A noite na floresta proibida é escura. Assustadora. Perigosa. Sombria.

Você nunca sabe exatamente o que se esconde atrás de suas árvores centenárias. Algumas coisas mortais já foram vistas por aqui. Lobisomens. Testrálios. Um gigante. Uma colônia de aranhas maiores do que um ser humano. Dementadores. Carros enfeitiçados que piraram na batata e ficaram totalmente selvagens. Entre outras centenas de outras coisas que é melhor nem mencionar.

Claro, que se você souber se virar na floresta proibida, não tem problema nenhum.  E saber se virar significa ficar em silêncio, não se mover e tentar não parecer alvo. Viu? Fácil.

É óbvio que os humanos não são muito bons em fazer isso. Mas as corujas... Ah! Nós corujas somos mestras em se esconder nessa floresta. Até porque aqui é um ótimo lugar para um encontro às escuras.

Sinceramente, a maioria dos bruxos nem se pergunta o que as corujas fazem quando não estão a entregar cartas. Provavelmente acham que nós só comemos e dormimos. Ora, por favor, né? Tenho coisas melhores para fazer. Como namorar, por exemplo.

Bati as asas, planando sobre a floresta, procurando o local de encontro. Normalmente, as corujas macho levavam as fêmeas para os encontros. Mas ele veio de muito longe. E se meu dono me pegasse tendo um encontro, tenho certeza de que ele ia me zoar pelo resto da vida.

Avistei uma clareira, e mergulhei no ar. Pouco antes de bater no chão, abro as asas, e voo até um pinheiro.

Olho ao redor. Se ele estiver aqui, provavelmente já me viu, por causa das minhas penas brancas. Mas eu teria um pouco mais de trabalho para acha-lo.

Vejo um pequeno movimento, numa árvore do outro lado da clareira. Me preparo para voar, me inclinando naquela direção. Conto até cinco. Um... Dois... Três... Quatro e...

Dou um pulo e voo, mas não na direção do movimento. Vou para cima. Dois segundos depois, vindo de trás, uma coruja preta passa exatamente onde eu estava. Olho para o outro lado da clareira. E vejo uma coruja marrom tendo um ataque de risos. Os dois bobões combinaram de me dar um susto, e eu acabei com o plano genial deles.

Olho para a coruja negra que caiu no chão. Ele me encara os olhos brilhando com humor. Saio voando, e pio desafiadora. Você não me pega, eu digo.

A floresta passa abaixo de mim como um borrão. Sei que ele está na minha cola. Mas essa eu não vou perder. E juntos, voamos pela noite, até o amanhecer.

 Edwiges

 O namorado dela... coruja da espécie Strix huhula, nativa da américa do sul. Veio de muito longe, hein, camarada?