Abri a porta dando de cara com o Miller, sorrindo e perguntando se podia entrar. Dei espaço para ele e subimos.

 - Tenho tudo menos um alvo – disse quando entramos em meu quarto.

 - Resolvo isso depois – suspirei – Agora diz o que o Trevor disse.

 - Sorrir assim, piscar assim, jogar o cabelo assim, morder o lábio assim e abraçar a garota assim – passou um braço ao redor da minha cintura. Sorriu somente com um dos cantos da boca, de um jeito fofo e cafajeste ao mesmo tempo. Piscou somente com um olho, ainda com o sorriso nos lábios. Jogou o cabelo para o lado sem usar as mãos e as colocou no bolso, parecendo desinteressado as coisas a sua volta. Por fim, mordeu o lábio inferior e me encarou de forma maliciosa, me fazer rir. Muito.

 - Do que está rindo? – fez uma careta, mas estava brincando. Sabia que tinha sido engraçado, devia ter treinado tudo isso em frente ao espelho durante horas ontem – Não ficou tão ruim, né?

 - Não – gargalhei – Ficou até legal. Assim você consegue seduzir sua avó.

 - Eu não sou tão feio e desajeitado a esse ponto!

 - Escreve logo – lhe entreguei a caneta, foi até o quadro e adicionou as coisas abaixo das de ontem. Riscamos algumas e modificamos a lista.

 Sete coisas. Alterando “Boca” por “Sorriso”, “Jinga” por “Jeito” e excluindo “Tanquinho”, continuamos com sete coisas. Bastavam para que ele pudesse chegar no primeiro alvo, que eu não fazia idéia de quem seria. Eu tinha visto várias garotas na escola, mas nenhuma delas parecia disposta a tentar algo com Seth. Não mesmo.

 - E agora? O que a gente faz? – perguntou me entregando a caneta novamente e se sentando na cama.

 - Você se veste bem, lava o cabelo, não é idiota como a maioria pensa e sabe mais ou menos o que fazer. Então... Realmente não sei o que a gente faz agora – me sentei ao seu lado – Quer jogar vídeo-game?

 - Pensei que não gostasse.

 - Eu só não gosto que você fique agarrado a jogos, mas gosto de vídeo-games.

 Deu de ombros e me puxou pela mão, me levantando e me guiando escada abaixo.

 - Onde estamos indo?

 - Na minha casa, jogar vídeo-game, pensei que quisesse.

 - Pai! Vou à casa do Miller! Volto mais tarde, ok? – sem me deixar esperar uma resposta, Seth saiu me puxando para fora.

 Sua casa ficava a duas quadras da minha, e o caminho foi ainda mais curto a partir do momento em que entramos em um quintal e fomos passando por vários outros. Quase que um velhinho nos viu, mas deve ter pensado que era seu cachorro, pois gritou “Max! Saia daí e venha comer!”, o que nos fez rir, mas baixo, para que não nos notasse. Até mesmo os idosos sabem que cachorros não riem.

 Entramos e demos de cara com Trevor, que jogava boliche no Nintendo Wii na sala de TV.

 - Minha vez – Seth disse pegando o segundo controle e puxando o dele.

 - Pode jogar, cansei de boliche. Gosto mesmo é de futebol – me olhou, percebendo que eu estava ali – Oi – sorriu de lado, da mesma forma que havia ensinado para Seth.

 - Trevor, esta é a Jessica. Jessica, este é o Trevor, meu irmão – o encarou – E nem vem com esse sorrisinho que ela sabe dos seus truques.

 Trevor bufou, mas não parecia irritado. – Pensei que quisesse saber pra... Sei lá, conquistar a garota e não dizer è ela – riu.

 - Eu que pedi – disse – Resolvi ajudar seu irmão a arrumar uma namorada.

 - O Seth? – arqueou uma sobrancelha – Desiste, já tentei.

 - Você não faz metade das coisas que ela faz – Seth disse me entregando um dos controles – Pensei que tivesse treino hoje.

