Capítulo três

Diga “não” a roupas esquisitas

“Se perder um amor... não se perca!
Se o achar... segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais... é nada.”

(Fernando Pessoa)

Mais um despertador quebrado, era isso que ocorria normalmente no meio de semana. Ela os jogava na parede com toda a sua força, amaldiçoando todos os antepassados desse relógio.

Saiu da cama com lentidão e colocou o maldito uniforme, com aquela saia minúscula e a blusa mais apertada que um corselete. E ela torcia para que uma das líderes de torcida morresse sufocada por causa disso. Talvez até tenha sido um diretor tarado que encomendou esses uniformes, mas elas também tinham dado um dedo, uma mão e um braço para que essas roupas fossem feitas.

Calçou sua bota de montaria e foi em direção ao estribo, abrindo-o às pressas. Hoje ela estava um pouco atrasada, sabia disso. Mesmo que ainda faltasse uma hora e meia para a aula começar, temia que não pudesse cavalgar em seu pônei. Infelizmente sua mãe não permitia que ela andasse em um cavalo que fosse maior que ela e era nesses momentos que ela desejava ter 1,80m.

Sorriu de forma maléfica ao notar que o moreno tapava os olhos com as mãos por causa da luz enquanto os outros dois ainda dormiam abraçados.

— Aleluia! — exclamou Ethan.

— Eu não vim libertar vocês, mas sim os cavalos. Eles também precisam de ar, não acha? — comentou aos gargalhos, indo em direção à outra porta.

Ele apenas deu de ombros e rolou os olhos, sabendo que com ela não tinha conversa. O loiro acordou no mesmo instante, encolhendo-se no feno. Já James continuou indiferente, apenas um pouco constrangido por sua futura mulher ter visto ele abraçado a outro homem.

— Você não vai soltar essas feras, ou vai? — começou Max.

— Está com medo, é? — debochou.

— Muito, não sabe o quanto. — confessou, quase chorando.

— Sério? Entretanto eu não importo com você e, muito menos, com a sua opinião. — declarou, empurrando a entrada.

Max se encolheu mais ainda no canto, fechando os olhos em completo terror. De seus olhos já saiam grossas lágrimas, mostrando que não estava brincando. Anne não percebendo puxou o cavalo pelas rédeas, percebendo que o animal estava mais manso ultimamente.

Tinha um pouco mais de um metro, provavelmente até um pouco maior que o anão da casa da frente. Ele era completamente branco, tendo algumas mechas em rosa e roxo na crina, parecendo um cavalo da “my little pônei”. O loiro gargalhou com isso, limpando suas lágrimas com a blusa.

— Estava chorando? — perguntou de forma meiga.

— Não. — mentiu.

— Sei. — ironizou, abaixando a cabeça em seguida, tendo o pônei em seu encalço. — Mesmo assim me desculpe. — sussurrou, saindo do estribo com o animal.

— Para onde está indo? — questionou James.

— Eu vou montar nele antes de ir para a escola. — respondeu de costas, ainda não parando de andar.

— Nós vamos contigo para o colégio, Anna. — comentou o gênio.

— Eu já disse mais de duas vezes que é Anne! E respondendo a sua pergunta: não mesmo. — queixou-se.

— Por quê? — quis saber o ruivo.

— Com essas roupas eu não ando com vocês, nem morta! — exclamou.

— Olha quem fala. Parece mais uma vadia com esse uniforme. — disse Ethan.

— Eu não tive escolha, está legal? Era usar essa roupa ou ir para um colégio interno. — irritada.

—Mesmo assim nós vamos contigo. É só comprar roupas mais decentes para nós e pronto. — revidou o moreno.

Ela nada disse, fazendo gesto para que a seguisse com as mãos depois de dar um beijo no pônei e o colocar no pasto cercado. Abriu a mansão novamente e pegou a sua carteira rosa com lantejoulas, para depois discar um número. Ouviu um “mais uma patricinha” e fulminou o dono da voz. Saltitou até o jardim, vendo que o motorista já os esperava.

— Bom dia, Zacky! — animada.

— Bom dia, Senhorita e... — declarou.

— Eu sou o Max, esse é o Ethan e o ruivo é o James. — respondeu rapidamente o loiro.

