Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 20
Banho de Sangue




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Fiquei sobre a placa de metal e vi os olhos melancólicos e cobertos de pena de Damen me observarem. Um tubo de vidro começou a subir. É inútil tentar escapar do caminho que está traçado para você, uma voz idiota falou em minha mente. Minha mão se grudou no vidro enquanto eu subia. Meu coração estava a ponto de explodir.

Fechei os olhos, afinal, nada poderia me machucar no primeiro minuto da arena. Era contado 60 segundos antes do banho de sangue começar e caso você saísse de sua placa antes disso, seria explodido, voando pelos ares com os membros espalhados pelo campo.  Apenas abri os olhos quando senti um ar frio percorrer meu corpo.

 Era tudo branco, branco, branco, branco, exatamente como minha roupa. Montanhas delimitavam o que seria, provavelmente, o fim da arena. Ao longe se encontrava diversas árvores esqueléticas que, conforme prosseguia a floresta, elas iam ganhando folhas. Já achei um lugar para me esconder, pensei.  Eu deveria correr um longo campo nevado para chegar até elas.

 Vi os outros tributos. vi Adam, vi Kahinan, vi Giulliano, vi a garota do 5, a do 4, o garoto do 4, os carreiristas, a garota do 3 e 7 que pareciam trocar olhares interessados em fazer uma aliança bem ali. Observei a Cornucópia. Um chifre dourado sobre a neve branca refletia a luz do Sol. Ali estava tudo o que se precisaria para sobreviver. Vários objetos se espalhavam pelo chão, os de menos valor perto de mim e as armas mais letais e alimentos se escondiam dentro do chifre. Minha zarabatana brilhava no chão envolto em uma bainha de couro marrom. Ao seu lado, uma soqueira eum pote. Repassei rapidamente o que Piscki tinha falado sobre potes.

53, 52...

“Fixe em sua mente o que vai pegar logo!” uma voz berrou dentro de meus pensamentos. Minha cabeça latejava de dor e meu coração provavelmente poderia ser escutado pelos outros tributos.

Olhei para Adam e com aquela imagem minha mente se cobriu de raiva. Ele trocava olhares com a garota do 1, não era algo como “vou te matar”, estava mais para “ok, eu pego aquela arma e você a outra.” Pequenas palavras escapavam de sua boca, o que para mim não significavam nada, e apontava para alguns objetos na Cornucópia.

43,42...

Ele escutou a contagem, parou automaticamente e virou o rosto para os objetos que iria pegar, e é claro, ele olhava diretamente para a lança que, por mera coincidência, estava no caminho dos objetos que eu pensei em pegar.

Limpei as lágrimas semi secas de minhas bochechas e me preparei para correr.

30,29...

Observei os números em vermelho serem transmitidos por uma projeção que pairava no ar na entrada da Cornucópia. Percebi que meu corpo tremia, os segundos pareciam voar em frente aos meus olhos, entrando em desespero.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...

-BEM VINDOS A 79ª EDIÇÃO DE JOGOS VORAZES!! – berrou o interlocutor de nossa arena -

Um canhão soou alto e grande parte dos tributos correu em direção á cornucópia. Vi a garota do 5 correr em direção á floresta de galhos secos que rodeava o campo aberto de gelo. Renata correu junto com a menina de olhos puxados e cabelos negros. Corri, corri como nunca tinha corrido com a energia sendo distribuída por meu corpo com os olhos vagando atentamente por o que estava em minha volta. Corpos cainham no chão e sangue espirrava pintava o chão. A garota do 6 chutou as costas de um garoto, mas ele conseguiu diminuir o impacto e sair correndo. O garoto do 4 pegou uma mochila e correu para a floresta. A carreirista do 2, de sobrancelhas juntas e cabelos bagunçados, pegou uma faca e atravessou um garoto, o sangue correu pelo corpo dele e molhou os dedos da agressora. Ele levantou, o que era extremamente inútil, mas Adam correu até ele e correu uma faca por seu pescoço. Os olhos dele viraram em minha direção, mas não olhavam para mim. Adam correu em direção á garota do distrito 12, quase entrando em meu caminho, mas algo o fez para e voltar. Giulliano.