 - E tenho – olhou para a parede, onde devia haver um relógio – Estou indo. Tchau, Jessica. Tchau, idiota – sorri. Não era única que achava isso dele.

 Passamos quase duas horas jogando jogos variados – boliche, corrida e até Mario – e fomos lanchar. Na cozinha, inventamos de fazer pipoca, o que levou meia hora, porque não achávamos o sal de jeito algum. Realmente, ele conhecia muito bem a própria casa.

 - Quer ver um filme? – perguntou. Dei de ombros.

 - Depende. Vai ser de romance? – riu, negando – Terror?

 - Pode escolher – sorriu – Ou esperamos Trevor chegar e ele pega um dos DVDs dele, mas aí vamos ver filmes de luta, ou guerra. Não deixa de ser um pouco irritante.

 - Isso soa gay – me olhou reprovadoramente – Posso escolher qualquer um? – assentiu – Tem o que de ficção científica?

 - Escolhe um filme logo, Jess.

 - Jessica – corrigi. Levantou os braços em sinal de rendimento, mas riu – Ah, não sei, liga a TV e olha o que tá passando.

 Olhei para a bacia de pipoca a nossa frente, ainda cheia. Ou escolhíamos um filme logo, ou essa pipoca ficaria mais murcha que os bolinhos da minha mãe.

 Voltamos para a sala de TV, nos jogamos no sofá e começamos a zapear os canais. Nada de interessante. Por fim, Seth resolveu assistir Padrinhos Mágicos, o que era um tanto idiota. Mas legal.

 Depois de um tempo, ele dormiu. Preciso resolver isso também, porque, se ele dormir enquanto estiver com a pobre coitada que estiver paquerando, vai acabar espantando a menina.

 Eu estava deitada em uma das pontas do sofá e ele na outra, encostado no encosto de braço. Peguei o controle da TV a cabo e o joguei nele, o fazendo mexer, mas não acordou. Chutei suas pernas e o empurrei um pouco, mas não adiantava.

 Materializei um lápis de olho e fui até ele. Escrevi “Tchau, idiota” em sua testa, ao contrário, para que pudesse ler quando se olhasse no espelho e desenhei um bigode, o que me fez rir um pouco. Enfiei o lápis no bolso da calça e andei pela casa, procurando alguma alma viva. Ninguém. Pelo menos, não que eu tenha notado.

 - Já vai? – perguntou Trevor, me fazendo pular de susto. Já estava com a mão na maçaneta quando o ouvi e, sinceramente, pensei que fosse o Seth vindo me encher o saco porque tinha acordado e visto o que escrevi em sua testa.

 - É. Não sei quantas horas, mas já faz bastante tempo que estou aqui, então acho que tá meio tarde.

 - Te vejo por aí – sorriu de lado.

 - Dá pra parar de sorrir assim? – riu, me fazendo bufar – Te vejo por aí.

 Fui para casa cortando caminho pelos quintais e vi Michael brincando no quintal com Todd quando cheguei. Pelo menos não está no meu quarto. Subi rapidamente e me joguei na cama, pegando o celular no criado mudo e verificando as horas. Sete da noite. Umas quatro horas na casa do Miller.

 Me arrastei para fora da cama, tomei banho, troquei de roupa a fui até a bancada, onde estava meu laptop. Liguei o aparelho e o conectei ao sinal de internet. Era estranho, mas eu estava olhando o Facebook do Seth, olhando todos os contatos do colégio – principalmente as garotas -, e depois lendo todos os perfis. No mural dele não tinha nenhuma marcação. Nada além de compartilhamentos. As únicas fotos dele eram a do perfil e uma marcação da turma do ano passado, na qual ele estava abaixado na hora que bateram.

 Como qualquer outra, nenhuma das garotas do Facebook dele parecia ser a pessoa certa, mas eu só poderia saber depois de tentar, certo? Abri os perfis de garotas que julguei serem do primeiro e segundo ano em guias separadas. No total eram onze. Como não tinha decorado ordem alguma, só pensei em um número. Sete. Amy Cork.