Eles visualizaram a limusine rapidamente, notando que havia uma TV e um vídeo game embaixo dela. Tinha uns porta treco no lado de dentro do veículo e no meio havia uma trava que ao destrancá-la aparecia uma mesa. Max vasculhou os objetos e tirou de lá uma camisinha.

— Não sabia que era tão safada assim, Anne-chan. Estava pensando em quantos rapazes tu já traçou nesse banco. — divertido.

— Nada que te interesse garoto. Se estais na seca ao ponto de imaginar isso o problema não é meu. — cortou.

Ninguém merecia ter um pervertido azucrinando.

Sussurrou algo para o chofer pelo walk talk e ele parou na loja de grife mais perto que tinha. Ela desceu com elegância, tentando fazer com que sua calcinha não aparecesse. Já que dava de ver até os órgãos internos com essa minissaia.

— Vamos começar a operação: Diga “não” a roupas esquisitas. — disse, entrando no estabelecimento.

O trio apenas rolou os olhos pelo que ela dissera, notando que a guria mais parecia ter saído de um seriado de tevê.

— Bom dia. O que desejam? — questionou, olhando de forma maliciosa para o loiro.

Ele correspondeu, pegando na mão dela e a beijando de forma delicada.

— Quero que pare de ficar a cortejando a vá procurar roupas que nem eles.

— Ela me ama. — declarou, piscando para a moça e pegando o cartão dela.

— Anda, mexa-se! — exclamou, puxando-o pela orelha até as camisas sociais.

Ela ficou observando a forma como elas estavam indecisas com qual roupa escolher. Anne ficou irritado ao ver isso, pegando calças altas com cores diferentes, gravatas de laço e blusas xadrez.

— Escolham rápido ou vão ter que sair com isso. — declarou, sorrindo com escarnio.

A morena sabia que a maneira como imaginavam um nerd não mudou com o tempo e eles ficaram assustados quando viram o que ela segurava. Pegaram a roupa mais descolada que acharam e se vestiram rapidamente. Saíram de forma afoita dos provadores, recebendo apenas um “joinha” de Anne.

— Faltam apenas dezessete minutos para bater o sinal, por isso andem mais rápido! — disse ela, empurrando-os para a porta.

Apenas deu tempo do loiro mandar um beijo de longe para a atendente antes de eles saírem do local. Entraram no carro e Zacky acelerou o máximo que pode.

— Como você é má, princesa. Não deixou nem eu me despedir direito.

— Se não quer que o seu precioso seja amputado peço que se cale, obrigada. — educada.

Em poucos segundos chegaram à escola. Anne olhou o relógio e bateu no ombro do motorista.

— Temos um novo recorde, chegou em três minutos. — alegre.

Mais uma mania sua, ela adorava bater seus próprios recordes ou ver alguém o fazendo. Correu em direção ao pátio, segurando a sua minúscula saia, tentando alcançar os meninos. Quando o fez já estava ofegando, parecendo um cachorro com a língua para fora.

— Vocês são as novas vitimas, sabiam? — sussurrou Anne perto deles.

— Como sabes? — perguntou James.

— As pu-tas não param de olhar para vocês. Principalmente aquela ruiva que tem um cinto no lugar da saia. — respondeu, apontando para umas meninas que estavam sentadas na mesa externa.

— O gostosão voltou. — berrou o loiro.

— Cala a sua estúpida boca, eu já comentei que vocês ficam mais lindos calados! — devolveu à morena, corando com isso.

Em instantes os urubus cercaram os meninos, empurrando-a para fora do circulo. Pegou o livro em sua mão e o apertou fortemente, sabendo que perderia mais uma amizade. Era sempre assim, aquelas inferiores roubavam tudo que era dela. Mas logo levantou a cabeça, vestindo a sua armadura de esnobe. Sentindo-se sortuda por ser uma boa atriz.

— Espera. — gritou uma voz, fazendo-a se virar.

Era o ruivo que estava a encarando e ela apenas deu um fraco sorriso em consentimento. Eles andaram até a porta da escola, mas antes que entrasse na sala o levou até a diretoria. Provavelmente eles iriam se matricular ali, tendo a certeza de que teria que conviver com eles 24h por dia.