Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 18
Noite mais complexa de minha vida




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/262085/chapter/18

Sentamos na mesa de jantar, fiquei olhando para o prato metálico e brincando com meus garfos. Eu ainda vestia a roupa da entrevista. Piscki não falou nada, muito menos Horquídia. Adam comia, silenciosamente, sem nenhuma expressão no rosto. Aquilo começou a me irritar.

–Não posso continuar com isso? - repeti a frase de sua entrevista- estava nervoso o bastante para dar essa desculpa? O que aconteceu?

Adam me olhou. Seus olhos castanhos pareciam desesperados, era apenas um ser humano tentando se agarrar a qualquer coisa que o ajudasse a continuar.

–Eu não vou suportar.

Ele falou com a visão baixa.

Uma voz estridente queria berrar em minha total insana mente para falar sobre tudo o que ele me fez passar e não se lembrava em causa de estar embriagado, os cortes, machucados e traumas. Tudo isso por amor. Mas seria mesmo amor aquilo que eu sentia? Meu coração diria que sim, agora minha mente falava que eu era burra de mais para conseguir diferenciar uma coisa das outras. Provavelmente eu era a pessoa melhor do mundo. E quem diria que as pessoas boas não eram burras? Afinal, os idealizadores eram pessoas que, para mim, faziam o mal e se davam bem na vida. Eu era uma pessoa boa, eu acho, e agora seria morta na arena. Provavelmente quando a morte chegar eu finalmente vou ter entendido a vida, mas então vai ser tarde, ou talvez ela tenha sido feita pra realmente para não ser entendida. Eu queria soltar uma tremenda gargalhada. Ele era idiota, mas eu o amava.

Deixei a mesa, Adam se levantou no mesmo momento que eu, mas eu o encarei. Os olhos castanho-esverdeados encararam os meus marrons. Dei as costas e fui para o quarto.

Eu não jantei. Eu não fiz nada além de ficar na cama olhando para o teto branco como papel. Eu não queria sair, e por mais que devesse descansar, meus olhos estavam pregados. Desarrumei toda a cama, com alguns lençóis jogados no chão e outros travesseiro. Encostei um banco na janela e passei o resto do tempo observando as estrelas. Lembrei-me de todas as vezes que eu quis berrar com Adam, mas não tinha feito. Eu era uma covarde, uma verdadeira covarde, como sempre. Era minha última noite na Capital. A última noite que eu me sentiria viva. O que dava para se chamar de vida estava morrendo a cada dia que se aproximava da arena, até que iria sumir por completo.

Fiquei horas e horas admirando as bolas brilhantes que enfeitavam o céu noturno e a única constelação que eu conhecia, tinha sumido. Ali não tinha tantas estrelas quanto no Distrito 11.

Caminhei até o armário e retirei um metal que prendia os vestidos, era como uma lança sem ponta. Comecei a fazer movimentos repetidos com ela, atacando um adversário invisível e treinando meus movimentos de maior sucesso.

Aquilo era bobo e provavelmente as avoxs que fossem limpar aquilo na manha seguinte iriam se perguntar o que eu teria tentado fazer, desmontando totalmente meu armário.

Não percebi, mas o Sol começava a produzir desenhos nas paredes com a sombra que fazia nas cortinas e ele se revelava cada vez mais de trás dos prédios, exibindo sua beleza ao nascer todas as manhãs.

Me endireitei conferi o relógio. Seis horas da manhã. Caí em cima da cama, com o suor escorrendo por minha testa depois da luta imaginária e finalmente mergulhei em sono profundo, mergulhei nos fundos mares e vastas planícies que apenas eu mesma poderia explorar. Um mundo meu e que eu tento gostava.

Foi um dos poucos sonhos tranqüilos que tive. Eu descansava pelo orvalho que se espalhada por campos verdes. Era assim que deveria ser meu Distrito. Bom, uma parte dele era assim. Era o lugar aonde meu pai me levava para pescar. Aonde eu realmente descansava e me sentia viva, me sentia viva longe de todos, até Adam. Apenas eu, meu pai e os sons silenciosos, pouco percebidos pelos humanos e notados pelos animais. Com aquele campo eu tinha aprendido a escutar o silêncio. O silêncio para as pessoas e para outros, a respiração da floresta. Ali eu tinha decorado o saltitar das lebres, o bater das asas de pássaros, a respiração de um urso e o que eu tinha aperfeiçoado no treinamento, tinha começado ali.  

Ali eu estava despreocupada com o meu futuro. Eu tinha finalmente sido o que eu nunca tinha conseguido. Cuidar só da minha mente por alguns momentos. Me levantei da grama macia pronta para retirar a roupa e mergulhar no lago que se encontrava perto de minha cama de flores e orvalho quando a voz de Piscki me acordou. Era hoje a arena.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos- A Minha Batalha Começa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.