama e autocontrole. Fiquei ali parada e me permiti descansar, sem correr perigo nenhum. Agora seria uma boa hora para dormir segura, claro, se o teto não dispencasse abaixo de mim. Estava pronta para virar os olhos e descansar quando começou a nevar, de início uma neve muito fraca mas ela começou a engrossar e meu frio permaneceu enquanto eu esperava inutilmente meu casaco me aquecer como fazia, mas isso não aconteceu.

Fiquei ali, batendo os dentes e tremendo quando uma idéia me ocorreu. O lobo ainda estava morto na chaminé.

Estiquei meus braços pelo túnel até sentir um pelo fofo e frio , como minha pele se encontrava, puxei com toda a minha força que um dos braços poderia agüentar e consegui puxá-lo para fora. Perfeito.

Procurei entre minhas vestes a soqueira afiada e enfiei no buraco aonde tinha entrado o dardo.  No crânio do animal. Aquele não era um dardo de veneno, como a maioria dos meus. Era como o dardo de Adam e aquilo que o lobo e o garoto tinham de diferente era a sorte. Um dardo que o matou por passar no cérebro, agora o de Adam, apenas pelo ombro. Eu tinha tido sorte em menção ao lobo, agora apenas o futuro poderia me falar o que eu teria com Adam.

Comecei o processo lento de retirar a pele e deixei-a para secar, retirei toda a carne que e comecei a me alimentar dela crua. Aquilo era maravilhoso. Nunca seria como os banquetes que tínhamos na Capital, mas mesmo assim era muito bom e eu poderia guardar aquilo por vários dias até encontra Kahinan. Ele era a minha próxima tarefa. Eu iria encontrá-lo antes que a morte nos encontrasse.

Me cobri com a pele e comecei a me esquentar, me protegendo da neve com a barriga cheia de carne de lobo. Agora era apenas esperar até o amanhã.