Os olhos verdes do garoto décimo segundo entraram em desespero e ele se escondeu atrás de uma caixa. Péssima idéia, aquilo o levaria para dentro da Cornucópia. Resultado. Morte. Adam foi atrás dele, eu fixei minha atenção nos objetos, agora eu não teria a oportunidade de espalhar minha atenção pelas mortes que se erguiam sobre aquele Jogo.

Corri em direção à zarabatana. Era minha. Eu estava adentrando na Cornucópia. Senti o cheiro de sangue que se acumulava ali, tive vontade de vomitar ou desistir, mas peguei a soqueira. Incrível. Não era exatamente uma soqueira comum. Corri a mão pela zarabatana enrolada na bainha e assim que fui tentar agarrar o pote, a garota do distrito 4 foi mais ágil, pegando, também, um alicate. Olhei para ela levantando e levantei a soqueira em uma altura suficiente para rasgar sua barriga, se ela viesse para cima de mim, eu iria matá-la. Seus olhos castanho escuros estavam elétricos e seus cabelos negros eram presos em um rabinho. Ela abriu o canivete tirando uma pequena faca, mas eu corri em direção à floresta das árvores nuas. Já conseguia ver os galhos secos com neve e estava quase chegando quando um tributo me fez rolar na neve e minhas armas deslizaram até as árvores.

A garota do 1, Anne, se jogou todo o seu peso para cima de mim. Meu corpo estava deitado no chão, seus braços e pernas me seguravam, era ridículo tentar se mover.

–Uou!! E você ganhou 12!! Fez o que para conseguir aquela nota??? Pagou os idealizadores ou vendeu o corpo? – ela debochou -

Eu poderia tolerar qualquer xingamento, mas simplesmente não suportava que duvidassem de minhas habilidades. Suas mãos estavam suando, suando de mais. Consegui escapar meu braço direito de seu pulso, dei um soco naquele nariz fanho e ela rolou para o lado enquanto sua mão correu pela bainha e retirou a faca. A lâmina roçava em meu pescoço, tínhamos voltado a luta de segundos trás, senti sangue quente correr por minha pele branco-morena. A última coisa que vi foi uma faca voando em direção ao ombro de Anne. Um gemido escapou de sua boca e ela caiu de dor, com o líquido vermelho dela pintando a neve branca. Observei a faca que ela tinha acabado de jogar, inutilmente, em sua agressora. Aquilo não era uma faca da cornucópia. Seu punho era como se fosse feito de madeira. Era como se fosse um galho que acabava em uma ponta afiada. Me levantei e corri, dessa vez sem nada me impedindo.

A garota loira do Distrito 7, Renata, pegou a faca no ar e prendeu no mesmo galho que tinha aparecido na entrevista preso em seu cabelo loiro. Um galho de magnólia. A última coisa que aquela garota seria, era burra. “Vocês tem direito de levar um objeto de seu distrito”. Era uma regra. Ela usou aquela regra. Trapaça também era uma estratégia. Ela estava posicionada ao lado da garota do 3, que segurava um machado e eu decidi que não gostaria de ter um contato direto com aquela arma.

Corri para a floresta aonde se encontravam jogadas minhas armas. Finalmente, tinha escapado do banho de sangue viva. Minha vontade era voltar e esfregar na cara de Adam minha vitória, mas ele estava ocupado fazendo sua lista de mortes. Não era exatamente do meu lado que ele estava naquele jogo. Vi meu namorado pelo canto dos olhos, em suas mãos, a garotinha do 12 gritava estridente, mas ele não deu importância. Uma faca se enterrou em sua garganta e seu corpo perdeu a vida.

Eu estava a passos de minhas armas quando o garoto do 7 passou correndo por elas, suas mãos ágeis as carregaram e ele sumiu entre as árvores.

Minha caçada tinha começado.



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